Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 48
Erik


Notas iniciais do capítulo

Como se passou um mês desde o nascimento do bebê da Kat e vocês não ficaram sabendo o que aconteceu com a Melanie, vou fazer uma rápida volta no tempo.
Boa leitura.



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Um mês atrás

Melanie consegue entrar em Haase sem muitas dificuldades. Sua mãe a esperava no esconderijo dos Apátridas: o subsolo. Embaixo da fábrica na divisa de Haase com Boerke, duas cidades pacatas ao lado de Meurer, havia vários e vários andares subterrâneos, cada um se aproximando ainda mas do núcleo da Terra do que o outro. Vidas se passam lá. Nascimentos e mortes. Pessoas vivem escondidas.

– Quantos nós temos? - ela pergunta a Valentina depois de abraçá-la.

– Perto de dez mil.

– Pessoas prontas para lutar - ela se corrige. - Sem contar as crianças, idosos, deficientes, grávidas e etc.

– Para a luta corpo a corpo temos cerca de oito mil.

– É pouco - Melanie lamenta enquanto as duas caminham lado a lado pelos corredores silenciosos.

– Temos nossos infiltrados, nossos estrategistas...

– É pouco, mãe. Oito mil deve ser metade dos soldados de Vincent só em Meurer.

Mãe e filha entram em uma sala com porta automática revestida em aço. As paredes são cobertas de monitores, cada um mostrando uma imagem diferente. Da Avenida Principal do Setor Fieldmann em Meurer, dos corredores do Palácio Archiberz na capital, da sala de reuniões em Hahle, a sala do trono em Altulle e por ai vai. Era tanta informação junta que Melanie se sentiu meio perdida.

– Chamo este lugar de Cérebro - Valentina fala. - Passo meus dias aqui, observando tudo, dando instruções...

Melanie corre os dedos pelos botões. Tantos comandos, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo e sendo vigiadas a todo o instante.

– Onde está Derek?

– Carrick mandou a cura para nós - a mãe de Melanie conta.

– O remédio que encuba o vírus.

Valentina nega com a cabeça.

– Ele conseguiu, Melanie. Carrick desenvolveu a verdadeira cura.

Vários sentimentos a invadiram. Alegria, alívio e saudade. Melanie varia entre o sorriso e o choro, vendo que a mãe não fazia o mesmo. Então ela percebeu que o irmão não estava ali com elas.

Se ele realmente recebeu a cura, Melanie pensou, porque não está aqui?

– Onde está Derek? - ela pergunta de novo, dessa vez com medo.

– Vincent o pegou.

A morena dos olhos verdes controla a vontade de quebrar todos os monitores e socar todos os botões na sua frente. O seu mundo parece estar se despedaçando aos poucos, com as bordas escurecidas ou manchadas, porque ela não consegue ver nada nítido diante dos seus olhos. Ela simplesmente se levanta e anda até a porta, que se abre automaticamente.

– Melanie - a mãe a chama. - Melanie! - ela segura o pulso da filha e se sente um pouco aliviada por ver que ela está curada das suas manias, mas em pouco tempo a apreensão volta a tomar conta do peito de Valentina. - O que você pretende fazer?

– Vincent está com o orgulho ferido. Eu fugi quando ele me pegou, lembra? Eu vou dar um jeito nisso.

– Eu posso saber como? - Valentina pergunta, já sabendo a resposta. - Melanie, por favor. Você é tudo o que me restou... - ela fala, já sem esperança de que a neta Luna ou o filho Derek estejam vivos.

– Ele pegou a minha filha e o meu irmão para chamar a minha atenção, para me atrair. Ninguém mais vai sofrer por minha causa - ela se solta da mão da mãe. - Eu vou me entregar.

Dias atuais

Katerina não consegue controlar o riso. Simplesmente saiu, de forma natural.

Tantos irmãos... Tantas revelações. Primeiro ela descobre que seu tio Joffrey matou o seu pai, depois que a sua mãe estava viva, que Michael também é filho de Harriet, que seu pai é adotado e que ela não é a herdeira do trono. Além disso, ela se apaixonou, teve o coração partido, casou com outro, se apaixonou de novo, engravidou e quase perdeu o bebê por causa de Ivna. Sem contar os ataques rebeldes no dia do seu aniversário e no dia do casamento do seu mais novo irmão. Agora isso. Melanie é sua irmã por parte de pai. Mais uma filha de Kurt.

– Mais uma bastarda para a lista dos Archiberz - é o que ela consegue dizer.

– Michael é filho de Vincent - Josh revela. - Melanie descobriu tudo isso e agora ela corre perigo.

Katerina para de rir. Respira e inspira, respira e inspira. Respira e inspira. Como alguém tão bom como Michael pode ter sido criado por Joffrey e ter o sangue de Vincent correndo nas suas veias? Ela encontrou com o Senhor de Meurer apenas uma vez, mas foi o suficiente para perceber que ele não é flor que se cheire. Dois monstros. Como...

Ele puxou Harriet, ela diz para si mesma. Ele puxou a minha mãe. A serenidade da família de Harriet.

– Você sabe onde Melanie está?

– É óbvio que ela está em Meurer - Josh fala.

– E por quê você acha isso? - Erik questiona, interessado.

– Porque ela é a Melanie - ele fala como se não houvesse outra razão. - Ela não consegue ficar fora de confusão.

Ele respira fundo.

– Além disso, ela odeia Vincent desde antes de conhecê-lo. Inimigos mortais.

Katerina contrai o maxilar, pensando. O que ela poderia fazer?

– Nós vamos para o norte - ela decide. - Depois do casamento de Rebekah nós pensaremos em tudo.

Josh acaba concordando, aceitando que ela não pode fazer nada no momento.

– Espera - ele segura o braço de Katerina depois que vê Erik já descendo metade das escadas. - Rebekah pretende revelar a todos hoje que ela é a herdeira do trono. Você precisa planejar algo.

Katerina olha para Erik e assente com a cabeça, o dizendo que pode ir. Ela volta para o escritório com Josh.

– Vamos organizar tudo antes que seja tarde.

+++

Melanie vira a cara quando Vincent tenta tocar o seu rosto. Ela se lembra de como Tyler Whitmore tentava levá-la para a cama a todo custo. Até estar com Tyler seria melhor nesse momento.

– Eu estou aqui há um mês - ela fala. - Você não me deixa falar com a minha filha e nem com o meu irmão, só me mantém presa nesse quarto. Eu nem sei se eles estão vivos.

– Sua mãe tentou me atacar duas vezes nesse mês - ele murmura, seus olhos são duas órbitas negras. - Quero que você diga a qualquer pessoa que venha procurá-la que você está aqui por vontade própria.

Os cabelos escuros de Vincent estão bagunçados. Ela nunca o viu com o cabeço bagunçado. Ele mantém a barba bem aparada e quando o conheceu, apesar de odiá-lo, ela não conseguiu deixar de perceber como ele ficava charmoso com um terno. Agora que o viu sem camisa, também pensou que ele seria um homem bem atraente em outras circunstâncias. Porém ela o odeia.

Eu não costumo achar meus inimigos bonitos, ela diz a si mesma.

– Qual é o seu objetivo com isso tudo? - ela pergunta. - É ridículo.

– Desde antes de você me conhecer, Melanie, eu já a admirava. Desde quando você não era nada além de uma garotinha pobre que vivia na casa da sua mãe eu a observava. Sabe, eu a assistia de longe, espreitando aos poucos...

– O que isso quer dizer?

– Sinto muito por tê-la deixado nas ruas por tanto tempo. Dois anos fizeram mesmo a diferença, mas você era escorregadia. Todos os dias estava em um lugar diferente... eu nunca consegui identificá-la. Coloquei várias pessoas atrás de você até que... bom, você sabe. Andrew apareceu.

Melanie sabe da história. Andrew a contou. Ela não ficou chateada e nem se sentiu traída, porque se estivesse no lugar dele, faria o mesmo sem hesitar. Ela faria coisas piores, com certeza. Dessa vez ela estava.

– Eu quero ver Derek e Luna.

– Então essa é a sua condição para fazer o que eu quero? - Vincent pergunta. - Se eu deixar você conviver com os dois, você cumpre a sua parte no acordo?

Ela sabe do que ele está falando, é claro. Sexo. É tudo o que caras como Vincent querem de garotas como ela: sexo. A esposa dele, Kimberly, estava no quarto ao lado. Hillary deve estar em algum lugar de Las Mees com Matthew e ele ainda tem um filho pequeno, o doce Christopher. Ela soube que ele é muito amigo de sua filha, Luna, e ela se sentiu um pouco aliviada por ela não ter ficado tão sozinha.

Por Luna e por Derek, ela decide. Farei por eles.

– Sim - ela concorda. - Eu aceitarei o seu acordo.

Ele chama um dos seus seguranças de confiança.

– Leve Melanie até a filha e depois até o irmão.

A garota sente os olhos lacrimejarem. Se Vincent não fosse tão horrível, ela até o agradeceria. Ela veria os dois. Ela encontraria a sua filha. O seu irmão. Depois de tanto tempo...

Enquanto isso, no quarto de Vincent, ela chama outro segurança.

– Como vai os nossos planos? - ele pergunta.

– Tudo certo - ele garante. - O ataque será hoje.

– Ótimo - ele sorri. - As informações que a minha adorada Melanie me passou foram muito úteis. O casamento dessa garota será muito útil para nós.

– Os nossos homens esperam o momento certo para começar.

O segurança entrega ao Senhor de Meurer a pequena tela de vidro onde estão as imagens do casamento de Rebekah Archiberz e Alek Richmanoff. Um ótimo ângulo, onde dá para ver os noivos e ao mesmo tempo a porta principal do Grande Salão, com seus ornamentos em dourados e as enormes maçanetas feitas de ouro.

– E a nossa principal informante? Onde está a garota que arquitetou este plano comigo?

– Eu estou aqui - a garota loira entra no quarto de Vincent. - A garota tem nome. Eu sou Fleur Hallaya.

O segurança espera as ordens de Vincent.

– Diga-lhes para atacar após o discurso da noiva - ele sorri. - Quero assistir em primeira mão um banho de sangue.

+++

Katerina procura por Erik no Grande Salão, mas não o acha. De repente, ela tropeça em alguém.

– Me desculpe - ela pede. - Sinto muito.

– Majestade - uma voz masculina sedutora e familiar a chama atenção.

– Você veio - ela respira fundo. - Francis.

– Katerina.

– Nós não temos o que conversar.

– Concordo, mas eu só preciso lhe dizer que agora sou um homem livre.

– Como é?

– Eu pedi ao papa a anulação do meu casamento, mas ele não a concedeu. Não me importo se o meu país é católico, pois eu sou o rei. Eu sou a lei. Os Conselheiros concordaram comigo e o divórcio foi legalizado. Agora em Altulle qualquer casal pode se separar legalmente - ele sorri. - Aposto que vários países adotarão essa política em breve.

Katerina quase não consegue segurar o ar.

– E por que você fez isso? Seu pai deve estar o odiando.

Ele parece surpreso.

– Não é claro? - ele pergunta, tocando o braço dela, a fazendo se arrepiar. - Eu fiz por você.

Seu coração se quebra nesse momento.

– Eu sinto muito, Francis, mas eu...

– Eu sei - ele fala, compreensivo. - Agora você não pode.

Ela não colocaria a palavra agora se tivesse falado, mas já que ele prefere assim...

– É errado - Francis continua. - Agora. Um dia não vai ser e você vai saber quando me procurar.

Ele lhe beija a bochecha e se retira. Katerina não deixa de sentir saudades do tempo em que estavam juntos, mas ela logo encontra Erik e se junta a ele para ver a cerimônia.

Rebekah e Alek trocaram as alianças, o padre deu a benção e eles se beijaram. Antes do jantar começar, Rebekah pede para falar. Ela pega uma pasta amarelada das mãos de Ivna e chama a atenção dos jornalistas.

Katerina treme e Josh segura o seu braço de leve. Ela assente com a cabeça. Ela vai revelar. Pelo canto do olho, ela vê Francis observar Rebekah com atenção.

– Aqui comigo estão documentos muito importantes - Rebekah fala. - Papéis que podem mudar todo o destino de Frömming.

Houve um rápido burburinho, mas todos fazem silêncio logo em seguida.

– Aqui comigo estão os papéis que provam que Caine e Giulietta Archiberz adotaram o já falecido Kurt anos atrás.

Todos se espantam. Ninguém esperava por nisso, exceto algumas pessoas. Katerina, Josh e Ivna. Os três eram os únicos que sabiam. Até Joffrey se mostra surpreso.

– Aqui comigo há um exame de DNA que prova que Joffrey é o único filho legítimo de Caine e Giulietta - ela procura os olhos de Katerina até que a acha na fundo da multidão. - Aqui comigo há papéis que mostram que Michael foi adotado por Joffrey e Ivna Archiberz.

Mais um baque para todos. Os jornalistas hoje se fartarão.

– Aqui comigo há outro exame de DNA que prova que eu sou a única filha legítima do herdeiro do trono. Eu sou casada e segundo a lei do país, um herdeiro casado tem o direito de assumir o trono.

Algumas câmeras focam em Katerina, outras continuam em Rebekah.

– Eu quero só o que é meu por direito - ela diz. - Eu quero o trono, eu quero a coroa. Eu não quero ser uma rainha, eu quero ser A Rainha.

Erik reconhece aquelas palavras. A última frase. As mesmas exatas palavras.

– Ela está nos observando - ele agarra o braço de Katerina. - Fleur está nos observando.

Não há saída. Todas as câmeras estão focadas nela, todos em silêncio em busca de uma resposta. Katerina respira fundo, guardando toda a raiva para dentro de si. Ela precisa fazer algo, todos estão esperando. Ela precisa se manifestar.

Ela se afasta da multidão, ficando no corredor vazio. Ela caminha até Rebekah e retira a coroa da sua cabeça e coloca na cabeça dela.

– Aqui está a sua coroa - ela murmura. - A sala do trono é aqui ao lado. Pegue a sua coroa, pegue o seu trono. Pegue tudo o que é seu.

Ela olha para os jornalistas.

– Eu posso não ser a herdeira legítima, mas durante o tempo em que reinei as taxas de assassinato diminuíram, a violência nas ruas está sendo combatida e os trabalhos de caridade aumentaram. Desde que assumi o trono, mais de duzentos milhões foram investidos em orfanatos, clínicas de reabilitação e hospícios. Mais de 60% dos doentes saíram da UTI desde que eu investi cinquenta milhões em novos hospitais e em faculdades para médicos em potenciais. Desde que eu me tornei rainha, a tecnologia de Frömming subiu para a segunda colocação, ficando atrás apenas da China, e a nossa economia se tornou maior. O nosso PIB nunca esteve tão alto desde a Grande Guerra.

Ela olha ao redor, cansada de informar dados.

– Eu posso não ser a herdeira legítima porque o meu pai não tem o sangue real correndo nas veias, mas ninguém aqui pode negar que eu fiz por esse país o que muitos reis e rainhas não fizeram em anos. Eu doei todo o meu ser por essa nação e eu a amo como se fosse um filho para mim - ela dá de ombros -, mas isso não vale nada para vocês, não é mesmo? Tudo o que eu falei não passa de palavras vazias de uma usurpadora da coroa. Bom, fui tão enganada quanto vocês. Eu não sabia que Rebekah era a herdeira, mas agora eu sei. Eu sei fazer justiça e ali está - ela aponta para a cabeça da prima - a coroa que me foi dada está com a sua verdadeira dona - ela olha para a morena. - Faça bom proveito.

Ela vira-se para o jornalista.

– Eu só quero dizer ao povo que eu espero que Rebekah seja uma rainha melhor do que eu fui. Para o bem de todos vocês.

Todos estão em silêncio. De repente, os violinos da orquestra começam a tocar uma música triste e melancólica. Rebekah vira-se para eles e os repreende, mas eles parecem não ligar. As portas do Grande Salão são abertas. Michael está lá com o rosto chamuscado.

– O palácio está pegando fogo! - ele grita. - Fomos atacados.

As pessoas começam a gritar e a se mexer. Uma fumaça escura e grossa entra no Grande Salão e logo toma conta. A escuridão toma conta dos corpos, levando vidas consigo. A fumaça tóxica entra nos pulmões das pessoas e acaba com as suas vidas em segundos.

Nós não somos nada mesmo. Somos nada além de pó.

Homens com máscaras protetores invadem o salão com armas de fogo, facões, machados afiados e outras armas tinindo de novas. É o fim.

Katerina não encontra Erik.

Ela o procura, desesperada, enquanto tosse. A fumaça entra pelo seu nariz e se infiltra no seu corpo, enraizando nos seus pulmões. Ela não sabe o que fazer. Está tudo perdido.

Katerina cai. A mão tampando a boca e o nariz em uma tentativa falha de se proteger. Não há como. Ela precisa respirar e a fumaça está por todos os lugares. Os gritos agudos e graves e femininos e masculinos invadem os seus ouvidos. Gritos de dor, gritos de desespero, gritos de pessoas chamando por conhecidos e gritos dos homens mascarados atirando em todos. Guinchos de tristeza ao se deparar com alguém importante morto, silvos da desgraça que se abaterá sobre famílias e o som do medo, o som do desespero. O pior som de todos.

Ela o encontra, ali, caído.

– Erik - ela murmura, massageando o seu peito, tentando inutilmente o fazê-lo respirar. - Erik, por favor, fala comigo.

Todo o seu corpo está mole, ela fraqueja e tudo a sua frente é preto. Ela mal enxerga, mas teve um rápido vislumbre do seu rosto. Ela percebe que as janelas foram quebradas e a porta do Grande Salão foi fechada. A fumaça começa a ir embora, se espalhando pelo ar da noite, e apenas pouco dela passa por baixo da porta.

– Erik - ela o chama.

– Kate... - ele murmura muito baixo, baixo demais.

– O socorro logo virá - ela diz. - Eles estão chegando. Tudo de tóxico que entrou dentro de você logo sairá. Eu prometo.

Ele retira a mão da barriga e mesmo ainda estando escuro, ela percebe algo escuro e pegajoso. Ela toca e sente aquilo empapar os seus dedos e o cheiro... o cheiro irreconhecível da morte.

– Eu fui baleado, Kate - ele murmura. - Eu estava só a esperando.

– Poupe a sua voz - ela pede. - Por favor. O socorro logo virá. Você precisa guardar as suas forças. Só, por favor...

Ele segura as mãos dela, a interrompendo. Uma mão trêmula e cheia de sangue passa abaixo dos seus olhos, empurrando as lágrimas para além dos seus olhos. Katerina sente a sua vista embaçada, mas ela afasta as gotas de água que se formam embaixo dos seus olhos. Ela quer vê-lo, ela precisa...

– Eu nunca amei ninguém como eu amo você - ele sussurra -, mas eu sei que alguém a ama tanto quanto eu amo.

Ela percebe que ele não está olhando para ela, mas para atrás dela. Katerina vira-se um pouco, apenas um breve segundo para saber que ele está falando de Francis, que está com uma metralhadora nas mãos atirando nos homens mascarados.

– Erik, por favor...

– Kate, eu preciso dizer...

– Não - ela pede. - Por favor. Me deixe falar.

Ele olha no fundo dos olhos dela. Seus olhos são tão azuis, tão azuis... é como um mar sem ondas, um céu sem nuvens. Um azul tão sereno, tão tranquilo, tão aconchegante...

– Eu fiz o exame de DNA - Katerina conta. - Você não queria saber, mas eu precisava - ela segura os lábios por um tempo. - É o seu filho, por isso o nome Erik. Ele é o seu filho.

Erik está sem reação, completamente anestesiado. De repente, ele consegue formar um sorriso.

– Não há nada melhor que eu poderia ter ouvido antes de morrer.

Ela nega com a cabeça.

– Por favor, não - ela o segura. - Eu te amo, Erik. Por favor. Não me deixe sozinha nesse mundo. Por favor.

As lágrimas voltam a cair. O seu peito todo é contorcido e ela sente como se o seu coração fosse uma esponja sendo apertada. Ela nunca sentiu nada tão doloroso em toda a sua vida.

– Você não vai estar sozinha, Kate - ele sussurra. - Ele vai estar com você. Fique com ele.

– Eu quero ficar com você.

Ele nega com a cabeça e se esforça para se sentar. Ele a abraça e lhe dá um beijo rápido antes de soltar um gemido alto de dor.

– Francis a ama e você também o ama - ele murmura em seu ouvido. - Você nunca vai estar sozinha.

Katerina sente mais lágrimas correndo pelos seus olhos. Nunca tantas lágrimas escorreram pelos seus olhos. De repente, Erik a empurra e ela ouve um barulho alto de tiro.

– Não! - ela grita.

Katerina reúne toda a sua coragem para olhar para ele. Erik está com os olhos abertos, a mão na barriga, porém dessa vez sangue escorre do seu peito. Muito sangue.

Ele levou um tiro por ela.

Katerina ouve mais um tiro, ouve alguém falar com ela, chamar o seu nome, talvez, mas ela não está ali. Ela não ouve, mas não consegue responder. Ela ouve, mas não entende, não escuta.

O seu mundo desmoronou.

Ela sente braços a envolvendo e se debate, mas os braços continuam a apertá-la. Ela vê Francis a abraçando e começa a chorar. O sangue de Erik em suas mãos sujando a lapela de Francis. O sangue de Erik em suas mãos. Ela chora, chora e chora e não escuta nada além do seu coração batendo. Absolutamente nada. Ela vê lágrimas escorrendo e nada além de lágrimas e o sangue de Erik em suas mãos.

Francis a embala para frente e para trás, para frente e para trás. Katerina sente que toda a alegria da sua vida se esvaiu junto com a vida do seu marido. Ela nunca mais vai ser feliz, tem certeza disso. Nada poderá trazê-lo de volta. Ela ainda não consegue acreditar e chora mais. Chora, chora, chora. Chora sem parar, chora o tempo todo. Ela vê Joffrey entregar uma máscara a ela para que possa respirar e sente Francis a encaixar no seu nariz e na sua boca, os protegendo. Ela sente Francis tentando levantá-la, mas ela cai em cima do corpo do marido e se agarra a ele como se ele pudesse voltar a qualquer momento, como se a vida voltasse ao seu corpo, como se o seu coração voltasse a bombear todo o seu sangue.

Mas é impossível. Ela sabe que nada disso vai acontecer. Erik está morto.

E ela não enxerga nada além do sangue do homem que a amou nas suas mãos.


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Notas finais do capítulo

Eu disse a vocês que seria triste, i'm sorry for this. Eu amo todos vocês, leitores. Por favor, não desistam da fic. Eu amo todos vocês. O próximo capítulo é o último.



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