Fogo e Gelo Edward e Bella escrita por Bia Braz


Capítulo 6
Capítulo 6- MUDANÇAS




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Capítulo 6- MUDANÇAS

Para minha surpresa e alívio, a casa estava silenciosa. Entrei pela cozinha e encontrei nossa funcionária há muitos anos, Esme, que me olhou curiosa ao perceber o modo como eu entrava apreensiva dentro de casa.

—Boa tarde, Esme. Todos estão em casa?

—Nem todos, senhorita Anne-Bella.

—Só Bella, Esme— exigi séria.—Prepare algo para eu comer e leve ao meu quarto, por favor, que eu preciso falar com você—instruí e caminhei para o corredor que levava a sala principal. Sentei no sofá, peguei o telefone e a agenda na escrivaninha e comecei a dar os meus telefonemas. O primeiro foi para o alfaiate. Ele relutou alegando não ter tempo.

—...É uma situação de emergência, senhor. Pare tudo que está fazendo e me encontre lá às oito horas. Ele tem como pagar. Leve algumas peças extras. Obrigada.

Joguei as costas na cadeira, cansada!

O segundo telefonema foi para o barbeiro.

—...Não, senhor. Tem que ser cedo. Leve manicure e pedicure. Obrigada—pedi. Esse não relutou, curioso em conhecer a casa da colina. Levantei, agradada em estar adiantada com as tarefas.

Distraída com as demandas dos próximos dias, parei surpresa ao por os pés no hall da escada. Orquídeas, lírios e rosas se espalhavam na sala. Seguramente não eram dos jardins da mansão. Ergui os ombros cheia de suspeita e peguei um cartão pendurado em um dos bouquets

Para minha adorável futura esposa, Annebell, Jake.

Senti o corpo ficar tenso. Jake nunca me mandou flores nesses anos de compromisso. A mágoa que tentei sufocar durante todo o dia veio incontrolável, trazendo amargura na garganta. Após tomar uma lufada de ar, empinei o nariz, engoli o orgulho e tirei as mãos do cartão, ouvindo em seguida o barulho da porta se abrindo. Annebell entrou olhando-as curiosa.

—Não são para mim. São para a adorável Annebell—soltei com veneno, com desdém em cada palavra.

Subi as escadas apressadamente, sem olhar para trás. Não ouvi sua desculpa e não dei atenção ao seu olhar arrependido. Comecei a me despir quando Annebell abriu a porta.

—Bella, você um dia vai me perdoar?—perguntou insegura.

Virei às costas sem responder e pedi a Esme, que chegara ao quarto também, que desabotoasse os botões da minha blusa. Ignorei-a até que a porta se fechasse novamente.

—Por que a hostilidade com a sua irmã?—Esme perguntou. Olhei para trás, tomei nota de que Annebell já tinha saído e torci os lábios, chateada.

—Estou com raiva do Jake e acabo descontando nela— respondi culpada. Não a odiava, mas também não queria me congratular com ela nesse momento. —Esme, você quer trabalhar na cozinha do Sr. Cullen?—perguntei antes que ela viesse com mais questionamentos.—Eu pago a você três vezes mais do que você ganha aqui— ofereci muito segura de mim.

—Então é mesmo verdade. Você vai se casar com aquele homem?

—Edward Cullen. Esse é o nome do meu futuro esposo—acentuei suavemente, com uma ansiedade no estômago ao pronunciar a frase.

—Não sei, Bella. O senhor Cullen é tão mau como o povo diz?

Eu respirei fundo, pensativa. Por experiência, conhecia que empregados sempre sabiam muito mais a respeito de um homem do que seus amigos. Apesar do Cullen morar sozinho, não duvidava que empregados soubessem coisas sobre ele que ninguém mais sabia...

—O que você ouviu sobre ele?—interessei-me.

—Que tem gênio violento, grita como um louco com frequência e nada o satisfaz.

Sorri, sem humor.

—Receio que tudo isso provavelmente seja verdade.—Suspirei distraída e comi a torta de milho que ela trouxe na boca.—Mas pelo menos não bate em mulheres ou trapaceia as pessoas— garanti.

—Bom, eu cuido de você desde que você nasceu e essa casa não será a mesma quando você se for, então o melhor jeito de continuar cuidando de você é estando onde você estiver—concordou com um sorriso amoroso.

Esme veio morar com minha mãe quando ela tinha apenas treze anos, logo que nós nascemos. Então ela se sente responsável por nós como uma mãe. Além de tudo, é minha pessoa de confiança. Mesmo sendo uma linda mulher com trinta e um anos, nunca pensou em nos deixar.

—Então arrume os seus pertences que amanhã mesmo irá começar o trabalho naquela casa— avisei prática, o coração satisfeito em ter alguém como ela próxima.—Ah, leve algumas panelas aqui de casa. É provável que ele não tenha utensílios...E, Esme, fale com os empregados e veja se eles conseguem uns quatro homens fortes para organizar os móveis amanhã na casa do Cullen— instruí. Ela assentiu com um sorriso.

Tomei banho e me sentei para que a Esme escovasse meus cabelos, pensando na incrível batalha que teria pela frente.

—Nossa, Esme, como isso é relaxante— agradeci, de olhos fechados. Minutos mais tarde, estava deitada e, pela primeira vez em dias, não tive vontade de chorar até dormir. De fato, sentia-me bastante bem. Eu troquei de lugar com a minha irmã para que pudesse ter uma noite diferente, mas parecia que ia ter semanas de aventuras.

Quando Esme bateu em minha porta às seis horas da manhã, eu já estava pronta. Usava uma blusa de manga longa e botões bege, uma saia longa caqui, até os pés, um cinto e um chapéu bege, combinando. (n/a; imaginem as roupas da Cristina, da novela alma gêmea)

—O rapaz que vai dar aula de volante te espera lá embaixo.—Esme avisou.

—Ótimo. Assim, quando terminar as aulas, ele ficará a minha disposição na casa do Sr. Cullen.

Desci as escadas na ponta dos pés e deixei um bilhete com a Doret, nossa criada, avisando onde estaria o dia todo. Fiz uma refeição apressada na cozinha e fui para lateral da casa, local onde estava o carro que senhor Cullen me deu.

Entrei no carro com o instrutor, dei uma lista de mantimentos necessários a Esme e a deixei na porta da venda enquanto eu fazia aula de direção. Obviamente na casa do Cullen não tinha mantimentos necessários para o almoço.

A aula de direção foi uma negação. Uma hora depois, voltamos e buscamos a Esme na venda.

—Você mandou ele cobrar na casa do Cullen mais tarde?—perguntei, e ela assentiu—São cerca de doze pessoas, mas como são na maioria homens, cozinhe para trinta. Isso deve dar.

Na casa do Cullen, tudo estava silencioso. O instrutor parou, eu bati na porta lateral, porém ninguém ouviu. Andei em volta da casa e tentei a porta da cozinha, mas ao baixar a maçaneta, ela estava somente encostada. Entrei, sentindo-me uma intrusa, mesmo assim, comecei a abrir os armários para investigar.

Se esta casa tinha que abrigar uma festa para um grande número de convidados para o casamento dentro de duas semanas, eu precisava saber de que recursos dispunha. Os armários estavam quase vazios. Havia apenas algumas caixas de latas de pêssegos. Nenhuma panela, exceto umas de esmalte, das mais baratas.

Decidi explorar o resto da área de serviço. Uma grande copa separava a sala de jantar da cozinha, atrás da qual havia uma ala em L, com despensa, lavanderia, quartos com banheiro para três empregados, além do quarto e do escritório da governanta.

No corredor fora da cozinha, tinha uma escada, e eu a subi para o primeiro andar. Dei uma espiada no corredor do segundo andar, mas só pude ver sombras no assoalho e paredes trabalhadas em madeira. Continuei andando em direção ao sótão. Como já imaginava, no sótão ficavam mais acomodações dos empregados, que agora estavam sendo usadas como depósito. Havia dois banheiros, e o resto do espaço era dividido em pequenos quartos. E cada quarto estava cheio até o teto com engradados e caixas; algumas tinham móveis cobertos com guarda-pós.

Com jeito, levantei uma das cobertas. Embaixo, havia duas cadeiras douradas cobertas com tapeçarias de querubins. Tinha uma etiqueta. Prendendo a respiração, li: 1756. Tapeçarias tecidas nas oficinas de Gobelin, acredita-se terem pertencido a Mme. de Pompadour. Também havia um jogo de doze cadeiras e dois sofás.

—Meu Deus!!—Suspirei, deixando a coberta voltar para o lugar. Contra a parede estava um tapete enrolado. Na etiqueta estava escrito: Fim do século 1680, feito na fábrica Savonneraé para Louis XIV. Segurei-me na parede. Precisava de um momento para ordenar os pensamentos. Olhando à minha volta, podia ver pés dourados aparecendo por debaixo dos móveis cobertos e, sem maiores explorações, sabia que todos os móveis e peças de arte eram dignos de museu.

Atordoada, levantei um lençol ao meu Iado. Embaixo brilhava um candelabro que parecia feito de diamantes. Sua etiqueta dizia: 1780.

Sentei-me sem fôlego, um pouco assustada com a perspectiva de viver diariamente com tesouros à minha volta. Ouvi um barulho carruagem nos cascalhos embaixo.

—É o Sr. John!—exclamei e voei escada abaixo, conseguindo chegar a porta da frente quando ele e o assistente estavam descendo da carruagem.

—Bom-dia, Anne-Bella— disse ele.

—Bom dia. Só Bella, por favor.— pedi com azedume ao ouvir o nome gêmeo.—Entre. O senhor Cullen precisará de um guarda roupa completo—informei, dando passagem pra que ele entrasse.

O Sr. John era um homem pequenino que tentava parecer um tirano. Como primeiro alfaiate de Forks, ele era muito respeitado.

—Para amanhã, ele precisa de um terno completo, cinza. O senhor acredita que poderia estar pronto amanhã meio-dia?—perguntei andando impaciente pela sala sem móveis.

—Não tenho certeza.

—Ponha mais costureiros, se for preciso. Pode contar que será bem recompensado.

—Ok. Se eu puder tirar as medidas do senhor Cullen rápido, será melhor.

—Ele está lá em cima- creio eu. O senhor pode ir lá.—Apontei para cima das escadas.

John me olhou incrédulo.

—Anne- Bella—começou. Olhei-o reprovando o nome, ele coçou a garganta. —Senhorita Isabella, eu a conheço desde que nasceu, e estou disposto a pôr de lado todos meus outros trabalhos para fazer um serviço para você, inclusive vim aqui a essa hora, mas eu não subirei aquelas escadas para ir procurá-lo. Talvez eu deva voltar quando ele estiver acordado.

—Mas não dará tempo para fazer a roupa! —alarmei-me. —Por favor, senhor John— insisti.

—Nem que você se ajoelhe para mim. Esperaremos aqui durante meia hora. Se o senhor Cullen não tiver descido, então iremos embora— condicionou.

Olhei três vezes para as escadas, incerta. Disse a mim mesma: Coragem, então marchei escada acima. O segundo andar era tão bonito como o primeiro, com painéis de madeira pintados de branco. Bem em minha frente, estava uma sala larga e aberta com uma área de cerâmica verde no fundo.

—Um aviário!—murmurei encantada.

Suspirei, lembrando-me do dever. À minha volta, havia muitas portas fechadas e atrás de uma delas estava Edward. Abri uma porta e, na penumbra, vi uma cabeça loira no meio de uma cama desarrumada. Em silêncio, tornei a fechar a porta, não querendo acordar Jasper.

Entreu em quatro quartos antes de encontrar o de Edward, no fundo da casa. Cortinas grosseiras bloqueavam o sol da manhã, suspensas por arames que vinham do forro do teto. Os móveis consistiam em uma cama de carvalho, uma mesinha lotada de papéis e um jarro para água de barro, além de três estofados cobertos de pelúcia de um vermelho horrível com borlas amarelo-ouro embaixo.

Com decisão, afastei as cortinas e amarrei-as com um grosso nó para que deixassem o sol entrar.

—Bom dia, senhor Cullen. O senhor tem uma agenda lotada hoje— informei alto e determinada, parada ao lado da cama. Edward mudou na cama, deitou-se de costas, colocou a mão cobrindo o rosto, mas continuou dormindo.

Seu corpo estava descoberto da cintura para cima e eu suspeitei que estivesse nu também dali para baixo. Por um momento, permaneci parada, distraída, olhando-o. Raras vezes tinha visto um tórax de homem descoberto, talvez nunca. Edward parecia um lutador. Demorei o olhar no peito forte, descendo pelo abdômen, parando os olhos nos pelos em sua barriga que sumiam dentro do lençol. Suspirei, sentindo o pescoço queimar. Sua pele parecia quente. Bronzeada.

Num minuto eu estava de pé ao lado da cama e no minuto seguinte uma grande mão agarrou minha coxa e num solavanco fui puxada para a cama.

—Não podia me esperar, não é?— ciciou Edward, começando ansiosamente a beijar minha garganta enquanto suas mãos percorriam minhas pernas por baixo das saias. Suas pernas entreabriram as minhas, ele acariciou os joelhos e subiu a mão pela coxa, o corpo grande prendendo o meu na cama. —Sempre gostei de uma boa companhia de manhã.— contou sedutor. Eu me agitei e esperneei para escapar. Vi que era inútil e comecei a procurar outros meios para parar o ataque. Tateando com a mão, encontrei o cabo do jarro na mesa e, rapidamente, desci-o na cabeça dele.

O barro fino quebrou e, enquanto a água e pedaços do jarro se espalhavam, pulei fora, pondo-me a salvo.

—Arre!! Que diabo!—amaldiçoou Edward, sentando-se e esfregando a cabeça —Você podia ter me matado, sua louca!

—É pouco provável—objetei altiva, arrumando a minha roupa.

Ele olhou furioso em meu rosto.

—Escuta aqui, sua cadelinha, eu...

—Não, Sr.Cullen, o senhor é que vai me escutar. Se eu vou ser sua esposa, o senhor me dispensará o respeito devido a uma mulher nessa posição. Não serei tratada como qualquer leviana que o senhor... contrata para uma noite.—Meu rosto enrubesceu, mas continuei, com as mãos tremendo.—Eu não vim ao seu quarto porque, como o senhor disse, não podia esperar para compartilhar sua cama. Fui, de certa forma, coagida a fazer isso. Lá embaixo, tenho um alfaiate esperando para tirar suas medidas para um terno, tenho rapazes para carregar os móveis chegando a qualquer minuto, uma cozinheira está aqui para fazer comida e, em menos de uma hora, um barbeiro removerá essa massa de cabelo que está criando. Se tenho que preparar tanto esta casa como o senhor para o casamento, infelizmente preciso de sua presença e, portanto, não pode se permitir ficar babando na cama, dormindo o dia todo— enumerei séria. Edward me olhou perplexo enquanto eu fazia meu discurso.

—Ai, ai...Minha cabeça está sangrando?—perguntou carente, ainda esfregando a cabeça. Com um suspiro, aproximei-me e examinei a sua cabeça. Ele abraçou-me pela cintura descaradamente e encostou o rosto contra meu seio.

—Tem algum enchimento?—esfregou o nariz com um sorriso cínico.

Empurrei-o desgostosa.

—Levante-se, vista-se e desça o mais rápido possível!—demandei antes de girar nos calcanhares e deixar o quarto.

—Desgraça de mulher mandona!—Sorri ao ouvi-lo gritar atrás de mim.

Embaixo, tudo virara um caos. Os quatro homens que Esme contratou estavam passeando pela casa como se fossem os donos, gritando comentários uns para os outros. Dei ordens aos homens para trazerem os móveis do sotão e pedi que o Sr. John me acompanhasse até o escritório. Algo que aprendi no final do curso fora como vestir um homem. Se isso não tivesse outra utilidade, serviria pelo menos para discutir com o alfaiate do marido.

—Ele precisará de uma dúzia de ternos para trabalhar— expliquei ao Sr. John, olhando as folhas de amostras de tecido, enquanto um auxiliar escrevia furiosamente.—Essa lã clara, o oxford xadrez cinzento e aquela lã escocesa azul escura, por enquanto.

—E para a noite? —perguntou o Sr. John.

—O preto de lã penteada com um colete branco. Agora, roupas para cavalgar...—Peguei outras amostras de tecidos menos finos. Escolhi roupas para esportes, rejeitei as calças para golfe e escolhi roupas para recepções à tarde. Para meu próprio casamento, escolhi um fraque preto e mais camisas, cachecóis, luvas. Também escolhi um grande sortimento de roupas de baixo de algodão, lenços e meias.

Escolhi as peças prontas, um conjunto completo de acessórios, incluindo sapatos, e guardei em cima da mesa. Combinei com Sr. John para que tomasse as medidas de Jasper, a fim de fazer roupas para o casamento. Então olhei para a porta e Edward estava lá, com os seus cabelos longos e desgrenhados e sua barba tapando o seu rosto, mostrando que ele era mais mau cuidado do que alguém imaginaria.

Soltei as amostras de tecidos na mesa e me afastei de fininho.

—Boa sorte— desejei baixinho para o Sr. John—O senhor vai precisar.

Edward fez uma careta quando passei por ele. Percebi que ele estava na porta há algum tempo e não gostou que eu decidisse o que ele podia e não podia usar. Sai e voltei aos afazeres emergenciais. Pelas nove horas, estava desejando saber usar um chicote. Já estava quase despedindo dois dos carregadores de móveis por insolência. Esme estava fora de si, tentando cozinhar com todo o barulho pela casa. Quando o barbeiro chegou, entrei com ele para o escritório, deixando que ele esperasse o alfaiate terminar com uns ajustes de uma roupa para pronta entrega.

—O senhor pode fazer um lanche com o seu ajudante. É só se dirigir a cozinha—avisei ao Sr. John logo que ele terminou.

—Vai alimentar a cidade toda, senhorita Isabella?—O Sr. Cullen perguntou zombeteiro. Ele gostava de me ver irritada, intuí.

—Como o senhor disse, alguém precisa gastar o seu dinheiro—respondi petulante e desviei o olhar. O barbeiro ficou próximo, esperando a ordem para se chegar mais.

—Sejá rápido, não tenho o dia todo. —Edward demandou em tom grosseiro ao barbeiro que já parecia tremer de medo dele e colocou em seguida a capa em seu pescoço.—Quanto a vocês, doçuras, podem ficar o dia todo comigo, caso queiram.—Gracejou, pegando na cintura de uma das ajudantes, arrancando um sorriso fácil das manicures. Revirei os olhos e atravessei a sala, levantei seu rosto e o fiz me olhar, ainda sentado na cadeira.

—Cuide das suas mãos, Edward!—instruí, desejando que soasse em duplo sentido.—Temos compromissos de NOIVADO para comparecer, e suas mãos precisam estar macias e unhas feitas— adicionei com paquera na voz, mas com olhos firmes mostrando que não suportaria atitudes impróprias para um noivo.

No mesmo instante, ele tirou a mão da cintura da manicure. Seu olhar surpreso ficou em mim. Ele tinha que se comportar perante a cidade, se não, diriam que ele não passava de um conquistador barato. Sorri singelamente ao notar que ele compreendeu o recado e acariciei sua bochecha, carinhosa. A seguir, deixei-o só, reclamando das pessoas o tateando. Escapei pela porta lateral e quase corri para a privacidade da grande estufa, que há dias queria explorar. Fechei a porta e olhei com prazer para a extensão de quase mil metros de plantas floridas.

O perfume e a paz eram do que eu mais precisava.

—O barulho ficou muito alto para você?

Voltei-me e vi Jasper que pousava um grande vaso de azaléias. Jasper era quase tão grande quanto Edward, porém bem arrumado, loiro e parecia mais moço que Edward.

—Acho que acordamos você. Parece que houve muita gritaria esta manhã—falei sem graça, entrando mais ainda na estufa.

—Se Edward está por perto, as pessoas geralmente gritam—gracejou com um sorriso.—Posso mostrar-lhe minhas plantas?

—Isto é seu?—Apontei para a grande estufa, espantada.

—Mais ou menos. Há uma casinha depois do jardim das rosas, onde mora uma família japonesa. Eles cuidam dos jardins de fora, mas este aqui é meu. Tenho plantas do mundo inteiro.

Suspirei tentada. Embora não tivesse tempo, queria uns poucos minutos de tranqüilidade.

Com orgulho, Jasper mostrou-me as muitas plantas da estufa: ciclamens, prímulas, samambaias, orquídeas, coisas exóticas as quais nunca tinha ouvido falar.

—Você deve gostar disto aqui.—Eu disse, tocando a folha de uma orquídea. Ele sorriu, cortando as folhas de umas rosas. —Jasper...quebrei um jarro na cabeça dele hoje de manhã— confessei baixo, com um pouco de constrangimento.

Jasper deu uma gargalhada estridente.

—É normal! Já fui para cima dele com meus punhos mais de uma vez.—contou ainda sorrindo com vontade.—Você realmente pretende tentar civilizá-lo?—questionou incrédulo, erguendo uma sobrancelha.

—Espero que consiga, mas não posso continuar atacando-o. Deve haver outros meios. — Levantei a cabeça e olhei-o mais atentamente.—Não sei nada sobre você, ou como está ligado a ele... comentei sugestivamente. Jasper começou a replantar uma passiflora muito crescida.

—Ele encontrou-me em um beco de Los Angeles, onde permanecia vivo comendo das latas de lixo. Meu pai e minha irmã tinham morrido uma semana antes por inalação de fumaça em um incêndio. Eu tinha dezessete anos, não conseguia arranjar um emprego...—sorriu, lembrando-se

—Passava fome e tinha decidido levar uma vida de crimes. Infelizmente, ou talvez felizmente, a primeira pessoa que escolhi para roubar foi Edward.

—Talvez o tamanho dele fosse um desafio para você—Observei sorrindo.

—Ou talvez estava esperando fracassar. Edward me imobilizou e tomou minha faca, mas em vez de me mandar para a cadeia, levou-me para casa com ele e alimentou-me. Eu tinha dezessete anos, e ele vinte, e ele já estava a caminho de tornar-se um rico.—Balançou a cabeça sorrindo.

—E tem estado com ele desde então.—deduzi, encostando-me a um banco feito por um tronco de árvore.

—E com ele tenho ganhado meu sustento—acrescentou Jasper.—Ele fez-me trabalhar para ele durante o dia e mandou-me para uma escola de contabilidade à noite. O homem não acredita em sono. Ficamos acordados até quatro horas da manhã nessa madrugada, por isso é que estávamos na cama quando chegou. Ah!— disse de repente, sorrindo abertamente, enquanto olhava através das paredes de vidro. —Acho que o barbeiro esteve aqui.

Com muita curiosidade, olhei pelo vidro e o que vi foi um homem grande, usando as roupas surradas do Edward, mas em vez do longo cabelo vermelho e barba, tinha o rosto barbeado e o cabelo cortado.

Abri os olhos admirada. Jasper riu quando Edward inclinou-se na varanda do segundo andar.

—Bella!—gritou —Você está aqui?

Sorri ao vê-lo me chamando sem formalidade pelo apelido.

—Estou entrando.—respondi e sai da estufa.

—Vou tomar um banho, e em alguns minutos eu desço— avisou. Não tive tempo de responder. Ele saiu apressadamente da sacada. Passei pelos carregadores e lhes pedi para irem almoçar na cozinha, percebendo na porta de entrada dois visitantes. Provavelmente algum negociante. Pedi que eles entrassem, e Jasper os conduziu ao escritório.

Edward demorou no banho, e eu já estava faminta. Enquanto o esperava, fiquei olhando as etiquetas das caixas e decidindo para onde elas iriam.

Ouvi um som de passos, olhei para a escada como se sentisse sua presença e o vi no alto. Prendi o fôlego quando vi de perto o homem bonito que ele se tornou. Tinha o rosto limpo, os cabelos cortados de modo que uns fios se arrepiaram e as roupas... Bem, essas caíram perfeitamente!

Ele desceu com um sorriso presunçoso e esfregou o queixo. Examinei-o como um colecionador diante de uma relíquia. Seu queixo, agora exposto, era firme e quadrado. A boca tinha lábios finos e perfeitos. Os olhos verdes, de cílios longos, fitavam-me intensamente e coroavam o conjunto. Respirei fundo, adquirindo compostura.

A roupa que o alfaiate trouxe para pronta entrega se encaixou perfeitamente nele, um pouco justa no peitoral e coxas, mas o deixou com ar casual. Camisa verde escura de mangas longas e calça preta.

—Nada mal, heim.—comentou maliciosa e continuou descendo.

Pela primeira, notei a idade que ele tinha. Antes, ele parecia um homem de trinta e cinco anos, agora, mesmo com vinte e seis, parecia ter vinte.

—A baba vai escorrer, pequena dama.— Segurou minha cintura .—Eu não me via há tanto tempo que esqueci o quanto sou bonito.—Piscou presunçoso e esfregou o nariz no meu. Ele cheirava a banho e ervas. Seu sorriso quente fez correr minha pulsação.

Não me contive e sorri, o rosto ficando vermelho conforme admitia o quanto ele era bonito. Na verdade, extraordinário! Aceitei me casar com um sapo e agora o que via em minha frente era um príncipe.

—Se já terminou com os afazeres, venha para o fundo da casa. Há uma senhora na cozinha inventando comidas, e eu estou faminto.—convidou. Eu me sentia desorientada e demorei a raciocinar na resposta.

—Sim— concordei com a voz fraquinha, depois andei na frente dele rumo ao corredor que levaria à cozinha, permitindo sua mão ficar comodamente na minha cintura.

Antes de chegarmos à cozinha, ele me parou.

—Tenho uma coisa para lhe dizer...—disse parecendo inseguro, olhando para a ponta do sapato novo.—Eu não pretendia pular em cima de você esta manhã. Acontece que estava dormindo e acordei com uma garota bonita perto de mim. Eu não feriria você. Suponho que não estou acostumado com damas.— Esfregou a cabeça tímido e sorriu.—Mas acredito que aprenderei bem rápido— adicionou com um sorriso cálido que me fez piscar e suspirar.

—Venha aqui.—Puxei sua mão e o levei para um banco no jardim—Sente-se aqui.—Apontei para o meu lado. Ele me olhou meio perdido—Deixe-me ver sua cabeça.

Ele sentou-se bem quieto enquanto eu procurava o machucado e examinava-o.

—Dói muito?—perguntei carinhosamente, tateando o local que tinha uma ondulação.

—Agora não—respondeu baixo, segurou minhas mãos carinhosamente e me olhou nos olhos. —Você ainda vai casar comigo?

Meus olhos se abriram aturdidos com o que descobri. Ele era muito mais bonito que Jake! E seu cheiro era tão másculo que fazia coisas estranhas acontecerem com minha respiração.

—Sim, ainda vou me casar com você—respondi sem titubear.

Ele continuou me olhando com olhos intensos, alternou o olhar de meus olhos à boca. Eu suspirei e desejei que ele me beijasse como dias atrás. Ele não fez.

—Ótimo— disse abruptamente e levantou-se, olhando para cima e passando as mãos nervosamente no cabelo.—Agora, vamos comer. Eu e Jasper temos trabalho para fazer e tenho homens esperando por mim. E você tem que vigiar esses topeiras com os móveis.—Começou a voltar para casa. Eu quase tive que correr para acompanhá-lo. Certamente ele mudava de humor com muita rapidez.

Sentei-me a mesa, agora limpa pela Esme, então ela colocou as travessas, calada e desconfiada diante da presença dele. Ele começou a comer com os seus maus modos, mastigando rápido e gemendo de satisfação enquanto comia.

—Ora diabos, acho que eu vou me casar é com você, mãos de fadas.—elogiou Esme e colocou a mão em sua cintura quando ela estava próxima à mesa. Ela se enrijeceu, nervosa.

—Sr. Cullen, deixe ela ir—censurei baixo, ele levantou a sobrancelha para mim, indagativo. Soltou-a e voltou a comer.

—Adorei os bifes, viu, senhora— elogiou educadamente, olhando para mim.

—Senhorita.—Esme corrigiu. Eu olhei-a incrédula.—Qual a sua preferência em refeições?—questionou mais relaxada. Ele sorriu triunfante para mim.

—Bifes como este. Gosto de carne. Um homem precisa de muita carne, tesouro. —Piscou para ela. Esme saiu enrubescida. Eu cortei meu bife lentamente.

—O senhor canta todas as mulheres que vê? Já é a terceira mulher que o vejo cantar somente hoje—soltei séria, sem perder a pose de desinteressada.

Ele gargalhou abertamente.

—Não é assim. Eu não cantei as mulheres da cidade, então isso não é verdade. Eu só elogio quem de alguma maneira vai me servir para algo ou satisfazer um desejo meu.— contou divertido e apertou o meu queixo.—Ouviu, lindona— gracejou com um sorriso despreocupado e jovial. Junto à barba saiu o velho ranzinza que habitava nele. Além de tudo, ele estava mais...atraente?

Balancei a cabeça censurando-me pelo deslumbramento descabido, mas se iria me casar com ele, eu podia achá-lo atraente. Suspirei e examinei novamente sua boca bonita antes escondida pela barba.

—Feche a boca, minha linda dama—gracejou ao flagrar meu olhar. Desviei o olhar, envergonhada.

Jasper chegou à cozinha com os forasteiros e sentaram para almoçar. Eu tentei me distrair com o prato, mas minha mente trabalhava em intensa atividade. Primeiro ele era um grosseirão, porém um grande conquistador de mulheres. Sorri tímida para ele. Ele sorriu de volta, sem compreender meu novo ânimo, ainda conversando com os forasteiros. Não poderia saber o redemoinho que se passava na minha cabeça. Como a vida pode ter mudado tão rápido.

Ele não era o homem das cavernas que previ, mas sim um rapaz de sorriso encantador, de olhos quentes, o corpo de causar comoção... Aquele que comprovei de manhã ser grande e bem feito... Senti-me corar ao lembrar. Fui despertada das lembranças por um calor em minha orelha.

—A senhorita tem algo para dividir comigo?—perguntou sugestivamente e me puxou para o jardim, sem pedir licença.

—O senhor ficou bem sem a barba— elogiei sincera logo que chegamos a um sombreiro de árvores.

—Até que enfim. Pensei que você não ia falar—reclamou como quem esperava por isso há algum tempo. Ele esticou uma rede entre as árvores e deitou, apontando o lado para eu deitar.

—O senhor disse que está sem tempo.— lembrei relutante em me deitar com ele.

—Ainda tenho cinco minutos para a minha noiva bonita enquanto as visitas almoçam.—Sorriu matreiro.

Neguei, balançando a cabeça. Não cairia bem perante os empregados uma noiva estar deitada em uma rede com o noivo. Ele bateu insistente no tecido ao seu lado. Vencida pelo seu lado persuasivo, eu deitei ao lado dele com o pescoço em seu braço. Naquele momento, ele não parecia um estranho para mim. Sua presença trazia segurança e tranquilidade.

—Já evoluímos como um casal— analisou, acariciando meu rosto. —Eu te acho bonita, e você não para de me admirar—gracejou cínico, eu não respondi.—Eu gosto do seu beijo, e pela sua empolgação aquele dia, você também gosta do meu—continuou a análise. Minhas bochechas se aqueceram ao lembrar seus beijos. Eu não podia dizer e aceitar ainda se gostava ou não.—Não te tenho amor, e é certo que você ama outro.—Abri a boca prestes a dizer que odiava Jake, mas ele pôs o dedo em meus lábios. —Mesmo assim, conseguiremos viver bem, ainda que sem amor. —concluiu, ainda acariciando o meu rosto.

Apoiei o rosto em seu peito e aspirei o cheiro do seu banho recente. Não o contradisse nem o apoiei. Ficamos uns vinte minutos calados, um momento de candura inexplicável para mim. Nunca tinha deitado em uma rede a tarde com o Jake, não era importante. Mas hoje, com um noivo forçado pela ocasião e há menos de três dias de noivado, eu me sentia bem, acolhida.

Acariciei o seu peito comodamente por cima da camisa. Pus os dedos distraída sob os botões e senti sua pele. Percebi sua respiração acelerar-se em seu peito. Ele exalava um cheiro bom, de hortelã e homem. Continuei o acariciando nos pelos sem pensar no que fazia. Fechei os olhos, amando o contato quente, o calor e cheiro.

—Tenho que ir.—Levantou-se de repente, com a voz baixa e rouca.—Não posso perder mais tempo hoje!—Afastou-se como se eu queimasse, olhou-me inexpressivo por segundos, se virou e saiu, me deixando só e fria na rede. Suas mudanças de atitudes me enlouqueceriam até o casamento.

**

De tarde, já tinha feito descer os tapetes de três quartos. Os móveis ainda não estavam arrumados, pois eu não decidira para onde iria cada peça. Edward e Jasper fecharam-se com os visitantes. Vez ou outra, ouvia a voz de Edward mais alta que o barulho da mudança. Uma vez, ele pôs a cabeça sob o portal da biblioteca, olhou para as cadeiras douradas e disse:

—Essas cadeirinhas vão agüentar?

—Agüentaram durante duzentos anos.—respondi direta.

Edward fez uma careta e voltou ao seu escritório. Às cinco horas, bati na porta do escritório. Jasper atendeu, dei uma espiada através da névoa azulada da fumaça dos charutos e me aproximei para dizer a Edward que estava indo, mas voltaria no dia seguinte. Porém, ele mal levantou os olhos do papel. Deixei-o sem falar.

Jasper saiu comigo.

—Obrigado por tudo que fez hoje. Estou certo de que a casa ficará como deveria ser quando terminar.

Parei na entrada.

—Por favor, diga-lhe que estarei aqui amanhã e que depois de amanhã teremos um compromisso.

—Espero que ele vá.—Jasper disse incrédulo.

—Ele irá—afirmei com mais segurança do que eu tinha.

Sai, rumo à varanda lateral e encontrei o instrutor que passou quase o dia todo com a Esme na cozinha. Chamei Esme para dormir em minha casa, pois ela não devia se sentir a vontade ainda em dormir na casa do Sr. Cullen. Fiz mais algumas aulas de volante no meio do trajeto, saindo-me bem melhor, e voltamos para casa, chegando a tempo do jantar.

—Boa noite, Sr. Swan—cumprimentei-o com um beijo em seu rosto.—Boa noite mamãe.—Dei-lhe um beijo. Ela tinha marcas de choro no semblante, parecia ter perdido cinco quilos desde a semana passada.

O maxilar da Annebell ficou trêmulo ao perceber que eu não ia cumprimentá-la. Mesmo que fosse birra, eu ainda não queria falar com ela. Sentei e me servi do guisado, calada e pensativa. No caminho, Esme me contou sobre um acontecimento do dia anterior entre a Annebbel e o Jake. Annebell estava passeando de canoa no lago do Newton Park com um desconhecido loiro e simpático, quando Jake remou até o lado deles. O que viram, a seguir, foi o desconhecido agitando-se na água, enquanto Jake puxava Annebell para sua canoa e remava para a margem. Enquanto todos riam, Annebell usou um remo para jogar Jake no lodo, salvou o desconhecido de afogar-se e remou com ele de volta para o local onde alugavam os botes.

Eu sabia que devia estar com ciúmes das brincadeiras deles, zangada pela maneira como Jake demonstra a todos que prefere a Annebell e com ciúmes de todas as flores que ele lhe manda. Mas minha mente estava ocupada com outras coisas, como em onde iria colocar a pequena mesa jacobina e a quem poderia chamar para me ajudar a colocar as cortinas que encontrara empacotadas e etiquetadas. E também havia o Cullen em meus pensamentos...

Esperava que amanhã ele não me desse muito trabalho quando eu falasse sobre a recepção que teríamos que ir quarta-feira.

—Gostaria de falar sério com você, Bella...— Disse Swan—...Depois da refeição.

Fiquei assustada com seu tom, pensando no que viria. Ele conduziu-me até a sala de visitas da frente, a que era usada para convidados. Ele era meu padrasto desde menina, e, por sempre eu ter feito o que ele queria e ter me portado de acordo com a imagem que ele tinha de uma dama, nunca nos desentendemos.

—Ouvi dizer que você concordou em casar-se com ele—começou, falando do Edward com crítica velada.

—Sim—respondi, preparando-me para a tempestade que viria.

Como iria defender minha causa? Poderia dizer que perguntei a Edward, e ele disse que nunca matara ninguém... Ou talvez pudesse tentar explicar o quanto Edward precisa de mim. Sorri, pensando nessas explicações incoerentes e absurdas aos olhos do Sr. Swan. Como se pesasse centenas de quilos, Charles sentou-se.

—Bella— Disse com uma voz cansada. —Eu sei que esta casa não tem sido igual ao tempo em que seu pai era vivo, mas nunca pensei que tomasse medidas drásticas para sair daqui.

—O senhor pensa que vou me casar com o senhor Cullen a fim de deixar esta casa?

Ele levantou-se empertigado.

—Por esse e outros motivos. —Encostou-se para olhar a janela.—Sei que o que Jacob fez para você deve ser uma experiência humilhante, e na sua idade deve parecer o fim do mundo.—Virou-se, outra vez, para me fitar.—Mas, acredite-me, Bella, não é o fim do mundo. Você é a moça mais bonita da cidade, talvez até de todo o Estado, e encontrará alguém. Se quiser, posso levá-la à Califórnia e apresentá-la a alguns rapazes.

Levantei-me, fui até ele e beijei-o no rosto. Até este momento, não sabia realmente o que o preocupava.

—Agradeço-lhe muito pela bondade, mas não acredito que vá me casar com o senhor Cullen só por ser ele o mais disponível.

—Tem certeza? Talvez queira mantê-lo perante a cidade e dizer: Vejam, posso conseguir outro homem na hora que quiser. Você pode conseguir outro homem, filha. Talvez um que não seja tão rico, nem tenha uma casa como a do Cullen, porém um homem cuja família você conheça. Por tudo que sei, pode haver insanidade na família do Cullen. Ouvi dizer que aquele tio dele não é mais do que um encrenqueiro.

—O Carlisle?—questionei e quase tampei minha boca ao lembrar que eu não deveria falar do Carlisle Cullen com tanta familiaridade. O senhor Swan poderia suspeitar facilmente em que eu tenho me metido.

—Isso, Carlisle Cullen, das minas de diamante. O homem é um espinho na vida de Joseph Newton, mas Joseph o mantém não importa o que faça.

—Não acredito que haja insanidade —assegurei firme, pois conhecia Carlisle, embora ele não soubesse quem eu sou. Voltei-me para Charles. Um ar de frustração cruzou seu rosto.

—Como pôde mudar completamente em tão pouco tempo? Você era tão sensível com Jacob, procurando passar anos próximo a ele, conhecê-lo bem antes de finalmente colocar a aliança em seu dedo, mas você conhece esse homem há poucos dias e já concordou em passar o resto da vida com ele.

Eu não estava tão certa quanto ao que ele disse, pois o compromisso com o Jake foi firmado pelos nossos pais quando éramos apenas crianças. Porém, não havia como objetar. Ele estava totalmente certo. Pela lógica, eu sabia que não devia me casar com esse estranho. Exceto que, com todos os diabos, eu queria muito! Cobri com a mão o sorriso que apareceu em meus lábios. Eu não devia adotar o linguajar do Sr. Cullen.

—Já concordei em me casar com ele— finalizei determinada, já me preparando para sair.

—Bella, a Annebell provou que, até que o anel esteja no dedo de uma mulher, qualquer coisa pode acontecer—lembrou amargamente.—Não deixe que... o capricho dela arruíne sua vida. Investigue sobre Edward Cullen. Fale com pessoas que o conheceram. Fale com Mike Newton; talvez ele se lembre do Cullen quando ele trabalhava no estábulo. Tentei ver Joseph, mas ele não suporta ouvir o nome de Cullen. É a sua vida toda, Bella que está em jogo; descubra tudo que puder sobre o homem antes de comprometer-se com ele.

Eu sabia que seu pedido era razoável, mas hesitei antes de concordar. Talvez não quisesse descobrir nada a respeito de Edward, talvez gostasse de pensar sobre ele como um homem misterioso que me intrigava e desafiava. E talvez não estivesse pronta para que a aventura terminasse.

Porém, as palavras de Swan eram sensatas. E eu estava acostumada a obedecer.

Por um instante, imaginei o que o Sr. Swan faria se soubesse do ataque de Edward pela manhã sobre a cama e a cena do jarro quebrado. Ele me trancaria no quarto, sem dúvida.

—Perguntarei às pessoas—murmurei. —Descobrirei tudo que puder, e, se não houver nada de terrivelmente errado, me casarei com ele no dia vinte.

Charles suspirou com tristeza.

—É tudo que posso pedir... Bella, me diga, você sempre quis dinheiro tão desesperadamente? Você considerou sua vida nesta casa como uma vida de pobreza?

Parei e me virei para ele.

—O senhor pensa que o dinheiro dele é a razão pela qual vou me casar?

—Claro.—concordou surpreso com minha pergunta.—Por que outro motivo você se casaria com aquela coisa? Não fosse pelo dinheiro, ninguém falaria com ele. Seria mais um mineiro de diamante como o resto da família, e ninguém perderia tempo com ele.

—Ele seria só outro mineiro?—Repeti cética. —Sr. Swan, ele começou como cavalariço, mas ganhou milhões. Ninguém deu isso a ele. Talvez eu goste do homem que existe dentro dele, aquele que saiu da sujeira do estábulo para conseguir alguma coisa na vida. Tudo que já fiz até hoje foi aprender como me vestir adequadamente, por que devo ser considerada melhor que ele?—deliberei pausado, sem claudicar. Após defendê-lo, um calor se apossou do meu peito. Foi bom proferir essas palavras. Eu queria dizê-las o mais rápido possível a Edward.

—O que mais uma dama deveria saber, além de se vestir?—perguntou Charles.

Eu poderia responder, mas falar para o Sr. Charles que uma dama deveria aprender a não ser frígida e ser feliz, iria baratinar os seus pensamentos ao meu respeito. Então resolvi mudar o assunto.

—O que me admira é que ninguém pergunta por que um homem com a riqueza do senhor Cullen vai se casar com uma mulher da península de Washington, quando ele poderia ter uma princesa.

—Você é uma princesa, Bella—retrucou o Sr. Charles.

Eu sorri com sua afirmação, lembrando-me que Edward frisou que queria a dama mais importante de Forks para se casar.

—Estou cansada. Vou ligar para a costureira e pedir um outro vestido idêntico ao primeiro. Duvido muito que a Annebell tenha pensado nisso.— Disse me preparando para deixar a sala.

—Também duvido— Disse Charles, procurando algo em seu bolso.—Ah, o presidente do banco veio aqui pessoalmente e trouxe isto.—Estendeu-me um pedaço de papel.

Era um comprovante de depósito, declarando que cinqüenta mil dólares tinham sido depositados em meu nome. A minha mão tremeu levemente.

—Obrigada, Sr. Swan. Obrigada por tudo, farei o que me pediu.—avisei e deixei a sala.

Após dar uns telefonemas, parei e olhei outra vez o papel do depósito. Ele dissera que iria depositar algum dinheiro para mim. Rá! Ele podia ter muitas falhas, mas falta de generosidade não era uma delas. Reprimindo a vontade de rir de satisfação, subi correndo para ir repousar.

Acordei cedo, peguei mais umas aulas de volante e me direcionei a casa do Sr. Cullen, a fim de começar o meu serviço em organizar os móveis. O Sr. Culen ainda não tinha acordado, mesmo assim iniciei os movimentos dos móveis na casa. Por diversas vezes, me peguei olhando as escadas, esperando que o barulho dos móveis e dos carregadores o fizessem acordar, mas só por volta de meio dia ele acordou de mau humor e não olhou em minha direção, indo, de banho tomado e com suas roupas novas, direto para a cozinha.

Quando cheguei à cozinha, ele já tinha terminado de almoçar e brincava com a Esme. Fiz o meu prato e sentei.

—Bom dia, senhor Cullen—cumprimentei-o formalmente.

—Seria um bom dia se eu não tivesse dormido às quatro da manhã e não tivesse sido acordado por você e seus barulhos—respondeu sem humor.

—Não tem como organizar uma casa sem fazer barulhos—retornei sem ceder, chateada pelo seu tratamento.

Ele não falou mais comigo.

—Tesouro, você pode trazer algo doce para mim?—pediu a Esme. Ela sorriu e trouxe um pote de doce caseiro de laranja comprado na venda.

—Não sei como eu consegui viver tanto tempo sem uma mulher em casa. Mulheres iluminam o ambiente—elogiou-a matreiro. Eu me levantei, me sentindo cansada. Voltei para o meu serviço e o deixei na cozinha, em seguida o vi caminhar para seu escritório.

Eu fiquei magoada com seu tratamento, mas não me deixei abater. A tarde se passou rápida, então por volta de cinco horas resolvi ir embora, mais exausta que no dia anterior. Pensei em ir ao escritório me despedir, mas como o dia todo ele não me notou, eu duvidava que ele sentisse a minha falta.

—Esme, você vai embora comigo hoje?—perguntei quando ela preparava o jantar.

—Não. Eu vou me acomodar no quarto de empregados.

—Você pode se acomodar lá em cima, se você quiser.

—Não, Bella. Eu já até pedi um carregador para colocar uma cama aqui para mim.

—Ok.—Dei um beijo em seu rosto.—Amanhã só chegarei aqui ao meio-dia. Até mais— despedi sem ânimo e fui à sala buscar minha bolsa. Quando cheguei ao hall da escada para pegá-la no aparador, Jasper e Edward conversavam, em pé, olhando para a quantidade de caixas que se acumulavam pela sala.

—Boa noite, senhores. Estou indo— avisei baixo e não os esperei responder, peguei minha bolsa e virei as costas, andando a passos apressados em direção a porta da frente da casa. Uma mão no braço me parou bruscamente.

—É assim que você trata o seu noivo depois de um dia torturante como ontem e depois de hoje ter me acordado com todo esse barulho?—perguntou em tom zangado.

—Os dias não tem sido exaustivos e ruins só para o senhor— respondi fria e impaciente.

Ele enrijeceu, soltou o meu braço e me olhou irado.

—O que você faria se não estivesse aqui, senhorita Anne-Bella?— questionou insultuoso. O impessoal nome gêmeo me chateou mais.—Provavelmente estaria com dor de cotovelo em casa por ter sido trocada por sua irmã pelo Black.—lembrou com maldade. Eu pisquei atordoada, baixei o olhar indisposta a combatê-lo e obriguei-me a engolir a lágrima ao vê-lo repetir algo parecido com o que o Sr. Swan falou ontem, se referindo a mim como se eu não tivesse opção e como se eu estivesse aqui para preencher o lugar deixado pelo Jake.

Ele segurou meu queixo e me obrigou a olhá-lo. Eu desviei o olhar.

—Desculpe, minha pequena dama. Naõ queria te magoar.—pediu humilde, jogou as mãos para cima exasperado e andou de um lado ao outro.—Eu queria matar o cachorro do Black por ter seu coração—declarou raivoso. Ouvi o que ele falava, mas tinha dúvida se Jacob tinha de mim um coração ou uma pedra de gelo.

Ele me abraçou, colocando minha cabeça em seu peito.

—Vá, lindona. Eu quero que volte amanhã novinha em folha.—Beijou minha cabeça, acariciando o rosto com o polegar áspero. Eu pousei a mão em seu peito, tentada a falar o que pensei ontem quando o Sr. Swan me julgou, porém neguei-me a dizer. Não depois de ele ter se trancado no escritório sem me dar atenção.

Suspirei e me afastei.

—O Jasper avisou que amanhã temos um compromisso?— questionei com a voz baixinha.

—Amanhã eu não posso. Tenho que ir a Port Angeles. Vou dormir por lá.

Ouvir a palavra Port Angeles me lembrou da menção de Jasper à amante fixa a qual ele visita semanalmente.

—Senhor, eu não vou discutir com você hoje...—comecei, olhando para o chão—... Pois estou muito desgastada. Mas por que o senhor não vai mais tarde? Pegue o trem das cinco— sugeri e suspirei desgraçada.

—Eu realmente irei pegar o trem das cinco, não tenho o que fazer cedo em Port Angeles. O problema é que eu não quero passar por situações desagradáveis antes de ir.—explicou calmamente, referindo-se ao modo como a cidade o tratava.

—Creio que esse almoço seja importante. Além disso, senhor, precisamos ser visto juntos, como um casal de noivos normais.—Usei uma tática que o convencesse.

Ele demorou pensando, tempo que acariciou o meu rosto cansado. Custava acreditar que o homem que acordou de mau humor era o mesmo falando baixo e carinhoso por mais de vinte minutos!

—Ok, minha pequena dama, vou me esforçar para ir.—concedeu, me afastou e olhou em meu rosto, percebendo o quanto eu estava cansada ao ponto de ter apoiado a cabeça em seu peito.—Eu poderia te fazer massagens para tirar esse seu cansaço. Basta tirar a roupa.— sugeriu malicioso e fechou a distância, me abraçando apertado contra o seu peito.

—Eu não vou nem me dar o trabalho de responder, Sr. Cullen.—resmunguei, depois afastei do abraço.—Até amanhã.—Dei um passo atrás—O alfaiate irá entregar as roupas da recepção aqui pela manhã.— Ergui-me na ponta dos pés e beijei sua bochecha. Foi a primeira vez eu tomei uma atitude carinhosa com ele. Ele ficou parado, recebendo. Espalmei o seu peito e demorei, sentindo o cheiro másculo e bom do seu rosto.

Desde ontem ele não tinha mais tentado os beijos lascivos no pescoço, também desde o dia no salão, quatro dias atrás, que não me beijou de verdade. Me pergunto o porquê. A vontade de ser abraçada e querida por ele hoje era tão forte que quase supliquei. Afastei-me frustrada, sorri triste e me direcionei ao carro.

Ele ficou parado, me olhando, parecendo esperar algo mais. Eu entrei no carro, pedi para o instrutor que desse partida e então saímos do território do Cullen

Edward POV

Fazia uns dez minutos que ela tinha ido embora, deixando a casa sem o seu perfume doce de jasmim. Eu andava de um lado para o outro como um leão enjaulado, discutindo com o Jasper.

—Maldição, Jasper! É lógico que eu não quero o amor dela. Só não queria que ela pensasse nele e nem que ficasse triste por causa do cachorro como ela tem ficado.—Vociferei, ele revirou os olhos, sorrindo.—É uma desgraça mesmo, ela não se jogou em meus braços como qualquer mulher faria, quando eu me arrumei.

—Paciência, Edward.—tentou apaziguar-me com seu tom calmo e divertido, achando tudo engraçado. O que só me irritava.

—Nada que eu faço a agrada! É por isso que eu não tenho remorso em fazer o que estou fazendo.— defendi e me sentei no chão, sentindo falta dela, mas ciente de nunca admitir isso para Jasper.—Amanhã, vou ver a Jane depois dessa maldita recepção— avisei e voltei para a minha mesa para analisar as propostas dos bastardos que vieram me oferecer prédios em Seattle.


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Notas finais do capítulo

Oi Gente!!!desculpem a demora aqui.estou completamente sem tempo.Mas prometo dar mais atenção aqui quanto terminar a outra: Entre o amor e o poder.bjs