Só estou escrevendo isso anos depois de ter acontecido porque eu precisava expressar aqui meus sentimentos naquele momento.

Eu tinha dormido junto com Yui no quarto dela na Korkovado. Estávamos no primeiro período do profissionalizante e todos estavam mais "maduros". Ou quase.

A noite tinha sido maravilhosa, como todas as noites que passava ao seu lado. Ela tinha acordado antes de mim, mas ficara me olhando dormir. Quando acordei, a primeira coisa que vi foi seu lindo sorriso a minha frente. Provavelmente fora o dia mais especial que passamos juntas.

–Sabe onde estão minhas luvas, Rose? Acho que perdi dentro do malão. - minha linda disse procurando dentro da mala dela.

–Quantas vezes eu tenho que te lembrar que você as perdeu na Inglaterra? - falei rindo.

Tínhamos feito um intercâmbio para Hogwarts graças ao Ministério da Educação que obrigou os melhores estudantes do Brasil a fizerem um curso de verão em escolas do exterior. Escolhemos a da Inglaterra por ser a única escola mista da Europa, a mais parecida com a Korkovado.

–Ah, é verdade... - soltou seu lindo sorriso, largando o malão inglês de lado e vindo me dar um beijo.

–Eu vou te matar! - ouvi Yui gritar no pátio e minha única reação foi de puxá-la com um feitiço para ficar longe do futuro defunto, enquanto eu corria para segurá-la.

–Me solta Rose! - continuou gritando.

–Não vou soltar! - virei-a para mim e encarei um olhar que até então nunca havia estado na minha garota.

–Deixa eu matá-lo! Me soooolta! - se debateu nos meus braços, fazendo com que onde eu encostava super aquecesse chegando a me queimar, mas continuei não a larguei.

–Não! Temos um futuro muito longo pra eu ter que te visitar no manicômio! Fica calma, Yui!

–NÃO! ELE ACABOU COM MINHA REPUTAÇÃO! ELE ME SABOTOU! - gritou para as suas próprias costas.

Enquanto isso, os estudantes dos três ensinos se aproximavam para ver o que acontecia.

–Yui, você consegue refazer o trabalho. Fica calma porque tá me queimando. - eu conseguia aguentar aquela queimadura por muito tempo, mas sabia que dizer aquilo a faria parar.

Yui virou de frente para mim e seus olhos que emanavam fogo, começavam a voltar ao normal. Depois que ficou mais calma e o corpo não queimava mais, ela me beijou na testa e saiu de perto sem falar nada, sumindo de minha vista.

Pensei que tivesse ido para o quarto ou para aquela sala que Yui usava para sumir dos problemas, mas não a encontrei em lugar algum; nem na Lapa consegui encontrá-la. À noite, fui para seu quarto na esperança de que ela aparecesse e acabei dormindo por lá.

–Rose... Vem comigo, é importante... - Ítalo me puxou no mesmo instante que saí dos dormitórios.

–O que aconteceu? - o tom da voz dele não foi o mais alegre, então era evidente que eu me preocuparia.

–É melhor você mesma ver... - ele não disse mais nada e seguimos até o Lago da Verdade em silêncio. -Ali…

Ítalo apontou para um montinho um pouco distante. Fui até o local com a varinha acesa para conseguir ver melhor e o choro não conseguiu ser reprimido ao ver...

–É ela mesmo? - questionei olhando-o com as lágrimas escorrendo, não sentindo minhas pernas.

Eu teria caído se Ítalo não estivesse perto o suficiente para me segurar.

–Sim... Encontrei mais cedo. Achei que seria melhor você saber antes dos outros... - disse ainda me segurando e eu chorando e soluçando cada vez mais.

Sem falar nada, me soltei dele e ajoelhei ao lado do corpo de Yui. Lembro-me que o corpo dela estava com uma marca de queimado na altura do peito e o resto do corpo estava quente como se tivesse pegado fogo até chegar àquele estado. Fiquei deitada em cima do corpo por tanto tempo quanto me deixaram.

O Conselho chegou algumas horas depois e me separou do corpo. Dois dias depois eu pude enterrá-la devidamente. E durante todo esse tempo, fiquei lembrando do que ela mesma tinha me dito uma vez quando estávamos conversando.

–Amor... Às vezes sinto medo... Sabe... De explodir do nada e te deixar sozinha... Quero ficar com você para sempre! - Yui disse deitada em cima de mim.

–Você não vai me deixar sozinha. Vamos ficar juntas até ficarmos velhinhas! - respondi rindo e acariciando-a.

Provavelmente ela se segurou para não sair de controle na minha frente e não ferir ninguém, mas sabíamos que ela não conseguiria se controlar sempre. E infelizmente foi cedo demais.

Só consegui escrever isso depois de anos porque fiquei tão arrasada que só de lembrar eu desabava. Larguei os estudos quando ela se foi e só consegui retomar à poucos meses. Então esse é o fim das lembranças daquela que era tão importante para mim quanto o ar que eu respiro.