Fogo e Gelo Edward e Bella escrita por Bia Braz


Capítulo 4
Capítulo 4-Exposição pública




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Capítulo 4-Exposição pública escrita por BIA BRAZ

Bella POV

Subi as escadas de casa lentamente, tomando cuidado para não fazer barulho e acordar ninguém. Fui direto para o quarto da Annebell. Ela ainda não tinha chegado, o jantar devia ter se atrasado. Decidi que o melhor era dormir no quarto da Annebell. Se ela chegasse e minha mãe estivesse acordada, poderia descobrir a nossa brincadeira. Vesti as calças folgadas da Annebell de dormir e deitei em sua cama, que não era tão confortável como a minha. O seu quarto era cheio de bonecas, bolas, bambolês, diademas e marcas da nossa infância.

Viajei nas lembranças de quando éramos crianças, onde brincávamos livres e irresponsáveis. Sempre brincávamos de trocar de identidade. A única pessoa que sempre descobria era o cavalariço da mansão dos Newton.

Cavalariço da mansão dos Newton?

Os Newton eram uns dos nossos amigos próximos, além dos Black. Quando eu completei oito anos, Annebell começou a ter ciúme do Jake comigo, e fazia questão que fôssemos a mansão dos Newton, só para ver o Jake enciumado. Jake, naquela época, já tinha muito ciúmes do Mike Newton e do garoto do estábulo, que sempre me dava atenção e cuidava de mim.

Uma vaga lembrança caiu em minha mente de uma discussão do Jake com o garoto do estábulo, por causa da Rosalie, irmã do Mike... Nessa época, eu tinha oito anos, o Jake quatorze, a Rosalie quatorze, mas já era formada e muito bonita, loura, cheia de cachos.

Naquele dia, vi o Jake gritando com o garoto do estábulo, o humilhando, por tê-lo pegado beijando a Rosalie nos fenos. O garoto do estábulo devia ter uns dezesseis. Essa foi a ultima vez que eu o vi. Será que o garoto do estábulo era mesmo Edward Cullen?

Não me lembro muito de suas feições, mas lembro que ele sorria muito e sempre escolhia os melhores cavalos para mim. Se ele era realmente o cavalariço, o que o fez mudar a aparência? Tinha cabelos louros avermelhados, olhos verdes e corpo forte para um garoto de dezesseis. Estava sempre bem cuidado e com aparência limpa e altiva.

Se ele realmente era o cavalariço, todos os boatos podem ser verdade... Ele pode ter voltado para algum tipo de vingança, mas qual vingança? Hoje ele é rico e sua casa linda. Quem dera eu a tivesse! Rá, e o dono a ofereceu a mim... Lógico que com a casa eu teria que aguentar o prepotente e arrogante Cullen... Tudo que é bom tem seus contras.

Sentei-me a cama, soltando os meus cabelos e penteando. Distraidamente, imaginei como seria o segundo andar da mansão Cullen...Como seria o quarto?...Será que tinha banheiras?

De uma coisa tenho certeza, Edward Cullen é muito ousado. Nunca nenhum homem me trataria como ele me tratou. Toda a minha vida, as pessoas da cidade me trataram com o maior respeito, quase devoção por eu ser uma Forks, herdeira do nome dos fundadores da cidade.

Nenhuma festa ou evento era uma festa sem uma Forks, e como Annebell só vinha a cidade de vez em quando, eu era solicitada a todas. Quando os ricos e importantes Blacks vieram morar na cidade, eu tinha apenas cinco anos, era uma criança. E nossos pais decidiram que o correto era um Black se casar com uma Forks.

Como eu sempre obedeci a todos desde criança, com oito anos estabeleci o compromisso. Nada era mais que amizade, mas era um compromisso que fazia com que o Jake se sentisse meu dono desde então. Annebell sempre enfrentava as pessoas. Eu não. Mesmo que discordasse, aceitava tudo. Então me preparei desde cedo, para me casar com o Jacob Black, indo com doze anos para escola de damas.

Sorri amarga. O que Jake faria quando descobrisse que todas as quartas-feiras a dama dele se veste de uma velha gorda e vai aos campos e as reservas? Algo impróprio para uma dama fazer?

Olhei-me no espelho e tive medo do que Jacob pensaria disso. O que ele pensaria se descobrisse que a sua noiva gostava da aventura? Bem, ele nunca saberá... Eu irei parar— decidi frustrada. Esta noite, tinha sido uma aventura, um acontecimento único, antes de desistir de todas as aventuras e tornar-me a Sra. Jacob Black.

Sorri e pensei em algo irreverente: o que um homem como Edward Cullen faria se descobrisse que sua esposa dirigia uma carroça de mascate todas as quartas-feiras?

—Bem, minha dama—fingi imitar sua voz, engrossando —Tenha certeza de que mantém a pose. As verdadeiras damas conseguem, você sabe.-Tentando abafar a risada, cai de costas na cama.

O que será que o povo de Forks iria pensar se soubessem que aceitei a proposta do Sr. Cullen há poucos dias do meu casamento com o Jake?

Sentei-me de repente: Que tipo de roupa ele usaria no casamento? Talvez um terno vermelho com borlas douradas?- suspeitei sem conseguir parar de rir sozinha.

Mesmo certa das minhas escolhas, foi ótimo saber que eu tenho outra opção de casamento, quando nessa cidade ninguém se atreveria a pedir-me.

**

Acordei cedo, vesti as calças turcas da Annebell e fui ao meu quarto, encontrando Annebell dormindo em minha cama com semblante cansado. Devia ter sido entediante para ela o tipo de evento e a presença do Jake, logo ela deveria estar exausta. Acordei-a e mandei ela ir para o quarto dela, pois se minha mãe visse eu saindo, e mais tarde fosse ao meu quarto e a visse lá, iria descobrir que tínhamos aprontado alguma.

Seu estado me impediu de iniciar algum diálogo sobre a noite anterior, até porque eu estava atrasada. Fiz meu desjejum apressada, pois tinha que sair para o evento da irmandade com fins beneficentes que iria ocorrer no salão de eventos Forks event center.

Ao chegar ao local do evento, fui direto à cozinha, encontrando com Emilly, Alice e a Jéssica cuidando da decoração. Jéssica desviou o rosto assim que me viu. Não fui a casa dela pedir desculpas, então ela ainda estava chateada comigo pelo dia anterior.

—Jéssica, desculpe pelo ocorrido ontem. Mas não pense que você estava certa em comportar-se daquele jeito com o Sr. Cullen.—repreendi em um canto da cozinha.

Alice e Emilly olharam atentas em nossa direção, mas continuaram enrolando doces em papeis de seda enquanto os cozinheiros cortavam verduras e preparavam o almoço.

—Você acha que manda na cidade, Bella. Agora resolveu ficar do lado de um impostor!

—Ele não é um impostor. Você só está ofendida pela rejeição—falei séria.

—Você está louca pela casa dele. Também o quer! —acusou insolente. Segurei-me para não esbofeteá-la, quando Alice se pôs entre nós.

—Estão falando do Edward?— Disse Alice com um sorriso matreiro, tentando distrair-nos.

—Sim. Você o conhece para estar chamando-o com tanta intimidade?—Jessica disse, virando-se com olhar de desdém para Alice.

Alice estava vestida com roupas simples. Por ela trabalhar na mina Rosalie, Jéssica a desdenhava sempre.

—Sim. Ele é o meu primo.— soltou brincalhona e se virou, voltando a enrolar os docinhos.

—O quê?—Repetimos juntas, eu e Jéssica.

—Sim. Um primo. Mas ele não fala conosco. Finge que não existimos. Ele acha que as pessoas que se aproximam dele é só por causa do dinheiro dele, então não temos contato nenhum desde que soubemos que ele voltou para a cidade.

—Voltou?—Jéssica perguntou.

—Sim. Ele foi embora da cidade com dezesseis anos. Mas não vou aprofundar no assunto.—cortou e levou uma bandeja ao balcão da frente.

—Por que um homem tão rico deixa a família dele viver nas minas, sofrendo precisão e necessitando da ajuda dos outros?—perguntei ausente.

—Já disse. Ele não nos considera sua família. E nós também nunca fomos atrás dele. A nossa vida foi cheia de desencontros, então nem ele nunca veio atrás de nós e nós nunca fomos atrás dele. Só temos o sobre nome em comum, mas até mesmo o Carlisle não o considera.

Passamos mais algum tempo conversando assuntos aleatórios e assim deu o horário do evento se iniciar. Em todos os anos, Jake era um dos primeiros a chegar, pois ele sabia que sou da organização e sempre chegou cedo para se disponibilizar ao que fosse preciso. Mas hoje já passava das onze horas e ele não tinha aparecido ainda.

Todas as pessoas importantes da cidade estavam presentes. Sendo um evento beneficente, os políticos queriam fazer-se notados. O salão estava perfeito, com flores de papel de seda decorado por Alice e laços enfeitando as mesas e cantos.

Todos os donativos e valores arrecadados com o evento iria ser dividido entre os moradores dos campos de minas e entre os nativos da reserva. Porém, os donos das minas não tinham noção do que se passava. Eles não aceitariam que tais donativos passassem por seus portões.

Os dinheiros arrecadados serviriam para comprar filtros de água, remédios, enlatados e conservas em geral para ajudar na melhor alimentação. Arrecadamos mais de dois mil dólares com as pescarias, jogos, prendas e com a entrada para o evento, mas no horário do almoço iríamos ter o acontecimento mais esperado do dia. O leilão de damas. A pessoa que desse o lance melhor, se este fosse aceito pela dama, ele poderia almoçar acompanhado por ela.

Há três anos eu almocei com o Mike Newton. Aquela foi a ultima vez que eu recebi um lance que não tenha sido do Jake. Diverti-me muito com a companhia do Mike. Ele ria do semblante possessivo e ciumento do Jake. Mas não passei nada mais que meia hora com ele, pois percebia o quão irritado o meu noivo estava.

Nessa época, o Mike pagou duzentos dólares por mim, e como o Jake não acreditava que alguém pudesse dar um lance por mim, não deu nenhum. Sendo assim, almocei com o Mike, para o bem da irmandade. Hoje as pessoas não dão mais lances por mim, consideram-me propriedade e exclusividade. Nem mesmo o irreverente do Mike se atreve mais.

As propostas chegavam discretamente em uma cesta, trazida a mesa da organização. Dependendo da escolha da dama e da melhor proposta, ela seria aceita. Somos no geral vinte pessoas na organização, entre nós solteiras e casadas. Mas não importa quem recebesse o lance. Ainda que fosse casada e concordasse em aceitar, não tinha problemas. Era algo sem intenções diversas que não fosse amizade. Lógico que dali saiam muitos compromissos quando a pessoa era descompromissada.

Começamos a abrir os papéis. Algumas foram aceitas, outras não.

—Oh, três proposta para a Emilly. Uma de vinte do Sam, uma de vinte e cinco do Ben e outra de trinta, do Joseph Newton.

—Com quem você vai almoçar, Emilly?—Perguntei sorrindo de seu rosto enrubescido.

—Meu Deus, até que enfim esse homem tomou coragem. Lógico que eu vou almoçar com o Sam.— Disse ela com semblante feliz e descartou os outros papeis.

—Mas o lance dele foi o mais baixo, Emilly.—Jessica disse com desdém.

—Mas ela quer ele... Às vezes dinheiro não importa, Jéssica.—Olhei para Jéssica com acusação.

—Há, há! Olha quem diz!— debochou petulante.

Eu perdia a paciência com as indiretas da Jéssica, mas abaixei o olhar para pegar novas propostas, decidindo com as meninas mais alguns lances.

—Alice, seu parente chegou.—Emilly disse e involuntariamente virei o rosto, encontrando o olhar do Cullen.

Ele vestia roupas simples, blusa xadrez por fora e calça cinza. Sentou-se sozinho na ultima mesa disponível. As pessoas não o cumprimentaram e ele parecia não se importar, continuando a olhar em nossa direção.

—Vamos, gente, continuem. Faltam só mais uns dez lances.—Animei-as e continuei a contagem.

—Alice! Uma proposta para você. Vinte dólares, é do Sr. Luis do armazém.—Olhamos todas para a mesa do Sr.Luis e Alice. Ela balançou a cabeça desaprovando.

—Não quero. Ele deve achar que eu sou uma pobre e que vai conseguir algo extra por conta disso.—Alice negou e passamos adiante.

—Jéssica. O Mike mandou uma proposta para você.—Ela se aproximou eufórica, eu abri—Esse Mike! Um dolar!—Li e prendi o riso.

O rosto de Jéssica ficou vermelho de constrangimento e raiva. Eu olhei para o irreverente do Mike e reprovei-o com o olhar por sua ousadia em ofender uma dama.

—Isabella! Acabou de chegar uma proposta para você!—Emilly arfou e olhou-me perplexa.—Quem foi o corajoso?—Abriu o papel devagar e todas nós chegamos perto para ver, com muita expectativa.

—Dez mil dólares... Edward Cullen.—Emilly leu chocada. Todas arregalaram os olhos. Prendi o fôlego e dei um passo atrás, perplexa.

—Uau! O evento todo arrecada isso!—A Sra. Julian disse fascinada. Congelei sem ação. Como ele se atrevia?

—Não tem a mínima chance de ser aceita. Não quero ser vista com esse homem.—Olhei-o com superioridade. Ele parecia inseguro, não cheio de si como imaginei que estaria.

—Pense bem, Bella, seria um bom dinheiro extra. Não contávamos com isso. Pense no quanto poderíamos ajudar.—Emilly insistiu.

Alice estudava-me séria. Baixei o olhar relutante. Não poderia estar perto daquele homem de novo.

—Bella, você sabe que não precisa fazer isso. Você sabe que podemos negar.—Alice ofereceu e segurou o meu braço para me apoiar.

—Ok, diga a ele que a proposta não foi aceita. Que eu não estou aberta a proposta—pedi para Sara avisar. Faltava mais cinco papeis, em seguida iríamos encerrar essa parte.

Espero que ele dessa vez escute o que eu digo, pensei. EU NÃO ESTOU ABERTA AS SUAS PROPOSTAS!

Continuamos abrindo as propostas, mas nesse momento minha cabeça não estava mais lá. Meus pensamentos foram para ele. Quem este homem pensa que é para pela segunda vez tentar me comprar?

—Mais uma proposta para você—Emilly informou, eu não levantei o olhar.

Suspirei desgostosa. As pessoas estavam muito atrevidas devido à ausência de Jake.

—Isabella, a proposta é de cin-quem-ta- mil.—Alice prendeu o fôlego.—Do Edward Cullen.

Ergui os ombros e encarei-o furiosa. Ele sorriu, agora bem presunçoso.

—Ele deve estar pensando que você é a Annebell, já que você está desacompanhada.—Emilly tentou amenizar.

—O nome que está aqui é o meu. Além disso, todos sabem que a AnneBell usa calças.—Respondi impaciente.

—Mas ele é novo aqui. Qual é Bella, ninguém da cidade vai saber diferenciar vocês. O que custa você almoçar com ele?—Emilly argumentou.

—Sarah, diga a ele que eu aceito a primeira proposta.— avisei.

Terminamos de fazer a contagem e cada uma de nós fomos nos sentar com o ganhador do leilão. Caminhei nervosa para ele. Por que ele tinha o poder de me desconcertar? Por que eu não neguei? Sentei tensa em sua mesa, sentindo olhares sobre mim.

De uma coisa eu tinha certeza, realmente as pessoas deviam estar incertas se eu era AnneBell ou não, já que em alguns eventos públicos de anos atrás ela ainda vestia vestidos.

—O que o senhor quer?—questionei ríspida.

—Não vou almoçar aqui, quero só vinte minutos seus—retornou seco.

—O senhor vai pagar dez mil dólares por vinte minutos meus?—perguntei em dúvida. A nossa volta, o Sr. Joseph Newton nos olhava insistentemente.

—Eu não gosto desse tipo de lugar e não viria aqui se não fosse algo importante...Vim reforçar o meu pedido antes que seja tarde...Eu sei que você se interessa pela minha casa, sei também que qualquer mulher gosta de joias e riqueza, e isso eu posso dar. Case-se comigo. Largue o pobretão do Black.

—Eu não quero. Vou repetir para ver se o senhor entende Eu. amo.o.meu.noivo. Amo a vida que eu escolhi. Eu não quero me casar com o senhor...Por que eu?—Coloquei as mãos sobre a mesa e me inclinei, encarando-o.

—Por que você é atrevida, corajosa e ao mesmo tempo discreta. Eu gosto disso em você.

Abri a boca surpresa com a sinceridade que li. Fazia tempo que alguém não dizia esse tipo de coisas para mim. Os últimos elogios que eu ouvi foi do Jake, dizendo que eu sou boa, gentil e fácil de viver.

—Eu sei o que o senhor quer...Quem me ostentar como mais uma de suas conquistas.—Comi uma torrada com patê que estava sobre a mesa e notei que ele não havia tocado em nada. Ele sorriu, os olhos verdes e penetrantes bem alegres.

—Você é perspicaz... Mas não é exatamente isso...Eu não amo ninguém, e você é uma mulher bonita, cheirosa, tem a dianteira e traseiro bonitos. —Olhou-me com olhos insolentes.—É enchimento?—Mudou o olhar dos meus seios ao meu rosto. Enrubesci e olhei para os lados a fim de ver se alguém nos observava.

—Eu quero você todinha...Quero seu corpo, seu nome, sua companhia...Quero que você seja minha esposa. Em compensação, você ganhará uma casa, riqueza, obras de arte...—enumerou com a voz rouca e baixa. Eu suspirei, atordoada com a determinação e desejo que li nos seus olhos. Um arrepio me correu. Arrepio de indignação e repulsa...Claro.

—Chega, Sr. Cullen. Eu nem sei por que estou conversando com o senhor. Isso está fora de cogitação. Estou indo. O senhor quer que eu chame alguma outra organizadora para almoçar? Tenho certeza que a Jéssica está muito interessada.—ofereci seca e me levantei. Ele pareceu furioso.

—Não, Isabella. Eu já disse que não vou almoçar aqui. Espero que você não tenha que me implorar para casar-me com você. Até mais.

Ele saiu rápido do salão, e eu voltei para onde a Alice estava.

—O que aconteceu, Bella?—Alice perguntou.

—Ele estava sem apetite— menti.

Almoçamos juntas, mas eu estava distraída. Por que Jake não veio para o almoço. Será que aconteceu algo muito grave? Será que ele brigou com Annebell e descobriu, e agora não quer mais me ver? Preocupada, pedi que as meninas terminassem o evento, tomei uma carruagem e fui para casa.

Procurei Annebell, e ela não estava. Tomei banho e fiquei deitada, esperando dar seis horas, que era o horário que o Jake costumava vir. Com certeza ele esqueceu-se do evento.

Meus pensamentos voltaram-se ao senhor Cullen. Por que ele fazia uma proposta dessas? Eu nunca teria coragem, minha vida é o Jake. Estou com ele há tanto tempo que sei o que ele gosta de comer, como as roupas dele são passadas. O único problema é que eu não sinto nada físico quando nos tocamos. É quase como se fosse um incesto ser tocada por ele, o que futuramente poderia acarretar em dificuldades íntimas.

Por que olhar para aquele homem me faz sentir irritada e alerta, com vontade de descobrir mais de modo que não me sinto com Jake?

Ouvi Jake cumprimentando o Sr. Charlie no hall de entradas e fui ao seu encontro, dando um abraço de saudade. Annebell passou por mim a primeira vez nesse dia, desviando o olhar, sem cumprimentar o Jake ou o Sr. Charlie. Ela estava chegando da rua e seus olhos estavam vermelhos. Parecia ter chorado ou ter pego muito sol.

—Como foi o dia?—Jake beijou minha testa.

—Foi ótimo. Só não foi melhor por que você não apareceu. Esse ano arrecadamos o dobro do ano passado.—Informei e sorri ao lembrar o motivo.

—Pensei em você o dia todo, no seu beijo, seu cheiro—declarou apaixonado, me olhando com um novo olhar de fome. Ele me puxou para o jardim e me sentou em seu colo, enfiando as mãos em minhas saias e mordendo a minha orelha. Segurei sua mão reprovadora, ele puxou minha cabeça e começou a lamber meu pescoço de um jeito libidinoso e até nojento.

Empurrei-o e me levantei. Somente segundos, depois notei o que fiz, quando vi seu olhar descontente. Aproximei-me novamente.

—Hoje você não quer?—Puxou minha mão e me sentou em seu colo novamente, com um sorriso malicioso no rosto. Eu sorri sem graça, ele pegou minha mão e colocou sobre a sua calça, para sentir o seu membro enrijecido. Esquivei-me assustada, ele continuou com a língua lasciva em meu ouvido. Ele nunca foi tão ousado!

—Jake.—Murmurei, mostrando rejeitando-o.

Ele parou e me empurrou de seu colo, impaciente. Eu me levantei e sentei ao seu lado.

—Não vem não, Bella! Não vem me dizer que você vai voltar a ser a noiva frigida e púdica, que eu não vou aceitar. Eu quero você igual ontem. Eu não aguento mais esse papel que você encena! Chega, eu já aguentei demais. Dei o tempo que você queria, mas depois de ontem eu não vou mais voltar atrás!— salientou sério.

—Ontem eu estava melhor?—ciciei ausente, as vistas escurecendo de horror e medo.

—Muito melhor! Melhor do que todos os anos que passamos juntos. Ontem você me mostrou que pode ser uma mulher quente, que pode ser diferente— destacou. —Eu sempre comparei você a Annebell. Como uma pessoa como ela pode ser tão explosiva e você tão fria. Tinha que ter sobrado pelo menos um pouco de calor para você, e ontem você me mostrou que podia ser assim— expressou a seguir levantou e me abocanhou com um beijo molhado e repulsivo.

Abri a boca arfante, mostrando minha total rejeição. Ele novamente sentiu o desprezo na minha atitude e se afastou revoltado.

—Vai me dizer que não foi bom?—Olhou-me atento, estudando-me e se afastou um passo atrás.—Bella...Não tem como uma pessoa mudar de atitudes assim...Não tem como uma pessoa ser selvagem e quente em um dia e ser gelada e frigida no outro...—comparou com suspeita e passou as mãos nos cabelos—...Uma pessoa só não pode ter duas atitudes...Ontem era você, não era?—questionou em dúvida. Eu baixei o olhar, culpada. Ele olhou para o céu, horrorizado.

Congelei em estupor pela tragédia que se anunciava. Pude ouvir a voz longe da Annebell falando sobre os homens quentes da Califórnia. Senti tremores no meu corpo. O castigo caía sobre mim. Meu noivo agora desejava a irmã errada...ele queria a fogosa e tinha a frigida.

Jake olhou-me com ódio.

—Você não fez isso comigo, fez, Bella?—Inclinou-se para mim ameaçador.—Você não brincou com a minha cara assim...não, não, vocês...vocês...Vocês me fizeram de palhaço!—gritou, a voz enfurecida de ódio.—Vá para dentro! Eu não sou um moleque! Danem-se ambas! Espero que tenham se divertido me fazendo de bobo.

—Jake...—Aproximei-me dele, mas o seu olhar era hostil.

—Se sabe o que é bom para você, não diga uma palavra. Não sei o que deu em vocês para fazerem um jogo sujo desses, mas posso lhe dizer que não gosto de ser o alvo de tal brincadeira. Agora que você e sua irmã já riram bastante às minhas custas, tenho que decidir o que fazer com respeito à noite de ontem.

Ele saiu, e lágrimas brotaram em meus olhos. As dúvidas me atormentavam...Será que minha irmã se tornou acessível a ele? Por favor, não, acessível não! Subi correndo as escadas e abri a porta do quarto da Annebell tão rápido que quase coloquei-a ao chão.

—O que você fez? Diz para mim que você não dormiu com ele!—Empurrei Annebell em frente a penteadeira.

Ela abaixou o olhar e chorou.

—O que você fez, Annebell???—Gritei

—Fingi ser você.—Respondeu baixo, por entre lágrimas.

—Encarnou o papel mesmo, né?—Olhei-a sarcasticamente.

Passei minutos olhando-a, tentando me acalmar.

—Tudo bem, fui eu quem propus. Foram só beijos, não?

Ela continuou com os olhos baixos, ainda encostada a penteadeira e chorando.

—Não fomos ao jantar na casa do prefeito...A ideia dele não era essa...Ele alugou um quarto, encheu ele de pétalas, velas e fez um jantar...com champagne e salmão...— Disse entre soluços.

—O Jake fez isso?—Duvidei sem acreditar que o meu noivo estava de planos de me seduzir.—Você se entregou a ele?—arfei, a cabeça girando.

—Bella, foi você quem dormiu com ele. Eu era você e eu só cumpri o seu papel. Você sabia que tinha esse risco. Se vocês são noivos, eu tinha que cumprir o seu papel—argumentou e olhou-me incerta.

—Eu nunca dormi com ele, Annebell! Você que é uma mulher fácil, vai para a cama com qualquer um.

—Não! Eu nunca fui para cama com ninguém—garantiu. Abri a boca mais chocada. Ela caiu em prantos.

—E o que te levou a ir com ele?

—Eu pensei que vocês...—Ela parou e me olhou—...Também tinha aquele champagne que ele me

deu...E ele me beijou daquele jeito.—justificou com um murmúrio assolador.

—Ah...quer dizer que tudo escurecei e você viu estrelinhas—zombei amarga.

—Desculpe, Bella.—Ela escondeu o rosto.

—Fala tudo o que você sentiu—exigi séria, querendo me torturar com detalhes.

—Eu vi estrelinhas— confessou sem jeito. —Meu corpo ardeu, fiquei sem ar, tudo girou. Nunca pensei que alguem tão idiota como ele tivesse beijos tão quentes. —cobriu a boca. Eu olhei-a cética, atordoada.

Nunca senti isso por Jake. Não sabia se ria da situação ou se chorava de frustração. Aproximei dela.

—Tudo bem, Annebell, o Jake amanhã vai estar melhor. Ele não vai abalar uma relação de anos por causa de uma brincadeira. Amanhã eu converso com ele.—Abracei-a por minutos, então deixei o seu quarto, exausta com o dia longo.

—Te amo, Bella. Me perdoa, tudo vai ficar bem.

Desci para o meu quarto cheia de dúvidas. Sempre amei o Jake, mas não seriam champagnes que mudaria tudo o que eu sinto com relação ao seu corpo... suspirei resignada, esperando que ele esquecesse...São dez anos de compromisso e amizade...não seria uma noite que mudaria isso...será que mudaria?

Logo que amanheceu, ouvi os gritos do Sr. Swan embaixo. Arrumei-me e desci. Annebell estava sentada amuada num canto da sala assustada, minha mãe no sofá com aparência aflita. Registrei em câmera lenta o Sr. Swan em pé e o Jake em sua frente. Jake não olhou em minha direção.

Prendi o fôlego ao intuir o que acontecia.

—Essa cadela, imoral! Desrespeita a família. Ela não merece isso, Jake! Fique com a outra!—pediu o Sr.Swan, vociferando perjuras a Annebell. Eles agiram como se eu não estivesse presente.

—Está decidido, Sr. Swan. Me casarei com ela em duas semanas, avisarei no salão sábado.

Sem me cumprimentar, Jake se virou e foi embora.

—Bella, quem foi responsável pela brincadeira?—inquiriu minha mãe tristonha.

—Fui eu, mãe—admiti constrangida e subi as escadas novamente.

—Bella...Me perdoe...—Annebell murmurou, aos prantos.

Não olhei para trás. Ergui os ombros com dignidade e terminei os degraus como se estivesse fora do corpo. Dentro da seguridade do meu quarto, joguei a moldura com o diploma do curso de damas no chão, quebrando-o em mil pedaços. Eu não consegui chorar, estava entorpecida, fria, como se meu corpo tivesse perdido a vida. Negava-me a ver Annebell, a mágoa por tudo, por todos os anos perdidos, pela vergonha.

Cinco dias se passaram, então amanheceu o dia em que seria anunciado no salão a decisão do Jacob. O sol estava ensolarado e quente, mas nada conseguia aquecer a frieza que eu mantinha na alma. Era sábado de manhã e uma vez por mês havia um encontro de pessoas importantes, onde era feita uma reunião inicial sobre benfeitorias na cidade e propostas futuras de infraestrutura. Para uma cidade pequena, era um evento. O mais importante é que as pessoas se reuniam e conversavam.

Com todo o orgulho ainda existente, apoiei meu braço nos braço do Sr.Swan e entrei no salão. Minha mãe não teve forças para vir testemunhar a minha humilhação publica. Jake estava na porta quando cheguei, estendeu a sua mão para mim.

—Minha Bella...—murmurou baixo. Eu não olhei para ele. Agora ele consegue nos diferenciar?!

Desviei a direção, mantendo a cabeça erguida, sem cumprimentá-lo. Sentei-me ao lado do meu padrasto, magoada por sua decisão. O Sr. Swan empurrou a Annebell em direção a ele.

A reunião, que às vezes achei tão chata e demorada, parecia voar, porque eu sabia que no final o anúncio seria feito... E veio muito mais cedo do que eu pensava.

—Agora, tenho um anúncio para fazer—Disse o prefeito em tom humorado—Parece que nosso Jacob Black mudou de opinião sobre com qual gêmea se casar, e agora está noivo de Annebell. A data do casamento está mantida. Parabéns novamente, Jacob.

Houve cochichos e olhares furtivos em nossa direção, mas eu não abaixei a cabeça. Logo as pessoas começaram a rir e soltar piadas. Ergui os ombros aflita ao ver o olhar maldoso de Jéssica e surpreso de Emilly, prontas a me cobrir de perguntas. Suspirei. Elas não iam deixar passar isso, iam abordar-me na porta e não iam deixar-me respirar.

Todos levantaram-se para sair.

—Bella, por favor—Jacob abordou-me, pegando em meu braço—Preciso falar com você—implorou com olhar suplicante, mas eu não queria ouvi-lo. Não havia nada que ele pudesse me falar que aliviasse minha humilhação.

—Não temos nada para falar. Você tomou a sua decisão...—sibilei para ele.—...Quando me disse que não queria a mulher frigida e gelada de volta, disse tudo—assegurei com o olhar gelado em sua mão no meu braço. Ele retirou a mão. Eu ergui o queixo e sorri para as pessoas em volta.

—Bella, vamos para algum lugar isolado—Jake insistiu. Se eu não estivesse tão magoada sentiria compaixão.

—Vá para a sua futura esposa—demandei amarga, sem ocultar o misto de cólera, angustia e dor em minha voz.

—Bella, por favor—implorou ele e pegou em meu braço novamente.

—Se você não tirar sua mão de mim, gritarei...E não me faça fazer isso. Não quero sofrer mais embaraço do que já me causou.—pedi entredentes, tentando disfarçar das pessoas a nossa volta.

—Jacob— disse Swan. —Annebel está te esperando.

Jake afastou-se com relutância de mim, pegou o braço de Annebell, empurrou-a para sua carruagem e partiu, afastando-se rapidamente. Eu não consegui descrever o que eu senti ao vê-la saindo com ele...Não era ciúme... Talvez orgulho ferido.

Logo que fiquei sozinha, aconteceu o que eu mais temia. Todas as mulheres me rodearam como abutres, afastando-me do Sr.Swan que me protegia. A maioria dos rostos mostrava preocupação, outros, curiosidade, e alguns, humor. Em geral, as mulheres estavam intrigadas.

—Bella, o que aconteceu? Pensei que você e Jake fossem tão felizes...

—Como pode Jacob querer Annebell? Eles brigam constantemente.

—Bella, há mais alguém?

Fechei os olhos com uma leve tontura, sentindo que iria me deprimir.

—As senhoras estão muito certas— ouviu-se uma voz de trovão sobrepondo o barulho. Todas olharam para trás de mim. Reconheci a voz e virei o rosto lentamente. Edward Cullen. Nunca o ouvi falar em público, pois sempre se manteve fora do contato com as pessoas. As mulheres olharam pasmas para aquele homem enorme em suas roupas grosseiras, barba por fazer. Ele abriu caminho no meio delas.

Ninguém estava mais surpresa do que eu. Seus olhos me encontraram cheios de algo que registrei como posse. Um sorriso de canto enfeitou seu rosto.

—Oi, minha querida— cumprimentou-me carinhoso e beijou o dorso de minha mão—Sinto não ter vindo mais cedo, pois poderia ter me sentado com você... Perdoe-me, amor. Sei que prometi manter nosso segredo ainda algum tempo, mas não podia ficar quieto depois que o bocudo do Black abriu o bico e contou a todos.

—Segredo?—indagou Jéssica estupefata.

Edward envolveu o braço em minha cintura, apertando-me ao seu lado.

—Bella desmanchou o noivado com o Jacob porque se apaixonou perdidamente por mim. Senhoras, ela não pôde evitar.—Deu uma piscadela, sorrindo e olhou-me com olhar acolhedor.

—Quando aconteceu isso?—Jéssica perguntou. As palavras me escaparam. Respirei fundo para acalmar minha respiração e desanuviar o cérebro. Olhei-o incerta e me aproximei mais dele. O calor do seu corpo me passou segurança e acalmou as batidas do meu coração.

—Começou quando o Sr. Cullen e eu jantamos juntos em sua casa — murmurei baixo, apoiando a cabeça em seu ombro. Por mais que mais tarde eu me arrependesse de cada palavra, apoiei-me na misericórdia que ele oferecia. O meu amor próprio ficaria íntegro depois do golpe de ter sido trocada publicamente por minha irmã.

—Mas e o Jacob?—Perguntou Emilly ainda incrédula.

—Jacob consolou-se com o amor da querida irmã de Isabella, Annebell— explicou Edward arrogante, com o olhar fixo em mim.—E, agora, senhoras, precisamos ir. Espero que todas venham ao casamento. Um casamento duplo, dentro de duas semanas—anunciou e empurrou-me em direção da carroça velha. Caminhei em estupor, sem dar conta dos meus movimentos. Sentei-me rígida na ponta do banco de madeira e deixamos o salão. Registrei quando ele parou a carroça no começo de sua propriedade. Ele levantou os braços para ajudar-me a descer.

—Você e eu temos que conversar—avisou num tom firme e autóritário.

Assenti ausente, com os pensamentos confusos e aéreos para oferecer resistência.

—Eu teria vindo ao salão para sentar-me com você, mas tinha um trabalho para fazer. Parece que cheguei lá bem na hora. Mais um minuto e aquelas aves de rapina a comeriam viva. Me desculpe—pediu atencioso. Eu olhei-o sem entender o que ele dizia. Até esta manhã, tinha esperança de que tudo fosse um pesadelo, que acordaria e Jacob ainda seria meu noivo.

—Você não está me ouvindo? O que há com você— parou preocupado em minha frente.

Os sons da cascata roubaram minha atenção. Ouvia o barulho como se estivesse entorpecida e no meu ouvido tivesse algodão.

—Não há nada...Só estou me adaptando ao mundo real depois da humilhação...—expliquei ausente. Voltei o olhar a ele. Ele estava sério—Desculpe...O senhor me ajudou muito...Aliás, se não fosse o senhor a humilhação seria maior.

—Bella, você prestou atenção no que eu disse lá? Você agora é minha noiva. Eu convidei todas elas para o nosso casamento duplo em duas semanas, aqui na sua futura casa.—Ele apontou para a mansão. Eu sorri triste.

—Obrigada, Sr.Cullen—falei baixo, ainda suspirando.—O senhor foi um ótimo cavalheiro. Me salvou de uma exposição ainda maior. Por pouco não gritei de desespero.

Ele jogou a cabeça para trás sorrindo, pegou o meu rosto e acolheu em seu peito.

—Você é a mulher mais perfeita e linda que já encontrei! Se não casar comigo, o que vai fazer? Você acha que outro homem da sociedade de Forks vai querê-la? Eles têm medo do clã dos Black. Ou você acha que Mike Newton vai querê-la?

—O Mike?!—repeti sem entender. —Por que o Mike deveria, como disse você, me querer?—questionei tranquila, sem me alarmar por ele começar a acariciar minha nuca com dedos calosos. Seus dedos embrenharam-se no meu coque e desalinharam o coque folgado. Seu sorriso era alegre e encantador.

—Por que não quer se casar comigo? Sou rico, tenho uma casa enorme, e você acabou de levar o fora e não tem nada mais para fazer— argumentou como se fosse um negócio. Afastei-me dele para olhar seus olhos. Eram verdes e profundos. Esqueci momentaneamente Jacob e Annebell enquanto o observar seus traços. A boca era perversa, mas tinha um sorriso cálido.

—Porque não tenho amor por você, além disso, não o conheço—elucidei prática. —Pelas histórias que contam, você pode ser um delinquente... E com algumas atitudes suas, sou levada a acreditar nisso. Você pode já se ter casado dez vezes e trancado suas esposas no porão —destaquei firme então baixei o olhar para sua blusa xadrez. Sua roupa grosseira o fazia pouco combinar com meu traje de dama. Dei outro passo para trás.

Ele olhou-me boquiaberto.

—E isso que você pensa de mim? Escute, senhorita...—Aproximou-se novamente, rompendo a distância.—...Eu não tive tempo para me casar com ninguém. Desde os dezesseis anos, quando Joseph Newton me pôs para fora, tudo que fiz foi ganhar dinheiro. Durante três anos, quase não dormi. E você vem dizer que eu teria tido tempo para me casar com dez mulheres!—explicou indignado, o rosto inclinado para mim.

—Posso estar enganada—afastei seu peito tentando apaziguá-lo. Ele não se moveu, olhou minha boca e segurou meu queixo.

—Sabe... —Baixou o tom. —Você é a mulher mais bonita que já vi em minha vida—declarou, puxou minha cintura contra ele e cobriu minha boca com um beijo. A outra mão espalhou meus cabelos e prendeu minha cabeça para que sua língua áspera e quente invadisse minha boca sem gentileza.

Congelei estática, sentindo-me invadida. Seus braços fortes me prenderam como se eu fosse uma boneca de pano. Um impulso desconhecido me fez abrir mais a boca e passear a ponta da língua, experimentando o sabor. Sua boca era quente, a língua ousada e experiente. Anos beijando o Jacob, eu nunca tinha sentido desejo de participar, de explorar o gosto de um homem. O beijo foi inesperado, rude, desrespeitoso e trazia calor do meu pescoço a barriga.

Sua boca exigiu mais, sugando minha língua para seu interior. Seu corpo duro moldou-se ao meu, me apertando nele. Aquilo não era o beijo refinado entre um cavalheiro e uma dama, mas algo mais parecido com o que eu imaginava ser um beijo de uma meretriz. Não me importei. Eu queria esquecer tudo.

Tão abruptamente como começou, ele me empurrou e senti-me cambalear sem forças nas pernas. Sua mão voltou à minha cintura e ele me encarou com um sorriso presunçoso.

—É, senhorita, se você me beija desse jeito, ainda estando apaixonada pelo Black, pode ter certeza que eu consigo viver sem o seu amor— declarou cheio de si. Eu não respondi, ainda ofegando por ar e confusa com o que aconteceu. —Vou levá-la de volta agora e pode começar a planejar nosso casamento. Compre para você tudo que precisar. Colocarei dinheiro no banco para você. Quero muitas flores no casamento, portanto faça com que as mandem. Encomende-as um vagão de trem da Califórnia se quiser, ou venha olhar o que tenho na estufa. E nós nos casaremos em minha casa. Quero que a cidade toda compareça—informou diligente.

—Sr. Cullen, eu ainda não disse sim— argumentei fraca, prendendo meus cabelos novamente enquanto andava atrás dele pelo jardim.—Por favor, Sr. Cullen, dê-me mais um tempo. Eu ainda não esqueci o Jacob—expliquei ansiosa. Ele virou-se e tocou em meu rosto, inclinou-se e beijou minha bochecha.

—Não me importo. Vou te mandar um anel de noivado. Do que é que gosta? Diamantes? Esmeraldas?

—Esmeraldas—respondi distraída, ele sorriu e voltou a andar.—Senhor, me dê mais um tempo. Não posso decidir nada tão de repente.

—Não será de repente. Você tem duas semanas para se habituar a ser minha esposa. É muito tempo.

—Sr. Cullen...—Tentei mais uma vez ser ouvida—...Alguma vez o senhor ouve o que as outras pessoas dizem?

Ele olhou-me de canto e sorriu com malícia.

—Não, nunca, lindona. Foi assim que fiquei rico. Se vejo alguma coisa que queira, vou atrás dela e não aceito argumentos contra.

—Eu sou a coisa seguinte na lista das coisas que quer?—perguntei calmamente.

Ele sorriu e piscou.

—Minha atual prioridade. Bem em cima, junto com um prédio de apartamentos em Nova Jersey que pertence a Mackenzie e que eu quero. Agora, vou leva-la para casa, a fim de que possa falar a meu respeito com sua família e colocar-me no lugar de Black. Ah, ele vai se arrepender! Ele conseguiu uma Forks, tudo bem, mas eu consegui a verdadeira dama.

Voltei para casa ainda em minha nuvem de algodão de entorpecimento. Não trocamos palavras. Ele tinha um sorriso triunfante no rosto e assoviava. Quando descemos, ele me deu um beijo no dorso e olhou-me.

Pisquei atordoada diante do seu olhar verde musgo. Meu coração estava mais acelerado e a boca seca. Eu me sentia fora do corpo e completamente desconhecida.

—Eu não costumo ter tempo—disse ele. —Caso precise de dinheiro, ligue para o Jasper, e ele mandará para a sua conta—demandou, apertou minha bochecha e sorriu. —Até mais, lindona.—Deixou-me parada na porta da minha casa e saiu acelerado. Eu balancei a cabeça e tentei me reorientar, aturdida como se tivesse passado por um tornado.


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Notas finais do capítulo

Oi!!!Leiam a minha fic que já está quase no fim.Entre o amor e o poder.mandem reviews.