Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 49
Unapologetic


Notas iniciais do capítulo

CHEGOU, MINHA GENTE! O último capítulo da primeira temporada finalmente vai ser postado. Me desculpem pela demora, eu estive ajudando alguns amigos a estudarem para as recuperações, mas agora estou disponível. Boa leitura.
PS: o link para a segunda temporada está nas notas finais. Sugiro que não leiam antes de terminar o capítulo, afinal há spoilers.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496592/chapter/49

Katerina não lembra de muita coisa ao acordar. Só que as criadas lhe deram um comprimido para dormir e que Francis estava ali o tempo todo. Ela não sabe quando parou de chorar, mas sentiu seus olhos ardidos quando os abriu. As persianas estavam levantadas e as cortinas estavam abertas, os raios de sol que penetravam no seu quarto a acordaram.

Ela caminha até o banheiro, ou melhor, se arrasta. Seus olhos estão tão inchados que ela mal consegue enxergar o seu reflexo. Seus cabelos estão horríveis. Os cachos estão abertos e enormes. Ela lava o rosto e volta para o quarto. Katerina pega uma toalha para tomar banho quando o vê e a realidade lhe dá um banho de água fria. O desenho.

Nele seus cachos estão bem definidos e levemente ao vento, sua pele está branca como mármore, seus feições bem detalhadas, como o seu nariz fino e pequeno e os olhos azuis claros um pouco molhados por causa das lágrimas que havia derramado após acordar do seu pesadelo.

Uma mão pega o papel com cuidado dela.

– É lindo - ele fala.

Katerina só percebe que está chorando quando Francis seca suas lágrimas.

– Ele morreu - ela murmura, molhando o ombro dele. - Eu ainda não consigo acreditar que ele morreu...

Alguém bate na porta.

– Agora não - Francis fala.

– Desculpe, senhor, mas você me pediu para lhe avisar quando ele acordasse - uma voz de homem conta.

Francis dá um beijo na testa de Katerina.

– Me desculpe, mas eu já volto.

Ela o segura pelo braço.

– Ele quem?

– Kat...

– Por favor.

Francis suspira. As lágrimas escorrendo daqueles olhos azuis como a água jorrando de uma cascata o quebrou.

– Nós pegamos vários homens que invadiram o palácio e... bom, como eu digo isso? - ele para por alguns segundos. - Nós pegamos o assassino de Erik.

Algo dentro dela parece se acender. A ideia de ver aquele cara a queima por completo, mas o fio de esperança de obter respostas e de poder se vingar a enche com um novo sentimento. Algo completamente desconhecido.

– Eu quero ir junto.

– Katerina não...

– Eu não estou pedindo permissão - ela pega um amarrador de cabelo na mesinha e abre a porta, enxugando as lágrimas. - Me leve até ele - ela se olhou no espelho. - Esperem dois minutos.

Pela primeira vez depois de meses Katerina coloca uma calça. Ela tem poucas, apenas cinco e só três delas são jeans. Ela preferiu uma calça mais flexível e uma blusa verde musgo. A ruiva amarrou os cabelos em um rabo de cavalo, porque eles estavam enormes, e só passou um pouco de pó embaixo dos olhos para disfarçar as olheiras. Eram cedo demais para as criadas estarem no seu quarto e ela agradeceu por isso.

– Podemos ir agora - ela diz a Francis e ao segurança que os esperava. - Vamos conversar com um assassino.

+++

É óbvio que os prisioneiros não estariam em Hülle, a prisão de segurança nacional de Frömming. Manter aquelas pessoas nas masmorras do palácio seria mais seguro, afinal. Sem a intervenção da polícia e sem um advogado para defendê-los.

Enquanto atravessava os corredores, havia alguns que ainda murmuravam Majestade para ela e faziam uma reverência. Ela encontrou a sua mãe, que a abraçou e Katerina se segurou para não chorar novamente. Ela precisava ser forte agora, precisava se preparar para encarar o assassino de Erik com frieza. Michael também estava acordado e a abraçou, dizendo que sentia muito e que gostava de Erik.

– Nós precisaremos conversar mais tarde - ela diz a ele. - Me espere no meu escritório.

Eles descem até o primeiro andar e se dirigem para um corredor vazio, onde um homem olha por uma pequena portinhola quem está batendo. Ele libera a entrada deles e depois os três passam por uma porta de aço reforçado, atravessando os vários corredores onde vários presos estão dentro de suas celas. No fim do corredor há uma pequena saleta onde as paredes são feitas de pedras e o chão é cinzento e áspero. Há apenas uma cadeira no centro do local e uma janela comprida ao fundo. Na cadeira está sentado Jacques Hallaya, o rei de Hahle.

+++

Ivna recebe a notícia de bom grado. Depois da noite passada deplorável, uma novidade como essa veio em boa hora. Ela ajeita os cabelos castanhos em um coque e caminha pelos corredores com o seu salto batendo no chão. Os seguranças fazem uma pequena reverência e as criadas sorriem para ela quando fazem o mesmo. Ivna apressa o passo até a ala hospitalar. Parece que Joffrey não tinha se saído tão bem quanto ela do incêndio.

– Onde foi parar a máscara que eu lhe dei? - ela pergunta ao entrar no quarto em que ele está.

– Eu dei a Katerina - ele responde. - Estou vivo graças ao Kalxifor.

– Você é um estúpido, não é mesmo? Você podia ter morrido por causa de uma garota que o odeia. Eu não poderia assumir a Rússia sem um marido ao meu lado.

– Nós dois bem sabemos que o seu pai está doente, mas que ele já passou por isso. O imperador é forte como um touro.

Michael e Rebekah entram no quarto de Joffrey antes que ela possa dizer alguma coisa. A garota corre para abraçar ao pai e o enche de perguntas, Michael é mais discreto. Ele sabe que Joffrey não é o seu pai biológico e não sabe como agir.

– Você pode não ter o meu sangue, mas tem o meu sobrenome e adquiriu o meu afeto durante os anos - Joffrey diz a ele. - Você é o meu filho, Mike. Você sempre esteve sendo o meu filho.

– O quê? - ele se surpreende. Não que ele não tenha entendido, porque ele entendeu, só estava surpreso.

– Guarde bem essas palavras porque você nunca mais vai me ouvir falando isso.

Os dois riem diante disso.

– Vamos aproveitar que a família está toda reunida e vamos comemorar - Ivna fala. - Joffrey, trate de levantar a bunda dessa cama porque nós temos compromissos.

– Que tipo de compromissos, mãe? - Rebekah pergunta, curiosa.

Joffrey nunca viu a esposa tão feliz em todo o tempo em que estiveram juntos.

– O velho empacotou - ela conta. - Digo, meu pai está morto. A Rússia é nossa.

+++

– Nós nunca deveríamos ter concordado com isso - Fleur rosna. - Olha só no que deu! Heron está no hospital, meu pai foi capturado e Katerina nem está ferida!

– Aqui está a lista dos mortos - um segurança fala, entrando no quarto de Vincent - e aqui está a dos capturados.

– De todos ou só dos nossos?

– De todos - ele responde. - A maioria dos nossos soldados foram capturados. Eu já mandei um avião particular buscá-los na fronteira, como o senhor me pediu. Nossos infiltrados nos repassaram essas informações.

– Ótimo - Vincent diz. - Pode ir.

Fleur passa os olhos pela lista dos mortos e cai com tudo no chão ao ver o nome de Erik nela.

– Não - ele murmura, levando as mãos trêmulas até a boca. - Não é possível...

– Levanta dai - Vincent murmura.

– Erik está morto - ela balança a cabeça. - Ele não pode estar morto.

– Se ele está na lista é porque é verdade - ele dá um sorriso cínico. - Você gostava do corno Le Lëuken?

Ela vira-se furiosa para Vincent.

– Como eu vou me tornar a rainha agora?

– Eu tenho planos.

– É mesmo? - ela pergunta. - E quais são eles?

– Hahle está sem governante. Heron está em estado grave e você precisa de um marido para assumir como rainha regente já que a esposa do seu irmão faleceu a poucas semanas - ele conta. - O único filho legítimo de Caine é Joffrey e a herdeira dele é Rebekah. Se ela morrer...

– Não haverá herdeiros.

– Acontece que Caine tinha um irmão mais novo, lembra? Era um bebê quando Kurt assumiu. Ele tem a sua idade hoje em dia.

– Ele sumiu durante a invasão dos rebeldes dez anos atrás - Fleur fala. - Os meus pais me contaram.

– Nem todas as invasões são feitas pelos rebeldes - Vincent sorri. - Eu o peguei e o coloquei em uma família onde ele é muito parecido com o pai adotivo.

– E onde ele está agora?

– Infelizmente, não onde eu possa interferir. A última vez que eu soube, ele estava em Hahle com uma garota de cabelos lilás... agora deve estar vindo até aqui com o irmão mais velho atrás de Melanie.

Fleur pensa. Vincent a contou tudo sobre os rebeldes desde que foi para o norte de Frömming. Ela se lembrava do garoto, cabelos castanhos escuros e olhos azuis, apenas o seu nome não lhe vinha a cabeça...

– Austin? - ela sugere.

– Andrew - Vincent fala. - Andrew Duninghan é o irmão perdido de Caine e se Rebekah morrer e você estiver casada com o garoto, você será não só rainha regente de Hahle até o seu irmão se recuperar, mas será a rainha de Frömming. A rainha das rainhas, Fleur. Você será A Rainha.

+++

– Jacques? - Francis questiona, chocado. - Você não...

– Erik disse que Fleur estava nos observando - Katerina sussurra. - Ele estava certo, não é? Vocês estão por trás do ataque.

– Queríamos ferir os rebeldes - o homem de cabelos escuros e olhos cor de mel responde. - Eles foram até o nosso país nos ameaçar para ter o nosso apoio. Ninguém pode ir até a nossa casa e nos obrigar a fazer algo. Nosso símbolo é o búfalo, nós não podemos ser domados.

– Por causa de Fleur - a ruiva fala. - Eles a ameaçaram porque ela e Erik tiveram um caso, certo? Ela poderia ser executada caso isso fosse divulgado.

– Heron nunca teve a cabeça muito boa para o reinado. Não tem ambição, mas é o filho mais velho. A minha esperança era que Fleur se casasse e desse um golpe no irmão. Ela sempre foi a nossa melhor chance.

– E por isso você decidiu simplesmente atacar o meu palácio sabendo que os rebeldes estavam dispersos pelo continente! - Katerina se estressa.

– Heron queria que atacássemos os rebeldes, Fleur e Florence queriam a sua cabeça - Jacques aponta para a ruiva -, mas eu queria Erik morto. Tudo estava acontecendo porque ele seduziu a minha filha.

– Desculpe, Jacques, mas a sua filha não é o tipo de mulher que se deixa ser seduzida - Francis fala. - É justamente o contrário.

Katerina estende a mão para o segurança.

– Me passa a arma.

– Mas a senhora sabe atirar? - ele pergunta, confuso.

– Não, mas eu não tenho nada a perder - ela nem olha para ele. - Me passa a arma - ela olha para Jacques. - Me diga quem o ajudou e eu não atiro.

– Vincent - ele deda o homem sem nem pensar duas vezes. - Vincent Fieldmann, o Senhor de Meurer.

Ela se lembra do dia em que atirou em um rebelde depois de encontrar Francis baleado. Foi o dia em que eles se beijaram pela primeira vez. Katerina se concentra, lembrando como a raiva do momento a fez acertar aquele homem. Ela apontou para a canela de Jacques, mas acabou acertando o seu joelho.

O som grotesco que sai da garganta do homem é música para os ouvidos dela. Katerina não se sentia tão bem assim há muito tempo.

– Você se arrepende de alguma coisa? - ela pergunta.

Jacques não responde.

– Você se arrepende de ter atirado duas vezes em Erik? - ela refaz a pergunta.

Ele geme de dor, mas não dirige a palavra a ela.

Katerina se aproxima e pressiona o dedo na ferida exposta no joelho de Jacques. Francis tenta impedi-la, mas ela diz ao segurança para segurá-lo. Ela faz Jacques abrir os olhos e encará-la. Lágrimas escorrem dos olhos cor de mel do homem, mas ela não sente pena, não sente dó e não sente remorso. Ela não sente nada.

– Você se arrepende? - ela pergunta pela terceira vez.

– O meu único arrependimento foi não ter cravado duas balas na sua testa também - ele rosna -, mas a morte seria piedade demais para vocês dois.

– Mantê-lo vivo seria piedade demais - ela diz.

Alguém abre a porta da saleta. Katerina se vira, Rebekah está lá.

– O que você pensa que está fazendo? - ela pergunta. - Eu sou a rainha agora. Eu que tenho que interrogar o prisioneiro.

– Ah, prima, eu não estou o interrogando.

Rebekah vê o sangue no chão e a ferida na perna de Jacques.

– Você está torturando o pai do rei de Hahle? - ela rosna. - Quem você pensa que é, Katerina? Você não passa de uma bastarda agora. Me dê essa arma - ela estende a mão. - Vamos. Me dê.

A ruiva a ignora e vira-se para Jacques.

– Também não estou o torturando - ela sorri ao ver o desespero em seus olhos quando ela encosta o cano frio da arma na sua testa. - Estou o matando.

Ela afasta um pouco a arma, apenas o suficiente para ele sentir o vento frio da bala entrando em sua testa e a pressão e a dor e o sufoco que ela sentiu. Katerina atira duas vezes.

Duas vezes por Erik, ela diz a si mesma. Pelos dois tiros que ele levou.

Ela se vira para Rebekah, que está pasma atrás dela.

– Aqui está a arma - ela entrega para a prima. - Boa sorte no reinado. Você vai precisar lidar com uma guerra.

Francis a abraça quando os dois saem da saleta acompanhados do segurança.

– Você está bem? - ele pergunta, preocupado.

– Estou ótima - ela garante. - Erik pode descansar em paz agora.

+++

O enterro de Erik havia acontecido pela manhã e ela voltou a chorar, mas foi reconfortada pelos mais próximos. Depois ela foi ao hospital e buscou o pequeno Erik, mesmo ele não estando completamente recuperado. Ela insistiu e o médico o liberou.

Quando voltou para o palácio, foi direto para o seu quarto arrumar as suas malas e as do seu filho. Ela ligou a televisão e descobriu que os protestos em Ahnmach haviam começado, assim como os em Hahle após a morte de pessoas importantes para eles. Erik e Jacques. A vítima e o assassino. Rebekah fazia discursos tentando tranquilizar a todos, mas os protestos continuavam. Ahnmach exigia que Katerina assumisse ao trono enquanto o seu filho é bebê, já Hahle exige que Fleur assuma como rainha regente e não Florence, a mãe de Heron.

O que eles tinham em comum é o desejo de vingança.

Katerina chama Michael e Leona para conversarem no seu escritório e entra com o pequeno Erik e uma mala com as roupas dele.

– Hana e Don estão em Ahnmach esperando vocês - ela diz. - Não é seguro para Erik ficar aqui. Eu preciso que vocês cuidem dele por mim. Preciso que você, Leona, assuma o trono como rainha regente até Erik ter idade suficiente para ser rei.

– Katerina, eu não sei se...

– Nós aceitamos - Leona diz, estendendo os braços. - Erik iria querer o melhor para o seu filho. Faremos por eles.

Katerina sente as lágrimas queimarem o seu rosto e um gosto salgado entrar em seus lábios. Ela beija o pequeno Erik na sua bochecha gordinha e o entrega a Leona.

– Eu quero que ele saiba quem o pai dele foi - Katerina diz. - Quero que ele saiba quem um dia vai ser.

Os dois concordam com a cabeça.

– Para onde você vai, Kate? - Michael pergunta.

– Eu tenho algumas coisas a fazer antes de ficar com meu filho.

– Não foi exatamente uma resposta.

Ela sorri de leve, secando as lágrimas. Ela decide que pode confiar neles.

– Eu vou para o norte.

+++

Katerina pede para Francis esperar no jatinho com Josh e os outros seguranças de sua confiança.

– Onde você vai? - ele pergunta.

– Tenho que falar com Joffrey antes.

Ela entra no palácio pensando no que Francis havia dito a ela mais cedo.

– Eu preciso ir para o norte - ela havia dito. - Melanie é minha irmã, Francis. E depois do que Jacques nos disse... Vincent tem que pagar pelas 263 mortes causadas naquele ataque.

– Eu vou com você - ele havia decidido.

– Você tem um país para cuidar - ela disse a ele. - Eu não posso simplesmente aceitar que você desista de tudo para...

– Para ir com você? - ele completa. - Eu tenho um irmão em quem eu confio para cuidar de Altulle para mim. Eu não me importo de desistir do meu reinado por você.

Katerina bate na porta do escritório pessoal de Joffrey e ele mesmo abre a porta.

– Você é a última pessoa que eu esperava que me visitasse - ele diz, abrindo espaço para ela entrar.

Katerina se senta no pequeno sofá perto da parede.

– Eu queria agradecer por você ter me dado a sua máscara - ela fala. - Você poderia ter morrido.

– Você sabia que há Kalxifor em forma líquida agora? Da para injetar... então, eu sabia que não morreria.

– A pomada cura ferimentos externos, Joffrey. Para a fumaça que você inalou seria preciso bem mais do que isso.

Ela olha para ele.

– Você não precisa ter vergonha de admitir que se arriscou por alguém - a ruiva diz. - Você deveria se orgulhar de estar começando a ser um homem generoso.

Joffrey estava cansado de esconder aquele segredo. Durante todos esses anos, ele guardou para si por causa da sua amada Hattie, esperando que ela o daria uma chance, mas isso nunca aconteceu. Há meses eles estão no mesmo palácio, mas ela não parecia estar interessada. Ele passou por poucas e boas aquela noite e ele teve medo de morrer sem contar a verdade para Katerina.

Sim, ele teve medo pela primeira vez na vida.

– Você nunca soube, não é? - ele pergunta, indo até a mesa, mexendo nos objetos de forma inquietante.

– Soube do quê? - Katerina pergunta, confusa.

– Sim, eu me arrisquei por você e eu quase morri na noite do ataque. Eu tive medo de morrer com isso guardado dentro de mim não só porque vai mudar o rumo do país, eu estou pouco me fodendo para esse país, mas porque mudaria o rumo da sua vida. Eu sei que você começou a me odiar desde o dia em que soube que eu matei Kurt e que você deve achar que eu sou um monstro, mas eu fiz o que eu fiz porque ele sabia a verdade. Jean-Pierre também sabia e eu pensava que ele era meu amigo, apesar da rixa entre nossos países, e ele nunca me disse, então eu fui até Altulle e matei a mulher dele diante dos seus olhos. Sim. Eu fiz tudo isso por vingança, porque todos ao meu redor que eu confiava, Harriet, Kurt e JP me traíram escondendo a verdade de mim e eu não suportei! - Joffrey desaba. - Eu não podia suportar, porque eu não tinha nada e de repente eu percebi que tudo poderia ter sido tão diferente...

– O que você está dizendo?

– Eu e sua mãe nos casamos escondidos quando éramos jovens - Joffrey conta. - Quando descobrimos que meu pai queria casá-la com Kurt, nós nos casamos para que ninguém nunca nos separasse. Casamos diante de JP, que já era casado com Alícia. Eles foram nossas testemunhas. Casamos diante de um padre comum mesmo.

Katerina se surpreende. Quer dizer então que o casamento dos seus pais não é válido...

– Rebekah não pode ser a sua herdeira - ela murmura. - O seu casamento com Ivna é tão inválido quanto o casamento dos meus pais. Bigamia é crime, Joffrey.

– A questão não é sobre Rebekah. Eu não me importo de ser preso por bigamia, mas aposto que a sua mãe se importa. Você pode revelar a verdade para todos depois e eu confirmarei a sua versão, mas primeiro você tem que me escutar.

Ela respirou fundo e assentiu, já sentindo tremores em suas pernas.

– Harriet estava grávida. Ela se casou com Kurt e poderia ter fingido que a criança que carregava era dele, mas ela contou a verdade. Contou que eu e ela nos amávamos, que tínhamos nos casado escondidos e que o bebê que ela carregava no ventre era meu. Depois sua mãe me procurou e disse que havia tido um aborto espontâneo e eu nunca fiquei tão triste em toda a minha vida.

Katerina sente uma pena repentina de Joffrey. Algo que ela nunca sentiu antes.

– Eu sinto muito.

– Foi nessa época que Kurt foi para o norte e teve a sua bastarda lá - Melanie, Katerina diz a si mesma. - Depois Kurt e Harriet passaram dois anos em Altulle no Palácio Kionbach e voltaram só quando nosso pai morreu, que foi quando Kurt teve que assumir o trono. Acontece que alguns anos mais tarde eu descobri que tudo foi uma mentira. Kurt contou ao nosso pai que Harriet estava grávida de um filho meu e Caine a ameaçou. Ela teve que mentir para mim.

Katerina começa a entender as coisas. É como se uma manivela estivesse girando e girando e girando e trabalhando sem parar. Ela entende, mas não consegue acreditar, não consegue dizer a si mesma.

– Você também matou o seu pai? - ela pergunta.

Joffrey nega.

– Matei Alícia porque JP escondeu de mim que o fruto do meu amor com a sua mãe vivia e matei Kurt por ter concordado com o nosso pai em ameaçar Harriet. Ela pode tê-lo amado depois, mas ele nunca a amou, disso eu tenho certeza - Joffrey garante. - Nenhum homem na Terra poderá amar uma mulher mais do que eu amo Harriet. É impossível.

– O amor tem várias faces.

– Você sabe que isso é mentira - Joffrey rosna. - O amor é paciente. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

– Citar passagens paralelas da Bíblia não irão me convencer - Katerina diz. - Você se esqueceu da parte de que o amor não inveja, não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas como a verd...

– Você consegue parar de me interromper? - ele vira-se para ela, irado. - Kurt fez coisas terríveis e você insiste em defendê-lo.

Katerina se aproxima de Joffrey e o ódio em seus olhos se amenizam, voltando ao normal. Tudo o que ela vê naquele mar esverdeado e cristalino é dor e tristeza. Um coração partido, muita mágoa e a esperança de conseguir o afeto da mulher que ama. A esperança de ser feliz.

– Vocês nem tem o mesmo sangue... - ele murmura.

A ruiva muda o seu olhar. Sim, ela havia entendido aquilo desde o começo, mas agora... a verdade estava ali, na sua cara. Explícita. Todas as verdades sempre estiveram diante dela e ela insistiu em ignorá-las, em confiar em tudo o que lhe foi dito em vez de investigar o porquê das coisas. Todas as suas decepções aconteceram porque ela, ninguém além dela, é culpada. Ela entende isso agora.

Você tem o livre arbítrio para escolher, Joffrey lhe dizia desde pequena, porém você é escrava das consequências.

– Eu escolhi não acreditar, não pesquisar e nem ir a fundo - ele fala, praticamente lendo os pensamentos dela. - Eu paguei o preço pelas minhas escolhas. Levo uma vida infeliz. Sou o imperador da Rússia agora que o velho morreu, mas de que adianta se a minha esposa é tão miserável quanto eu? Lá no fundo, eu acho que nós dois nos merecemos. Fizemos coisas terríveis por vingança.

Katerina o escuta silenciosamente e de cabeça baixa.

– Desde que descobri, eu me perguntava como você agiria quando descobrisse a verdade. Como a sua mãe agiria quando descobrisse que eu lhe contei a verdade, porque eu prometi a mim mesmo que um dia contaria.

A ruiva ouve os passos dele até ela. Ela sente ele erguer o seu queixo, a obrigando a olhar para ele. Lágrimas fazem a sua vista embaçar, mas ela consegue ver claramente as semelhanças nos traços deles. Os olhos claros levemente puxados e a marca no braço... pela forma como ele segura o seu maxilar, ela consegue ver a pequena mancha que ele tem no antebraço. A mesma marca que ela e mais ninguém tem, nem Rebekah.

– Porque a verdade é essa, por mais que você não queira aceitar - Joffrey fala, sorrindo para ela. - Eu sou o seu pai, Katerina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estou muito feliz por mais um trabalho concluído.
Link para a segunda temporada: http://fanfiction.com.br/historia/518016/Unforgivable/
Muito obrigada a todos que leram, acompanharam, favoritaram, recomendaram e comentaram. Sou muito grata aos elogios e as críticas, pois essas me fizeram melhorar e crescer. Nos vemos na próxima temporada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Unapologetic" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.