“Coloque pra fora, o que você ouviu falar
O que você ouviu falar sobre mim
Eles dizem que sou rude e escandaloso
Mas eles não sabem nada
Nenhuma coisa sobre mim

Então rasgue essa lista de coisas que você escreveu, escreveu
Porque você nunca pode estar comigo, não agora
Eu sei onde você quer estar

Quer dizer não, não
Não vai funcionar
Mas então você vai se atrapalhar nas suas palavras
Você está ficando sem razões
Não,não conte todas as suas mentiras
Você vai morder seus lábios nos meus
Você está ficando sem razões
Apenas deixe o fogo queimar, queimar, menina
Algumas coisas que você não pode aprender, aprender
Oh oh, deixar tudo ir
As coisas que você já sabe
Você está ficando sem razões”

Running Out Of Reasons – The Wanted

P.O.V ERIC

Eu a observava olhando a janela com um sorriso bobo no rosto e uma expressão um tanto medrosa, era engraçado até, a mistura das expressões que ela tinha, tava feliz e empolgada mas também tava com medo, era sua primeira vez aqui... acho que não dava pra sentir algo diferente. Primeiras vezes...

Já era uma da manhã, e de fato só se via luzes daquela pequena janela, os pontos de luz da cidade que ficavam minúsculos cada vez que o avião subia mais alto, algumas poucas estrelas e uma lua cheia incrivelmente bonita, o céu estava limpo, num azul tão escuro que parecia preto, agora dava pra entender esse sorriso bobo nela.

Oito horas e vinte minutos de voo, embarcamos a uns vinte minutos atrás, com um abraço super protetor da minha mãe, um toque de mãos com o Noah, a mãe da Natalie dizendo pra ela aproveitar e usar camisinha quase que o tempo todo enquanto o pai dela revirava os olhos constrangido, e por fim, com um sermão básico dos pais da Carly e do Josh e uma conversa animada com a mãe do Chris e o mesmo sobre a Carly.

Natalie continuava olhando pra janela, e aos poucos seu aperto em meu pulso ficava mais leve conforme os minutos se passavam. Quando o avião decolou essa louca só falto arrancar meu pulso fora, e a cara de desespero dela... não tem como não rir.

– Ta maconhada por acaso? – perguntei tirando sarro da cara dela.

– Eu nunca voei de avião antes, ou melhor, eu nunca sai do país, então me deixa na minha brisa em paz.. – ela disse desviando os olhos da janela e olhando pra mim.

– De nada.. – eu disse revirando os olhos.

– Hein? – ela perguntou confusa.

– Fui eu que te convidei pra vir pra Miami esqueceu? – disse convencido.

– Não esqueci não... mais também não vou agradecer. – ela disse me mostrando a língua e voltando a olhar pra janela.

Fui trocado por uma janela minúscula. Foda a vida.

A maioria das pessoas já estavam dormindo, as luzes já estavam apagadas, Carly e Chris que estavam nas poltronas atrás da gente, já dormiam um ao lado do outro enrolados num cobertor fino que a aeromoça havia depositado sobre eles. Josh estava na fileira do meio, do lado de um casal super meloso, do tipo que faz voz de bebê o tempo todo sabe? Ele tava com uma puta cara de emputecido, olhou pra mim e eu apontei pra poltrona da minha frente que não tinha ninguém a não ser uma mina de cabelo vermelho que olhava sorrindo pela janela assim como a Nat. Josh levantou, demos um toque de mão e ele se sentou na minha frente. E antes que o sono me levasse pude ver os dois tendo uma conversa animada sobre Miami.

...

Acordei com alguém me chacoalhando sem dó, abri os olhos lentamente e ela me olhava com um sorriso sacana.

– Que horas são? – perguntei pra ela enquanto me livrava do cobertor que eu nem tinha percebido que tinham colocado em mim.

– Bom dia pra você também. – ela disse se espreguiçando. – Acho que são umas sete e meia da manhã, ainda temos duas horas e dez minutos de voo.

– Me acordo por que então? – perguntei esfregando os olhos.

– Porque eu fui a única que acordei ué, não queria ficar sozinha.. – ela disse dando de ombros.

– Carente, porque não acordou a Carly pra te fazer companhia? – perguntei meio grogue.

– Você sempre faz perguntas quando acorda? – ela me olhou impaciente.

– Isso te irrita? – perguntei zombando dela.

– Bastante..

– E por que você acha que eu me importo? – perguntei brincando.

– Por que você não vai tomar no meio do seu cu? – ela disse me fuzilando.

– Por que não vai você? – falei prendendo o riso fazendo ela bufar.

– Somos tão maduros... – ela disse finalmente esboçando um sorriso de canto, apenas sorri de volta.

– Será que vocês não conseguem falar baixo? – Josh virou pra trás levemente alterado.

– Ué, ninguém mando ficar falando até tarde com a viúva negra ai... – Natalie disse.

– Viúva negra? – eu e Josh dissemos juntos.

– É, o cabelo dela é da mesma cor que o da viúva negra no filme dos vingadores gente, vocês são lerdos hein... – eu hein Natalie parece que bateu a cabeça.

– Acordo retardada hoje em Nat? – Josh disse rindo.

– Enfim... – Nat disse o fuzilando. – Conte-me tudo sobre ela..

– Huuum, o nome dela é Valery e ela ta indo pra Miami visitar os avós... – ele disse enquanto bocejava.

– Só isso? – eu e Nat perguntamos.

– A gente não falou muito sobre a gente, falamos de coisas aleatórias menos sobre a gente. – dito isso ele virou pra frente e provavelmente... dormiu.

– Ele usou a tática de não saber nada dela agora, pra ter um motivo pra procurar ela depois... – sussurrei pra Natalie e ela concordou sorrindo.

– Eu ouvi isso.. – Josh resmungou e eu e Nat rimos.

A aeromoça veio com o carrinho oferecendo o café da manhã para aqueles que já haviam acordado, que na verdade era apenas eu e a Natalie. Tomamos o café silenciosamente enquanto a claridade do sol já invadia a nossa janela do avião, que era a única sem cortina.

– Senhoras e Senhores passageiros, apertem os cintos que iremos passar por uma pequena turbulência.

Olhei pra Natalie que já estava apertando os cintos toda trêmula, dramática. Aos poucos as pessoas iam acordando meio grogues e apertavam seus cintos lentamente, quando o avião deu uma puta descida do nada e subiu novamente, que nem nos elevadores antigos sabe? Que antes de parar no andar ele da aquela descidinha que da um troço no coração, só que era um avião, a gente tava sei lá quantos pés do chão e eu tava do lado da mina mais medrosa de todos os tempos.

– PORRA! A GENTE VAI MORRER CARALHO, EU NÃO QUERO MORRER. EU AINDA QUERO ENTRAR NA FACULDADE, CASAR E TER FILHOS, E EU AINDA NEM TENHO UM CACHORRINHO! – Natalie gritou que nem uma louca chorando, atraindo os olhares de todo mundo, e as gargalhadas de Carly, Chris e Josh, que eu nem tinha reparado que já tinham acordado.

– Foi mal gente! Ela é autista. – eu disse tentando não rir da cara de espanto das pessoas.

– Que porra Natalie, o que te deu hoje? – perguntei olhando pra ela desconfiado.

– É que... eu tomei uns calmantes antes de entrar aqui. – ela disse sussurrando e rindo logo em seguida.

– Isso é sério? – perguntei num misto de surpresa e desconfiança.

– Sim, por que eu mentiria? – ok, a Natalie realmente deve ser autista.

– Porra mais não passou o efeito ainda? – perguntei.

– Deve ter passado, mais deram efeitos colaterais... – ela disse com um sorriso sinistro no rosto.

Ergui as sobrancelhas tentando entender o que eu vi nessa maluca enquanto ela ia se aproximando do meu ouvido, bem devagar.

– Eu sempre quis transar no avião. – ela sussurrou no meu ouvido causando arrepios no meu pescoço.

Cai na gargalhada, é, ri alto e por um bom tempo.. e toda vez que voltava a olhar pra ela eu ria mais ainda, sua cara estava impagável. Essa garota ainda me mata...

– Quando a gente tiver um jatinho particular, eu me encarrego de tornar sua vontade real. O avião tá cheio, você ta louca e eu não transaria com mulheres do seu tipo no banheiro. – disse dando de ombros.

– Mulheres do meu tipo? – Natalie perguntou confusa e eu sorri.

– Nat, você é pra transar e passar a noite junto, e não transar num banheiro de avião onde um bando de gente já entrou e tem um bando de gente do lado de fora. – disse sincero, na boa... tenho que parar com essas viadagens de falar tudo o que eu penso.

– Não me dê esperanças Eric... – Nat disse sorrindo meio triste e eu não entendi nada, e antes que pudesse perguntar ela me deu as costas e voltou a ficar olhando a janela. Ok, buguei.

Eu olhei para os lados como se procurasse uma saída, Josh estava conversando com a viúva negra, quer dizer.. Valery, olhei pra trás e Chris parecia não ter entendido nada assim como eu, enquanto Carly apenas deu de ombros em sinal de que não me falaria nada. Mulheres...

...

Tínhamos acabado de pegar as malas, o resto do voo tinha sido tranquilo, meio estranho e silencioso. Será que é verdade o que dizem sobre mulheres serem realmente bipolares?

Estávamos esperando Josh se despedir da Valery, eles se deram um abraço e o retardado do Josh veio sorrindo até o Chris e eu, enquanto Carly e Natalie tentavam dar uma escapada muito mal disfarçada.

– Pego o número dela? – perguntei pro Josh tentando não perder a paciência.

– Lógico, a gente marco de se encontrar amanha, hoje eu só quero dormir... – Josh disse e eu concordei.

As meninas voltaram e todos nos encaminhamos para a parte do aeroporto onde ficavam os táxis, a fila estava enorme e depois de quase uma hora conseguimos finalmente pegar um.

– Sua casa é muito longe Eric? – Natalie disse olhando pra mim.

– Não. – disse simplesmente. Eu devo estar de cu doce confesso, mais foda-se, não tenho saco pra pessoas que ficam dando sinais incompletos que eu não tenho capacidade mental de entender.

Depois de uma meia hora, chegamos.. enquanto todos estavam animados por finalmente chegarem, tirando suas malas do carro e pagando o taxista, eu só conseguia ficar parado de frente a casa onde cresci, e me lembrar de tantas coisas boas que vivi ali, pai...

– Bem vindos a Miami.. – disse por fim.