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O guardião estava desolado. Seus olhos marejados miravam o chão, sua boca entreaberta tentava encontrar o ar que já lhe faltava os pulmões, e ele tentava achar os movimentos de seu corpo, que havia perdido devido ao choque das palavras dela, e da dura realidade que lhe foi imposta.

Os seus companheiros apenas observaram a cena de longe, também chocados com a cena que tinham acabado de presenciar. Estavam sem ter o que dizer ao amigo, que estava parado no mesmo lugar que ela o deixou, como uma estátua; apesar de suas pernas estarem bambas, seu corpo estava rígido demais para que ele conseguisse ao menos se mover.

– Jack... Eu, digo, nós sentimos muito... – a princesa das fadas dos dentes dizia com uma voz um pouco fraca, mas serena e sincera para o amigo, que se encontrava de costas.

– E-eu... – Jack virou-se para eles. North estava se aproximando do garoto de cabelos brancos, e quando chegou, ele lhe entregou o cajado pertencente ao Frost, que ele havia perdido quando seu eu foi tragado pelas trevas. Sandman havia trazido quando veio para a batalha com a rainha de Arendelle. Ele olhou aquele objeto em suas mãos, e seus cabelos cobriram seu rosto, conforme ele abaixava a cabeça, entristecido. – Me desculpem... – e em um salto, o garoto se jogou em uma corrente de ar, indo para o mais longe possível dali.

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A rainha estava em seu quarto, olhando para a janela, e através do límpido vidro desta, ela pôde ver a neve caindo lá fora. Será que seus sentimentos estavam provocando uma geada? Ou era apenas a natureza fazendo seu trabalho? Nem sabia mais, seu coração estava tão machucado, e seu peito doía como nunca ela pensaria que sentiria.

As mãos frias da rainha tocaram o vidro da janela, e logo depois, a testa também foi de encontro à esta. Ela lutava contra seus próprios sentimentos, lutava para esquecer aquele que havia dado a ela a alegria e diversão, mas acima de tudo, havia depositado um pequeno fractal de gelo em seu coração; não um ruim, nem que a mataria, mas era assim que ela o via, aquele sentimento brilhante como um cristal de gelo à luz do sol, refletindo todas as cores do arco-íris, lhe dando uma nova visão e versão do amor.

A garota avista a lua subindo ao céu, sentindo todo aquele sentimento de culpa dentro de si se intensificar.

– Livre estou... Livre estou... Não posso mais segurar... – esta sussurrava a triste canção, enquanto as lágrimas começaram a descer pelo rosto alvo da rainha. Suas pernas trêmulas não podiam mais sustentar o corpo da loira, que foi ligeiramente deslizando pela janela, até que ela se sentasse no chão. Seu choro, que estava a tanto reprimido, pôde sair, agora em um tom baixo, mas tão entristecido que era de partir o coração de quaisquer pessoas que a ouvissem. Era a continuação de sua canção, a que seu coração cantava, a verdadeira, aquela que Elsa não conseguia cantar.

Do outro lado da porta, sua irmã Anna apenas ouvia os gemidos e choro de um coração partido, o coração de sua irmã, que embora não tivesse dito nada a ela, ela sabia que Elsa estava totalmente frustrada e magoada. Não eram necessárias palavras para que a garota ruiva notasse como a mais velha se sentia.

Mas essa era Elsa, ela nunca contaria à Anna seus segredos e sentimentos. Apesar de ter mudado com a princesa, ela ainda era assim, se reprimia, se isolava, e tudo que a mais nova poderia fazer era ficar sentada do outro lado da porta, esperando que a garota de cabelos loiros viesse, para que também pudesse dar um conforto para ela. Independente do que tivesse acontecido com a rainha de Arendelle, a princesa deste sempre estaria disposta a abraçar e aquecer o coração de Elsa.

Embora tudo aquilo estivesse acontecendo, e a rainha estivesse de coração quebrado, ela não podia se esquecer daquele sentimento que havia nascido como uma amizade, mas que no coração de ambos, amadureceu e se tornou tão forte que não podiam mais parar de pensar um no outro, não somente como Jack e Elsa, pois para o coração de ambos, eles não tinham nome, não eram ninguém, eram apenas amantes, eram apenas... Um.

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O Frost voava a toda velocidade, a neve vinha de encontro com seu rosto, e ele nem se importava. O vento cortava rápido à sua volta, e ele não o sentia mais. Tão velozmente que voava, não conseguia ver para onde estava indo, ou o que se passava à sua volta, mas o que isso importava? Só tentava fugir de todo aquele sentimento que o prendia, e tentava achar uma escapatória para sua mente barulhenta, que ficava girando em torno do mesmo trecho de conversa que teve com Elsa: “Adeus...”. Não, isso não estava certo, Elsa não podia deixa-lo assim, não podia! Por que ela... Por que ela estava fazendo isso?

À velocidade em que voava, e com os olhos marejados, o guardião passou a mão livre nos olhos para limpar as lágrimas que queriam cair, e neste meio tempo, nem ao menos viu a hora em que abaixou tanto de altitude que alguns galhos bateram nele, fazendo-o perder o equilíbrio, e cair em meio à neve.

O guardião se levantou, sem vontade, nem se importando com a neve em suas roupas. Ele avistou a lua, seus olhos foram de encontro com aquele enorme e brilhante satélite natural. A lua estaria linda aos olhos de qualquer um, menos aos do Frost, que cerrou os olhos e apertou os punhos, sentindo a raiva tomar conta de si.

– Por que isso está acontecendo comigo? Você me pôs aqui, agora me diga, por quê? Eu tenho esperado que você me respondesse há mais de trezentos anos, e há mais de trezentos anos eu só tenho ouvido o seu silêncio, por quê? E-eu fiz algo tão ruim? Você fala com todos, por que comigo não!? E-eu não entendo, eu não entendendo por que você nunca, nunca me responde! – o guardião começa a andar de um lado para o outro na neve, agora com as mãos na cabeça. Ele tentava pôr em ordem seus pensamentos, queria entender, queria compreender o porquê de tudo, queria ao menos uma palavra de consolo vinda daquele que lhe deu uma nova chance de vida.

– Por que eu? Por que só eu não posso ouvi-lo? O problema sou eu? ... Responda-me... Por favor... – com os olhos cheios de lágrimas, o guardião implorava uma resposta. – E-eu faria tudo para mudar, se fosse necessário. Se você me detesta tanto assim, por que não me deixou morrer? Por que me deixou viver para que eu me sentisse assim agora? A minha vida tem algum propósito? Ou você só permitiu que eu vivesse para que eu fosse uma reserva sua? Caso algo desse errado, eu seria sua segunda opção... Eu nem ao menos sei o que pensar de você... E-eu sei que tenho dado muito trabalho a vocês, mas eu só quero uma resposta, uma, e eu irei me silenciar... Por que permitiu isso? Por que deixou que eu me apaixonasse? S-se eu sou um guardião, então por que me deu esse sentimento humano? Meu dever deveria ser proteger as crianças, cuidar delas, e dar a elas diversão... Então por quê? – os olhos azuis cristal dele olhavam para a lua, esperando e esperando, mas o silêncio não fora quebrado. Ele estava sozinho, e sozinho... Permaneceu.

– Se não vai me responder, ao menos faça-me um favor. Por favor, arranque isso de mim, tire essa parte humana de mim... Eu não posso mais viver assim, você sabe que irei atrás dela, então antes que eu faça qualquer tipo de besteira, que eu sei que irei fazer, tire esse sentimento de mim... Por favor... – o Frost caiu de joelhos na neve, se curvando, com a mão no peito, deixando, pela primeira vez, as lágrimas cobrirem seu rosto pálido. – Por favor, por favor, por favor... – ele continuou a repetir a mesma frase entre soluços.

O choro dele não era apenas da dor vinda de seus sentimentos por Elsa, era por tudo, por tudo que ele fez e viveu, por ter machucado seus amigos, por ter sido consumido pelo mal e quase ter feito mal à Elsa, por nunca ter tido uma resposta... Pelo doloroso silencio que era dirigido a ele por aquele que deveria ser o mentor e apoiador dos guardiões.

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– Talvez devêssemos ir atrás do Jack... Ele deve estar muito triste agora. – Tooth dizia, enrolada em um cobertor, com um copo de eggnog nas mãos, tomando-o lentamente.

– Não, você ainda não está em condições de voar, e precisamos arrumar toda essa bagunça que o Pitch fez, além disso... Acho que o Jack quer ficar sozinho por um tempo. – North disse, se sentando em uma poltrona, do lado da garota fada.

– Mas Jack é nosso amigo, ele precisa que falemos com ele, ele deve estar se sentindo sozinho. – Tooth se encolheu no sofá, pensando sobre o amigo que, até essa hora, ninguém sabia o paradeiro.

– Não, North tem razão, você precisas se recuperar e o Jack só está um pouco agitado, ele precisa ficar sozinho pra colocar a cabeça no lugar. – Bunny, que até agora só ouvia, decide argumentar. – Ele vai ficar bem, tenho certeza que logo ele está de volta, saltando e congelando as coisas.

– Hum... Espero que você esteja certo. – Tooth sussurra.

Sandman estava parado, olhando através da janela. Desde que deixara Elsa em Arendelle, e seu amigo Frost tinha saído voando sem rumo, ele não havia se manifestado. Não que o guardião fosse do tipo barulhento e agitado, mas ele sempre tinha um sorriso gentil no rosto, e este, no momento, nem ao menos estava presente na feição do pequeno dourado.

Talvez, o que mais pesasse no coração daquele que protegia os sonhos das crianças fosse o fato de saber toda a verdade, saber que Elsa não era culpada, muito menos Jack. Elsa estava fazendo o que havia prometido, cumprindo sua palavra para com MoB, deixando Jack e indo viver sua vida, deixando os dois viverem suas vidas independentes, e Jack, estava apenas sendo vítima dos laços do destino, que havia posto o amor no coração do imortal Frost.

Ambos estavam sendo usados pelo destino, nunca poderiam provar deste doce sabor, que era o amor de um para com o outro, já que entre eles haviam barreiras maiores do que uma promessa feita à um ancião sábio, havia mais do que um trabalho como guardião, havia toda uma trama do destino, arquitetada e feita há mais de trezentos anos, desde o primeiro momento até seus últimos. Talvez se já não bastasse o duro julgo que a rainha carregou por vinte e um anos, para proteger sua amada irmã, agora teria de carregar o fardo de amar um imortal.

Aquele, que era tão pequeno e sábio, se sentia impotente ao ver, não somente seus amigos Elsa e Jack sofrerem por algo que nunca planejaram colocar em seus corações, mas também, por não poder ajuda-los, por não poder acalentar os sonhos da garota, como fazia com as crianças, e não poder abraçar seu amigo. Se sentia culpado por não poder dar a eles esse sonho, essa esperança de que tudo iria ficar bem no final.

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