Anoitecia em Londres. O inverno fazia com que as pessoas andassem mais depressa, deixando para trás pequenos rastros de vapor que saiam de suas respirações. Caminhando pelas vielas, vinha um rapaz um tanto quanto curioso. As pessoas abriam passagem quando ele se aproximava para, em seguida, voltar o olhar novamente à estranha criatura.

Era um rapaz alto, bonito, de porte atlético e cabelos de fogo. Se prestasse atenção, veria que seu rosto pálido era salpicado por uma trilha de sardas sobre o nariz, o que lhe emprestava um ar brincalhão. Mas, não era seu físico bonito que mais chamava a atenção naquele momento. O rapaz vestia uma calça moletom verde-escura e um poncho multicolorido. Nos pés, tênis roxos. Uma combinação estranha para um entardecer das ruas londrinas.

Ele andava aflito, parava de loja em loja, olhava cada vitrine, cada lanchonete ou bar. Procurava alguém, percebia-se. Ao passar por uma esquina, avistou um bar. Era meio escondido, meio suspeito. Ele considerou por alguns instantes, e entrou no estabelecimento. Passou os olhos pelo local, deteve-se no bar onde uma moça solitária, de fartos cabelos castanhos olhava melancólica para um copo a sua frente, cheio de um líquido negro. Um sorriso surgiu no canto esquerdo da boca do rapaz.

Ele se aproximou cautelosamente do bar, sentou-se próximo a garota. Olhou de relance para ela, observando-lhe o perfil delicado. Ela tinha um nariz pequeno, afilado, que se sobrepunha ligeiramente acima de lábios carnudos e vermelhos. Não que ela precisasse de alguma maquiagem, era bonita assim, ao natural. O corpo era delineado, ele bem o sabia, mas agora estava escondido por um suéter de lã, meio largo e uma calça jeans um tanto quanto folgada escondia-lhe as pernas bem torneadas. Ela soltou um suspiro baixinho, abaixou a cabeça, os cachos escondendo o rosto de porcelana.

─ Como me encontrou? Eu não quero voltar pra Toca agora. – ela falou suavemente, o rosto ainda encoberto.

O ruivo riu, sem graça. Não olhou para a garota ao seu lado, mas ainda assim respondeu.

─ Estão todos loucos atrás de você. Neste momento, devem estar tentando atravessar a fronteira para o Alasca só pra te encontrar. Eu fui o único a achar que você estaria por aqui, na Londres trouxa. Você faz ideia do quão difícil é encontrar alguém por aqui? – ele passou a mão pelos cabelos ruivos, despenteando-os. – Isso sem contar que alguns trouxas me pararam para perguntar onde era o baile de carnaval.

A moça riu. Se ele não a conhecesse bem, diria até que ela se divertiu com o comentário. Mas, ele a conhecia. Mais do que ela supunha, talvez. Mais do que ela precisava saber. Ele olhou para ela e ela, por sua vez, o fitou. Por um instante, ele se permitiu se perder no olhar dela. Um oceano marrom, chocolate derretido. Ele segurou o impulso de toma-la para si. Não podia, não agora. Mas um pensamento lhe ocorreu. Talvez agora ele pudesse ter uma chance. Uma oportunidade para, quem sabe, conseguir sua atenção. Ele sorriu para ela. Ela retribuiu com um sorriso tímido e triste.

─ Preciso avisá-los que a encontrei, antes que eles partam pra Sibéria. – ele alargou o sorriso. Ela segurou o seu pulso, alarmada.

─ Por favor, não diga onde estou. Não quero vê-los. Não suportaria. Por favor, Fred. – ela implorava, com lágrimas rolando por sua face delicada agora.

Fred não resistiu ao impulso. A puxou para si, abraçou-a fazendo com que encostasse a cabeça em seu peito. Segurou-a ali enquanto a ninava baixinho.

─ Shh! Tudo bem! Não se preocupe. Não precisa vê-los se não quiser. Eu estou aqui com você agora. Tudo vai ficar bem, eu prometo. Mas, preciso avisá-los de qualquer forma. Mamãe está enlouquecida atrás de você. Não sossegará até encontra-la. Papai já colocou aurores a sua procura. Se quiser, te levo pra um lugar onde você vai poder ficar tranquila, até achar que está pronta pra enfrenta-los. Mas, por favor, não suma assim de novo, Hermione.

Ela o fitou com os olhos arregalados. Havia espanto ali, mas também compreensão;

─ Quem está atrás de mim?

─ Eu, Jorge, Harry, Gina, mamãe, papai, Neville, Luna, Percy e... Rony.

Um misto de dor, carinho, compreensão e raiva surgiram em seus olhos à medida que os nomes eram citados. Por fim, ela olhou para Fred, que parecia um pouco envergonhado, com os olhos cintilando em fúria contida.

─ Rony NÃO vai saber onde estou, para onde vou e nem com quem estou. Não quero que ele saiba mais nada sobre mim.

Ela se virou, livrando-se do abraço de Fred, e começou a encaminhar-se para a saída do bar. Fred foi rapidamente atrás dela, impedindo-a de se mover mais do que alguns passos. Virando-a para si, disse com certa angústia e urgência na voz:

─ Ele NÃO saberá onde você está, mas saberá com quem. Olha, só vou avisar a Molly, ok! Dizer que você está comigo, que está bem. Ela ficará mais tranquila, e avisará seus pais também. Eles estão mortos de preocupação desde que você sumiu. Por favor, Hermione! Você é a pessoa mais sensata que eu conheço; Sabe que eu estou certo. Não vê que agindo dessa forma só está fazendo os seus amigos, aqueles que te amam de verdade, sofrer. Por favor. Fica comigo. Não fuja de novo.

Hermione olhou para o rapaz, ponderando suas palavras com cuidado. Fred olhava para ela aflito, com o coração na mão. Depois de algum tempo, ela se desvencilhou dele e retornou para o bar.

─ Somente para a Molly, Fred Wesley. Se tentar me enganar, eu vou desaparatar e nunca mais ninguém saberá da minha existência.

Fred sorriu abertamente, aliviado. Hermione voltou à atenção para o copo abandonado a sua frente. Sem olhar para Fred, ela virou todo o líquido negro em sua garganta. E esperava que não fosse se arrepender por não ter ido embora enquanto podia.