–-----------------Michele---------------------------

Abro os olhos e fecho logo depois. Há uma luz muito incomoda. Aos poucos consigo acostumar meus olhos. Sento na cama tentando lembrar do que estava acontecendo. E é claro que me lembrei daqueles olhos mel do gigante lobo olhando-me. Aquela foi à sensação mais gostosa do mundo. E é exatamente por isso que não posso deixar que meu companheiro sofra.

Sei que a batalha será dolorosa, mas quero muito detê-los sozinhas. Não irei morrer. O que ninguém sabe, nem mesmo minha irmã Jane, é que meu avô colocou mais poder em mim do que em todos os magos. Sou sim a maga mais poderosa do mundo. Mas até do que o rei dos magos, cujo mito dizia que podia acabar com uma cidade com um estalar de dedos.

Eu posso acabar com um país, só se me irritar muito. Nunca cheguei a esse ponto, graças ao bom Deus. Mas já cheguei perto. Muito perto. Tenho que proteger Jane e meu companheiro. Não posso deixar que lutem. Claro que quero ficar com ele. Ter uma família. Sempre quis isso, mas tenho que pensar no bem maior.

Levanto da cama, vendo que estou com as mesmas roupas. Olho para a janela e sei que é fim da tarde. Coloco minha sandália e começo a andar até a porta. Sim, vou fugir essa noite. Apenas eu. Deixarei Jane aqui. Não posso deixa-la comigo. É muito perigo.

Abro a porta e vejo que não há ninguém. Fecho os olhos e pronuncio uma palavra. Um feitiço rápido se manifesta no ar. Agora posso ver exatamente onde cada pessoa dessa casa está. Há crianças, jovens, e adultos que não conheço. Os únicos que conheço é Jane, que está na cozinha junto com uma mulher linda. Uma fada. Só não tem as asas. Elas estão fazendo o jantar. Jane sempre gostou de fazer comida, e parece bem feliz. E a outra pessoa que conheço, é meu companheiro. O cheiro doce e divino dele entra pelo meu nariz. Sei exatamente onde está. Mas não consigo ver o quarto por dentro.

Vou andando e subo uma escada muito luxuosa. Na segunda porta encontro o quarto onde ele está. Respiro fundo aquele maravilhoso cheiro doce, e a abro.

Encontro o quarto mais lindo do mundo. Um salão enorme, cheio de quadros em todos os lugares. Ele pinta? Eu arregalo os olhos. Esse era um sonho muito distante meu. Meu companheiro pintar igual a mim. E caramba. O quarto é cheio de quadros brancos também. Estantes de tintas e coleções de lápis. Impressionante.

Quando percebo, estou sendo observada. Olho para meu companheiro. Que ao menos sei o nome. Mas sorrio, porque realmente a conexão entre nos é forte.

–Ola Michele. -ele fala, sorrindo e vindo até a mim.

–Ola... É... Qual o seu nome? -pergunto.

–Taty. Um nome diferente. Mas gostei muito do seu.

–Não seja ridículo. Meu nome é bem comum. O seu que é lindo. E é você que pinta tudo isso aqui? -pergunto incrédula.

–Sim. Você gosta de pinturas?

–Claro. Já fiz uma exposição uma vez das minhas, mas faz muito tempo.

–Vo... Você pinta? -ele arregala os olhos.

–Claro.

–Pode pintar algo agora?

–Posso sim. Amo pintar.

Ele me indica o caminho e começo a pintar. Claro que não o deixo ver. Quero fazer uma surpresa. Estou pintando ele na forma de lobo. Com aqueles olhos lindos. Mas como se estivesse se transformando e me pegando aos seus braços. Sim, me pinto também.

Mas isso é uma despedida. Uma despedida passageira, pois vou fugir e terminar com a raça daquele imbecil do meu avô. Depois pretendo voltar. E essa pintura mostra exatamente isso. Quero que ele me espere.

Assim, finjo que estou terminando-a. Ele está pintando outra na minha frente, o que faz eu não ver sua pintura nem ele a minha. Mas então, finjo termina-la e peço para ele pegar um copo de agua pra mim. Claro que vai, sorrindo. Esta tão feliz. Da até pena de ir. Mas devido à situação... Preciso deixa-los seguros.

Vejo que já saiu do quarto, então começo a escrever em uma folha de papel.

"Perdoe-me. Não posso fazer vocês sofrerem. Estarei de volta quando tudo se resolver. Taty, por favor, cuide de Jane. Em breve estarei de volta. Me espere, querido, pois já o amo. Um beijo."

Simples assim. Mas direto. Deixo o papel no banco onde estava sentada e corro para a janela. Mas antes, vejo o que ele pintou. Era eu. Sentada, pintando. Lindo. Quero esse homem pra mim. Realmente.

Sei que a hora passa muito rápido. Corro para a janela enorme que havia ali. Abro-a, pois estava fechada devido ao ar-condicionado. Então, vejo o chão. Estamos no terceiro andar e é muito lá em baixo. Fecho os olhos e falo uma palavra que me fará flutuar brevemente.

Pulo. Mas o ar aguenta meu peso, que por alguns segundos está quase nulo. Quando vejo, meus pés já pousaram na grama. Tenho que correr. Pelos meus cálculos, essa floresta é extensa, e deve ter uns 20 minutos ou mais andando até o portão. E ainda tem o problema de como vou sair. Então prefiro fechar os olhos e fazer um feitiço perigoso, mas comum pra mim. Falo as palavras, e quando abro meus olhos, já estou em frente ao meu carro. Me teletransportei.

Quando vejo o estado do meu carro quase tenho um treco. Agora me lembrei de tudo. Meu avô estava me perseguindo de carro e resolveu bater logo na parte onde minha irmã estava, tudo para me afetar. Claro que me joguei em cima dela e recebi a bordoada.

E agora, jaz aqui meu lindo carrinho. Terei que comprar outro. Vou correndo até uma loja de carros. A primeira que vi. Entro e vou direto a um homem com a blusa da logomarca.

–Ola senhora, precisa de ajuda?

–Sim. Quero compra um carro. Veloz. Muito veloz.

–De quanto mais ou menos?

–Como? -não entendi.

–O preço.

–O mais rápido que você tiver sem cogitar o preço.

Ele fica um pouco extasiado, olha para todo meu corpo, minhas roupas simples e pele oleosa, pois estou sem banho há dois dias. Tudo por causa da fuga repentina.

Então o homem começa a me guiar para dentro da loja, na área vip. Quando vejo uma Ferrari vermelha, quase entro em colapso. Não creio. Ela já é minha.

–Essa é a belezura mais rápida que você tem? -pergunto analisando-a de ponta a ponta. LINDA.

–Sim senhora.

–Perfeito. Vou levar.

–Fará em quantas vezes e em que cartão?

–Dinheiro, a vista.

Ele fica em silencio.

–Sabe quanto é esse carro? -pergunta desconfiado.

–Sei. Eu amo carros, e sei também que esse não é o carro mais veloz do mundo. Por isso perguntei se era o mais veloz da loja. E realmente achei essa loja uma porcaria, pois devia ter um carro mais veloz que uma Ferrari. -falo irritada.

–Então queira me acompanhar senhora.

Acompanho-o, e começo a compra. Na hora do pagamento olho para a minha bolsa e manipulo as energias ambientais, plasmando um bolo de dinheiro preso por um elástico. Entrego a ele, que fica abismado.

Saio da loja já dirigindo. Agora sim quero ver quem vai me parar. :3

Ligo o radio e começo a cantar uma música qualquer.

Sei que Taty já deve estar maluco me procurando, mas é melhor assim. Nunca irão me achar. Já tenho um plano para atrair meu avo para a cidade vizinha.

Paro o carro em um local onde vejo ter uma loja de celulares. Vou até a atendente e compro de um modo rápido um i phone. Sempre gostei. E já que não tenho muito problema com dinheiro, pois materializo, ai fica na boa.

Entro no carro e ligo para o número que tenho na minha cabeça.

–Alô? -atende uma voz grossa de homem.

–Ola vovô. Está me procurando? -brinco.

–Sim querida netinha. Onde está? -diz ironicamente.

–Cansei de brincadeiras. Quero ver o que fara quando estivermos frente a frente.

–É só me dizer onde está, querida.

–Saindo da cidade. Odiei aqui. Muito pacato.

–Pra onde vai? Meus guardas estão cercando as redondezas. Não há fuga amoreko.

–Ok. Então, me encontro com você e seus guardas daqui a pouco.

–Ok. Estarei lá. -e ri, desligando logo depois.

Sorrio e desligo também. Começo a dirigir. Em alta velocidade.

Chego às redondezas e vejo alguns carros encostados. Estão apenas esperando eu passar. Acelero o máximo possível e corro. Passando por ele, logo vejo cinco atrás de mim. Sorrio e corro mais.

Quando vejo, estamos em uma área deserta. Agora sim posso parar. Paro o carro e saio rapidamente, vendo agora mais de 10 carros pararem em volta de mim. Um circulo gigante. Onde o alvo sou eu.

Meu lindo vovô sai de um deles, me olhando sorridente. Sim. Ele é jovem e lindo. Assim como todos os shifter, não envelhecemos ou morremos, pelo menos de morte natural.

–Querida neta. -ironiza.

–Ola... Vovô. -também ironizo.

–Vamos lutar?

–Claro.

–Mas... Você sabe que acho muito sem graça uma luta com a maga mais poderosa do mundo. Sendo que esse poder foi eu quem dei. -ele diz olhando pra mim, nos meus olhos. Vejo, pela minha visão periférica, que todos os lobos de alguma matilha já estão posicionados. Nenhum deles, nem mesmo o alfa, tem o tamanho do meu companheiro. Não sei por que, mas Taty era gigante. Eles eram simplesmente lobos.

Começo a ficar na posição de guerra, mas então, uma dor aguda surge no meu peito. Caio no chão, gritando.

–Querida, querida... Se acalme. Realmente acha que iria criar um monstro e não colocaria nada para destrui-lo? -diz chegando perto de mim e rindo.

–O... O que você fez? -pergunto ainda sentindo a dor. Uma dor alucinante. Parece que alguém enfia uma faca no meu peito.

–Simplesmente implantei um chip perto do seu coração. Ele te causará dor até que exploda e saia um veneno letal para todo o seu organismo. Você sabe que seus poderes vem de chips que eu criei. Estão pelo seu corpo, mas não pude deixar de por algo para te destruir.

–AAAH –grito, adora não contendo lagrimas. Estou no chão, de bruços, tentando me levantar, mas claro que falhando.

–Calma criança. Irá morrer daqui à duas hora mesmo. -e ri. -Coloquei para explodir daqui a duas horas, para você sentir bem o gostinho do sofrimento. Não pode por magia para tira-lo, pois ele explodiria automaticamente. Não pode fazer uma cirurgia, pois os médicos saberiam que você não tem DNA, mas sim GNA. Um tipo de DNA magico. Claro que iriam querer te examinar e se tornaria novamente uma experiência. -e ri sem parar, mais alto que antes.

Estava muito trise. Eu iria morrer. Foi como a mãe da minha irmã disse. Eu iria causar muito sofrimento. Se eu morrer meu companheiro e minha irmã iram sofrer. A visão se cumpriu.

Sinto a maior dor do mundo. Contorço-me no chão. Vejo de relance o que acontecia. Primeiro vi meu avô ser tirado do chão por um lobo gigante. Eu conheço esse lobo. Estava tentando fazer minha mente pensar, mas não conseguia. Depois vejo a cabeça do meu maldito avô rolando, e o corpo sendo jogado de lado. E então, vejo os olhos inconfundíveis da fera gigantesca. Meu companheiro. Lembro finalmente.

Vejo depois o mesmo se afastando e lutando com as centenas de lobos menores. Havia muitos lobos gigantes, como ele. Mas até mesmo maiores. E tinha um horrorosamente grande. Deve ser o alfa da matilha do Taty. Não conheci ninguém. Olho mais a diante e vejo um lobo também grande, mas jovem, protegendo a minha irmã. Ele parece realmente jovem. Mas porque protege tão veemente a minha irmã?

E minha irmãzinha linda. Com seus cabelos cor dégradé flutuando pelo vento. A magia saia de sua mão e atingia vários lobos menores. Mesmo estando bem atrás do seu protetor. E também usava suas katanas. Mas às vezes, colocava-as em seu corpo e usava a magia.

A dor começa a aumentar. Tão forte que grito. Grito muito. E quando abro os olhos, vejo que a guerra já havia acabado. Todos vem até a mim. Meu companheiro me coloca em seu colo de lobo com a ajuda da minha irmã. Eu não conseguia parar de sentir dor. Quando vejo, estou quase flutuando de tanto que o lobo sob mim corre. Fecho os olhos, e quando os abro, já estou entrando em casa, junto com os outros lobos.

Todos se transformam e colocam imediatamente roupas trazidas por mulheres que nunca vi, mas sabia serem companheiras de alguns lobos ali presentes. Sou posta no sofa enorme e todos me olham preocupados.

Grito de dor.