Quem vai ficar com Celso? escrita por Aquela


Capítulo 1
Capítulo 1 - A patroa chama




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Finalmente conseguira se sentar. O ônibus que da faculdade saía para aquele bairro, além de passar remotamente, sempre estava cheio. Sem falar do trânsito! Deste modo, chegaria atrasada para seu primeiro dia de trabalho. Como se já não fosse vergonhoso o suficiente para Priscila ser uma babá, ainda teria que ouvir os agudos gritos histéricos da mãe do garoto. Rezava para que a enfermagem adocicasse o coração da patroa, para que esta lhe mostrasse gentileza.

Dona Ana. Mãe pela segunda vez. Seu mais novo estava terminando a 1ª série, enquanto o mais velho estava no último ano de economia na faculdade, que coincidentemente, era a mesma que a dela, apesar de nunca o ter visto na vida.

A mulher também tinha cabelos negros e lisos, como os de Priscila, porém, seus olhos eram castanhos, enquanto a jovem apresentava a íris verde.

Sentira, na entrevista, que a mãe lhe observava cuidadosamente; e percebeu que a própria lhe havia oferecido alguns olhares nada amistosos, daqueles a quem se dá a alguém que lhe rouba o marido. Contudo, nem fazia ideia de como era o Sr. Lima, o Celso Lima. Na verdade, fazia ideia, sim. Havia um quadro estampado na sala que tratava do casamento do casal. Ambos estavam radiantes em beleza, ao contrário da maioria dos retratos de matrimônio das pessoas que conhecia, onde todos, naquela época, tinham olhos vermelhos e caras oleosas; isto quando a foto não era tão velha a ponto de todos terem caras de bolachas, ou parecerem refugiados da Etiópia, embaixo daquele fundo verde estranho. Da família acima citada, também havia uma foto mais recente, cuja reação provocada na menina foi: “O Sr. Lima até que dá um caldo!”. Mas ela não era desse tipo. Guardava como lema as palavras da mãe, a saber:

– Homem de outra só dá problema!

E problemas, nem dos matemáticos, Priscila queria mais. Aliás, esse foi um dos motivos que escolhera cursar letras. E estava muito feliz nesta faculdade, a não ser pelo fato de que só poderia estagiar no quarto ano, e ainda estava no começo do terceiro. Logo, se sentia um lixo, tendo que se rebaixar àquela família rica, que já deveria lhe ligar dentro de alguns minutos. Foi dito e feito. Não se passou muito tempo, e o telefone já gritava na mochila. Maldito toque do sapinho! Sabia que não daria muito certo! Colocou os fones no aparelho, e atendeu a chamada:

– Onde a senhorita está, Dona Priscila? – começa Dona Ana, tentando ser irônica. É, nem todo mundo consegue ser engraçado.

– Desculpe, Dona Ana, mas é que ônibus atrasou muito hoje.

– Se não estava disponível neste horário, não deveria ter pegado o emprego.

– Me perdoe, Dona Ana, eu vou arrumar minha rotina.

– Assim espero. Estou dependendo de você para trabalhar! Se você se atrasar, eu vou e atrasar.

– Eu entendo, Dona Ana. Asseguro-lhe que esta é a última vez que faço isso.

Após desligar o telefone, Priscila já estava tentada a procurar outro emprego. Já via de longe que este não lhe serviria. Essa mulher chata não daria certo como patroa.

Ao descer no ponto, já via a coroa bater os pés em frente ao prédio escuro, com suas médias sacadas rodeadas pela meia-parede marrom, e as janelas grandes e brancas, sempre tapadas por cortinas.

A mãe tinha uma feição aborrecida, e uma bronca pronta para dar.

***

Era outono, e o clima estava ótimo. Ela amava o outono. Era a melhor época do ano. O tempo onde as árvores eram mais belas, onde não havia calores insuportáveis, ou chuvas em demasia. Na sua concepção, não deveria haver outras estações além desta. No inverno, ninguém sai, no verão, aquela pouca vergonha das jovens que exibiam aqueles pedaços de roupa nas praias, que costumava ser um lugar de família. A primavera também não era má. Entretanto, todo aquele pólen lhe causava uma alergia daquelas.

Deitou-se no jardim da casa. Olhava as nuvens passantes, que lhe traziam desenhos imagináveis. Sentia-se só. Queria que alguém estivesse ali, ao seu lado, observando os belos céus... Queria ter alguém. Porém, lhe parecia que ninguém queria tê-la. Na realidade, ninguém que queria tê-la ela queria ter. Seu pai a chamava de ingrata. Com tantos homens aos seus pés, e ela sempre esnobando a todos estes. “Merece ficar só. Porque não valoriza as oportunidades que te aparecem?”

Talvez ele estivesse certo. Talvez ela não valorizasse os mal-educados e brutamontes que lhe apareciam. Com exceção daquele, todos eram imprestáveis. Se ao menos ela gostasse dele assim como o mesmo lhe queria bem!

Poderiam lhe chamar do que quisessem. Pouco lhe importava! Ela cria veementemente no verdadeiro amor. Um dia, encontraria sua alma gêmea, e eles seriam um só. É claro que não podia contar isso a ninguém. Além se ser caçoada, seria encorajada a pegar o primeiro que aparecesse. Todavia, a menina não se via tão desesperada a ponto de agarrar a qualquer um. Queria atenção. No entanto, só pagaria por ela o preço que esta merecesse. E nenhum daqueles pretendentes lhe parecia valer o risco de passar a vida inteira com eles. Nada demais, apenas não era aquilo que ela queria.

Depois de alguns minutos ouvindo a brisa da manhã, levantou-se dali, e ajeitou novamente o tecido florido amarelo bebê de seu vestido rodado. Via-se romântica dentro dele. Quem sabe não seria hoje que encontraria seu príncipe encantado? Ria sozinha pelos seus pensamentos... Até parece! Bom, embora ela ainda fosse passar um tempo sozinha, sua irmã já tinha praticamente um marido prometido. É claro que eles nem se conheciam; na verdade, o fariam hoje. Porém, do jeito que o Sr. Borges falava do filho do Sr. Lima, parecia-lhe que quem se casaria, não seria a filha, e sim, o pai.

Ajeitou os lisos cabelos negros compridos, e saiu para caminhar um pouco, antes do almoço, que já cheirava pela cozinha. Passou pelas grades beges, deixando a casa de pedras claras para trás, até atingir a calçada, donde seguiu cantarolando. Rodopiava alegre pela rua, quando, sem ter tempo de notar, foi atingida fortemente. Caiu no chão, pelo impacto. Sentiu-se dolorida, apesar de não ter quebrado nada. Um carro lhe alcançara. Sim, um carro.

Atordoado, o motorista sai do veículo e vai até o seu encontro, preocupado com o seu bem-estar.

– Desculpe! Me desculpe, moça! Tudo bem com você? – pergunta ele, agachando-se junto a ela.

– Tudo sim, obrigada.

– Consegue se levantar? – a voz grave lhe chama atenção. Ela volta seus olhos para a face do homem. E tem que dizer, ao menos no seu íntimo: “Que homem!”. Ele possuía fios dourados bem penteados, e olhos como a relva. Era belo. Ostentava um belo terno escuro, de risca de giz, que lhe caía muito bem. Nem chegara a responder a questão que o mesmo lhe lançara. Antes, perdia-se pela beleza do rapaz, que tinha um sorriso carinhoso, mesmo não a conhecendo. – Você pode me ouvir? – ele tenta novamente.

– Oh! Sim. Consigo. – e se esforça em se erguer, meio sem sucesso. – Ai!

– Me desculpe! Me desculpe mesmo! Deixa eu te ajudar.

Com cuidado, ele a levanta, pegando-a pela cintura, apoiando-a sobre o próprio corpo. A menina já corava, ao sentir o calor do estranho bem vestido. Sem coseguir sequer disfarçar, ela o observa com destreza.

Ainda com uma das mãos entre as omoplatas da garota, ele diz:

– Dói em algum lugar?

Como ele é alto! – pensa a menina.

– Um pouco no meu quadril, mas nada demais.

– Precisa ir ao médico?

– Não! Imagina! Foi um acidente, não aconteceu nada demais. A dor também não é tão forte assim. – antes que a garota pudesse concluir a linha de raciocínio, seus familiares a surpreendem, devido ao canto do pneu pelo acidente. A rua toda se reunia, curiosa para saber o que acontecia.

A mãe, dona Érica, já saía gritando ao encontro da menina. O homem se afasta, também assustado.

– Menina! O que aconteceu com você, minha filha! Você está bem? Você foi atropelada?

Sem saber para onde olhar, a menina começa a perder o ar, vendo tanta gente indagar tanta coisa, fazendo-a confusa sobre a quem responder primeiramente.

Depois de alguns minutos entre a gritaria, achou algo que prendeu sua atenção:

– Celso? É você?


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