Minha doce fera escrita por C0nfused queen


Capítulo 3
Capítulo 3.




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Acordei com os raios de sol em meu rosto, levei minhas mãos aos cabelos e tentei aceitar os fatos, provavelmente eu havia caído no sono por causa do choro, eu não conseguia acreditar que iria me casar, ainda por cima com alguém que eu não amava. Desde pequeno Gastón sempre mostrara interesse por mim, mas eu nunca correspondi, ele dizia que formávamos um lindo casal. Fechei os olhos e senti as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto, levantei sonolenta e coloquei roupas limpas, dessa vez não fui à busca de meu pai, eu nem ao menos conseguia encará-lo, saí silenciosamente de casa e fui para os estábulos, iria pegar Filipe e partir para o meu refúgio, tinha muita vontade de fugir, mas eu sentia que não podia e mesmo que fugisse o que faria depois, aqueles pensamentos só me fizeram chorar mais, selei Filipe e o levei para fora estava pronta para montar, mas meu pai me impediu.

–Você não pode sair agora, minha filha.

O olhei incrédula, como ele ainda tinha coragem de me dirigir à palavra.

–E eu posso saber o porquê disto?

–Vai casar. – ele falou como se isso fosse o suficiente para explicar tudo – E hoje marcamos de visitar seu noivo.

–Nós marcamos ou você marcou? – ele me fitou – Porque eu realmente não me lembro de ter tomado qualquer decisão a respeito disto.

–Bela... Eu realmente imploro para que não torne as coisas mais difíceis.

Eu não agüentava mais aquela situação eu tinha que falar expressar a minha insatisfação.

–Não tornar nada mais difícil, você arruinou a minha vida e nem ao menos se importa com isso. – ele levantou a Mao como se fosse me bater, mas eu não recuei. – E sabe o que mais me aflige em tudo isso?

Ele balançou a cabeça negativamente.

–A minha vida toda eu julguei minha mãe, eu me questionava por que ela havia me abandonar, nem ao menos posso contar quantas noites passei em claro me fazendo a mesma pergunta, mas acho que hoje eu sei o porquê – falei como se fosse obvio o motivo – A vida com você é insuportável, eu sempre tive que cuidar de você, eu guardei minha vida para depois e agora vejo que não haverá um depois por que você com toda a sua ingratidão a arruinou...

Eu fui impedida por um tapa que ele desferiu em meu rosto, eu imediatamente levei a mão ao local, ele recuou e segurou a mão como se isso o torturasse, eu virei e entrei em casa.

Passei rapidamente pela pequena sala e segui para meu quarto, deitei em minha cama e chorei como eu estava inconformada, como ele pode, ele é tão frio, colocou fim em tudo que eu acreditava e nem ao menos se importava e tudo isso por dinheiro, quanto é necessário para ele entregar a própria filha?

Passaram se algumas horas e as mesmas perguntas ainda me torturavam. Como? Como? Como? Como? Essa palavra ecoava em minha cabeça, até eu ser interrompida por batidas na porta de meu quarto, a abri bruscamente e meu pai me estendeu uma caixa preta com um laço cinza de veludo.

–Meu bem, tome. – ele me entregou a caixa – deve usar hoje.

Eu apenas virei o rosto, tinha nojo dele, eu não queria encará-lo. Fechei a porta e o deixei ali parado, sem palavras. Abri a caixa e me deparei com um lindo vestido em tons de bege, ele era de fato lindo, mas a ocasião em que eu deveria usá-lo não merecia ser aquela, marcada por tanta tristeza, tanta mágoa.

O retirei da caixa e o estendi em minha cama, passei água em meu corpo e limpei meu rosto das lágrimas, depois vesti o vestido com bastante calma e prendi meus cabelos e pela primeira vez em toda minha vida fiz algo que eu acreditava que nunca faria. Quando minha mãe partiu, ela deixou para meu pai um delicado colar de ouro com um pingente de coração, para que ele me entregasse quando eu tivesse a idade certa, era de fato uma bela jóia, mas eu tão tomada pela raiva nunca cheguei a abrir a caixa, hoje vejo que ela pode servir como um símbolo, se minha mãe conseguiu fugir e quem sabe encontrar uma vida melhor, eu também conseguiria.

Sai do quarto e meu pai já me esperava com seu cachimbo em mãos, eu não o olhei nos olhos, ele estendeu a mão para que eu a pegasse mais eu recusei, levantei ao máximo o rosto e passei por ele sem dizer uma única palavra. Segurei a barra do vestido para que este não sujasse e segui pelo caminho de terra com meu pai logo atrás, às vezes sentia que ele queria dizer algo, que às vezes mudava de idéia, mas sabia que ele não o faria.

Levamos alguns minutos para chegar à vila e logo avistar a casa de Gastón, papai bateu a porta e logo esta foi aberta por uma velha mulher, de cara feia ela me avaliou de cima a baixo e pediu para que entrássemos. Logo a reconheci a mãe de Gastón, quando entrei no local, me deparei com um amplo salão, decorado com pecas de caca e mais ao fundo uma enorme mesa de madeira com uma grande variedade de comidas.

Ela pediu para que sentássemos e o almoço seguiu normalmente com exceção de Gastón que lançava às vezes olhares nada discretos. Minha futura sogra sempre fazia comentários inapropriados sobre mim, uma parte precipitada do meu ser já conseguia prever minha infelicidade e futuras e constantes brigas.

Ao terminarmos nos despedimos e eu e meu pai seguimos silenciosamente para nossa casa, ele naquela noite fora dormir mais cedo, deixando-me em meu quarto com uma pilha de livros e muitas, muitas perguntas sobre o meu futuro, o que seria de mim?

Passaria o resto de minha vida ouvindo comentários maldosos, cozinhando para meu marido e aumentando a linhagem dos Gastón. As lágrimas normalmente teimavam em cair, segui para janela e avistei a floresta mais ao longe.

–Tenho certeza que se não tivesse pulado daquela murada... Viria aqui me salvar.

Fechei os olhos e deitei em minha cama, agarrei-me ao meu livro e fechei os olhos.

Novamente eu estava na floresta de frente para o palácio, rapidamente abri o pesado portão de ferro e vasculhei o local atrás dele, desta vez ele não estava em seu quarto, não, desta vez ele estava sentado próximo ao chafariz com uma rosa em mãos e um livro em outra.

Ele a atirou na água e eu me aproximei calmamente dele.

–Você não consegue me ver não é mesmo?

Ele não falou nada, continuou com o olhar fixo na rosa.

–Por que não fala nada?

Ele continuou atento ao livro, sem pronunciar nenhuma palavra, às vezes lançava alguns olhares para o portão como se estivesse à espera de alguém, alguém que ele talvez nunca chegasse a ver.

–Sabe? – falei sentando-me ao lado dele – fico feliz em ver que você não se jogou, ou que pelo menos sobreviveu a queda.

Ele sorriu de lado como se por algum momento tivesse entendido o meu comentário, mas depois percebi que ele ria de algo que acabara de ler. Fechei os olhos por um minuto e logo toda a cena mudou, eu me encontrava agora em meio a vila, as pessoas continuavam a lançar para mim olhares maldosos, Gastón aproximou-se de mim com algo em mãos uma tocha que logo ele usou para queimar minha pequena casa, depois ele agarrou meus cabelos e seguiu com a multidão em seu encalço, eles agora seguiam comigo para minha campina, enquanto me arrastavam eu gritava, pedia para que me soltassem, as mãos de Gastón em volta de meus cabelos eram firmes, meu vestido se rasgava pelo caminho, quando finalmente chegamos, ele jogou-me no chão e começou a me bater. Enquanto ele o fazia eu gritava desesperadamente:

–Por favor, por favor, me ajude! – eu chorava desesperada – Você não pulou, por favor, me ajude...

Acordei em um sobressalto, minha respiração era bastante irregular e as lágrimas banhavam meu rosto. Levantei de minha cama e corri para fora da minha casa, agora eu sabia o que iria fazer, eu fugiria, eu não agüentava mais aquilo, ninguém mais me daria ordens.

Corri pela mata, as plantas causavam pequenos cortes em meus pés, a lama sujava meu vestido e a chuva que agora tomava conta do local empapava meu cabelo e fazia com que minhas roupas ficassem transparentes grudadas em meu corpo.

Eu não tinha nenhum rumo, eu apenas queria fugir de tudo aquilo. Mas braços me agarraram e me impediram de continuar minha fuga, papai me arrastava de volta para casa, ele causava hematomas em meu braço devido a sua forca, quando chegamos ao local ele não entrou em casa, ele fez um caminho diferente, fomos para o sótão, o local era bastante escuro eu quase nunca ia para aquele lugar desde criança eu tinha medo dele, papai me atirou no chão e seguiu para fora, me deixando ali sozinha e tremendo de frio, à medida que minha adrenalina diminuía o sono vinha pedindo seu lugar, então me aconcheguei em um canto e me entreguei à inconsciência.

Acordei com gritos vindos de fora, levantei-me e aproximei-me da porta, consegui olhar pela pequena brecha formada pelo encontro das duas portinhas de madeira, meu pai discutindo com alguém. Reconheci pela voz Gastón e sua mãe, esta não parecia nada feliz e gritava sem parar. Notei que ela se aproximava e me afastei da porta, encolhi-me em um canto e esperei o que viria, a mãe de Gastón entrou enfurecida com um chicote de couro em mãos, ela rasgou meu vestido e começou a me chicotear.

–Aprenderá por mau, menina... Eu serei a responsável por lhe ensinar esta lição.

Ela me chicoteava sem pena e logo uma poça de sangue se formava em volta do local onde nos encontrávamos. Eu não derramei nenhuma lágrima, ela não me veria chorar.

Quando finalmente terminou, ela me deixou ali, completamente imóvel, a dor era insuportável, eu mal conseguia me mexer. Ela me deixou ali trancada e finalmente me permitir chorar. Alguns minutos depois ouvi a carruagem dela partir e alguns minutos depois papai adentrou o local, ele tinha uma expressão triste no rosto, ajudou-me a levantar, mas eu fui mais rápida, o empurrei e sai de casa, quando consegui escapar percebi que ainda era noite, corri sem rumo e segui para floresta papai não conseguiu me alcançar desta vez, pelo menos não de imediato, corri pela floresta, atravessando um pequeno rio, ouvia os gritos de meu pai implorando para que eu parasse, mas eu apenas o ignorava. Porém em meio a minha fuga acabei tropeçando e batendo a cabeça depois tudo não passou de um borrão.


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Notas finais do capítulo

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