The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 68
Capítulo 68 - Confundida


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora!
Eu estava viajando e super cansada pra continuar escrevendo...
Mas agora I'M BACKKKKK
Obrigada pelos comentários, amei saber que ainda tem gente que acompanha mesmo durante minha ausência, amo vocês!



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Não me lembrava de como tinha ido parar na minha cama.

E nem me importava, até porque mal conseguia pensar com as dores no meu olho negro.

Desci as escadas tentando não tropeçar e dar minha alma à Tanatos e procurei algum comprimido no armário da cozinha.

– Um troféu! - exclamei quando encontrei um único remédio na cartelinha solitária.

– Querida? - meu pai chamou, franzindo o cenho.

– Oi papai - cumprimentei e sorri.

– Você tem visita - ele disse a contragosto e beijou o topo da minha cabeça.

Franzi o cenho.

Visita?

Me arrastei até a sala e o sorriso cheio de caninos de Liam me pegou de surpresa.

Meu coração falhou uma vez e eu me xinguei mentalmente por ter me esquecido dele completamente.

Bem, não tão completamente assim, já que eu estava ciente de todos os sentimentos de Liam.

Mas acabou que… Eu me acostumei.

E os sentimentos dele se mesclavam aos meus.

Então, não, eu não me lembrei de Liam por alguns dias.

– Oi - cumprimentei, sem graça.

Liam revirou os olhos vermelhos e me puxou, fazendo com que eu me sentasse ao seu lado.

Vasculhei seus sentimentos e pude ver um risinho irônico escapar de seus lábios.

– O que foi? - perguntei, irritada.

– É bom saber que se importa com o que eu sinto - ele me encarou, feliz.

Revirei os olhos e cruzei os braços.

– E então? - perguntei depois de alguns minutos de silêncio.

– E então o quê? - ele perguntou de volta.

– Qual o motivo da visita? - bufei.

– Já não parou pra pensar que talvez eu estivesse morrendo de saudades, mas me segurando pra te dar algum espaço e que agora eu não aguento mais e estou aqui?

– Ahnn… - pisquei, confusa - não.

Meneei a cabeça e soltei uma risada.

– Você é estranho, Liam - confessei.

Liam não disse nada, só desviou o olhar e encarou a cortina da sala que obstruía a entrada de luz.

Realmente sou estranho por gostar de alguém que não se lembra de mim por dias, semanas e meses”, uma voz disse.

– O que disse? - perguntei, chocada e culpada.

Liam franziu o cenho.

– Eu não disse nada, Selene - ele se irritou.

Me calei.

O silêncio era constrangedor.

– Eu estava pensando - ele deu uma pausa - se você não quer sair comigo de novo qualquer dia.

Senti que meu estômago era um penhasco e Liam estava jogando um piano nele.

– Ahn... - pensei e dei de ombros - claro.

O sorriso de Liam se abriu, dando espaço para os caninos afiados que saltaram para fora.

Por algum motivo, eu não estranhava mais aquele sorriso, não era mais assustador.

Era Liam, oras.

E eu sabia que em algum lugar dentro de um pote, selado por Yukina e cuidado por ele, a humanidade do vampiro ainda estava presente.

– Pra onde vai me levar? - perguntei, estranhamente animada.

– Surpresa - ele riu.

Assenti e coloquei a franja atrás da orelha.

Liam paralisou onde estava e puxou minha mão direita para perto de si.

– O que é isso? - perguntou, rude.

– Isso o qu… Ah, eu contatei um deus e ele me deu - dei de ombros.

A expressão de Liam se anuviou. Ele até sorriu, para demonstrar que tudo bem.

– Acho que não quer falar sobre o ocorrido então - ele concluiu.

– Definitivamente não - torcí o nariz.

Mais alguns minutos de silêncio.

– Selene… Eu preciso saber… - ele hesitou.

– Diga logo - suspirei.

– … se não aceitou sair comigo só pra provocar Daniel - disse por fim.

Pisquei freneticamente, pêga de surpresa.

Sequer havia pensado naquilo, mas era uma boa ideia.

Uma ideia da qual eu não faria uso.

Daniel estava pisando em mim sem se importar e eu não podia sair com um vampiro bonitinho que era afim de mim desde quando humano e que tinha boas intenções?

Daniel que fosse à merda.

– Eu amo Daniel, mas não tem nada a ver - confessei - não posso mentir pra você e dizer que vou fundo com isso, até porque você sabe o que eu sinto.

Liam soltou o ar pela boca e sorriu.

– Então… você cansou dele? - ele perguntou, ainda ansioso.

Meneei a cabeça.

Certamente demoraria muitos séculos para que eu me cansasse do dragão.

Meu peito ainda doía quando eu me lembrava das cantadas que ele dava em Michele e do sorriso safado que Iria recebia toda vez que se encontravam na faculdade.

Mas eu tinha todo um “time” me ajudando e não seria legal desistir àquela altura.

– Certo - ele assentiu - é bom ver que é sincera comigo.

Sorri para Liam.

– Bom, acho que devo ir agora - ele deu uma espiada na janela - o sol está baixando e hoje é dia de caça.

– Caça? - franzi o cenho.

Imaginei Liam correndo atrás de algum humano e me arrepiei.

– Seth me leva pra cidades próximas e coletamos doações de sangue - ele explicou, rindo - não é nada disso que você está pensando.

– Ah - pisquei, envergonhada.

Acompanhei Liam até a porta.

– Até mais - ele disse, sorrindo abertamente.

Acenei e ia fechando a porta quando ele a parou com o pé.

Encarei o vampiro à minha frente que não tinha mais a expressão divertida de sempre.

Me deixou assustada.

– Tome cuidado com os dois dragões, Selene - ele disse - não é só um que te quer.

– Do que diabos você está falando? - perguntei, cética.

Liam deu de ombros, sorriu e foi embora.

“Certo, Selene, você está louca, louquinha de pedra!”, exclamei mentalmente para mim mesma.

E pela primeira vez, a minha voz interior se calou: não tinha nenhum comentário sarcástico para oferecer.

Bufei e fechei a porta num estrondo.

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Foi difícil encontrar um lugar para estacionar a laranja berrante.

O estacionamento da faculdade nunca me pareceu tão lotado, assim como nunca tinha visto tantos panfletos jogados no chão.

Consegui uma vaga e com dificuldade, entrar no campus sem ser pisoteada pelos jogadores de futebol americano e basquete.

– O que diabos está acontecendo aqui? - perguntei, estridente.

Yukina sorriu e balançou os pompons que segurava.

Arranquei os objetos de suas mãos e atirei para dentro do seu armário, irritada.

Aquela barulheira e animação exagerados estavam me deixando louca, além disso, as dores no meu olho não pararam.

– Ei, ei - Seth apareceu, sorrindo galante - alguém está bravinha aqui.

Revirei os olhos e o encarei, irritada.

Pisquei os olhos freneticamente - pela milésima vez no dia - quando pensei ter visto Seth chorar.

– Selene? - ele chamou, preocupado - você está bem hoje?

– Estou - balancei a cabeça - estou bem, só com dor de cabeça.

Tapei meu olho discretamente e o cobri com a franja.

– Explicando o alvoroço dos mortais… - Solara surgiu, usando um vestido florido - estamos em processo seletivo para as novas líderes de torcida.

– Essas coisas existem em universidades?? - perguntei, chocada.

– Parece ser tradicional nessa - Yukina sorriu, animada.

– Não me diga que vocês se inscreveram nessa porcaria… - resmunguei.

– Não - as duas responderam em uníssono - inscrevemos você!

Yukina tirou os pompons de dentro do armário e me obrigou a segurá-los.

Fuzilei minha suposta irmão gêmea e minha suposta melhor amiga com o olhar.

Seth ria sem parar.

– Me desculpem, mas tenho problemas maiores pra resolver - disse eu, sem graça e num fio de voz.

Solara franziu o cenho.

– Que problemas? - perguntou, desconfiada.

Suspirei.

O que eu diria?

Que estava amaldiçoada por um deus bonitão?

Que estava morrendo de saudades do meu namorado que não era mais meu namorado?

Que eu descobrí que éramos filhas de um demônio e que eu tinha herdado poderes das trevas?

Que eu tinha o apoio de uma deusa em relação à minha fracassada vida amorosa?

Que um vampiro me disse algo que arrepiou meus cabelos antes de ir embora?

Que eu estava tendo sonhos e visões estranhas, ou seja, ficando louca?

– Vou sair com Liam - soltei o problema mais recente.

Yukina semicerrou os olhos.

– Mesmo sabendo o quê ele é e depois de ter mordido você? - perguntou, surpresa.

– Ele é o que é por minha culpa - esclareci - e eu dei meu sangue à ele!

– Sabemos disso - Solara revirou os olhos - tivemos uma crise de surto vinda do seu ex-namorado e…

Seth acotovelou Solara com força, fazendo com que a mesma se calasse instantaneamente.

– Deixa pra lá - murmurei.

Claro que eu ficara chateada.

Solara tinha Seth, e enquanto tivesse parecia não se importar com mais nada.

– A questão é que eu não quero parecer forçada ou coisa parecida - desconversei.

– Ele saberá - Yukina sorriu, acolhedora.

Assenti.

O sinal tocou e a massa humana correu para dentro das salas, me levando com eles.

Pela primeira vez, teríamos aula de Marketing, já que estávamos sem professor para lecionar.

Ao adentrar a sala, senti uma súbita vontade de dar meia volta e sair correndo dali.

Coraline estava sentada na mesa dos professores.

Usava uma saia lápis azulada e uma camisa social, além de óculos com armação tartaruga.

Realmente tentei sair dali, mas havia pessoas querendo entrar e que estavam só esperando minha passagem pela porta.

Recebi alguns olhares não muito amigáveis e entrei logo.

Coraline não me olhou.

Mas eu sabia que ela me vira alí.

Me perguntei se ela era uma elfa também.

“Dã!”, pensei.

– Todos sentados - ela disse, num tom de voz severo.

A sala obedeceu.

Pessoas de todos os tipos e que eu nunca tinha visto na minha vida me rodeavam.

Até que encontrei alguém que eu já tinha sim visto na minha vida.

Senti o sangue fugir da minha face e de repente, o que Coraline escrevia na lousa e seu monólogo de apresentação profissional me pareceram interessantes.

– Algum problema, senhorita Red? - ela perguntou, fazendo com que a sala toda me encarasse.

Incusive ele.

Maldita.

Fuzilei minha tia com o olhar e pude enxergar um misto de diversão em seus olhos.

– Não, nenhum problema, Coraline - respondi num muxoxo.

– Isso é ótimo, porque eu vou mudar o mapa da sala e não quero problemas com meus alunos só por causa disso - ela sorriu, amigável.

Franzi o cenho, confusa e a sala riu.

– Eu estava dizendo que o posicionamento atual dos alunos não me agrada - ela explicou, pacientemente - e que, analisando o histórico de vocês, juntarei os que acho que sejam compatíveis.

Engoli em seco e assenti.

Coraline começou a dizer nomes de duplas.

– … Bobb e Salisha, Johanna e Gabriel, Selene e… Daniel, Camila e Robert.

– Espera, eu não posso ficar com a Camila? - perguntei, esperançosa.

Eu havia encontrado mais alguém familiar.

Camila sorriu e deu de ombros, já prevendo a resposta de Coraline.

– Claro que não - ela respondeu, indignada - eu separei as duplas perfeitamente uma garota e um garoto. A não ser que jogue no outro time, Selene…

– Não - respondí, corada.

Coraline deu de ombros, vitoriosa.

Ela me pagaria.

Daniel se jogou na cadeira ao meu lado e arrastou a mesa, de forma que ficasse colada à minha.

O encarei, cética.

Ele ia mesmo concordar com aquilo?

– Não fique me olhando com cara feia - ele resmungou - você ouviu o que a professora disse.

Revirei os olhos.

Claro que ele não estava nem aí.

Pra ele, naquele momento, eu não era ninguém.

Uma pontada de dor atravessou meu crânio e deixei um gemido de dor escapar.

Abaixei a cabeça e tapei meu rosto, impedindo que a luz da sala invadisse meus olhos.

– Está morrendo finalmente? - Daniel perguntou, curioso - pegou câncer dos humanos?

Revirei os olhos e levantei a cabeça.

– Não se transmite câncer, imbecil - sibilei.

– A esperança é a ultima que morre - ele disse para si mesmo e pegou o caderno da mochila.

Eu não estava acreditando.

Daniel ia mesmo estudar.

– Daniel, você está bem? - perguntei.

Ele franziu o cenho.

– Não poderia estar melhor, tive uma noite ótima se quer saber - ele deu um sorriso sacana.

Desviei o olhar, enciumada e enrubescida.

– Você nunca estuda, não assim, feito um nerd – murmurei.

– Elfa, acho que ainda não entendeu que eu… - ele começou, num tom cansado.

– Eu sei - revirei os olhos - não é quem eu conheço desde sempre.

– E sugiro que desista de trazer o outro de volta - ele continuou.

– Não estou tentando “trazer o outro de volta” - revirei os olhos mais uma vez.

Ele me encarou, surpreso.

– Não? - perguntou.

– Não - repetí, com certeza.

– Certo - ele disse, ainda surpreso e voltou a escrever no caderno.

Daniel passou o resto da aula distraído, imerso em pensamentos.

Aquele não era o Daniel-dragão, e muito menos o Daniel que eu conhecia.

Mas deixei pra lá.

Porque na concepção dele, não tínhamos mais nada a ver.

Suspirei e aguardei ansiosamente pelo som que indicava que eu poderia sim correr de volta pra casa, me enfurnar debaixo dos cobertores e dormir.

Ou tentar dormir.


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