Winter Soldier - Retomando o Passado escrita por Vendetta23


Capítulo 13
Verão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/494283/chapter/13

Eu poderia ter me forçado a dormir. Me separado de todos aqueles pensamentos se revolvendo na minha cabeça, me desligado como uma máquina, sentindo nada mais que aquele reconfortante vazio no peito, como se meu coração estivesse frio e parado como esteve durante todos esses anos. Mas eu continuava observando as ondas da luz azulada que entrava pela janela mudando inúmeras vezes, formando desenhos confusos mas harmoniosos cujo significado eu sentia que, em algum lugar aqui dentro, eu compreendia, mesmo que não fossem comandos. Não, não eram algo que poderia ser traduzido em palavras.

No meio do caminho, a apenas alguns centímetros da pele dele, eu poderia ter retraído meus dedos, freado meu braço, ordenado meus músculos que parassem de tremer, que a saliva voltasse a umedecer a minha boca, que meus olhos parassem de percorrer cada centímetro de seu corpo, e que meu coração voltasse para o lugar.

Mas, por algum motivo, não fiz nada disso.

Virei-me lentamente, apoiando meu ombro no chão, e passei meus dedos o mais suavemente que pude em seu rosto, pele com pele, metal nenhum iria ficar entre nós de novo, metal nenhum faria os batimentos do meu peito pararem assim que o toquei.

Por algum motivo eu cheguei mais perto.

A cor avermelhada dos seus lábios eram a promessa de um verão que eu nunca vi chegar. Meus cabelos caíram em seu rosto e eu parei assim que nossos lábios roçaram.

“...” eu vi o brilho dos olhos de Steve surgir no escuro, e a expressão inicial de surpresa foi tingida por algo calmo e profundo “... Bucky”

Eu devia dizer alguma coisa?

Milímetro por milímetro eu me aproximei, só deixando de olhá-lo nos olhos quando nossos lábios se juntaram. O ar nas nossas respirações se confundiu no meio daquela ação que eu tomei porque quis, um movimento sem necessidade de relatório, sem castigo. Os tapas se transformaram no deslize suave da mão dele no meu rosto e cabelos, os sufocamentos em beijos úmidos quando sua boca desceu para o meu pescoço, os chutes na pressão de sua mão na base das minhas costas me puxando pra perto, as chicotadas nos arranhões leves que suas unhas deixaram na minha pele ao tentar tirar a minha camiseta.

Eu me ergui por um segundo, retomando o fôlego. Nenhum de nós disse uma palavra, o diálogo estava sendo travado no ar e eu não conseguia captar uma sequer sentença. Um aperto começou a surgir no meu peito, eu sentia culpa e vergonha, medo. Eu buscava qualquer indicativo em seu rosto de que eu não tinha feito nada de errado, mas o escuro só tornava mais terríveis as sombras que eu mesmo projetava e logo pensei ter visto uma faísca de raiva em seus olhos. Eu me imaginei como um daqueles garotos do bairro que tiravam proveito de Steve e essa imagem me embrulhou o estômago. Então mais do que perseguir aquele desejo, eu senti a necessidade de começar a pedir desculpas segurando a mão dele e apoiando minha testa na pele quente.

“Está tudo bem” ele sussurrou, cada palavra quebrando um pouco mais a figura do garotinho assustado em contraposição ao monstro no quarto. Ergui a cabeça de sua mão, o suor escorrendo pelas minhas costas, ele não tinha envelhecido um só dia em todo esse tempo e ainda assim era incrível como ele tinha mudado.

“... Está?” eu perguntei, me lembrando do quanto eu mudei também. Antes eu tinha certeza absoluta de como ele me via, como o amigo que invariavelmente estaria do seu lado, o herói de guerra, o bravo e inquebrável Bucky. Mas agora todas essas verdades absolutas haviam ruído, eu fui contra ele em campo de batalha, o mais mortal soldado da HYDRA, a minha mente destrinchada em mil pedaços. Eu sei muito bem o que eu vejo quando me olho no espelho, e meu maior medo é que ele veja essa figura derrotada também.

Ele não respondeu, só ergueu seu tronco do chão e se sentou com pernas cruzadas na minha frente. Uma corrente de ar fresco entrou por uma fresta da janela, fazendo a cortina balançar e a luminosidade dançar em seu rosto, eu não sei se enxerguei um sorriso ou se meu nervosismo e confusão estavam alterando as coisas ao meu redor. Uma sensação fria e cortante penetrou minha espinha, por um momento em temi por ele, porque eu senti que ia perder a minha cabeça. Eu gostaria de saber o que está acontecendo, por que meu peito dói desse jeito.

“Está” ele disse olhando para o chão, depois lentamente passando os olhos por mim até encontrar os meus “E vai estar até o fim, eu posso te prometer isso”. Mas eu não compreendi o que ele disse, a confusão na minha cabeça girava entorno de uma só ideia, e tudo o que eu fiz girou entorno de executá-la. Durante aqueles poucos segundos eu só pude rezar em silêncio para que ele me visse de uma forma diferente da qual eu me vejo. Que ele não enxergasse que uma sombra se arrastava para cima dele, mas sim um homem, não pensasse que mãos manchadas de sangue puxavam seu cabelo, mas mãos quentes, não sentisse medo do assassino e sim desejo por mim como eu sou, tendo o controle da minha cabeça de volta. Me ergui e estiquei o meu braço, o de carne e osso, na direção dele. Um convite. ‘Por favor, não me veja como eu me vejo’ meus dedos começaram a tremer ‘Só você pode mudar isso’.

Ele pegou a minha mão, a fria, segurou-a mesmo que eu tentasse escondê-la. Eu suspirei de alívio e o puxei, segurei seu tronco e novamente o beijei, de novo e de novo até levá-lo ao pé da cama, quando coloquei a mão em seu ombro suavemente, sugerindo que ele sentasse. Ele foi recuando para os travesseiros enquanto eu subia em cima dele, nossos olhos não deixavam de se encontrar por um segundo sequer, e eu senti que nada havia mudado. Como se nós estivéssemos fazendo uma brincadeira de infância, naquele momento parecia que a HYDRA nunca havia existido, assim como a queda do trem, ou a guerra, ou a fome, ou as brigas de escola. Parecia que nenhum de nós havia vivido o suficiente para nos transformarmos em sombras assustadas demais para sair do quarto, eu me debrucei sobre o peito dele para ouvir o coração batendo acelerado. Não de medo. Subi para o pescoço dele. Mas de alguma coisa que eu não conhecia. Mordi o seu lábio e segurei o quadril dele com a mão esquerda. Conhecia?

Eu me sentia no mar em meio a uma tempestade. Meu cérebro pensava em coisas que antes eu bloquearia, e novas ideias e desejos iam surgindo à medida em que nossos corpos se entrelaçavam buscando um ao outro. No meu peito despertaram sensações há muito adormecidas. Eu só não estava me afogando porque cada som que Steve fazia, cada toque, me traziam para a superfície de novo. Ele mordia o lábio e às vezes ria, ou segurava o meu cabelo e franzia as sobrancelhas, soltando um suspiro. Eu fui cavando cada vez mais fundo no que fazia ele reagir assim, e logo eu senti aquele calor do meu peito subindo, se transformando em um gemido. Parei por um segundo, desviando os olhos de Steve, nossa, isso foi muito alto. Ele riu e segurou meu rosto com as duas mãos, me puxando pra perto. Tudo isso é tão surreal, eu nunca... Ele se virou de costas para mim, deitado na cama, e interrompeu meus pensamentos.

“Bucky” ele buscou a minha mão atrás dele e segurou firme “Me faz sentir como se estivéssemos no Brooklyn novamente, por favor” ele arquejou, foi como se aqueles cem anos que ele perdeu voltassem a pesar nas suas costas. Eu pousei a outra mão na base das suas costas e me debrucei sobre o ouvido dele.

“Nunca saímos de lá...” eu sussurrei. Lentamente, eu inseri minha alma dentro dele, parando ao mínimo sinal de dor, e continuando quando ele pedisse. E eu acreditei que o que eu tinha acabado de dizer era a mais pura verdade.

Os primeiros raios da manhã atravessavam as costas nuas de Steve quando começávamos a pegar no sono, quando lentamente a realidade ia perfurando aquele momento e fazendo a minha cabeça doer. Prendi uma risada na minha garganta, que idiota, como eu pude ficar brincando desse faz-de-conta como se nada tivesse acontecido? Como se Steve tivesse lido meus pensamentos, ele rolou na cama e pousou a cabeça no meu peito, murmurando algo, meio dormindo, meio acordado:

“Vai ficar tudo bem” ele suspirou, os dedos dele se encontraram com os meus e se fecharam entorno da minha mão. Espero que ele esteja certo, porque, por isso, eu vou fazer de tudo para que ele esteja.

‘Acorde’.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Galera, eu sei que eu nem posso me redimir da demora insana pra postar esse capítulo mas agora eu sinto que eu tenho mais coisas a acrescentar à história sem que ela fique redundante. Muito obrigado aos leitores por acompanhar! :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Winter Soldier - Retomando o Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.