Hoje era o meu ultimo dia com o Scotty e eu nunca me imaginei com o coração tão partido como agora. O meu amigo parecia saber que a nossa história chegava ao fim. Ele até dormiu comigo. Passamos o dia todo juntos. Para onde eu ia o Scotty estava atrás coçando seu nariz na minha perna. Como quem diz “me deixa ficar?” pelo menos eu achava que era isso. Quando chegou ao meio dia nós sentamos no sofá e ele me fitava intensamente. Eu não sei se era por causa da comida ou da separação que estava por vir. Meus olhos marejaram rapidamente. Como podemos nos apegar tanto a animais? Eu coloquei o prato encima de uma mesinha que ficava no centro da sala e agradeci o Scotty não ter pulado na comida, isso significava que ele queria ficar perto de mim, não do lanche. Peguei seu rosto entre as minhas duas mãos e rocei nossos narizes. As lágrimas caiam no sofá cor creme, deixando manchas.

— Você sabe que eu nunca vou te esquecer né? — Perguntei esperando realmente por alguma resposta. Queria que ele falasse comigo agora. — Nunca, Nunca, Nunca e Nunca. Você é o melhor cachorro de três semanas que eu pude ter.

Ás lágrimas estavam correndo como se eu me despedisse de alguém da minha família. Acho que se fosse alguém da minha família eu nem estaria chorando.

— Aposto que todos aqui no prédio vão sentir sua falta — Eu disse liberando seu rosto da minha mão direita e a utilizando para secar as lágrimas. Eu parecia uma criança. Estava perdendo um.. Amigo. O Scotty latiu e eu não pude deixar de rir. — Aé, você está certo, o senhor Jorge não vai sentir saudades de você.

Aqueles olhos negros me olhavam com tanta intensidade como se quisessem me dizer algo.  As lágrimas caiam mais rápido e mais rápido. Eu mordi meu lábio tentando parar aquele choro inútil. Era só um cachorro... Só um cachorro.. Mais era o meu cachorro amigo. Eu o abracei forte querendo que ele senti-se o meu coração acelerado. As minhas lágrimas molharam o seu pêlo negro o deixando ainda mais brilhoso. Suspirei pesado quando escutei o telefone tocar. Devia ser o Andréias me pedindo para levar o cachorro até o seu apartamento.

— Amor? — Ele disse assim que atendi. Ainda estava fungando por causa do choro e o Andréias sabia disso. — Amor, não chora. É só um cachorro Vanessa.

— Mais.. É.. Que ele tornou-se importante. — Falei puxando o Scotty pra mais perto.

— Tudo bem, olha porque você não leva ele? — O Andréias disse desdenhoso. Ele não entendi a ligação que houve entre mim e o cachorro. Mais eu ignorei o fato da desdenha.

— Sério amor? — Perguntei esboçando um sorriso. Acho que um dos poucos que escaparam de mim essa semana. Meu Deus, eu me apeguei demais a esse cachorro.

— Claro, eu já ia ligar mesmo pra pedir isso pra você, eu to meio ocupado aqui no trabalho e não posso levar o pulguento, digo, cachorro. — Ele disse manhoso. Sim. Estava dando uma de manhoso, como se precisa-se mesmo. Era um tempinho a mais que eu tinha com o Scotty.

— Tudo bem, só passa o endereço e eu levo, sem problema algum amorzinho — Falei e ele prontamente me passou o endereço. Anotei tudo com um sorriso de orelha a orelha.

— Certo Vanessa, leve o cachorro pra casa, não é pra seqüestrar ele. — O Andréias disse e logo após desligou.

Hum. Seqüestrar ele. Não seria uma má idéia. Quem sabe. Ah não. Eu não posso fazer isso com o cara da voz sensual. Se eu amo o Scotty assim, imagina ele que deve conviver desde muito tempo. Encarei o Scotty e o olhei bem fundo nos olhos.

— Ei destruição, você quer ser seqüestrado por mim? — Perguntei e ele latiu rapidamente. — Será que isso é um sim ou não? Se você abanar o rabinho é porque você quer.

Não é que o desgraçado não abanou o rabinho. Tudo bem, ele tem um dono Vanessa. Você precisa aceitar isso de uma vez. Pensa no que o Andréias disse. Um cachorro. Só um cachorro. Mais ele foi MEU cachorro durante TRÊS semanas, isso não vale de nada?

Ás lágrimas retornavam durante alguns momentos da minha ultima tarde com o Scotty. E para finalizarmos a nossa convivência, sim porque a nossa amizade nunca ia se finalizar. Nós vimos Marley e eu. Nossa como eu chorei. Nem sabia que um ser humano podia ter tantas lágrimas assim.

Já eram oito da noite e infelizmente estava na hora da nossa despedida. Coloquei o Scotty no banco de trás do meu carro e dirigi até o endereço que o Andréias havia passado.  

Tom Kaulitz.

Eu estava ansioso pela volta do Scotty. Eu o queria ver o mais rápido possível. Estava uma pilha de nervos. Sim. Tudo por causa de um cachorro. E a Chantelle não estava ajudando.

— Tom, é só um cachorro.. — Ela disse passando as unhas pelo meu tórax. Sim. Tínhamos acabado de transar e eu estava pensando no meu cachorro. Que coisa grotesca Tom Kaulitz.

— Não é só um cachorro, é o meu cachorro, você sabe o quanto gosto dele. — Falei levantado-me. Ainda não perdi a mania de transar e logo sair da cama. Muitos anos de galinhagem.

— Acho que você gosta dele mais do que de mim — Ela disse fazendo beicinho. Sinceramente.. Eu gosto mesmo. Não. Que isso. Eu não posso comparar a minha namorada com o meu cachorro.

— Não é isso Chan, mais é que ele é especial entende? — Falei esboçando um sorriso fraco e me dirigindo pro banheiro. Logo o meu Scotty estaria em casa! Tudo bem, eu assumo que no fundinho também estava querendo não escutar mais a voz da Chantelle. Mais é bem no fundinho e só porque ela não entende a minha relação com o Scotty.

Cheguei ao endereço. Seja quem more aqui é rico, fiquei feliz em saber que o Scotty tem uma bela vida. Me virei no banco, encara o Scotty dormindo agora. Meus olhos não pensaram duas vezes e marejaram. EU SEI QUE OLHOS NÃO PENSAM. Desci do carro e cuidadosamente fechei a porta. O meu lindo não acordou. Caminhei lentamente até a porta da casa. Eu queria dizer umas poucas e boas para o dono do Scotty. Perguntar por que ele tinha que voltar tão cedo. Antes mesmo de conhecê-lo eu já o odiava. Não tinha nada que levar o Scotty embora. Será que esse desgraçado não tinha coração? Não sabia do poder que o seu cachorro tinha sobre mim? Desgraçado. Se eu estava assim era por culpa dele, máxima culpa dele. Fiquei de frente para a enorme porta. Era linda. Joguei minha cabeça para trás. Estava buscando coragem para tocar a campainha. Estava tramando planos na minha mente atrapalhada. Planos como seqüestrar o Scotty e fugir para a América. Ou me esconder em um pequeno país na Europa. Ou quem sabe ir para o Japão. Ninguém iria desconfiar. Mais eu também não me daria bem com a língua de lá. Tudo bem. ir pro Japão estava totalmente fora de cogitação. Suspirei com desanimo de não ter coragem para sumir dali com o Scotty. E também ele tinha um dono que parecia amá-lo muito.

— Vou sentir saudades de você meu destruição — Falei antes de dar o primeiro toque na campainha. Fiquei esperando por alguns minutos quando a porta se abriu e encarei a figura a minha frente. Na verdade eu encarei o abdômen definido e amostra dele. Vergonhosamente eu mordi o lábio inferior e ele fingiu uma tosse.

— Posso ajuda - lá? Claro, me leve pro seu quarto agora! Não. Andréias. Andréias. Andréias. Gostoso. Lindo. Andréias. Andréias. Perdição. Andréias. Ai. — Ele disse chamando minha atenção para o seu rosto. Um rosto conhecido..

— Oi eu sou a Vanessa, namorada do Andréias, vim trazer o seu cachorro — Disse envergonhada por ter ficado daquele jeito. Nossa ele deve estar pensando cada coisa de mim. “namorada do Andréias, mais fica me comendo com os olhos”.

— Onde ele está? — Perguntou olhando para todos os lados e me dando a chance de observar suas vestes. Estava com o peito amostra, um pouco molhado e vestia apenas uma calça MUITO larga que caia deixando um pouco da sua cintura aparecer. Se ele estivesse de cueca estaria aparecendo pelo menos a bordinha. Ai meu Deus ele não está de cueca! Respira. Inspira. Respira. Inspira. Inspira. Respira. Não. Respira. Respira. Droga.

— No meu carro, eu vou buscá-lo — Falei girando os calcanhares e voltando minha face para a escuridão da noite. Meus pensamentos estavam me deixando corada. Senhor que homem é esse. Imagina isso na cama. Selvagem. Audacioso. Intrigante. Prazeroso. Olha o corpo dele. Se o descoberto já me fez perder os sentidos imagina o coberto. Será que é grande? E bom como o dono?

— Tudo bem com você? — Ele disse quebrando o silêncio e me assustando. Meus olhos voltaram-se para os seus e eu senti meu corpo queimar como acontece com o Andréias. Só que agora muito mais forte. Respira Vanessa.

— Claro — Murmurei tentava colocar a chave do carro na porta. Estava desnorteada. Escutei alguém abrir a porta do carro e fiquei encarando ele tirar o Scotty nos braços.

— Já estava aberta — Ele disse me olhando risonho. Passei vergonha. Ótimo.  Eu sorri tentando disfarçar. Ele voltou-se para a casa e me chamou para seguir junto dele.

Andei passos atrás daquele homem. Meus olhos cravados nas suas costas que moviam-se provocantes enquanto ele andava.. Ou desfilava até a casa. Logo o Scotty acordou e o homem o colocou no chão. O meu lindo ficou me esperando até chegar nele o.. Como é o nome dele.. Tom. Isso Tom. O Tom ficou visivelmente impressionado. O Scotty pulou nas minhas pernas, colocando as patas na minha cintura. Ele é enorme. Ficou abanando o rabinho e eu deixei uma lágrima cair.

— Ah destruição eu também vou sentir muitas saudades de você — Falei acariciando o seu pêlo.

— Você costuma chamar o meu cachorro de destruição? — Tom me perguntou ríspido. Ok. Vanessa nem todos acham destruição um bom apelido, ainda mais quando são os seus cachorros apelidados assim.

— É um apelido carinhoso — Tratei de esclarecer.

— Destruição? — Ele disse mais ameno.

— É. Ele.. Bom.. Ah.. Eu gosto de chamá-lo assim e ele também não parece incomodar-se. — Falei encarando qualquer coisa menos aquele cara.

— Não gosto de chamem meu cachorro assim, destruição. — Quando ele disse essas palavras o Scotty foi até ele como se estivesse sendo chamado. Eu disse que ele tinha gostado de apelido! — Scotty..

Enquanto ele falava com o cachorro eu podia babar a vontade. Meus olhos percorriam todo aquele corpo sem esquecer de nenhum detalhe. Imaginava tocando aqueles músculos. Beijando o abdômen. Sendo beijada por aqueles lábios. Aproveitando as partes que infelizmente estavam cobertas. Minha imaginação realmente estava solta. Ah Vanessa! Você lembra-se do Andréias?

— Está tudo bem com você? — Ele disse me fazendo acordar. Oh droga o sonho estava bom! — Já pode ir. Obrigada por trazê-lo. Agradeça o Andréias por ter cuidado dele também.. Ah se você soubesse como o Andréias cuidou dele.

— Vou poder visitá-lo né? — Minha boca soltou aquilo. Ah droga!

— Como?

— O Scotty, eu quero visitá-lo. Olha eu sei que você deixou o seu cachorro com o Andréias mais quem cuidou dele fui eu, já que o meu namorado tem alergia e um antipatia enorme por cachorros, então nessas três semanas o Scotty ficou na minha casa, mordeu as minhas almofadas, comeu da minha comida, sujou o meu tapete, soltou pêlos pelo meu sofá creme, me fez correr feito uma louca pelo parque, mijou nas minhas paredes, subiu encima da minha mesa, latiu feito louco pra minha TV, me fez levar umas broncas do sindico, escutou os meus segredos, dormiu na minha cama, comeu dos meus salgadinhos Ok, Vanessa, isso você não precisava ter dito. Durante essas três semanas ele ficou comigo e eu.. me apaixonei por ele. Então quero saber se posso visitá-lo? Ele foi bem cuidado, e gosta de mim, eu sei que gosta, então, por favor. — Eu disse deixando o Tom admirado ou assustado. Eu estava os dois.

Ele ficou pensativo e ainda me olhando um pouco espantado. Também não é todo dia que alguém fica desesperado por querer ver o seu cachorro.

— Claro — Ele disse rápido enquanto abria a porta da casa e mandava o Scotty pra dentro. — Que não. O cachorro é meu.

— Mais..

— Você acha mesmo que vou deixar meu cachorro lindo em suas mãos? Eu nem te conheço. E vai que você quer seqüestrá-lo ou qualquer coisa assim, sem falar no enorme ciúme que tenho dele.  E diga ao Andréias que ele.. Surpreendeu-me! Eu confie o meu cachorro a ele, não a uma estranha. Agora, com licença.

Ele fechou a porta na minha cara. Na minha cara. O que tem de bonito tem de idiota. Vai ver só o Scotty vai ficar latindo até me ver de novo. Idiota.