Um suspiro tenta escapar pelos meus lábios.

Não, não posso deixar.

Um suspiro é um sinal de fraqueza, um sinal de medo, e eu prometi à você não ter medo, não hesitar, seguir em frente de cabeça erguida.

Eu devia isso à você e, mais do que isso, eu devia isso à mim. Se jogar de cabeça, não pensar tanto, não tremer diante do abismo.

Talvez eu não consiga agora. Talvez eu nunca consiga. Talvez eu desista. Talvez eu seja consumida pelo vazio que você me tornou. Pelo vazio que eu me tornei. Pelo vazio que eu te tornei.

Mas você é um vazio tão cheio que eu ainda o sinto aqui, ao meu lado. Fecho os olhos e vejo você acariciando o meu cabelo, me chamando de “minha pequena”. Os abro e você já não está mais lá. Os fecho novamente, mas o que vejo não é o que quero ver. Não quero lembrar a última vez que te vi.

Mas é inevitável.

É como se eu pudesse sentir de novo o calor sufocante do seu sangue na minha roupa. Minha visão embaçada e nítida do seu olhar. O arrepio da sua respiração no meu rosto. A culpa por não ter tentado evitar. Por ter fugido, corrido, me escondido dentro da casca que chamo de corpo, sem ter levantado um dedo para impedir. Por ter paralisado de medo, me afogado nele, até finalmente emergir quando já era tarde demais, quando eu já não podia fazer mais nada, apenas ouvir sua voz sussurrar o meu nome pela última vez e ver seu olhar desaparecer.

Por isso paro o suspiro. Não posso hesitar. Não vou hesitar. Nunca mais quero me arrepender, até o dia que encontrar você.