A Orquídea da Colina escrita por Andrew Drehmer


Capítulo 11
Capítulo XI: O Aroma da Traição


Notas iniciais do capítulo

Primeira parte da história se findando... Segunda parte em meus planos agora.



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A voz de Nicolle saiu cheia de medo e preocupação. Aquela angústia ruim que ela sentira durante o dia todo... Parecia estar chegando a hora de ela saber o significado:
– O que Lamartine quer comigo?
Celimena, assim como Nicolle estava ofegante. Seus cabelos cacheados estavam volumosos... Devia ser pela noite úmida e quente de verão. No céu, a lua cheia testemunhava tudo:
–Eu não sei... Ela disse que precisava falar contigo, mas não me disse qual é o assunto que deseja tratar. E é claro que eu não quis questionar a madame!
A voz de Nicolle saiu com um pouco de ironia:
–E quem quer questioná-la!? Mas o que foi que tu disseste a ela?
–Nada de muito interessante...
–Ora, se não fosse interessante, tu não teria nem te dado a displicência de perturbá-la!
–Era assunto meu e da madame!
–Certo, se não quiseres falar não precisa.
Elas adentraram a porta principal, uma das damas de Lamartine as esperava prostrada ali como se nunca tivesse feito outra coisa na vida:
–Madame Lamartine deseja apenas que Nicolle de Freo se faça presente e diz que a outra moça pode ir embora.
As duas moças se olharam... Celimena beijou Nicolle no rosto com os olhos marejados. Só agora ela percebera o grande mal que havia feito. Virava as costas quando escutou:
–Espere, a madame deseja recompensá-la com este perfume pela valiosa informação.
Havia um vidro de perfume com um laço de fita amarrado. A morena de pele trigueira estendeu o braço e Nicolle percebeu que sua mão tremia.
–O que é isso, Celimena? Estás sendo recompensada por qual valiosa informação?
Pela primeira vez, Nicolle viu Celimena chorar... Uma lágrima escorreu pelo rosto dela e morreu no seu queixo:
–Me desculpa, Nicolle... As coisas precisavam ser desse jeito!
–De qual jeito?
–Eu não queria! Eu não queria que fossem assim...
Lamartine surgiu das sombras... Estava com uma cara severa. Chegou gritando e impondo ordens:
–Celimena! Vá já para casa! Minha dama não te deu o recado?
E como se fosse tomada de um súbito medo, a moça pálida e mui apagada deu um pulo dizendo:
–Dei sim, senhora. A moça que insistiu em ficar conversando.
–Vai já para tua casa e não me apareça aqui até o dia de amanhã! Compreendido?
–Sim, senhora.
E foi agarrar o perfume para sumir na noite enluarada.
Nicolle, confusa e completamente assustada com o decorrer da situação, perguntou:
–Senhora, o que se passa aqui?
Lamartine olhou com olhos de louca para a moça baixa e extremamente bela à sua frente. Seus olhos chispavam raiva e desejo de causar morte:
–Tu vais para teu quarto. E tu, vadia desgraçada! Acompanha-me.
– O quê?
E antes que nossa Nicolle pudesse tirar alguma satisfação pela maneira vulgar com a qual sua senhora havia lhe tratado, foi puxada pela mão.
Lamartine tinha uma mão graúda e forte. A mão de Nicolle sumiu dentro daquela mão extremamente branca e com alguns pelos salientes. Apesar de todos os perfumes que a mulher possuía à sua disposição. Nicolle sentia um azedume vindo dela. Um cheiro forte de azedo misturado com um cheiro de cebola podre.
–Para onde a senhora está me levando?
A resposta foi imediata:
–Para a floresta.
–E para quê?
–Para termos uma conversa.
–Que tipo de conversa?
–Uma que tu jamais esquecerás.
E apressou o passo.
Chegaram até uma clareira que não ficava muito longe do rico prédio da viscondessa. Ela soltou Nicolle e perguntou:
–Tu já te deitaste com meu marido?
Nicolle ficou sem esboçar nenhuma reação. Ficou estática. Lamartine deu um grito. Além de gritar, ela também cuspia. Uma situação totalmente nojenta:
–Eu te fiz uma pergunta e espero uma resposta!
Atordoada pelo medo, Nicolle gaguejou:
–Não, não senhora!
Lamartine inspirou o ar:
–Eu vou pergunta só mais uma vez: Tu te acostaste com o teu senhor, o visconde meu marido?
–Não senhora! Nunca! Isso jamais me passou pela cabeça!
–É claro. É claro que aconteceria. Aconteceram UMA, DUAS, TRÊS, tinha que acontecer a quarta!
–De que é que a senhora fala?
–Falo do pecado! Falo da traição!
Nicolle congelou de medo. Aquela palavra pecado a perseguia novamente. E dessa vez, ela não tinha noção de nada.
–Que traição?
Lamartine urrou:
–Da traição de meu marido contigo. Tu não passas de uma prostituta! Uma cadela no cio que não pensou no perigo duas vezes antes de abrir as pernas para um homem casado!
–Eu não me deitei com seu marido, quem lhe disse um absurdo desses?
O pânico se instalava nos olhos de Nicolle. Ela não podia contra Lamartine.
–Celimena me contou tudo hoje depois do trabalho.
–Celimena? Não! Não pode ser! Celimena é minha amiga, ela jamais faria uma coisa dessas comigo!
Com um sorriso diabólico, a madame sorriu para Nicolle:
–Não existem amigos, existem interesses. Já era para ter aprendido isso!
Esquivando-se lentamente para trás, Nicolle negava:
–Não! A vida não é assim!
–A vida é assim sim!
–Por que está fazendo isso comigo... Eu nunca me deitei com teu marido!
–Tu estás mentindo, vadia desgraçada!
E grudou um valente tapa no rosto de Nicolle. A moça começou a chorar. Sabia que era vulnerável. Incapaz de fazer qualquer coisa contra aquela mulher de força extraordinária.
Lamartine avançou contra Nicolle e agarrou-a pelo pescoço. A moça, se debatia com as pernas, tentando chutar a monstruosa fêmea que gania feito um gato quando depois de negacear muito uma pressa, o abocanha e aperta.
Nicolle ficou sem reação... O ar lhe faltava. Havia uma pressão em sua cabeça, era como se fosse explodir. Seus olhos doíam muito e ela olhava para os olhos de Lamartine. Por um momento, julgou que morreria ali. Estrangulada.
De súbito, a madame soltou-lhe e deu um bruto grito. Ela olhou, e Celimena estava ali com um largo porrete de madeira:
–Corre, Nicolle!
Nicolle, recuperando o fôlego, falou:
–Celimena, o que ela me disse é verdade?
Celimena não conseguia encarar Nicolle nos olhos:
–Diz! Diz que não é verdade! Diz!
–É verdade, Nicolle. É verdade.
Aquilo foi como um choque no peito de Nicolle, ela não queria acreditar:
–Por qual motivo!? Por qual motivo fizeste isso, Celimena?
–Chermont! Eu o amo e tu o roubaste de mim!
A resposta de Nicolle foi cortada pela terrível gargalhada de Lamartine, que passou o braço pelo pescoço da moça sofredora:
–Larga esta tora, que eu solto o pescoço dela. Do contrário, diga adeus para a tua amiga. A amiga a qual tu traíste!
–Deixe que Nicolle vá. Eu fico no lugar dela. Nicolle é inocente. É mentira tudo o que eu disse.
–Está me dizendo que mentiu para a sua senhora o tempo todo, rapariga?
–Sim... Nicolle é inocente da minha acusação. Ela jamais se deitou com o visconde teu marido.
Lamartine soltou o pescoço de Nicolle:
–Ouve bem: Vai pra tua casa sem olhar pra trás, que de ti cuido eu outra hora.
Nicolle saiu com passos apressados. Ao passar por Celimena, murmurou seu nome, e chorando, Celimena respondeu:
–Vai, Nicolle... Diz ao Chermont que o que fiz foi por amor... Foi por amor, minha amiga! Tu és capaz de me perdoar?
Mas da boca rubra de Nicolle, saíram apenas três palavras:
–Eu vou dizer.
E começou a correr, como jamais correra antes.
Entre lágrimas, Celimena largou a tora de madeira. Pensou que ela podia ter aplicado mais força, ter feito a monstra desmaiar, quem sabe até mesmo matá-la?
Por uma mecha de cabelos, Celimena foi lançada ao chão, e Lamartine se posicionou sobre ela, dominando-a. Do decote, Lamartine puxa uma pequena faca.
A lâmina brilhante reluz ao luar. Celimena solta um gemido. Um líquido espesso e quente brota em 180° no seu pescoço. A dor é insuportável. Quando Lamartine a solta, Celimena deixou de respirar.
Nicolle entra ofegante na pequena cabana. Dn. Joelle está de pé, sob o ombro da mulherzinha idosa, está uma trouxa amarrada em um galho:
–Eu estou sabendo de tudo, minha querida. É melhor que vá embora. A viscondessa não descansará enquanto não obtiver o seu corpo sem vida em mãos.
–Dn. Joelle! Eu não fiz nada!
–Nós sabemos, filha. Nós sabemos. Mas a viscondessa tem poder e riqueza, e tu, é só uma moça bondosa de alma inocente. Chermont quer ir junto contigo.
Nisto, Chermont surgiu pela porta, apressado. Segurou Nicolle pelos ombros e deu-lhe um beijo estalado nos lábios. Como ele amava beijar aqueles lábios:
–Nicolle! Está tudo bem?
–Sim.
–Está tudo bem contigo, mesmo?
–Está, Chermont!
–Não podemos perder tempo, a viscondessa virá atrás de ti.
–Me dá um abraço, Dn. Joelle?
–É claro que dou, minha menina! Tuas duas capas estão aí dentro! Agora vão! A viscondessa virá aqui atrás de ti!
A despedida de Chermont e Dn. Joelle só não foi mais emocionante devido às circunstâncias em que se encontravam.
O casal saiu em disparada, mas não tardou muito para que Chermont parasse Nicolle e dissesse:
–Nicolle, eu não posso fazer isso!
Nicolle olhou para o loiro à sua frente, havia uma certa conformidade nos seus olhos de gazela.
–Tudo bem, meu querido.
Os dois se abraçaram. Chermont chorava e dizia:
–Eu não queria te deixar, minha pequena!
A voz de Nicolle saiu debilitada por causa das lágrimas que insistiam em querer sair. Pois que saíssem:
–Eu sei, meu querido. Eu sei. Tu precisas cuidar da tua avó. Eu sou jovem, sei me defender.
–Promete que sempre se lembrarás de mim?
–Eu prometo, meu querido!
E então, os dois se beijaram o último beijo daquela paixão que causara tanto mal e sofrimento para todos- um beijo longo, com gosto de tristeza e de saudade:
–Chermont...
–Sim.
–Antes de ir, eu preciso te dizer uma coisa!
–E o que é?
–Celimena pediu para te dizer que ela o ama.
Não houveram palavras trocadas, até porque não tinha palavras para esta situação. Chermont beijou a testa de Nicolle com seus finos lábios pálidos. Virou as costas e se foi.
Nicolle tocou a testa... O que ela sentia por Chermont era um amor de irmãos, fora uma tolice iniciar aquele romance. E uma tolice que causou tudo o que causou.
E assim, Nicolle corria o mais rápido que seus pulmões lhe permitiam para sair dos domínios da viscondessa de Gusmon. Mais uma vez precisava deixar aqueles a quem amava para trás... Mais uma vez! E quantas mais vezes isso seria necessário?


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Notas finais do capítulo

Nicolle relembra:
Ver Chermont partir não me doeu. Pelo contrário, me deixou mais aliviada por saber que Dn. Joelle ficaria junto do neto que tanto amava. Eu amava Chermont da maneira que uma irmã ama seu irmão, que uma filha ama seu pai. E só naquela noite abafada fui me dar conta disso. O desejo que sentia me parecia uma coisa totalmente errada, e desde então, lembrei dele com carinho apenas, na minha memória, que tantas e tantas coisas guardou. Ao contrário de algumas pessoas, nunca tive a memória seletiva. Há algum tempo atrás, soube que Chermont casou-se três anos depois, com uma moça que possuía algum dote e com ela formou uma família de quinze filhos. E que todos se pareceram com ele: Loirinhos de olhos azuis e sorrisos alvos. Chermont encontrou o amor de sua vida. E eu, estava a alguns passos mais próxima de encontrar o meu.



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