The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 20
Capítulo 20 - Meio Alterada


Notas iniciais do capítulo

IÊEEEEEEEE! O NYAH TA DE VOLTA ♥



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Já se passara uma semana desde todo o incidente de clipes furiosos do capeta, desmaios e abraços quentes. Daniel preferiu agir como se nada tivesse acontecido, e sim, aquilo era bom. Mas eu me sentia... Constrangida todas as vezes que ele se aproximava um pouco mais. E pelo jeito ele também, porque passou a manter uma distância maior de mim. Por outro lado... ele estava cada vez mais presente. Assim como minhas dores de cabeça e a sensação de que um caminhão passava por mim.
Todas as vezes que eu gemia baixinho ou levava as mãos à tempora, Seth ou Daniel ficavam insistentes em me acompanhar onde quer que eu fosse. Como se eu do nada fosse ter algum derrame cerebral e eles quisessem estar lá pra me socorrer.
Eu estava na educação física quando a dor veio pior. Dessa vez era meu maxilar. Parecia que minha arcada dentária estava sendo remodelada, mas pra definir melhor o sentimento, parecia que alguém puxava meus dentes carinhosamente com alicates. Tentei disfarçar. Yukina estava conversando animadoramente com Camila, a única garota que eu não achava medíocre naquele colégio e eu não queria atrapalhar. Corri para o banheiro.
Me olhei no espelho e dizer que eu estava pálida seria dizer que eu estava saudável. Arquejei quando a dor ficou mais forte e me debrucei sobre uma das pias. Respirar fundo era meu foco, mas ouvi algumas vozes conhecidas entrarem no banheiro. Era Michele e sua prole do inferno.
Me escondi em um vestiário e tentei trincar os dentes para não fazer nenhum barulho ou soltar algum gemido de dor involuntário, mas foi pior.
"Selene?!", chamou uma voz preocupada em minha mente. Mas não era Yukina...
"Selene, se você não sair desse banheiro agora eu vou aí atras de você!", a voz tentou se manter controlada.
Respirei fundo. Era Daniel e eu sabia muito bem (de alguma forma) que ele entraria sim ali pra me procurar. A dor piorou e dessa vez, minha cabeça latejou junto e meus ouvidos zumbiram.
"Não desmaie agora, idiota", ordenei a mim mesma e imediatamente, a porta do meu vestiário se abriu. Daniel estava furioso e me lançava um olhar fulminante.
– Saia daí agora - ele mandou, com raiva.
Hesitei. Por que ele estava bravo afinal? Bufei e saí, lutando contra a vontade de gritar e cair agonizando. Meu corpo parecia estar sendo luxuosamente banhado em ácidos variados.
Ele pegou meu braço com força e me arrastou pra qualquer canto. Várias pessoas davam risinhos e arquejos de surpresa por um garoto ter entrado no vestiário feminino, mas não prestei atenção porque meus olhos viam tudo vermelho.
– Onde dói? - ele perguntou ríspido.
Olhei pra ele, pasma. Onde doía? Tudo, seu imbecil!
– Não está doendo - respondi tentando soltar meu braço, sem sucesso.
Ele puxou meu rosto e me fez olhar pra ele. Nunca o tinha visto tão furioso em minha vida.
– Tudo - sussurrei - dói tudo.
Ele me arrastou em direção à aberração laranja que hoje estava parecendo mais uma salsicha devido ao fato de eu estar vendo tudo avermelhado.
– O que essa aberração laranja faz aqui? - perguntei zonza - não vim pra escola com ela...
– Fique quieta - ele grunhiu colocando o cinto em mim com urgência.
Se eu achava que dirigia feito louca, Daniel dirigia como terrorista. Ignorava sinais vermelhos e desviava por muito pouco de outros carros. Além de andar no sentido errado das ruas.
– Tá querendo me matar?! - perguntei com os olhos arregalados enquanto tentava manter minha testa fora do painel a cada freada.
Ele me lançou um olhar feio e me empurrou contra o banco novamente. Certo, aquilo era um perfeito "cale a boca e observe". O caminho todo parecia uma eternidade suicida e eu resmungava coisas impossíveis de serem interpretadas até mesmo por mim, até que ele parou em frente à casa dele.
Franzi o cenho.
– Por que estou em frente a uma casa que parece a sua? - perguntei.
Se eu estivesse bêbada, talvez não estivesse tão lerda.
– Essa é minha casa, Selene - ele respondeu pacientemente e me tirando do banco.
– EU CONSIGO ANDAR! - gritei esperneando quando ele me pegou no colo e entrou na casa.
Ele me ignorou completamente, me deixando em cima do sofá e lançando um olhar ameaçador. Se eu levantasse dali, me arrependeria. Engoli em seco e assenti à sua ameaça silenciosa. Ele saiu da casa e voltou minutos depois com uma caixa de madeira.
– Ainda dói? - perguntou.
– Claro que dói, idiota - respondi revirando os olhos e me arrependendo.
Achei que meus olhos jamais voltariam ao normal. Sem perceber, soltei um gemido e tapei o rosto com as mãos.
– Selene... - ele chamou preocupado tirando minhas mãos de onde estavam.
– O que está acontecendo comigo? - perguntei irritada - estou assim há dias.
– Faz parte, Selene - ele disse inconformado - vai ficar ainda pior.
– Faz parte do quê? - perguntei chutando a canela dele, irritada.
Ele nem reagiu. Ele nem reagiu a um chute na canela! Que... dragão.
– Sua estrutura óssea, seu corpo... vai deixar de parecer humana - ele disse se sentando ao meu lado.
– O quê?! - perguntei me levantando e tropeçando no tapete felpudo.
– Você é quase uma elfa - ele deu de ombros - vai se parecer mais com uma.
– Não quero! - gritei - não quero porra nenhuma disso!
– Você ainda vai parecer humana - ele tentou me acalmar me segurando pelos cotovelos - porque seu pai tem essa aparência, mas vão haver... algumas alterações.
– Que tipo de alterações? - perguntei horrorizada.
– Você vai ficar mais bonita... - ele tentou me consolar.
– Não quero ficar bonita - rosnei dizendo a palavra "bonita" como se fosse um palavrão.
– Tem razão, você não precisa - ele murmurou - escuta, relaxa. Não acho que você vai ficar tão diferente assim... - ele fez um carinho na minha cabeça.
Por alguma razão que detestei, me senti bem. MUITO bem. Senti que tudo ficaria bem e que nenhum chifre nasceria na minha testa.
– Okay. - respondi abaixando a cabeça e me sentando de novo no sofá.
– Durma - ele mandou tirando a manta que sempre enfeitava o sofá e me cobrindo com ela - essa coisa de transformação cansa muito, você deve estar acabada.
E ele tinha razão. Não deu tempo nem de eu terminar de assentir e já estava imersa num sono, sonhando com um lugar onde tudo era repleto de sombras e o crepúsculo era lindo. A floresta era verde e úmida, mas perfeitamente agradável, com flores e plantas fluorescentes. No céu, dois dragões voavam distanciados um do outro, mas em perfeita sincronia. Um era vermelho carmesim e o outro era negro e rajado de tons violeta. Ambos eram as coisas mais lindas que eu já vira ou sonhara em toda a minha vida.


A pergunta que estava em minha mente quando acordei era: por que diabos tem um Seth me encarando feito bobo? Gritei involuntariamente e caí do sofá, me afastando dele assustada.
– Pensei que ficaria encatada em acordar vendo minha bela face - ele disse franzindo o cenho - mas parece que você tem um péssimo gosto.
Continuei aturdida no chão, o encarando. Mas o quê...
– Vem tomar café da manhã - ele disse me pegando no colo.
Comecei a espernear.
– Qual é o problema de vocês?! - esbravejei mesmo sentindo dor no corpo todo - eu posso andar sozinha!
– Shhh - ele disse na minha orelha, rindo - você vai acordar o dragão.
Olhei para ele preocupada.
– Você está bem? - perguntei chegando meu rosto mais perto do dele para avaliar melhor.
– Melhor do que nunca - ele respondeu piscando e reparei que estávamos perto demais.
– Cretino - sibilei.
– Minha manhã nunca foi tão adorável - ele cantarolou me sentando na cadeira e colocando diante de mim um prato pronto e cheio de torradas, panquecas e geléia.
Franzi o cenho. Aquilo não estava cabendo nem no prato, como caberia no meu estômago? Respondendo à minha pergunta interna, minha barriga roncou.
– Eu diria que tem um dragão aí dentro - ele zombou cutucando meu umbigo.
Olhei para ele, ofendida.
– Quem sabe algum dia? - ele piscou.
– Dragões também sonham, afinal - murmurei dando uma mordida na panqueca.
Durante toda a minha refeição, ele me observou. Tentei não me incomodar, mas a presença de Seth já me incomodava por si só.
– Dá pra parar de olhar pra mim? - perguntei seca.
– Tentarei - ele respondeu dando um sorriso torto.
Me levantei da mesa, constrangida. Aquela dupla de irmãos era realmente babaca. Enquanto um fazia meu coração derreter, o outro despertava instintos sociopatas em mim. Mas ambos sempre estavam lá quando eu precisava. Inclusive Yukina, que fazia parte da família só pra constar.
Bufei e liguei a TV. Passava Ben 10, e disfarçando minha satisfação, sentei no sofá e me embrulhei com a manta.
– Então você gosta desse tipo de coisa - Seth disse atras de mim.
– Suma - rosnei.
O sofá afundou ao meu lado e logo ele estava lá também.
– Até que o desenho não é ruim - ele disse balançando a cabeça depois de meia hora assistindo.
O encarei para ver se ele estava de brincadeira comigo. Ele parecia se divertir e realmente aprovar. Voltei minha atenção para a TV. A porta da sala se abriu e Yukina entrou feito um furacão, sendo seguida por um Daniel entediado.
– Sel! - ela chorou desesperada - você está bem? Seth machucou você?! Te obrigou a fazer algo??
– Eu estou bem, eu acho - murmurei piscando rápido e tentando processar o momento.
– Você acha? - ela fungou.
– Aham.
– Que tipo de cara você pensa que eu sou? - Seth perguntou ofendido, se debruçando em direção à Yukina, ou seja, com o rosto perto demais do meu.
– Do pior tipo! - ela gritou e apontou a unha azul bebê na cara dele - pior!
Desliguei a TV e voltei a me sentar, tentando ficar distante de Seth, o que falhou.
– Selene, me defenda - ele pediu.
– Onde está seu orgulho? - perguntei encarando um ponto fixo no nada.
– Eu não sou um cara orgulhoso - ele disse ofendido - diferente do meu irmão.
Torci o nariz e deixei que Yukina e Seth mantivessem suas acaloradas discussões. Pensei em casa. Ultimamente andava mais na casa de Daniel do que lá, e me perguntei se papai se importava com isso. Provavelmente, sim. Mas era paizão demais pra reclamar agora que sua filha praticamente única criara uma mínima vida social.
Suspirei e Seth riu, sentindo cócegas. Por que diabos ele continuava tão perto?
– Mantenha um pouco de distância, imbecil - resmunguei empurrando seu rosto pra longe.
Ele riu de lado e notei que Daniel e Seth eram diferentes. Muito.
Daniel era moreno, tinha longos cabelos negros, corpo forte e alto, seu olhar parecia ver sua alma, era agressivo e ao mesmo tempo... tão acolhedor. Era lindo e atraente ao seu próprio jeito, fazia qualquer garota desviar o olhar, encabulada e morrendo de vontade de puxar conversa.
Seth era branco, de curtos cabelos claros e magro, mas musculoso. Era lindo e atraente, fazia o "tipo" de todas. Seu olhar era fuzilante, como se ele soubesse todos os seus segredos e muito mais. Como se você estivesse na palma da mão dele. Ao contrário do irmão, fazia as garotas olharem fixamente para ele feito bobas, totalmente hipnotizadas, até mesmo se atirando pra ele.
A única semelhança entre eles era o sorriso de lado, mas ainda assim, diferente. Daniel sorria pra direita, o efeito de derreter icebergs. Seth sorria pra esquerda, o que tinha efeito "tornando toda pureza em malícia".
– Você quer ir pra casa? - Yukina me olhou, preocupada.
Dei de ombros. Me sentia bem vinda ali, tanto quanto em casa. Ela sorriu de orelha à orelha e se sentou aos meus pés, ligando a TV novamente e tagarelando sobre a possibilidade de convidar Willian pro baile de inverno da escola. Quem era Willian mesmo?
– Quem você vai convidar? - ela perguntou animada, ansiosa, louca pra saber a resposta e muito mais.
Droga.
– Não costumo aparecer nesses bailes - respondi assoprando a franja.
– Por que não? - ela perguntou confusa.
Revirei os olhos.
– Fala sério, quem vai aceitar ir pra essa droga comigo? Além disso, eu detesto esses eventos - respondi.
– Eu iria querer ir com você - Seth interrompeu mexendo nas pontas do meu cabelo.
– As garotas convidam seus pares pra esse evento, o que significa que ela está afim do cara - sibilei - eu NÃO estou afim de você.
Ele forjou uma expressão chocada, surpresa e depois, magoada. Tive que rir, e quando o fiz, todos me encararam surpresos.
– O que foi? - perguntei tensa.
– Sua risada é tão bonita - Yukina suspirou.
Franzi o cenho. Se eu fosse pra esse tal de baile de inverno, convidaria um humano. Humanidade cairia bem naquele momento pra mim.
– Sel, por favor, vá ao baile - Yukina voltou ao assunto pegando na minha mão.
– Se eu for, irei com um humano - respondi num muxoxo.
– Você está afim de um humano?? - perguntou Daniel interessado demais pra quem estava de boca cheia, vindo da cozinha com um sanduíche nas mãos.
– Não - revirei os olhos.
– Então por que vai convidar um humano? Seth e eu queremos ir com você - ele disparou, se arrependendo logo depois.
Yukina, Seth e eu encaramos Daniel, chocados.
– Esquece - ele murmurou e foi para o andar de cima dando passos firmes.
Alguns minutos de silêncio se passaram.
– Enfim, continuando - Yukina recarregou seus ânimos e desatou a falar - você realmente não presta atenção ao seu redor, não é?
Arqueei uma sobrancelha, questionando o que ela queria dizer.
– Você é o assunto preferido dos garotos quando Michele não está por perto - Seth resmungou.
– Ahn? - pisquei, aturdida.
– Você é linda, Selene - Yukina tirou Seth do sofá e ocupou o lugar - faria qualquer cara brigar por você, até Daniel concorda com isso.
Corei.
– Por que o assunto de hoje é Daniel? Falem de mim! - Seth bufou.
– Certo, Seth te acha perfeita - ela cantarolou com os olhos brilhando.
Provavelmente, ela estava tendo ideias. Ideias que, quando colocadas em práticas, teriam resultados catastróficos, de acordo com meus conhecimentos em relação à Yukina.
– Seth me acha perfeita porque conheceu Solara e somos parecidas - respondi o chutando enquanto ele tentava se deitar emcima do meu pé - mas eu não sou Solara.
– Eu sei que você não é Solara - ele disse baixinho com os olhos fechados.
– Então pare de me perseguir! - o chutei mais forte.
– Selene, você acha que associo sua imagem à da sua irmã? - ele perguntou se levantando rápido demais para que eu visse e segurou meu pulso com raiva - você é melhor que ela, enfie isso na sua cabeça.
Seus olhos estavam acesos, como um fogo violeta. O aperto dele doía e pinicava. Me espremi contra o encosto do sofá, na tentativa de manter distância do ar quente e abafado que emanava dele.
– Não desconte suas frustrações em Selene - Daniel socou Seth com uma força incrível e o fez voar até a parede oposta.
Um som gutural veio do fundo da garganta dos dois. Não era igual às descrições dos livros fictícios ou aos filmes. Seu corpo sabia que você tinha que arrepiar e seu cérebro enviava comando ao seu corpo, mas ele não obedecia. Era medo demais pra uma só pessoa. Um humano provavelmente não permaneceria com a mente sã depois de ouvir aquilo, mas após alguns segundos eu já estava recuperada.
Seth avançou pra cima de Daniel.
– Minhas frustrações começam quando você aparece, bastardo! - ele rugiu pronto para... morder Daniel??
– Parem vocês dois - Yukina ordenou entrando no meio.
Era estranho quando ESSA Yukina aparecia. Sua voz deixava de ser manhosa e infantil, para adotar um tom autoritário e sábio, refletindo sua verdadeira idade.
– Vocês são irmãos - ela continuou - essa atitude é inaceitável.
Daniel e Seth ficaram tensos e seus rostos endureceram.
– Não importa quem é o bastardo aqui, os dois estão agindo como otários - ela apontou o dedo com expressão severa e eles estremeceram - peçam desculpas à Selene.
Ela era apenas uma feiticeira e eles, dois dragões antigos. Ainda assim, o respeito e temor era visível. Eles se amavam tanto, que pra preservar aquilo faziam de tudo.
– Desculpe - Seth murmuou trincando o maxilar, envergonhado e sem me olhar nos olhos.
Daniel continuou lá. Mas me encarava com seu olhar sério. Só quem olhava o fundo de seus olhos podia notar o arrependimento ali.
"Me perdoe", ele disse mentalmente. "Não queria que tivesse visto aquilo".
Dei um meio sorriso.
– Agora sumam da minha frente - Yukina ergueu a cabeça com um olhar matador - vou levá-la pra casa.


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Notas finais do capítulo

Vou postar uma nova fic por esses dias. E aí, querem que seja "comum" ou que tenha um pouquinho de sobrenatural? Fica a critério de vocês!



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