Hálito de Fogo escrita por Caliel


Capítulo 11
O poder legítimo da ressurreição




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Aquela era a mesma voz que eu ouvi no lugar onde o Sol não toca, mas havia uma diferença estrondosa entres as duas situações. Naquele momento, cara a cara com um dos senhores do apocalipse, mesmo de olhos fechados, eu podia sentir sua presença. Era como se eu estivesse em uma sala completamente iluminada e naquela direção eu sentisse algo tirando toda a claridade do lugar.

Olhei a minha volta. Sabra e os Ases dos Ares se aproximavam e Helena estava parada com os dedos entrelaçados aos meus. Eu podia sentir sua mão fria e o medo correr seu corpo enquanto eu tentava manter a calma e não entrar em pânico, mas aquele dragão me assustava. Então eu cedi ao medo e senti Ascalon pesar em minha cintura.

— Sente medo, não é? Você não tem poder para me vencer, eu sou Demodra, o demônio rei da Peste. – Eu podia ouvir a respiração do dragão. Ele estava calmo e o ar que saia por suas narinas bagunçavam meus cabelos. Ele realmente era um dragão muito mais imponente do que qualquer dragão que eu já havia visto. Tinha cerca 60 metros, escamas brancas reluzentes e olhos cor de jaspe.

— Você fede a medo, Agápio. Você tenta esconder isso, mas eu lhe deixo fraco. Você consegue sentir seu corpo querendo se deitar, consegue sentir as energias de seu corpo se esgotando enquanto ele emagrece.

Eu realmente sentia tudo aquilo. Era como se minhas bochechas perdessem o volume que tinham. Minha respiração se tornava pesada conforme minhas narinas congestionavam, de repente tossi e coloquei a mão em frente a minha boca. Quando a olhei vi sangue tom de vinho sobre a palma de minha mão.

— Agora você entendeu o que meus pequenos roedores fizeram com a cidade, não é mesmo? Você pode ser forte e ter o fator de cura ao seu lado, mas e seus amigos? Quanto tempo acha que eles aguentam com a peste negra impregnada em seus corpos? Eu já devastei milhares com esse mesmo poder há 600 anos até que um Cavaleiro da Ressurreição conseguisse me parar, você tem alguns minutos...

Eu me sentia cada vez mais fraco, olhava para meus braços que estavam cada vez mais magros, brancos e com as veias agora negras saltadas. Eu estava cedendo ao poder da Peste. Olhei para o lado e vi todos meus amigos e pessoas desconhecidas caídos no chão, todos tossindo sangue e agonizando de dor. Eu precisava fazer algo.

– Ascalon! – Tentei gritar o mais alto que pude, mas o que era para soar como um rugido soou como um murmúrio de piedade e, por pouco, meu corpo me privou de romper em chamas.

Ascalon estava pesada e quase não conseguia mantê-la em posição de combate. Eu pensava em algum modo de vencer o Cavaleiro do Apocalipse, mas parecia que nada seria útil. Todos estavam fracos, os dragões dos Ases dos Ares e Nero haviam sumido e eu estava sozinho, então eu teria que lutar sozinho.

Corri em direção ao dragão o mais rápido que pude, mas a coragem não era meu forte no momento. Demodra quase não foi afetado quando eu chamei pelo poder da espada, pouco eu poderia fazer para feri-lo. Quanto mais próximo eu ficava do dragão mais eu sentia meu poder se esvair. Quando finalmente fiquei cara a cara, meu corpo simplesmente travou e apenas pude admirar a magnitude do dragão, que aparentemente começou a gargalhar e lançou suas chamas sobre o chão perto a mim.

Eu esperava que elas nada fizessem, como sempre, mas essas chamas eram esverdeadas e causaram uma explosão enorme. Eu senti meu braço arder e fui arremessado longe. Fazia muito tempo que meu corpo não sentia a dor causada pelo calor.

A ideia de fugir passou pela minha cabeça, mas eu não poderia abandonar todos ali. Então eu me ajoelhei para levantar e vi que a situação que não poderia ser pior, se tornou. Todos os outros dragões que atacavam a cidade estavam ali. Contando com Lucius faltavam dois ou três, mas nada que fosse torná-los menos imponentes.

— Você vê, Cadmo? Por mais que o Bem lute, o Mal sempre irá voltar e se reerguer. Você pode se aliar a mim e aos outros Cavaleiros do Apocalipse ou morrer como qualquer um dos seus amigos, a escolha é sua. Todo poder que você quiser será seu. Você terá o direito de tirar e dar a vida a quem quiser, até mesmo daqueles que você tanto deseja.

Meus pais, eu poderia trazê-los de volta. Poderia descobrir se minha mãe ainda estava viva e poderia dar um jeito para que meu pai voltasse. Qualquer coisa, todo o poder do mundo...

Todos sempre riram de mim, eu era o garoto magro do grupo, sempre o mais fraco. Ninguém além de Helena e Bane acreditava no meu potencial quando pequeno e hoje eu estava ali, com o destino do mundo em minhas mãos. Todos aqueles que haviam rido de mim se ajoelhariam e sentiriam o meu poder, e...

E nada, aquele não era eu! Demodra estava conturbando meus pensamentos. Eu não era egoísta daquele jeito, jamais daria as costas aos meus amigos. Eu havia feito uma promessa a Sabra e iria cumpri-la! Iria protegê-la a todo custo e divida!

Então eu me levantei e respirei fundo. Poderia morrer naquele mesmo momento, mas morreria com honra.

– Está é a diferença entre eu e você! Você quer o poder para ter o mundo aos seus pés, você quer pisar por onde anda sabendo que não irá doer nada. Eu não! Eu não corro até o poder, ele vem a mim nos momentos certos. Ele me dá forças para levantar a espada e lutar até o meu limite, e eu prefiro morrer rugindo como um leão valente do que morrer chiando como um rato imundo!

Quando eu terminei de pronunciar a frase pude ouvir o rugido de um leão. Por alguns segundos eu acreditei que fosse alguma espécie de alucinação de minha mente para que eu me encorajasse, mas logo vi um leão correr em direção ao Cavaleiro do Apocalipse e rugir. Um rugido tão alto e potente que seu timbre fez com que as janelas das casas que ainda restavam se partissem, fazendo um enorme estardalhaço.

O leão bravamente avançou sobre os dragões que há pouco haviam atacado a cidade, e, um a um, numa velocidade tremenda, transformou todos em pedra, e logo mais pó, da mesma forma que eu fazia. E quando não restou mais nenhum dragão ele parou no meio do caminho entre eu e Demodra.

De costas dadas a minha direção, onde antes havia um leão, havia agora um homem. Um homem alto e forte, com roupas de guerra e uma capa de pele que cobria desde seus pés até seus ombros, onde havia algo que aparentemente era a juba de um leão morto.

—- Olá, Cadmo, eu sou Hércules, o terceiro Cavaleiro da Ressurreição. Potestatem! — E com um salto que mais me pareceu um voo, ele desceu e socou a cabeça de Demodra, que urrou de dor. Pude ver seu crânio ser esmagado e começar a sangrar. Hércules se afastou um pouco e ergueu uma das mãos em direção aos céus.

— Júpiter, eu, seu filho Hércules, lhe clamo pelo poder dos céus. — E de repente dezenas de nuvens que antes eram cinzas se tornaram negras como a noite. Raios cortavam os céus e os ventos sopravam violentamente. Hércules esbanjava coragem e poder. — Preparado para ver como um Cavaleiro experiente luta, Cadmo?

— Sim! — Eu gritei com toda força que pude, a empolgação tomava meu corpo.

— Mais uma vez, mas desta vez, com mais força e energia do que antes... — Hércules respirou fundo e tomou fôlego. — POTESTATEM! — Um raio desceu cortando os céus e acertou o Cavaleiro do Ressurreição em cheio. O corpo de Hércules era rodeado por eletricidade e ele partiu em direção a Demodra, lhe acertando um soco sem que ele tivesse tempo de reagir. Com um estrondo de um trovão e o brilho de um relâmpago ele foi arremessado longe.

O dragão se levantou enfurecido e soltando fogo pelas ventas. Demodra pisava de uma maneira tão bruta que, onde suas patas tocassem um buraco surgia. Ele estufou o peito e lançou chamas sobre Hércules.

Por um momento pensei que o Cavaleiro da Ressurreição havia sido ferido, mas quando as chamas saíram de cima de seu corpo eu pude vê-lo na forma de leão e retornar a homem.

— Não sei se você conhece minha história, Cadmo, mas eu sou um semideus, filho de Júpiter. Para os romanos meu pai é o senhor dos céus, mas minha mãe um pequeno caso que ele teve com uma mortal. Sua mulher enfurecida com a traição me fez realizar 12 desafios, um deles foi vencer o leão de Neméia, um animal selvagem e impiedoso que matava qualquer um que cruzasse seu caminho. Sua pele era impenetrável, mas ele havia uma falha, assim como a que você encontrou há um tempo. — De alguma forma Hércules sabia que eu havia vencido o dragão imperfurável para salvar Sabra. — Eu o ataquei de dentro para fora e, com a ajuda de meu pai, eu o eletrocutei fincando uma lança pela boca. E então peguei sua pele como escudo, já que não somos todos inatingíveis pelo fogo como você.

Hércules ergueu suas mãos novamente e uma lança dourada desceu os céus, ele a agarrou e eu pude ver seus olhos brilharem como relâmpagos.

— Meu pai viu que eu era digno da honra dos deuses, assim me presenteou com o poder de me transformar na fera que venci. O Bem também viu tal façanha e me tornou um de seus Cavaleiros, mas eu falhei. Acreditei em minha mulher e me cobri com a túnica enfeitiçada com o sangue de Nesso, e, por fim acabei morrendo. — O herói estava cabisbaixo. — Mas desta vez será diferente, eu ganhei uma chance de me redimir e irei lhe ajudar em tudo que eu puder. Irei lhe ensinar como os verdadeiros heróis romanos lutavam, e o Bem irá triunfar de uma vez por todas!

Ele correu em direção a Dremoda que ainda estava atordoado pelo golpe e imóvel. — Este é o verdadeiro legado da ressurreição!

Enquanto corria ele voltou a se transformar. A lança a se fundiu ao seu corpo, então Hércules se transformou em um leão brilhante, dourado como ouro, rodeado por relâmpagos e trovões. Com uma serie de mordidas pelo corpo do Cavaleiro do Apocalipse, fez partes se transformarem em pedra.

Demodra em meio a urros de raiva arremessou Hércules longe com certa dificuldade e percebendo que não conseguiria vencer o Cavaleiro da Ressurreição bater em retirada.

— Eu voltarei! — Ele então se tornou uma névoa negra que disparou em minha direção, atravessando meu peito como se nada houvesse ali.

Tudo começou a rodar, eu vi meus amigos se levantando como se a peste que antes tomava conta deles tivesse sido transferida para mim, e então tudo escureceu.

Ψ

Quando acordei estava deitado na mesma cama em que havia dormido na noite anterior. Meu corpo doía e eu não conseguia encontrar Ascalon. Procurei ao lado da cama e perto de minha mochila, mas não consegui encontrar nada.

— Vamos com calma, rapaz, você precisa descansar. Sua espada está aqui, eu apenas estava observando-a. — Hércules entregou Ascalon a mim, ele aparentemente não tinha problema nenhum em manuseá-la. — Fico feliz de saber que você se importa tanto com os Gládios.

— Eu me preocupo demais com eles. O Cavaleiro do Apocalipse, ele se foi? — Meus braços estavam brancos e minha voz fraca.

— Não. Eu posso matar um dragão comum, mas nenhum dos Cavaleiros da Ressurreição pode vencer um Cavaleiro do Apocalipse enquanto eles estão em suas formas de dragão. Nós precisamos que eles assumam suas formas humanas, as mais poderosas, mas as mais vulneráveis também. E devido a nossas falhas que vieram dos nossos pecados nenhum de nós pode bani-los deste mundo. — Ele respirou fundo e fez uma cara entristecida. — Ou melhor, quase nenhum. — Sua expressão mudou para um enorme sorriso enquanto desarrumava meus cabelos brancos.

— O que aconteceu comigo? Foi tudo rápido demais... em um minuto você estava acabando com o Cavaleiro do Apocalipse e no outro eu estava caído. Aquilo que você gritou, Potestatem, é o nome de um Gládio, não é? — Ao mesmo tempo que eu queria deitar e dormir para sempre, eu queria enche-lo de perguntas.

— Vamos com calma, você precisa dormir. O que aconteceu com você? Creio eu que foi impregnado com a maldição da peste, mas logo mais iremos descobrir. Agora descanse, é o melhor que você pode fazer. – Então ele passou a mão sobre meus olhos e eu cai no sono.


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