Caçada escrita por Chloe Cleare


Capítulo 15
Havanna


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é especial!! Por isso está tão grande (:



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Entrei na floresta enxotando os matos de minha frente e segurando meu vestido em minhas mãos. Ele não era tão longo mas eu tinha certeza que tropeçaria se caísse pelo menos um pedaço de minha calda no chão coberto pela neve que já consumira parte da floresta, deixando o lugar com uma cara totalmente diferente de algum tempo atrás. As árvores não estavam mais nuas, estavam cobertas por neve. Os pássaros não cantavam mais, estavam agora em sua toca. O sol não irradiava mais, ele estava escondido em meio as nuvens cinzas que deterioravam o céu.

Meu coração em meu peito apertou-se, minha pulsação acelerou e meus pés firmaram o chão, deixando-me incapacitada de pensar em algo útil e o porquê de eu estar fazendo o que essa mulher havia pedido.

"Adentre mais a floresta." - ela diz, com uma voz firme de comando.

Continuei a correr, meus pés pisavam na neve e de vez em quando, afundavam. Podia sentir o gelo em meus pés, o quanto minhas mãos estavam geladas mas... O estranho foi que eu não estava com frio.

Mesmo com seu ar de comando, eu parei um pouco para pensar.

Quem essa mulher pensa que é para me dar ordens?

Nenhum estranho chega do nada e me da ordens!

"Eu não irei mais andar nenhum passo sequer!" - exclamei parando e batendo meus pés no chão. Olhei em volta para ver se eu via alguém mas claro, não via ninguém. Eu estava ficando maluca e isso estava na cara.

"Tudo bem, aqui está bom." - ela disse, dessa vez pareceu-me ficar mais agitada e com as voz um tanto mais tremula. - "Espere um pouco ai e logo depois, você poderá voltar para seu querido e esperado baile de outono."

Então, eu fiz o que ela me pediu.

___

Olhos me rondavam, olhos ágeis e pequenos. Brilhavam na imensidão da mata e me sondavam como uma presa.

Os olhos vieram pulando ao meu redor, eles quase não piscavam, estavam alertas a qualquer barulho.

Eles paravam e olhavam, depois davam um salto para lá e para cá, logo depois continuavam a me olhar.

"Eles não são adoráveis?" - a mulher perguntou enquanto pude ouvir um sorriso em sua voz. - "São ótimos animais. Eu os adoro..."

Desviei os olhos dos coelhos que eram tão brancos que camuflavam-se. Fiquei fitando uma árvore coberta pela neve onde apenas uma única folha, ali brotava.

Eu já estava cansada de esperar, provavelmente David estava completamente preocupado comigo. Eu não fazia ideia de quanto tempo se passará desda hora em que eu sai do baile. E nem queria saber pois era algo desesperador.

Meus pensamentos iam para o beijo em que David me dera e logo meu coração apertava-se de novo. Eu o havia usado. Eu nem ao menos senti nada com aquele beijo. Foi tão estranho e atormentador...

Olhei para o céu, afastando os pensamentos como um cabelo no rosto na hora da prova.

Já estava ficando escuro e a noite ia caindo lentamente. As primeiras estrelas começavam a surgir e brilhar como nunca. Mas logo depois, as nuvens as tampavam, ofuscavam seu brilho esplendor e incomparável.

Os coelhos foram para perto de mim e me fitaram, eu apenas mostrei a língua e virei para o lado.

"Não gosta deles?" - ela pergunta enquanto sua flutuante voz ecoa em minha mente.

Voltei a olhá-los e pensar em um milhão de coisas. Todas sobre essa mulher.

"Eu gostaria que você me dissesse quem é. Eu queria saber se não estou ficando louca, eu queria saber se neste momento não estou falando sozinha em meio a essa mata horrível." - eu digo, trancando as lágrimas de ira que ali em meus olhos queimavam.

Ela suspira e em meio ao suspiro, vem uma pausa que pensei ser interminável.

"Tudo bem..." - me surpreendi com sua resposta, tanto que levantei e olhei freneticamente em volta, investigando se surgia alguém ali. Apesar de que ela nem me disse nada. Esse "tudo bem" podia ser várias coisas, podia ter vários significados mas em minha mente, eu ainda tinha esperanças de que eu não estivesse louca.

Depois de tanto tempo pedindo para ela aparecer para mim, fazendo-lhe perguntas e mais perguntas não respondidas... Ela resolve fazer meu pedido. Resolve realizá-lo.

Escuto uma espécie de vento, um vento rangedor e tumultuoso, logo depois um bater de asas em câmera lenta. Como as de um anjo nos filmes.

Giro meu corpo para todos os lados, em busca do som. Quando noto algo vindo em minha direção ao longe.

Era algo tão pequeno e preto...

Mas por que conseguia ouvir seu bater de asas?

O animal começou a voar mais rápido, suas asas pareciam ansiar para chegar logo até mim. Dou um passo para trás quando piso em uma pedra totalmente desnecessária no momento, caindo sentada com as mãos para trás tentando equilibrar-me.

A neve em minhas mãos nuas doeram e arderam, rapidamente as tiro dali franzindo o cenho.

Aperto os olhos para a figura em minha frente e noto uma grande coruja parada no ar. Suas asas batiam devagar, seus olhos atentos e sua postura graciosa davam uma cor ao lugar coberto pelo branco.

Sua cor caramelada com algumas pintas de um marrom escuro eram como as de uma coruja normal. Mas eu sabia, essa não era uma coruja normal.

"Pronto. Estou aqui." - a voz em minha cabeça disse, e eu logo virei para trás, procurando-a.

"Não estou lhe vendo..." - eu digo e rapidamente prendo a respiração e volto a olhar para a coruja. Foi então que eu entendi.

A coruja era ela.

Levantei e fitei-a. Agora descansava tranquilamente em um galho nu enquanto me olhava como se estivessem com sono ou enjoada de minha presença ali.

"Uma...coruja?" - eu pergunto enquanto limpo a neve de meu vestido.

Os pelos de meu casaco grudavam em minha boca e me incomodavam, eu tinha que ficar retirando dali na maioria das vezes.

Deixei o casaco de pelos escorregar de meu corpo e o pendurei em meu braço, nem ligando para o frio.

A coruja fechou os olhos e abaixou a cabeça lentamente como se aprovasse o fato.

"Você prefere outra forma, eu sei mas... Não posso, ainda não." - aquilo estava tão confuso, estava estranho e eu tremia feito vara verde e nem era de frio, era de que uma coruja estava falando comigo!

"Como você pode falar...?" - pergunto sentando em um tronco ao lado da coruja.

Ela me olhou com aqueles olhos intensos e bateu uma das asas.

"Eu sou uma... guardiã. Sou sua protetora na verdade." - em sua voz, havia uma espécie de orgulho e superioridade. - "eu sou como você, essa é apenas uma forma que eu consigo projetar. É melhor assim, é mais seguro para todos."

"Tudo bem mas... Eu não preciso de protetora nenhuma, eu sei me virar sozinha." - a coruja deu uma risada fraca e seca, que logo se sessou.

"Eu sou sua protetora você queira ou não. Essa é minha obrigação." - fico calada, apenas ouvindo um tilintar de um corvo esganiçando pela mata. - "Eu sou sua protetora desde sempre, vi você dar os primeiros passos... Foi incrível Luna. - a coruja coçou a garganta e voltou com sua pose. - "Você pode voltar para o baile mas... Me de uma carona, estou cansada de voar por ai..."

Levantei e peguei o galho nu em que ela estava. Reparei em como ela mexia sua cabeça de um jeito ágil, como se a qualquer momento fosse dar o bote.

"Me diga... Qual é o seu nome?" - eu começo a andar enquanto aperto o casaco em minha mão livre.

"Havanna." - esse nome foi um balde de água fria. Eu o conhecia. Eu não sabia de onde mas eu o conhecia.

Continue andando e vasculhando onde eu o havia escutado e como um simples nome causou-me um arrepio por todo o corpo.

As lembranças foram amontoadas em minha cabeça e tinha outras até que eu nem sabia que haviam acontecido.



Um espelho. Uma moldura de anjos e demônios. Eu me via nele.

Mas eu era apenas um bebe. Um pequeno e fofo bebe.

Meus grandes olhos pretos sondavam meu pai e minha mãe.

Eu estava em um berço com um macacão quente e peludo, tinha desenhos de corações vermelhos em contorno dele que me deixavam com uma cara mais rechonchuda. Era de um azul marinho simples e básico.

Minha mãe Margaret estava com um vestido rendado que a deixava ainda mais bonita enquanto meu pai estava com um terno formal.

Eu os olhava com um amor tão grande. Tentei alcançá-los mas não conseguia. Eu nem saia do lugar, apenas cambaleava sentada no berço. Chorava com cada tentativa fracassada de ir ao encontro deles.

Eu os amava de uma forma inexplicável pois meus olhos brilhavam sem parar enquanto eu os olhava com orgulho.

"Uma bruxa imortal... Na nossa família... Quer dizer, na sua." - meu pai diz enquanto respira fundo e cruza os braços diante de minha mãe. Ele parecia frio com ela mas... Eu via que em seu olhar, ele sempre a amou. Parecia tentar esconder pois ela estava ali mas era algo meio impossível. Eu conhecia esse olhar.

"Eu também fico surpresa... Ela é... minha tatara- tatara sei lá mais o que avó. - minha mãe suspira e senta em um criado mudo em tom de beje.

Reparo mais no quarto. Vejo como é todo redecorado, como é tão... rosa.

Cheio de bonecas e ursos espalhados por ele todo, meu berço tinha um mosqueteiro que o cobria inteiro e não me deixava ter uma visão ampla dos dois.

Eu queria vê-los melhor. Meu pequeno corpo ansiava por isso.

"Mas como você descobriu o fato?" - ele pergunta e eu noto como ele estava mais novo e mais bonito que nunca.

Seus cabelos estavam mais escuros, sua pose era mais viril, ele tinha mais músculos em seu braço mas seu ar de tranquilidade e aconchegamento em qualquer lugar que estivesse ainda continuava ali.

"Ela veio em forma humana me dizer isso... E eu acreditei claro, mas relaxe, ela não mentiu." - ela falou em um tom decepcionada abaixando sua cabeça e deixando seus cabelos caírem nos ombros nus. Me espantei em como eu me parecia com ela. - "Ela tinha a aparência igual as pessoas da minha família. Igual a mim...!"

"Então o que faremos?" - ele pergunta, dessa vez ele a olha e vejo como ele demostra todo amor possível enquanto ela estava com um olhar alarmador e nem o olhava nos olhos.

Ela vira sua cabeça para ele enquanto dava piscadas parecendo conter-se para não chorar. Mas não era chorar por tristeza e sim, raiva.

"Deixaremos como está." - ela diz em um tom seco como eu nunca ouvira antes enquanto a lembrança se apaga rapidamente em um borrão negro e obsoleto.


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Notas finais do capítulo

Acho que já deu para entender quem é a mulher.



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