Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy
Notas iniciais do capítulo
Gostei de escrever esse capitulo, digamos que foi terapeutico.
Nos dias que se passaram eu me senti como um adolescente, evitando ligar para o Fred toda vez que olhava para o celular. Eu queria ouvir a voz dele nem que fosse um segundo a cada, sei lá, um minuto. Era a fuga perfeita para a minha realidade.
Parte disso, me convenceu Marcio, deveria ser carência. É claro que a essas alturas do campeonato não adiantava ficar negando, eu sentia muita falta de Marcelo. Meu coração doía tanto toda vez que eu pensava naquele maldito e ainda tinha Veronica. Eu ia ser pai cara, o exame havia dado postivo.
Bom, depois de levar as roupas de Marcelo para uma ONG eu fui ao DASA, era novamente fim de semana e eu queria estar bem equilibrado quando voltasse a sair com Fred mais tarde. Quando cheguei lá só havia Douglas sentado em sua cadeira olhando para o celular em sua mão. Ele parecia menor o olhando daquele ângulo, até mesmo um pouco frágil.
Lembrei-me do dia do acidente e não sei como estaria se ele não tivesse me abraçado. Era horrível admitir isso também, mas me sentia em divida.
Senti uma pontada de pena o vendo ali sozinho e pela primeira vez desde que o conheci me perguntei por que sentia tanta raiva dele. A verdade era que eu não sentia raiva, apenas gostava de atormenta-lo. Eu sei, não sou uma pessoa boa caso contrario não estaria num grupo de apoio pra viciados em sexo.
Eu estava me perguntando como a morte de Marcelo pode ter mudado tudo dessa forma. De uma hora pra outra eu sentia pena do cara que eu odiava, estava apaixonado, ia ser pai e quem era meu único amigo? Marcio, o cara da restrição cautelar.
Dei uma risada baixa da minha mediocridade e Douglas levantou a cabeça, nossos olhos se encontraram por um segundo antes dele abaixar a cabeça e voltar a mexer no celular – chegou cedo – ele comentou.
– Eu tento não te encher, mas sua previsibilidade me incomoda – respondi caminhando até a cadeira que costuma me sentar. O mais longe possível dele, mas ainda sim de frente pra ele.
Achei que começaríamos novamente a troca de elogios, mas desta vez ele apenas murmurou algo parecido com uma confirmação enquanto olhava para a tela brilhante. Fiquei sem graça e irritado. Pior que ser xingado é ser ignorado. Eu jogaria uma bicicleta nele se houvesse alguma por perto.
– Eu estava querendo falar com você – murmurei me ajeitando na cabeça.
– Se for mais alguma de suas historinhas nem... – ele suspirou profundamente, colocou o celular no bolso e me encarou sem expressão – diga – ele pediu preguiçosamente.
Meu rosto deve ter se contorcido enquanto falava, porque a cara que Douglas fez acabou me deixando sem graça – eu queria agradecer – as palavras saíram um pouco como veneno, já estava fazendo de mais indo falar com ele – pelo outro dia sabe, eu precisava.
– Não precisa – ele me interrompeu – eu sei como é perder as pessoas, Paulo.
Agora todo mundo sabia não é? Me sentir um lixo deveria fazer parte de agradecer certo? – Bom – disse me levantando da cadeira – então vou indo. – Fiz um sinal com a mão apontando para a porta.
Ele deu um sorriso, fez um sinal negativo com a cabeça ainda com os lábios repuxados e retirou o celular do bolso. Enquanto eu caminhava para a porta eu me sentia cada vez mais vazio. Eu sempre achei que se eu fizesse a coisa certa esse sentimento ia sumir, mas algo não parecia correto – inferno – gritei me virando bruscamente, fazendo o idiota pular da cadeira de susto.
Corri até ele e o agarrei pelo braço. Os olhos dele estavam arregalados num misto de medo e surpresa, presumi – o que esta fazendo Coélio? – Quis saber, enquanto eu o arrancava da cadeira e o arrastava até a porta.
– Não finja que não sabe, não tenho saco pra sua sonsura – eu gritei enquanto nos aproximávamos das escadas.
Ele se agarrou na maçaneta de uma porta ao lado do DASA e gritou – não, não.
Perdi a paciência e o soltei, ele ajeitou as roupas no corpo e correu pra dentro da sala novamente. Corri atrás dele e quando entrei pela porta ele estava apontando uma cadeira pra mim – não se aproxime – ele gritou histérico.
– Você esta louco? – Perguntei curioso. Dei dois passos para trás ficando no vão da porta e me apoiei nela – impossível na boa.
– Não pense que não sei o que queria fazer seu monstro – ele gritou com os olhos arregalados. Qual é, o que havia dado nele?
Dei dois passos para dentro da sala e ele arremessou a cadeira em minha direção. Desviei facilmente, mas a pobre planta que ficava perto da porta foi atingida – se não gosta de café podemos tomar suco – dei de ombros o encarando já preocupado.
– Sabe quantos degraus tem aquela escada? Eu poderia morrer – ele disse primeiro gritando, mas até o final da frase a voz dele foi baixando o volume e ganhando um tom de surpresa – café?
– É claro seu idiota – agora eu gritei. Finalmente percebi o que ele estava pensando. Até parece que eu iria tentar mata-lo, que eu ia perder meu tempo com isso, eu não iria preso por um idiota como esses nunca. Corri até a cadeira que ele havia me jogado e a arremessei na direção dele, mas minha mira diferente da dele era ótimo. Acertei o objeto na cadeira na frente dele fazendo a suas rolarem até as pernas dele – seu imbecil, babaca. Não da pra tentar ser seu amigo, vai para o inferno.
Comecei a correr na direção dele e ele começou a correr de mim – você queria tomar café comigo? – Ele me perguntou parecendo incrédulo enquanto corria em volta das cadeiras que agora eram tombadas e arremessadas por mim.
– Essa era a ideia idiota, antes de você pensar que eu ia te matar – então me cansei, joguei mais uma cadeira que acertou o pé da mesa onde ficava a jarra de suco e a bendita virou, derramando o liquido verde pele chão branco. Por fim me sentei no chão mesmo – isso é terapêutico sabia, estou me sentindo melhor.
Douglas começou a rir. Levantou uma cadeira que estava no chão perto da porta e se sentou ela – talvez devêssemos repetir isso mais vezes – ele sugeriu – essa foi à conversa mais longa que já tive com você nesses quatro meses.
Abaixei a cabeça e concordei com ele em pensamento – posso te perguntar uma coisa? – Ele deu de ombros – por que depois de quatro meses te enchendo o saco você ainda tenta me fazer falar?
Ele se levantou da cadeira e caminhou até mim. Depois de passar a mão na parte onde eu o acertei ele se largou no chão ao meu lado – as pessoas que menos falam, são as que mais têm a dizer – me respondeu olhando nos olhos.
Ele estendeu a mão e eu a agarrei num aperto forte e sincero. Talvez ele não fosse tão mal assim afinal de contas.
– Santa mãe de Deus – Alguém gritou, levei um susto e quase mordi a mão de Douglas de raiva. Marcio olhava estupefato para a cena de destruição que havia se apossado da sala da entrada do local – sabia que algum dia vocês iam tentar se matar.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenha gostado, as reviravoltas de vida de Paulo ainda não chegaram nem na metade Okay? Não deixe de comentar pow!