A Orquídea da Colina escrita por Andrew Drehmer


Capítulo 9
Capítulo IX : O Veneno da Dor


Notas iniciais do capítulo

Então, preparados para dar início à leitura de mais um capítulo?
Os comentários de vocês são muito importantes pra mim.



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– E como é o teu nome, minha filha?

Ela pronunciara “minha filha”.

– Nicolle.

– Nicolle?

– Nicolle de Freo, minha senhora.

A idosa apertou as vistas para que pudesse enxergar melhor, mas não obtivera resultado:

– Chegue mais perto, Nicolle para que eu possa vê-la.

Nicolle se aproximou timidamente. Sentada na roca, a velha a fitava com perspicácia. Fez um sinal com a mão para que Nicolle se abaixasse, tocando o queixo da moça com o dedo indicador, a velha por fim disse:

– Como és bela! Sê bem-vinda!

Nicolle corou agradecendo. Chermont que estava parado em um canto disse:

– Esta é minha avó Joelle. Ela passa o dia inteiro fiando a lã.

E então, sobre uma mesa, eis que havia uma capa de cor acinzentada, a qual chamou atenção de Nicolle por possuir um fecho de cobre no formato de duas folhas que se uniam:

– Belíssimo o seu trabalho... Digo: Aquela capa cinza com o fecho de folhas... É linda! Foi a senhora que fez?

Dn. Joelle assentiu com a cabeça:

– E ela é tua, se assim desejar!

– Minha?

–Sim! Pegue! Tome para si!

– É muito linda, e parece-me aconchegante... Mas não posso aceitar! Além do mais... Já tenho uma capa de lã.

–Pega, filha! Um presente de boa-chegada! Nunca se sabe... Um dia ainda pode precisar dela.

Nossa Nicolle estranhou a frase, mas agradeceu e vestiu a capa para experimentar. Chermont disse:

–Tu estás linda, Nicolle! A capa te assenta bem!

–Obrigado, Chermont!

Dn. Joelle observou a maneira com a qual o neto observava a moça recém-chegada:

–A moça Nicolle tem onde ficar?

Antes mesmo que Nicolle pudesse abrir sua boca para responder, Chermont se sobressaiu e falou:

–Ela é órfã de pai e mãe, minha avó. Não tem família!

–Pois se quiser, podes ficar em nossa cabana. É pequena e simplória... Mas é o que posso oferecer. Antes, é preciso que fale com o dono destas terras, o visconde de Gusmon... Ele deve ter algum ofício adequado para uma moça tão bela como tu!

Nicolle olhou a cabana e sorriu. Lembrava um pouco a cabana por onde vivera sua vida inteira:

–Eu quero ficar! Onde eu encontro o visconde?

–Chermont, leve a moça até o palacete.

Nicolle relembra:

Fui acolhida com todo o carinho por Dn. Joelle, a avó de Chermont. Ela era idosa, andava arcada e os seus cabelos eram completamente alvos, mas nos seus olhos, havia um brilho como vi nos olhos de poucos durante toda minha vida. Gostava de ouvir suas histórias ao pé de fogo todas as noites. Chermont sabia tocar flauta, e ouvi-lo tocar era encantador! Chermont... Aqueles seus olhos azuis alcoviteiros de seu humor, aqueles cabelos louros feito ouro... Era tão belo, comigo sempre fora tão meigo, tão gentil...

Iniciei meus trabalhos como copeira naquela tarde mesmo. O visconde era um velho muito baixo, de longos bigodes e uma barriga extremamente proeminente. Os bigodes dele eram realmente nojentos... Encebados. A viscondessa era uma vasta mulher! E como era feia! Seu nariz me lembrava um pouco o nariz de Rosella, a diferença é que Rosella sabia ser e era muito mais bonita do que ela. A viscondessa Lamartine tinha a voz grave e sua altura impressionava, usava uns espartilhos que todos juravam lhe deixar sem ar, mas assim que ela abria a boca, percebia-se que não, vivia para humilhar e dar ordens. Ninguém gostava dela. E também havia Celimena, uma bela moça de pele bronzeada e cabelos negros encaracolados, ela também era copeira e no início me ajudou nas tarefas que eu não sabia executar, ela e Chermont eram muito amigos. Durante mais ou menos um mês as coisas correram bem, acabei por fim contando minha verdadeira história para meus três amigos novos: Dn. Joelle, Chermont e Celimena. Eles me aceitaram e isso só servira para nos tornarmos todos ainda mais íntimos. Só que se houve uma coisa que aprendi na vida é que a calmaria sempre antecede a tempestade.

Completaria dois meses que Nicolle estava ali. Todos gostavam dela e ela era paquerada por todos os mais jovens e solteiros, mas recusava, dizendo que era ainda muito nova para casar. O primeiro mês que se passara havia sido tranquilo e o segundo iniciara sob a mão da calmaria e de certo modo: do tédio. Mas este tédio acabou-se em questão de instantes e Nicolle voltara a sentir aquela sensação de pânico constantemente. Há alguns dias, ela percebera olhares quentes do visconde para cima dela, e o pior de tudo: Madame Lamartine já havia percebido e dobrara sua carga de trabalho. Ela precisava trabalhar até altas horas da noite, e mesmo que não houvesse nada mais para ser feito, Lamartine sempre arranjava algo: Polir a prataria, bater os tapetes, espanar os livros da biblioteca... Tarefas exaustivas e o que mais incomodava Nicolle era que essas tarefas já haviam sido feitas mais cedo por outra das copeiras.

Numa noite de luar belo, Dn. Joelle já havia ido deitar-se e ficaram apenas Chermont e Celimena acordados ainda... Celimena mantinha uma paixão secreta por Chermont desde a infância! Haviam crescido juntos e ela dizia amá-lo mais que tudo. Jamais se declarara para ele, pois lhe faltava coragem. Então, ela gostava de aproveitar esses momentos a sós que tinha com ele, gostava de deitar a cabeça no colo de Chermont para receber cafuné e isso era o máximo de proximidade do rapaz que ela conseguia. Nesta noite ela reparara que Chermont estivera inquieto, assim que ficaram sozinhos ela perguntou:

– Chermont, há alguma coisa que te incomoda?

O loiro suspirou, ele precisava de coragem. Então, inspirou o ar e soltou mais uma vez:

–Sabe, Celimena... Por acaso já gostaste de alguém?

Celimena logo percebeu do que o assunto se tratava, mas preferiu fingir que não havia entendido:

–Mas e isso é pergunta que se faça? É claro que já! Gosto de todos aqui... Quer dizer, não do visconde e da viscondessa, mas... Do resto das pessoas sim.

–Eu não quero dizer esse tipo de gosto. Quero dizer algo mais profundo... Verdadeiro...

–Paixão?

–Isso! Exatamente isso! Eu acho que estou apaixonado e não caibo mais em mim de emoção, precisava compartilhar com alguém! É um sentimento tão bom! Me faz sentir como se em minha vida nada mais de ruim fosse acontecer e me faz querer estar com ela todo o tempo! Sempre junto! Isso é paixão, não é?

O coração de Celimena batia acelerado. Será que Chermont realmente também era apaixonado por ela e resolvera dar início aos proclamas agora?

–Pois diga que é essa moça tão cheia de sorte!

–É a moça mais linda que já vi! Quando estou perto dela me sinto o homem mais feliz do mundo! Fico nervoso, minhas mãos suam... E fico extasiado!

Cheia de esperança, Celimena pergunta:

–Ora, e o nome dela qual seria?

Com um sorriso bobo no rosto, o rapaz revelou:

–Nicolle!

Celimena desabou.

Nicolle?

Como que aquela andarilha podia ter conquistado o coração de Chermont e ela que vivera a vida inteira ao seu lado, desde a infância não conseguira!? Aquilo estava errado! Muito errado! O rapaz continuou:

–Mas por favor! Rogo que não digas nada a ela! Acho que ainda é cedo para que ela saiba! Promete que vais guardar segredo?

E com o coração cheio de raiva, a boca de Celimena pronunciou:

–Eu prometo.

–Promete que vais me ajudar a conquistá-la? Que vais me ajudar a tornar minha paixão por Nicolle recíproca?

Mas Celimena levantou-se do colo do amigo. Com a desculpa de que já estava demasiado tarde para continuarem conversando. Chermont permaneceu ali, sozinho, à espera de Nicolle que não devia tardar a chegar.


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Notas finais do capítulo

Nicolle relembra:

Estava eu para descobrir que o pior veneno de todos, é aquele lançado por um coração partido.



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