The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 59
Capítulo 59 - Sacrificada


Notas iniciais do capítulo

Não reli o capítulo, apenas o escrevi na hora (como sabem, posto o capítulo em tempo real, assim que o crio), então se houverem erros de digitação, já peço desculpas!
Espero que gostem



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– Não acho que seja uma boa ideia continuarmos com isso - eu disse, nervosa enquanto agarrava as beiradas do livro.

Yukina revirou os olhos.

– Mudar sua vida pelo que vêm acontecendo só faria Daniel se sentir pior - ela afirmou com um aceno de cabeça - vamos agir normalmente, só que sem Daniel.

Suspirei e me recusei a dizer que sem Daniel minha vida não seria a mesma.

Aquilo soaria piegas demais. Quase revirei os ol

Trombei com alguém que praguejou baixinho e uma cabeleira loura voou para trás.

Um rosto familiar se virou para me encarar, irritado. E depois, surpreso.

– Olha por onde anda, bruxinha - Michelle torceu o nariz e entrou na sala.

Que por incrível coincidência do destino - ou seria Yukina? - era a mesma que a minha.

– Você tem alguma coisa a declarar sobre isso? - perguntei fuzilando-a com o olhar.

Yukina deu de ombros e me empurrou para dentro da sala antes que eu mudasse de ideia.

Garota esperta.

Bufei e me sentei em uma cadeira ao fundo. Com certeza deixei uma carteira vaga atrás de mim, para que Seth pudesse se sentar e me perturbar o quanto quisesse depois.

As aulas passaram vagarosamente, e nada de Seth ou Daniel chegarem. Na verdade, parte de mim sabia que nenhum deles apareceria.

Mas ainda assim, eu esperei.

Yukina tentava me animar. Dizia coisas retardadas - mais do que o normal - e até agia discretamente (não tanto, pois notei) para que eu não ouvisse os rumores que Michelle já havia espalhado sobre mim.

Uma garota que fora abandonada pela mãe bruxa desde pequena, e que todas as vezes que a mãe aparecia na cidade, a neve e o gelo castigavam os moradores.

Saímos para o estacionamento anormalmente grande da universidade e eu apertei o alarme do carro na intenção de me lembrar onde é que eu tinha estacionado a laranja berrante.

Yukina e eu fizemos menção de nos dirigir até lá, mas no meio do caminho tudo congelou.

Como se o tempo tivesse parado completamente, todos os alunos que se dirigiam aos seus carros ou à rodinhas de fofocas viraram estátua. Olhei para Yukina já de boca aberta para falar algo, mas ela também estava no mesmo estado.

– Mas que droga aconteceu aqui? - sussurrei e franzi o cenho.

– Olá Selene - uma voz familiar cumprimentou.

Me virei para trás e encontrei uma garota de pele morena cheia de arabescos e cabelos escuros.

Pedrita.

Cruzei os braços e esperei que ela dissesse algo.

Mas só ficava ali, sorrindo e me observando.

– Sinto que seus poderes cresceram - ela comentou.

– Acho que um pouco - semicerrei os olhos, tentando adivinhar o motivo de ela estar ali.

Pedrita alisou os cabelos emaranhados e assentiu.

– Eu sei como trazer o seu dragão de volta - ela disse casualmente.

Senti minha respiração ficar pesada. Era um reflexo do meu corpo, que se iludia enquanto minha mente gritava de forma frenética que Pedrita era uma louca varrida e que eu não deveria confiar nela.

Mas eu não andava tendo muito controle sobre meu corpo.

E no fundo, eu me simpatizava com ela.

– Mas você quer algo em troca - concluí com desgosto.

– Sabia que tinha escolhido alguém inteligente - ela revirou os olhos e eu arqueei a sobrancelha.

– Sugiro que vá direto ao ponto - cortei algum comentário que Pedrita faria e suspirei.

Ela assentiu e se encostou numa BMW branca. Fez questão de raspar as unhas no pára-choque e sorrir.

– Preciso que dê um recado a alguém por mim - ela disse.

– E quem seria esse alguém? - perguntei.

Ela torceu o lábio, como se estivesse indecisa.

– Não é um alguém qualquer, Selene - ela insistiu - é um demônio.

Pisquei.

– Pensei que demônios estivessem extintos - murmurei.

Pedrita riu.

– Então você é mais inocente do que eu pensava - ela caçoou - coisas malignas não se vão tão fácil assim, Selene. Não é porque os vencedores de uma guerra contam uma versão bonita da história que ela se torna real.

Franzi o cenho.

– Do que está falando? - perguntei já começando a ficar irritada.

– Tsc tsc - ela mexeu o dedo indicador em sinal negativo.

Suspirei.

– O que eu devo dizer? - perguntei.

– “As hordas clamam pela princesa. O sacrifício tem de ser feito.” - ela disse sonelemente.

– E como vou encontrar essa criatura e dar a mensagem? - questionei finalmente.

Ela pareceu pensar. Bateu os dedos na lataria do carro como se estivesse tentando ter alguma ideia.

– Escreva no espelho do banheiro compartilhado da sua casa - ela disse simplesmente.

Fiz um gesto frustrado e ela riu.

– Isso não ajuda muita coisa, sabe? Como vou trazer Daniel de volta? Como posso ter certeza de que vai me ajudar? - levantei as mãos para cima, sarcástica e desesperada.

– Na verdade, ISSO já ajuda muito - ela sussurrou.

– Não ajuda porra nenhuma! - gritei.

Mas Pedrita não estava mais ali.

E o tempo não estava mais congelado.

Sendo assim, fui alvo dos olhares, cochichos e risadas dos alunos do estacionamento.

– Selene? - Yukina chamou, preocupada.

Dei de ombros e entramos na laranja berrante.

– Estava pensando comigo mesma - revirei os olhos - lutando contra meus demônios.

Yukina franziu o cenho e deu de ombros, passando a encarar a janela.

Ligou o rádio e quando “Burn” começou a tocar, levantou as mãos para cima e cantou junto, ou melhor, gritou a música.

Soltei uma risada que teimava em escapar e acelerei.

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Saí do banho e me enrolei na toalha.

Fitei o espelho embaçado e me lembrei da orientação vaga de Pedrita.

“Escreva no espelho do banheiro compartilhado da sua casa”.

– Fácil pra você falar - resmunguei - não vai ter que explicar uma loucura dessas pro seu pai.

Resisti ao impulso de passar a mão no meu reflexo embaçado para poder ver melhor e suspirei.

Escrevi a frase um tanto quanto sinistra e senti um calafrio passar pelo meu corpo. Decidi que seja lá o que aquilo significasse, não gostaria de ter relação alguma.

Esfreguei meus braços numa tentativa de me esquentar e logo me vesti ali mesmo.

Ao sair do banheiro, dei de cara com algo.

– Oh, papai - levei a mão ao coração e tentei controlar minhas batidas - me assustou.

– E o que a mocinha estava fazendo que merecesse um susto? - ele perguntou e abriu um sorriso brincalhão.

Mas eu engoli em seco e o sorriso que lhe devolvi pareceu forçado até mesmo para mim.

– Nada - respondi e praticamente corri para o meu quarto, torcendo para que ele não entrasse imediatamente no banheiro.

Seria estranho demais, até mesmo pra mim.

Respirei fundo e me joguei na cama.

Encarei o teto de gesso e pensei em como seria legal que ele fosse como o de Yukina, estrelado.

O rosto do meu pai surgiu pela porta entreaberta.

– Querida? - ele chamou.

O encarei.

Por algum motivo, me senti pálida.

“Aquilo não tem nada a ver comigo”, eu disse, a mim mesma.

– Aconteceu algo com seu banheiro? - ele perguntou e franziu o cenho.

Ou ele não tinha lido nada, ou sabia fingir muito bem.

Talvez fosse os dois.

– Não - respondi - está tudo bem com meu banheiro.

“Idiota, Sardene!”, meu subconsciente gritou.

“Como vai explicar a frase adorável que deixou no espelho ou a súbita vontade de tomar banho fora da suíte?”.

Resisti ao impulso de dar um tapa em mim mesma.

– É que achei estranho, você não gosta de tomar banho em um banheiro que não seja o seu - ele explicou, confuso.

– A viagem me desacostumou dessas coisas - ri, nervosa - eu não ligo mais.

– Oh - ele assentiu e fechou a porta.

Me joguei de volta na cama e suspirei. Me virei de lado em posição fetal e assim fiquei até o sono me apagar.

E eu tive um sonho estranho.

Novamente o homem de olhos vermelhos estava lá.

Dessa vez, com uma capa azul tremulando sobre seus ombros largos e mesmo de costas, pude ver que segurava algo com cuidado.

O lugar não era lá dos mais acolhedores. Era uma caverna cheia de estalactites um tanto quanto ameaçadores e uma luz alaranjada saia das fendas do local rochoso.

Pensei ter visto lava escorrer em algum lugar, e pude ter certeza disso quando o homem chegou a um lugar mais aberto, mais fundo na caverna.

Parou estrategicamente num lugar e cantarolou uma música estranha. Logo, o chão aos seus pés se abriram e um rio de lava borbulhante surgiu.

De lá, criaturas deformadas e medonhas saíram e choravam como se estivessem sentindo dor. Um choro que causou-me ânsias de vômito e dores de cabeça.

Finalmente pude ver o que o homem segurava.

Um bebê.

Dormia como se nada estivesse acontecendo à sua volta. Na verdade, mais como se não se importasse com o que acontecia NO MUNDO.

As mãos das criaturas na lava se ergueram na direção da criancinha, como se pedissem pra que fosse jogada à eles.

Feito mortos de fome ao avistar um prato de comida.

A percepção me assustou.

“Não pode”, pensei horrorizada “não pode jogar o bebê lá!”.

Tentei alcançar a criancinha com as mãos, mas apesar de o homem não me ver, desviava-se do meu toque.

Ele torceu o nariz e ergueu a cabeça como se tivesse tomado uma decisão.

– É minha - ele disse e sua voz soou familiar - ela é minha.

Uma risada alta e gutural ecoou na caverna e a lava pareceu borbulhar mais.

“Um rei deve estar disposto a dar tudo pelo seu povo, não era isso o que repetia todos os dias, Delaryon?” a voz responsável pela risada zombou.

O homem grunhiu, com raiva e seus olhos faiscaram de forma que o vermelho deles se tornassem flamejantes.

– Eu sou o rei, eu decido o que sacrificar - ele retaliou com o tom de voz controlado.

– A outra menina - a voz gutural soou novamente - onde ela está?

– Essa é a escolhida - o homem disse com certeza na voz.

– Como sabe se ela será capaz de nos governar? - a voz perguntou em tom de zombaria - por acaso a criança tem cara de líder?

– Já basta, Delaris! - o homem gritou agora sem se conter.

Houveram alguns minutos de silêncio mortal. Apenas o estourar das bolhas no líquido alaranjado era o que se ouvia.

– Qual será o nome dela? - a voz tornou a soar.

O homem abriu a boca e encheu os pulmões de ar para pronunciar o nome do bebê.

Esperei ansiosamente pelo som que sairia e estava concentrada em memorizá-lo. Pensei que talvez tivesse algo a ver com o que Pedrita dissera…

Acordei sobressaltada sentindo meu corpo úmido e gelado.

– Mas que diabos é isso?! - perguntei enfurecida encarando meu corpo encharcado.

– Feliz aniversário! - Iria, Yukina, Seth e Liam gritaram.

O quarto estava decorado com bexigas lilazes e Seth segurava um bolo médio de morango nas mãos, desconcertado.

Mais água foi jogada em mim.

Pensei que gostaria de saber para qual site o Google os encaminhou para terem uma ideia tão estúpida.

E como foi que souberam do meu aniversário.

Revirei os olhos e sorri.


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Notas finais do capítulo

Muito mirabolante?



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