Sexo, Amor e Livros escrita por Julio Kennedy


Capítulo 15
O Grande Livro dos Sapos


Notas iniciais do capítulo

Galera, a primeira parte do final esta ai. O capitulo tinha dado 5900 palavras então decidi ajudar voces e publicar separados, espero que gostem! Segurem esse forninho.



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Acordei descansado naquela manha de outubro. O sol estava entrando por um buraco na persiana negra que cobria a janela. Criando uma ponte de luz pelo meu quarto. Ouvi os pratos batendo na cozinha e depois de me dar conta de que dia era, saltei da cama.

Fui usando apenas meu short de ceda até a cozinha e encontrei Igor de calça jeans, descalço e sem camisa preparando o café. – Bom dia! – O cumprimentei enquanto abria a porta da geladeira.

Ele me olhou por um momento e depois virou o rosto fazendo uma careta – coloca uma roupa cara.

Olhei para baixo e vi o começo, ou no caso, o fim de uma ereção que demarcando o short de ceda e sorri. – Se não quer ver estrelas não olhe para o céu.

Ele resmungou qualquer coisa e retirou o jarro de café da cafeteira, colocando sobre a mesa. Me sentei com a garrafa de leite e a xicara na mão. Ainda estava meio zonzo e com os olhos pregando. Respirei profundamente e o cheiro de café encheu meu peito.

– Você sempre acorda animado assim – Igor perguntou enquanto se sentava comigo.

Neguei com a cabeça e sorri – eu sou muito mal humorado até as dez da manha. Mas hoje não é um dia qualquer, já falou com todo pessoal?

– Já, liguei pra todo mundo ontem e você sabe disso – ele resmungou enquanto jogava uma bolacha na boca. Quase a engoliu inteira e questionou – mas ainda não entendi o motivo de ter tido que dormir aqui.

Mordisquei mais uma bolacha e me levantei da mesa com a xicara na mão. O olhar de Igor novamente foi até o meio das minhas pernas, em seguida ele franziu o cenho em uma expressão de desaprovação total e virou o rosto. – Temos muito a fazer hoje. Você tem que ir convencer Clara a ir ao DASA e eu preciso checar com Priscilão se ela tem tudo que precisa.

– Porque eu tenho que convencer a ex-namorada louca enquanto você vai as compras? – Indagou Igor nervosinho.

– Achei que você fosse meu tutor afinal de contas – resmunguei finalmente indo colocar uma roupa.

– Isso não quer dizer que você pode me explorar – ele gritou enquanto eu me fechava no quarto.

Godofredo estava na janela do meu quarto, tomando um pouco de sol. Era finalmente outubro e as primeiras pétalas lilases começavam a surgir. Aquele deveria ser um bom pressagio afinal de contas.

Agarrei meu celular no criado mudo e o conferi mais uma vez. Não haviam ligações nem mensagens, Frederico ainda não tinha dado sinal de vida. Me sentei na cama e suspirei frustrado. Pior do que ser odiado é ser ignorado.

Mas esse era o grande dia e mesmo que ele não quisesse falar comigo, ele teria de fazê-lo. Bom, na verdade não necessariamente, mas aquele era o espirito.

Tomei um banho rápido e coloquei uma caça jeans azul comum, um cinto preto de couro fino, uma blusa de frio cinza escuro e meu Allstar preto que eu sequer lembrava que existia.

Coloquei o capuz e sai do quarto. Igor corria os dedos rapidamente sobre a tela do celular, me encarou de relance e comentou – melhor assim.

– Eu acho que seria mais sexy ir de cueca – completei.

– Clara topou, mas ela acha que eu estou afim dela – Igor me contou fazendo uma cara de piedade.

– Eu não me responsabilizo pelos acontecimentos, isso eu não planejei. – Igor passou a mão pelos cabelos e deu de ombro – quer uma carona até o centro?

***

Priscilão era outra pessoa durante o dia. Ou pelo menos dias de semana. Sem o cabelo, os cilhos postiços e o salto alto, Priscilão passava a ser Adalberto. Sócio de um consultório odontológico no centro da cidade.

Quase não pude reconhecê-lo quando ele abriu a porta do consultório. Ele usava jaleco branco e “meu Deus” ele era careca. – Já estou quase terminando – ele disse apertando minha mão com firmeza.

Balancei a cabeça positivamente e me sentei na sala de espera. Sentindo uma vontade de rir incontrolável se quer saber. Mal pude me comunicar com Geraldinho por mensagem, as rizadas contidas chegavam a doer.

“Eu: As dezenove horas...”

“Geraldinho: Sim, você já disse três vezes...”

“Geraldinho: Só na ultima hora.”

Adalberto saiu vestido normalmente para minha surpresa. Priscilão parecia não existir o vendo assim. Até mesmo sua voz era mais grossa e máscula – falta exatamente o que? – Perguntei quando entramos no elevador.

– Tenho só que encontrar os meninos para confirmar os passos, gato – ele deixou escapar.

***

Tudo correu bem, segundo Adalberto Priscilão era aquilo mesmo que ele havia planejado. Um pouco exagerado de acordo com o planejamento inicial e caro também, mas Adalberto afirmou que não fazia serviços pela metade.

Nesse contexto isso pegou mal, mas não foram serviços sexuais se quer mesmo saber.

Peguei Igor novamente perto da Praça da Estação e fomos até o consultório de Geraldinho. – Quando você vai arrumar um emprego? – Igor me perguntou do nada no elevador. Estávamos só nós dois lá dentro.

– Por que isso te preocupa? – Perguntei sem olha-lo.

Ele estava virado pra mim e de relance eu podia ver seu rosto bonito e barbudinho. – Você disse que só tinha mais um mês de seguro.

– Disse – concordei.

– E?

– E que já tenho uma entrevista para a próxima semana em uma revista – completei.

Um enorme sorriso abriu-se no rosto dele, que me encarou por mais alguns segundos antes de se virar novamente para frente e se aquietar. Quando a porta abriu entramos no corredor mal iluminado onde ficava o consultório eu soltei – por que você insistiu tanto em ser meu tutor?

– Você não se lembra mesmo não é? – Ele questionou frustrado. Ergui a sobrancelha e o encarei. Eu poderia já ter facilmente transado com ele e não me lembrar, mas de acordo com seu relato no DASA ele era virgem de novo.

Sorri sem graça e perguntei – deveria?

– No colégio eu conheci um cara baixinho e sarado chamado Marcelo – me assustei ao ouvir o nome e toda minha atenção foi diretamente atraída pra ele. Tudo em volta pareceu não mais existir – ele era arrogante e metido a popular. Aquele maldito estereotipo inalcançável ambulante.

Tentei dizer alguma coisa, mas minha voz falhou.

– Me deixa terminar – ele pediu, balancei a cabeça positivamente e me mantive quieto. – claro que eu o odiava, o inveja, mas quem não. Então você passou de CDF desconhecido para melhor amigo do Mister popularidade de um dia pro outro e eu pensei: “Nossa, mais um babaca seduzido.” Então alguns meses depois quando fiquei sabendo do que aconteceu com a sua família...

– Espera – pedi surtando. Esse cara não podia simplesmente aparecer e dizer que se lembra dos meus anos de ensino médio do nada. – Quem é você?

Assim que ele percebeu meu nervosismo deu um passo para trás. – Estudamos no mesmo colégio. Calma, não erámos amigos nem nada.

– Eu não estou entendo – disse confuso. Era muito estranho um cara que se lembra de mim insistir para ser meu tutor, era surreal, era esquisito.

Igor passou a mão pelos cabelos e suspirou – eu não acreditei quando você entrou naquela sala do DASA.

– Só porque eu e Marcelo viramos amigos no Colégio? Eu não estou entendendo a sua – Questionei começando a ficar irritado.

– Não, Marcelo salvou minha vida. – Ele disse com urgência na voz – Eu fui assaltado um dia voltando pra casa. Idiota, acabei não querendo entregar minhas coisas e os caras começaram a me bater. Eu cai no chão e eles começaram a me chutar.

Franzi o cenho e quis interrompe-lo, mas ele continuou a falar por cima de mim – eu fiquei no hospital quase um mês, mas poderia ter morrido se o cara mais babaca da escola não tivesse aparecido e socado os caras.

Eu não conhecia essa historia. Muito menos poderia imaginar que voltaria a encontrar alguém que estudou no mesmo Colégio que eu, apesar de não ser tão improvável. Todos realmente começarem a me conhecer quando comecei a andar com Marcelo, mas aquilo fazia tantos anos.

– Eu só quis retribuir o favor cuidando de você – ele completou por fim.

– Ele era um babaca que gostava mesmo de atenção – comentei – mas foi a melhor pessoal que conheci na vida. – Voltamos a caminhar, mas agora em silencio até a porta do consultório – você sabe que não precisa mesmo fazer isso certo?

Ele concordou com a cabeça e me deu um tapa no ombro enquanto entravamos naquela maldita sala onde Veronica estava, junto a mais uma dezena de outras gravidas.

***

– Barriguda e inchada – ela fez questão de frisar quando ergueu a blusa para que Geraldinho pudesse passar aquele liquido pegajoso na barriga dela.

Revirei os olhos – o que você esperava? Parecer a Beyonce durante a gravidez?

– No mínimo uma Kim Kardashian – ela murmurou fazendo um muxoxo. Geraldinho ergueu as sobrancelhas e pude jurar que ele quis se intrometer. Igor se manteve calado como ele, apoiado a parede, no fundo da sala.

A tela foi ligada e Geraldinho veio com aquele aparelho estranho na direção da barriga de Veronica. Ela parecia nervosa, sua perna balançava freneticamente para cima e para baixo. – Veronica, eu preciso que você não se mecha – pediu Geraldinho a encarando.

– Ok ­– ela respondeu em um tom rude.

Quando Geraldinho encostou o aparelho na barriga dela e a imagem da criança começou a surgir na tela ela resmungou algo e se levantou do acento em um salto tão repentino que temi que o bebê escorregasse e caísse no chão. – Eu não posso, me desculpe – vociferou ela saindo da sala.

Igor teve o impulso de ir atrás dela, mas Geraldinho o conteve. Eu, no entanto já estava atravessando a sala cheia de mulheres bolota correndo. Quando cheguei ao corredor vi Veronica chegando a janela no fundo do corredor. Ela colocou as mãos e rosto e abaixou a cabeça.

A alcancei em poucos segundos. Correr atrás de mulheres gravidas é mais fácil do que de mulheres gordas.

Coloquei a mão sobre seu ombro e ela ergueu a cabeça. Ela estava chorando. Fungou o nariz e limpou uma lagrima antes de me dizer – desculpa por isso.

– O que foi? O que aconteceu? – Perguntei com genuína preocupação na voz. Veronica era a vadia mais forte que eu já conheci na vida. Se ela estava chorando, alguma coisa de muito errado deveria estar acontecendo.

Ela mordeu o lábio inferior e tentou falar algumas vezes, mas sempre que tentava uma onda de choro a dominava. Peguei meu celular e mandei uma mensagem de texto para Geraldinho e Igor dizendo que teria que conversar com Veronica e iria demorar, com um emoticon de um gatinho fazendo careta no fim.

Agarrei Veronica pelo braço e a levei até o elevador. Ela me acompanhou depois de bom grado pela rua, até chegarmos a quiosque de açaí e nos sentamos em um banquinho de plástico colorido no meio da calçada.

A grise de choro havia passado e a expressão carrancuda havia voltado. Eu me sentia melhor a vendo assim – eu cheguei a te dizer que não fui a missa de sétimo dia de Marcelo?

Ela balançou a cabeça negativamente e murmurou – não, eu não... – mas não chegou a terminar a frase.

– Achei que rezar por ele não melhoraria a situação dele seja lá onde estivesse – comentei apoiando meu braço a mesa de plástico. – Me arrependo disso. Acho que se existe essa coisa de fantasma e tudo mais... eu devia ter feito meu discurso, acho que ele ia gostar sabe.

Ela balançou a cabeça, parecendo um pouco desconcertada – meu ex apareceu.

– O Italiano, Português? Sei lá.

– Ele – ela confirmou – você pode imaginar a reação dele quando me viu gravida? – Queria dizer alguma coisa, mas eu não consigo imaginar o que, então fiquei calado – eu ainda gosto dele sabe e essa criança... Ela acabou com todos meus planos. Eu ia voltar para a faculdade esse ano.

Estava ai mais uma vez, aquele sentimento estranho que vem da barriga e te faz sentir como um idiota. – A guarda – disse já pronto para me arrepender – ele pode ficar comigo. Meu apartamento é grande e eu não o que estou dizendo, mas não consigo pensar nessa criança como um empecilho, não mais.

Ela não teve coragem de me olhar. Será que Veronica não amava o bebê? Era estranho, eu sempre achei que essas coisas eram automáticas, mas o que eu poderia dizer disso? Esse tempo todo, tudo que eu havia feito em relação ao bebê era evita-lo.

Toda vez que o pensando vinha a minha cabeça eu surtava ou afastava. Que tipo de pai eu estava sendo? Eu não podia ser mais um pai ausente, eu não podia fazer a mesma coisa com uma criança, com um filho meu.

– Eu não sei o que fazer – ela exclamou voltando a chorar.

Agarrei as laterais da cadeira e comecei a pular ainda sentado indo em direção a ela. Joguei meus braços sobre o ombro dela e ela veio em direção ao meu peito. Deixando as lagrimas virem com força entre soluços.

Voltamos para o consultório de Geraldinho e encontramos Igor sentado do lado de fora lendo uma revista sobre gravidas. Uma mulher morena saiu da sala junto com a mãe deixando a vista Geraldinho que parecia cansado.

Entramos logo em seguida. Ele pediu novamente que a assistente dele saísse e ficamos nos quatro novamente lá dentro, a espera de resposta.

Fiquei em pé, ao lado de Veronica, segurando sua mão enquanto Geraldinho voltava a passar o gel na barriga dela. O aparelho já estava ligado e foi apenas encostar a pele e as imagens começaram a aparecer.

Um borrão preto e branco no inicio, depois começamos a diferenciar pequenos bracinhos dobrados, perna grossinhas e esticas e no fim, nada no meio das pernas. Ou segundo Geraldinho – Uma menina. Vocês vão ter uma menina.

Tive vontade de rir. Geraldinho parecia muito contente e a reação dele fez todos nós sorrimos. A ansiedade aos poucos foi passando, dei um suspiro alto e me larguei na cadeira, parecia que um peso que eu não sabia que carregava havia saído das minhas costas.

– Não pensamos em nomes para menina – comentei olhando para Veronica que olhava sem piscar para a tela.

– Maria Eduarda – ela soltou.

– Precisa mesmo ser nome duplo?

– Ela esta saindo de mim, eu sei o que ela precisa.

Deu uma risada irônica e alta. – Agora é sua filha? – Dei bastante ênfase ao “sua”.

– O que tem em mente? – Ela perguntou em tom sarcástico.

– Tereza – soltei e todos me olharam estranho. – O que foi? Eu gosto desse nome.

***

A tarde estava acabando e não havia muito mais tempo. Eu e Igor fomos pra minha casa e tomamos um banho rápido. Mandei, mais uma vez, uma mensagem para Frederico passando o endereço, quase implorando que ele fosse para que finalmente pudesse ouvir tudo o que eu tinha pra lhe dizer e acabar com isso, mas não obtive resposta.

Eu estava começando a ficar nervoso.

Sai de toalha do banheiro e não sei dizer quanto tempo passei sentado na minha cama pensando em tudo o que tinha mudado desde a morte de Marcelo e tudo o que podia mudar daqui pra frente.

Igor me acordou do devaneio com um tapa na cabeça. Ele estava vestido com uma calça jeans azul escura, uma camisa social branca sob um blazer bege. Bonito, mas estranhamente, mesmo eu estando quase pelado na sua frente, não me atraia.

– Vamos – ele pediu – você, mais do que ninguém, não pode se atrasar.

– Você acha que eu vou ser um bom pai?

Igor me encarou por um tempo antes de responder, então se sentou ao meu lado, mas a alguma distancia e colocou a mão no meu ombro – Alguém me disse uma vez que criar filhos é como fazer biscoitos. Você na maioria das vezes estraga a primeira fornalha, mas quanto mais você tentar, melhores eles ficarão.

Franzi o cenho e comecei a rir – que metáfora horrível, eu não vou ter mais filhos.

– Eu não quis dizer... – ele começou a falar, mas me levantei e soltei a tolha ficando de frente pra ele – que droga cara, tampa isso. – Eu estava começando a gostar de atormenta-lo.


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Notas finais do capítulo

Alguem curioso? Eu particurlamente gostei muito do final! Acho que todos sairemos bem satisfeitos, so preciso fazer alguma correções e em minutos estará no site.



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