Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 7
Acerto de contas


Notas iniciais do capítulo

Gostei de escrever esse capitulo, digamos que foi terapeutico.



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Nos dias que se passaram eu me senti como um adolescente, evitando ligar para o Fred toda vez que olhava para o celular. Eu queria ouvir a voz dele nem que fosse um segundo a cada, sei lá, um minuto. Era a fuga perfeita para a minha realidade.

Parte disso, me convenceu Marcio, deveria ser carência. É claro que a essas alturas do campeonato não adiantava ficar negando, eu sentia muita falta de Marcelo. Meu coração doía tanto toda vez que eu pensava naquele maldito e ainda tinha Veronica. Eu ia ser pai cara, o exame havia dado postivo.

Bom, depois de levar as roupas de Marcelo para uma ONG eu fui ao DASA, era novamente fim de semana e eu queria estar bem equilibrado quando voltasse a sair com Fred mais tarde. Quando cheguei lá só havia Douglas sentado em sua cadeira olhando para o celular em sua mão. Ele parecia menor o olhando daquele ângulo, até mesmo um pouco frágil.

Lembrei-me do dia do acidente e não sei como estaria se ele não tivesse me abraçado. Era horrível admitir isso também, mas me sentia em divida.

Senti uma pontada de pena o vendo ali sozinho e pela primeira vez desde que o conheci me perguntei por que sentia tanta raiva dele. A verdade era que eu não sentia raiva, apenas gostava de atormenta-lo. Eu sei, não sou uma pessoa boa caso contrario não estaria num grupo de apoio pra viciados em sexo.

Eu estava me perguntando como a morte de Marcelo pode ter mudado tudo dessa forma. De uma hora pra outra eu sentia pena do cara que eu odiava, estava apaixonado, ia ser pai e quem era meu único amigo? Marcio, o cara da restrição cautelar.

Dei uma risada baixa da minha mediocridade e Douglas levantou a cabeça, nossos olhos se encontraram por um segundo antes dele abaixar a cabeça e voltar a mexer no celular – chegou cedo – ele comentou.

– Eu tento não te encher, mas sua previsibilidade me incomoda – respondi caminhando até a cadeira que costuma me sentar. O mais longe possível dele, mas ainda sim de frente pra ele.

Achei que começaríamos novamente a troca de elogios, mas desta vez ele apenas murmurou algo parecido com uma confirmação enquanto olhava para a tela brilhante. Fiquei sem graça e irritado. Pior que ser xingado é ser ignorado. Eu jogaria uma bicicleta nele se houvesse alguma por perto.

– Eu estava querendo falar com você – murmurei me ajeitando na cabeça.

– Se for mais alguma de suas historinhas nem... – ele suspirou profundamente, colocou o celular no bolso e me encarou sem expressão – diga – ele pediu preguiçosamente.

Meu rosto deve ter se contorcido enquanto falava, porque a cara que Douglas fez acabou me deixando sem graça – eu queria agradecer – as palavras saíram um pouco como veneno, já estava fazendo de mais indo falar com ele – pelo outro dia sabe, eu precisava.

– Não precisa – ele me interrompeu – eu sei como é perder as pessoas, Paulo.

Agora todo mundo sabia não é? Me sentir um lixo deveria fazer parte de agradecer certo? – Bom – disse me levantando da cadeira ­– então vou indo. – Fiz um sinal com a mão apontando para a porta.

Ele deu um sorriso, fez um sinal negativo com a cabeça ainda com os lábios repuxados e retirou o celular do bolso. Enquanto eu caminhava para a porta eu me sentia cada vez mais vazio. Eu sempre achei que se eu fizesse a coisa certa esse sentimento ia sumir, mas algo não parecia correto – inferno – gritei me virando bruscamente, fazendo o idiota pular da cadeira de susto.

Corri até ele e o agarrei pelo braço. Os olhos dele estavam arregalados num misto de medo e surpresa, presumi – o que esta fazendo Coélio? – Quis saber, enquanto eu o arrancava da cadeira e o arrastava até a porta.

­– Não finja que não sabe, não tenho saco pra sua sonsura – eu gritei enquanto nos aproximávamos das escadas.

Ele se agarrou na maçaneta de uma porta ao lado do DASA e gritou – não, não.

Perdi a paciência e o soltei, ele ajeitou as roupas no corpo e correu pra dentro da sala novamente. Corri atrás dele e quando entrei pela porta ele estava apontando uma cadeira pra mim – não se aproxime – ele gritou histérico.

– Você esta louco? – Perguntei curioso. Dei dois passos para trás ficando no vão da porta e me apoiei nela – impossível na boa.

– Não pense que não sei o que queria fazer seu monstro – ele gritou com os olhos arregalados. Qual é, o que havia dado nele?

Dei dois passos para dentro da sala e ele arremessou a cadeira em minha direção. Desviei facilmente, mas a pobre planta que ficava perto da porta foi atingida – se não gosta de café podemos tomar suco – dei de ombros o encarando já preocupado.

– Sabe quantos degraus tem aquela escada? Eu poderia morrer – ele disse primeiro gritando, mas até o final da frase a voz dele foi baixando o volume e ganhando um tom de surpresa – café?

– É claro seu idiota – agora eu gritei. Finalmente percebi o que ele estava pensando. Até parece que eu iria tentar mata-lo, que eu ia perder meu tempo com isso, eu não iria preso por um idiota como esses nunca. Corri até a cadeira que ele havia me jogado e a arremessei na direção dele, mas minha mira diferente da dele era ótimo. Acertei o objeto na cadeira na frente dele fazendo a suas rolarem até as pernas dele – seu imbecil, babaca. Não da pra tentar ser seu amigo, vai para o inferno.

Comecei a correr na direção dele e ele começou a correr de mim – você queria tomar café comigo? – Ele me perguntou parecendo incrédulo enquanto corria em volta das cadeiras que agora eram tombadas e arremessadas por mim.

– Essa era a ideia idiota, antes de você pensar que eu ia te matar – então me cansei, joguei mais uma cadeira que acertou o pé da mesa onde ficava a jarra de suco e a bendita virou, derramando o liquido verde pele chão branco. Por fim me sentei no chão mesmo – isso é terapêutico sabia, estou me sentindo melhor.

Douglas começou a rir. Levantou uma cadeira que estava no chão perto da porta e se sentou ela – talvez devêssemos repetir isso mais vezes – ele sugeriu – essa foi à conversa mais longa que já tive com você nesses quatro meses.

Abaixei a cabeça e concordei com ele em pensamento – posso te perguntar uma coisa? – Ele deu de ombros – por que depois de quatro meses te enchendo o saco você ainda tenta me fazer falar?

Ele se levantou da cadeira e caminhou até mim. Depois de passar a mão na parte onde eu o acertei ele se largou no chão ao meu lado – as pessoas que menos falam, são as que mais têm a dizer – me respondeu olhando nos olhos.

Ele estendeu a mão e eu a agarrei num aperto forte e sincero. Talvez ele não fosse tão mal assim afinal de contas.

– Santa mãe de Deus – Alguém gritou, levei um susto e quase mordi a mão de Douglas de raiva. Marcio olhava estupefato para a cena de destruição que havia se apossado da sala da entrada do local – sabia que algum dia vocês iam tentar se matar.




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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado, as reviravoltas de vida de Paulo ainda não chegaram nem na metade Okay? Não deixe de comentar pow!