Winter Soldier - Retomando o Passado escrita por Vendetta23


Capítulo 2
Trevas




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A noite já caiu, é melhor parar em um posto de gasolina pra abastecer. Eu encosto e olho para os lados, puta merda, eu tenho certeza que tem alguém me seguindo. Antes de sair do carro, observo o comportamento de uma mulher que rondava o posto, mas ela não parecia suspeita, terminou a garrafa de vodka que ele estava bebendo e logo foi embora se segurando pra não cair dos saltos. Subo o capuz do casaco, saio e pago a bomba para encher o tanque. Dou uma olhada na loja de conveniência, ela parece vazia e eu daria tudo por uns cigarros. Atravesso o posto, agora deserto, e entro na loja. Lá dentro, dois homens me olharam torto, mas logo retomaram a conversa.

“Então, eu disse que ele iria sobreviver” disse um alto de boné vermelho, abrindo o refrigerador de bebidas. Fingi estar olhando algumas revistas na prateleira detrás deles.

“Mas ele se machucou feio” o cara baixo grunhiu, tirando uma nota de 5 dólares do bolso e esticando-a para o outro.

“Tanto faz, eu ganhei” o amigo pegou a nota com um sorriso de satisfação. Me virei para o balcão e passei os olhos pelos cigarros que eles tinham, mas uma TV sem som chamou minha atenção, colocada em cima do display de cigarros, ela mostrava imagens da destruição de boa parte de Washington intercaladas com os comentários de uma jornalista. Então começaram a exibir imagens da fachada de um hospital e filmes amadores de pessoas que estavam na emergência do hospital no momento no qual o Capitão América, digo, Steve, acho, chegou numa maca, ele sangrava muito pelo abdômen. Abaixo os olhos, olhando minhas mãos, eu fiz isso?? Percebo que fiquei tempo demais olhando a TV quando percebo os dois caras que tinha visto reclamando que eu estava no caminho para o caixa. Sinto o sangue escorrer de um corte na minha sobrancelha, saio da loja sem levar nada.

No carro, meu peito dói e minha cabeça gira. Passo pela placa que indica uma cidade qualquer, não consigo ler o nome, mas viro na primeira entrada. Sigo pela cidade que, assim às escuras, parece fantasma, construções em ruínas e grandes galpões de metal insinuam que a cidade cresceu ao lado de um complexo industrial, agora muito distante da importância que teve no passado. Encosto na frente do primeiro hotel que avisto, o letreiro de Ambers’ Hotel tinha as luzes do H e do L queimadas, mas deve dar por hoje. Checo o retrovisor em busca de algum carro, qualquer coisa, por que ninguém está atrás de mim? Eu quase matei o Capitão América, sem falar de muitas outras pessoas que eu realmente apaguei. Então o sangue que escorria dos meus machucados não parecia mais meu, merda. Saio do carro batendo a porta e levando comigo o dinheiro que estava no porta-luvas.

No hall de entrada, pedi um quarto por aquela noite e saí de vista assim que recebi a chave, rezando para que a mulher que cuidava da recepção não tivesse percebido meu estado, a estranha forma do meu braço, ou qualquer outra coisa. Subi as escadas até o terceiro andar e não parecia ter ninguém além de mim naquele hotel. Ótimo. Fechei a porta do meu quarto, cedi ao cansaço das minhas pernas e à dor, me sentei na cama. Eu deveria voltar. De que adianta eu ir atrás desse cara? Se ele fosse meu amigo ele não deixaria a minha cabeça ficar assim, eu me sinto tão confuso, eu estou com medo. Há quanto tempo eu não sinto medo? Eu só seguia ordens, eu tinha uma direção, e agora eu não sei que porra eu vou fazer, a única coisa que eu sinto é terror. Eu cheguei ao fundo do poço, um soldado sem missão. Os olhos daquele cara, eles me confortam, eu não sei por quê. Ele largou a porcaria do escudo na minha frente, enquanto eu estava atacando ele, não pode ser uma brincadeira, ele realmente achou que eu não iria mata-lo.

E eu não matei... Que merda, o que isso quer dizer?

A parede amarelada do quarto foi a minha vista pelo que pareceram muitas horas. Eu estou fervendo de febre, é isso, eu estou alucinando. Me arrasto até o banheiro me livrando do casaco e da calça no caminho, a água suja da torneira é um breve alívio no meu mar de dor. Passo a mão no espelho limpando o pó, tentando fazer com que meus olhos não se encontrem com seu reflexo, eu não quero me ver, observo os cortes profundos no meu rosto, os hematomas espalhados pelo meu peito e meu ombro, inchado e roxo aonde Steve o torceu. Eu pareço um lixo. Checo todas as funções do meu braço, pelo menos ele não está inteiro, me viro para o quarto novamente, apago a luz no caminho para cama e me deixo cair nela.

Algo me chama, uma voz no escuro, não consigo mais dizer se estou sonhando ou se estou acordado. A sigo por muito tempo, as trevas me seguindo, num lugar tão negro é fácil perder seu caminho, mas ela vai ficando cada vez mais clara, então ela para. Ouço-a agora como se ela estivesse sussurrando no meu ouvido:

“Estou com você até o fim” E não me sinto mais sozinho.


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