The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 2
Capítulo 2 - Determinada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496121/chapter/2

Os corredores estavam tumultuados. Como sempre depois das férias, haviam novas loiras bronzeadas. Não eram novas pessoas. Eram as mesmas garotas sem vida social alguma que aproveitaram as férias para bolar um plano "fique magra, artificial e oxigenada" para sair do time dos que sofriam para os que praticavam bullyng.
Abri meu armário suspirando e uma folha de caderno caiu no chão. A caligrafia era ridícula, a habilidade de escrever então, nem se fala. Eu já devia imaginar o que era, mas mesmo assim, li.
"Bem vinda de volta às aulas, bruxinha.
Que tal uma poção pra tentar criar vida social?
Não vale chamar a mamãe pra ajudar.
Assinado: Michelly"
Amassei o papel e o joguei de volta no armário, ouvindo risadas finas e histéricas atras de mim. Como ela pode escrever o próprio nome errado? Fechei o armário com força e fui pra aula de Filosofia.
Me sentei na ultima carteira. Não só por preferir ficar longe da Michele como por sempre ter gostado do fundo. Todos já tinham suas duplas e e suspirei olhando a janela. O céu estava com ainda mais nuvens, o que achei estranho.
A professora rechonchuda ia começar a aula quando de repente a porta abriu e uma japonesa baixinha entrou junto com um garoto que reconheci ser de uma tribo da reserva da floresta. A garota pediu licença e se apresentou à classe como Yukina, e o garoto como Daniel. Eram primos.
Subitamente desejei que qualquer um deles se sentassem ao meu lado. Por mais que eu não deixasse transparecer, ficar sozinha me corroia. Tinha sido assim desde o Ensino Fundamental, quando minha mãe fez uma visita à cidade e meu pai a expulsou de casa. Até hoje não entendi o ocorrido.
A garota sorriu radiante e se dirigiu ao fundo.
– Posso me sentar aqui? - perguntou ela.
Olhei para o lado, mas só havia eu ali. Dei de ombros e tirei minha mochila do espaço livre na carteira. Yukina se sentou comigo e Daniel logo ao lado.
Michele torceu o nariz e se levantou toda animadinha.
– Yuki... Você é tão bonitinha... Vem sentar com a gente! - ela fez beicinho. Ugh.
– Desculpe, mas eu gosto do fundo. - respondeu Yukina em tom culpado.
Michele ia dar de ombros e voltar ao seu lugar, mas reparou em Daniel. Ah, claro que reparou. O brilho em seus olhos mudou drasticamente e ela colocou um dedo na boca parecendo pensar.
– Nesse caso... - ela se virou para mim - vaza, verruguenta, o lugar agora é meu!
E apontou para mim.
Ela apontou para mim! Com aquelas unhas de oncinha como se fosse a ultima moda. Um fervor de raiva passou por mim, mas me limitei a lhe lançar um olhar de ódio.
Imediatamente, Michele retraiu o braço e se encolheu, tropeçando de volta ao seu lugar. Yukina riu.
– Vou me lembrar de nunca apontar pra você. - disse ela parecendo se divertir.
Voltei a encarar a janela. Definitivamente, era melhor eu me sentar sozinha.

Surpreendentemente, mesmo depois de meu silêncio constante e as vezes que a ignorei, Yukina continuava tentando conversar comigo. Corrigia quando eu errava os exercícios e interagia com o primo.
Já Daniel não fazia menção de querer falar comigo. Eu não o culpava.
– Qual é o seu nome? - perguntou Yukina por fim.
A encarei com olhar vago e senti vontade de responder. Mas voltei a olhar a janela. Uma chuva começou a cair. Procurei algum guarda-chuva em minha mochila mas eu não havia levado nenhum. Suspirei.
Era hora de ir embora, Yukina parecia desapontada.
– Até amanhã. - disse ela sem ânimo algum.
A observei sair da sala sem notar que Daniel ficara para tras e me observava.
– Ela realmente quer ser sua amiga. - disse ele com as mãos nos bolsos do jeans, me fazendo pular de susto.
Ele tinha uma expressão neutra, mas mesmo assim, pela primeira vez, reparei nele. Era moreno, forte e tinha os cabelos na altura dos ombros. Tinha os olhos avelãs que eu daria tudo para ter. Ele franziu as sobrancelhas, como se esperasse uma resposta de mim. Dei de ombros e tirei a franja dos olhos.
– Ela vai se desapontar menos se não conseguir. - respondi pegando minha mochila e indo embora.
– Talvez você é que esteja com medo de se desapontar. - ele disse baixinho, mas pude ouvir antes de sair pela porta.
Mal sabia ele que não era um talvez. Era uma certeza. Eu jamais iria me deixar desapontar tão facil, muito menos por algo tão banal quanto uma amizade. Nunca mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Forest City" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.