The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 80
Capítulo 80 - Nascida pra morrer


Notas iniciais do capítulo

Olár!
Capítulo novinho e sério, caprichei. Ou pelo menos tentei hahah.
Não tô tendo tempo de ficar revisando então se acharem alguns erros é só falar!
Espero que gostem, beijos ♥



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Não sabia se tinha dito a coisa certa.

Dispensar Daniel daquele jeito?

Foi a coisa mais difícil que já fiz em toda minha vida.

Encarar Pedrita e o lago de lava? Foi fácil demais perto daquilo.

Quando Daniel me perguntou se eu estava mais feliz com Liam do que já fui quando namoramos um bolo se formou na minha garganta.

Eu senti vontade de chorar e estava certa de que minha voz tinha saído trêmula.

Eu me importei.

E quase retirei tudo o que havia dito quando vi a expressão magoada de Daniel.

Bufei e soquei o travesseiro.

Inspirei profundamente e expirei pela boca.

— Dia longo? - uma voz familiar perguntou.

— Não faz ideia - fechei os olhos.

Abri.

Me sentei subitamente e encarei a janela.

Selene-deusa estava sentada nela.

— O que diabos você está fazendo aqui? - perguntei, indignada.

Ela levou a mão ao coração, parecendo magoada.

— Nós temos um trato - ela lembrou - eu cumpro minhas promessas.

— Bom, chegou tarde - revirei os olhos e voltei a me deitar.

— Nem Tanatos e nem eu vamos conseguir te salvar da sua petulância, pequena Selene - ouvi a deusa usar sarcasmo.

— Então sabe do meu trato com ele também? - perguntei.

— É claro que sei - ela mexeu nos anéis prateados em seus dedos - ele tem um interesse incomum em você.

— Claro que tem - revirei os olhos novamente - me ofereceu uma morte gostosinha.

— Morte não é o que te espera - Selene-deusa disse e se levantou.

Ela veio até a mim e me sentei, encostada na cabeceira da cama.

— Pode pensar que eu tardei em agir, princesa das trevas - ela disse - mas acredite, a lua as vezes não aparece no céu escuro, mas ela sempre está lá.

A encarei, confusa.

— E suas fases - ela acariciou meu rosto - nunca atrasam.

Acordei sobressaltada.

Tinha sido um sonho?

Estava certa de que não.

Ainda sentia o toque da deusa em minha bochecha.

Me levantei e desci a escada.

Abri a geladeira e bebi alguns copos de água.

— Querida? - meu pai chamou.

— Estou aqui papai - respondi encarando a torneira da pia.

— Não achei que estivesse acordada a essa hora - ele comentou.

Me virei e o encarei.

Ele escondia as mãos.

— Claro que não - revirei os olhos - o que está escondendo?

Ele franziu o cenho, parecendo confuso.

— Pai, já chega de esconder - suspirei - não precisa me esperar dormir pra fazer sei lá o quê um rei dos demônios faz.

Ele colocou as mãos sobre a mesa.

Suas unhas estavam grandes e negras.

— Eu só ia cortá-las - ele revirou os olhos.

Não estavam mais verdes e humanos.

Estavam vermelhos, como no dia em que enfrentamos Pedrita.

— Não pode evitar falar sobre isso pra sempre - depositei o copo sobre a pia.

Sentei num lado da cabeceira da mesa e ele sentou no oposto.

— Certo - ele fechou os olhos demoradamente e os abriu novamente num sorriso perverso - o que quer saber, minha filha?

— Primeiro eu quero saber o que porra eu tenho a ver com essa bagunça toda que você escondeu de mim por anos - sorri de volta.

Papai, que naquele momento estava mais pra Delaryon, torceu a boca.

Senti meu corpo ser sufocado e um clarão me cegou.

Eu já falei como eu odeio clarões?

 

— Onde estamos? - perguntei.

Toquei minha roupa.

Não era meu pijama de flanela.

Era um vestido que se parecia muito mais adequado à era feudal que a atual.

— Em um mundo particular onde só existe você e eu - papai sorriu.

Seus dentes afiados me causaram arrepios.

— Essa aparência te assusta? - ele perguntou.

Neguei com um aceno de cabeça.

— Tenho mais medo de mim do que de você - confessei.

Ele riu.

— Você é esperta, filha - elogiou - sabia que seria a melhor, por isso te escolhi.

— Me escolheu para o quê? - exigi saber.

Delaryon suspirou.

— O seu nascimento - ele sinalizou pra mim com a mão - foi planejado.

— E o que tem isso? - perguntei.

— Adalind precisava de uma princesa pro reino dos elfos e era totalmente fissurada por mim - meu povo exigia que eu tivesse uma herdeira com urgência.

Meu pai sorriu, cheio de si.

— Pareceu conveniente - ele continuou - mas não era pra governar que eu precisava de um filho.

Franzi o cenho.

— Era pra quê? - perguntei.

Comecei a ficar irritada com o fato de ele sempre esperar uma pergunta vinda de mim pra contar tudo.

Por que não desembuchava logo?

Papai estalou os dedos e um cavalo branco surgiu.

Ele me pegou no colo e me colocou em cima do animal.

Segurou as rédeas que surgiram do nada e caminhou, fazendo o cavalo seguí-lo.

Me segurei na crina macia.

— Porque meu povo estava decadente - ele respondeu - a cada mil anos é necessário um sacrifício valioso de linhagem nobre.

— Eu sou o sacrifício - concluí.

Aquilo não me deixou brava nem nada.

Fazia sentido, finalmente, todo aquele papo de Pedrita sobre sair das sombras.

— Precisamente - ele respondeu - não foi planejado o nascimento de Solara, foi apenas… Um acaso.

Pensei sobre isso.

Até onde eu sabia, Solara era totalmente elfa.

Não havia corrupção em seu sangue.

— Foi ainda mais conveniente - ele continuou - ela como herdeira do reino dos elfos e você como o sacrifício demoníaco.

Senti um calafrio.

— Acontece que - Delaryon fez uma pausa dramática - eu não planejo trazer o antigo mundo dos demônios de volta.

— Não? - repeti, franzindo o cenho.

Ele me desceu do cavalo e o animal desapareceu.

— Não - respondeu - os demônios que estão esperando pra retornar… Não devem retornar.

Delaryon sorriu e me encarou com seus olhos vermelhos.

— Você minha pequena Selene, vai criar um novo mundo com suas próprias mãos - ele disse - vai guiar os demônios a um futuro jamais previsto.

— Você está louco, papai? - perguntei, cética.

— Bom, posso lhe assegurar de que meu plano já começou - ele sorriu - as duas partes de você já se tornaram uma.

Não respondi.

— Pode pensar que demônios são seres irracionais, sedentos por sangue e desavenças, Selene - ele ergueu meu queixo, sério - mas vai além disso. Nós somos a escuridão do mundo, mas trazemos equilíbrio a ele.

Desviei o olhar.

— Não quero ser escuridão - murmurei.

Ele riu.

— Com certeza não é - ele balançou a cabeça - você é como um yin yang, traz a escuridão e a luz, ambos dentro de si e é por isso que eu te escolhi.

Franzi o cenho, calada.

— Como um rei, eu não poderia ter mais certeza de que minha decisão é a certa para o meu povo ao te olhar aqui e agora - ele me abraçou e senti suas costas ossudas e largas - e não poderia estar mais orgulhoso de você, como pai.

O despertador tocou, me acordando.

Levantei, assustada.

Geralmente a garota do filme pensa que tudo o que viu não passa de um sonho.

Eu sabia que toda aquela realidade se parecia com um, mas não era.

Selene e Delaryon estavam brincando com minha percepção de realidade.

— Não vou ser uma estúpida garota de filme - disse a mim mesma e soquei o despertador.

Joguei as cobertas pro lado e escovei os dentes.

Fitei meu reflexo no espelho.

Eu tinha olheiras profundas e escuras abaixo dos meus olhos bicolores.

Me lembrei de quando tentava escondê-los e não me arrependia nem um pouco de tê-lo feito.

Mas me sentia melhor daquele jeito, mostrando-os.

Penteei meus cabelos e troquei de roupa.

Era sábado e eu queria fazer algo diferente.

Mas o quê?

Chamar Yukina e Iria pra comer pipoca em casa não era nada diferente.

Disquei o número da japonesa.

— Quero fazer algo hoje - soltei antes que ela dissesse “alô”.

— Wow, acordou com o pé direito? - perguntou.

— Eu sempre acordo - revirei os olhos.

— Discordo - ela rebateu - quer fazer algo humano ou algo mais… insano?

— Tem como fazer um pouco de ambos? - perguntei, franzindo o cenho.

— Não pensei que fosse escolher isso, mas tem - ela disse - passo na sua casa hoje as seis da tarde.

— Tão tarde assim? - reclamei.

Eu queria fazer algo naquele momento.

— Sim - ela respondeu - vá praticar magia ou algo do tipo.

E desligou.

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“Vá praticar magia ou algo do tipo”.

Fácil falar.

Difícil fazer.

Bufei e desci a escada.

Papai lavava a roupa e eu podia ouvir o barulho irritante da máquina.

Devia ter algo de errado com ela.

A coitada nunca fora tão barulhenta antes.

Ou talvez meus ouvidos estivessem cansados de ouvir tanto o tempo todo.

— Pai, vou sair - avisei.

Ele surgiu na minha frente.

— Aonde vai? - perguntou.

Certo.

Já que não tínhamos mais nada a esconder agora ele usava poderes pra aparecer na minha frente.

E queria saber aonde eu estava indo.

— Praticar minha magia - respondi, entediada.

— Posso te ensinar se quiser - ele pareceu animado.

Os olhos verdes brilharam vermelhos por um momento.

— Praticar minha magia élfica - reformulei a frase.

Ele murchou.

Voltou pra dentro da lavanderia e concluí que aquela era minha permissão pra ir.

Saí de casa e caminhei os poucos minutos até a floresta.

A trilha estava quase sumindo em meio ao mato, já que tinha chovido na véspera.

Chamei uma sombra e a fiz aparar o caminho.

Avaliei o “corte de grama” e assenti em aprovação à mim mesma.

— Nada mal - murmurei.

Adentrei a floresta.

Minhas botas de cano alto não permitiam que eu sentisse frio nas pernas, mas meus braços estavam arrepiados.

Vi uma forma humana logo a frente e semicerrei os olhos.

— Michele? - chamei.

A loira olhou, assustada e correu.

Facilmente a alcancei.

— O que diabos faz aqui? - perguntei.

— O que VOCÊ faz aqui - ela apontou pra mim.

— Eu sempre venho pra cá - dei de ombros - é meu canto.

— Legal - ela revirou os olhos - você tem o melhor lugar pra praticar magia também.

Franzi o cenho.

— Sua aparência voltou ao normal ou… - pensei numa melhor forma de fazer a pergunta.

— Ou o quê? Estou escondendo com magia negra de novo? - ela cruzou os braços.

Revirei os olhos.

— Estou escondendo - ela respondeu - mas só posso por algumas horas.

Usei meu olho negro e a olhei.

Parecia muito melhor.

Na verdade, ela estava quase ela mesma de novo.

— Se continuar usando, não vai sumir nunca - eu disse.

— Não é magia negra que uso agora - ela explicou - é branca, por isso só dura algumas horas.

— Você presume que a magia comum é fraca - cruzei os braços também.

Ela bufou.

— Tão fraca que não posso voltar à escola - ela disse - sabe o que minha mãe disse? Que eu pareço uma reclusa! Que estou arruinando minha vida faltando às aulas desse jeito!

Respirei fundo.

— Eu posso ajudar você - falei.

Ela riu, sarcástica.

— Ah, por favor - ela se afastou - não quero dever nada pra você. Nada.

— Então não deva pra mim - eu disse e me aproximei dela.

Incrível como Michele parecia pequena de repente.

Como uma presa encurralada.

— Gosta de mexer com trevas, Michele? - eu sorri e acariciei seu cabelo amarelo.

Ela engoliu em seco.

Seus olhos demonstravam o verdadeiro medo e raiva que sentira de mim por todos aqueles anos.

— Que tal fazer um trato com meu pai? - ofereci.


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