Ian estava acabado. Estava andando pela floresta por horas, ele achava.Morria de cansaço e estava perdido...

–Que ótimo!Estou perdido em uma floresta há umas duas horas!Eu preciso descansar.

Ian procurou o lugar menos sujo que podia, e se sentou. Depois de uns cinco minutos,começou a ouvir um barulho.Parecia...passos.eles foram ficando cada vez mais perto...Até que...

–Iansínio!Não temos tempo para brincadeira nem descanso. E não é que o que elas me disseram era verdade?Você realmente está mais corpo-mole que antes.

Era ela.

Ela,em carne e osso.

Era ela mesma.

Natalie...

Estava deslumbrante, com certeza.Usava uma roupa simples(Pelo menos na categoria simples de Natalie Kabra);uma blusa salmão,com um bolero branco;uma saia branca até o meio das coxas,e uma boina e bota vinho.Seu cabelo liso estava solto,na altura dos ombros,e tinha uma franja reta na testa.Sua voz já tinha voltado ao seu normal agora.

–Natalie... É... Você...

Parecia que Nat iria dar mais uma patada sarcástica, mas mudou de idéia assim que olhou para seu irmão. Ficou em silêncio por um tempo, o encarando. Por um instante, parecia que ela iria desabar. Mas logo voltou ao normal.

–Sim , Ian...sou eu...

–Essa sua franja... Você tinha cortado logo antes de... Quando você... Você...

–Morreu?

Ian fez uma careta de dor horrível naquele instante.

–Hã... Não precisa... Usar essa... Expressão... Se não quiser...

–Ian... Sempre foi assim, não é?Nunca dizia o que sentia, mesmo se fosse vital.

–Como se você não fosse assim também- Ian retrucou.

–ESCUTE AQUI... Quer dizer... Eu não posso ficar zangada, mas com ele assim vai ser difícil, né?Esqueça. Bom, vamos?

–Anh?Vamos?Vamos aonde?-Ele ainda estava constornado pela aparição de Nat.

–Ora, onde acha que vamos, Ian?Eu quero muito colaborar, mas assim fica difícil.Você sempre soube que eu sou impaciente.

–Ok, e você sempre soube que eu detesto fazer as coisas sem entender, mas é tudo o que eu tenho feito ultimamente.

Ela começou a rir.

–Então Evan, Irina e Hope não colaboraram com você, foi?

–Só você sabe como eu funciono para esse tipo de coisa,não?

–Só eu e a Amy, você quis dizer?

Ele fez uma cara de desconforto, mas assentiu lentamente.

–Tudo bem, prometo que irei tentar ao máximo te deixar confortável- Disse ela de forma claramente falsa e sarcástica.

–Ótimo-Ele continuava sentado,calmo, parecia esperar por algo.

–Vamos, Ian!

–Não até você me explicar que está acontecendo.Tim tim por tim tim.

–Como é?-Ela o olhou incrédula.

–Isso mesmo, senhorita Natália.

Ela odiava quando ele a chamava de Natália.

–Por que acha que eu ira fazer isso, só, porque você está pedindo, Iansínio?

–MEU NOME NÃO É IANSÍNIO!

–E o meu não é Natália!Agora pare de gritar e ande logo!

–Não vou!

–Ande, Ian!

–Nananinanão.

–ARGH! IAN!

–Não, Natalie!Você sempre me convenceu de fazer o que você quer, mas agora não, hoje não.

Ela parecia que ia esganá-lo. Mas se segurou.Respirou fundo algumas vezes,e disse:

–Por que você obedeceu direitinho as outras duas e não obedece a mim?

Por que eu gosto de você. Sou íntimo de você, porque obedeceria alguém íntimo?deveria considerar isso como um elogio.Além do mais, sei como ssas visitas fncionam, já estou acostumado.Você vai me mostrar sei lá o que, e depois vai embora. De novo.Pensou.Mas não disse nada disso.Em vez,falou algo que não era exatamente mentira, só não contou todos os fatos.

–Oras, é obvio!Eu obedecia a Irina pois, bom, você conhece ela.Se eu não o fizesse,era capaz dela me jogar algum tipo de veneno.A Hope,pois eu nunca tinha visto aquela mulher na minha vida, e achei um tanto sinistro alguém com a cara de Amy com aquele gênio maluco.E eu nunca,NUNCA,eu digo nunca,obedeceria a Evan Tolliver.E também não vou obedecer minha irmã mais nova.Sei o que pode fazer,Natalie, mesmo se estiver com alguns poderes sinistros fantasma.Sei quem é você, sei como é.Não vai me machucar.

–Duvida?

–Não preciso. Não vai tocar um dedo em mim, não para deixar algo realmente grave.

Ela então deu um sorriso... como dizer...um sorriso digno de um Kabra.

–Tem razão, maninho. Tem toda a razão.Não posso te machucar.Mas posso fazer isso.

Ela estalou os dedos, então um buraco negro surgiu no ar. Ela então empurrou Ian com a maior força que pode. Ele caiu com tudo em um chão cheio de neve.

–AI! NATALIE!Você tem sorte de a neve amortecera queda e... peraí, neve?

Ian se sentou e olhou em volta. Estavam perto de uma casa de campo, toda coberta de neve. Não existia mais floresta ali.

–M-mas... Cadê as árvores e... Que neve toda é essa?

Ela se sentou ao lado dele.

–Vamos lá, vou te explicar tudo bem detalhadamente... Também sei como você é, e provavelmente não vai colaborar até eu te dizer.

–Com certeza.

–Embora eu ache que se eu mesma precisei vir... Não vai colaborar de qualquer jeito... Só não quero que fique zangado ou triste comigo- Ela sussurrou.

–O que disse, Nat?-Queria prestar atenção em tudo que dizia. Queria poder captar tudo, cada detalhezinho... Queria poder dar o carinho e atenção que devia ter dado e não deu.

–Anh,nada, esqueça.Bom,vamos lá,então.

Suspirou, e disse:

–Ian, à três anos que você mudou completamente.por mais que você nunca tenha sido um... Excelente exemplo... Mas no fundo era uma boa pessoa. Porém, com o término com Amy fez essa boa pessoa morrer. Também fez com que você fingisse que eu nem existia, e quando existia, era para ser alvo de seu ataques de raiva e sarcasmo.

Ian ficou completamente desolado. Ela não sabia o quanto que ele deu bronca em si mesmo, por um ano inteiro, só pelo tratamento que ele tinha dado à Natalie. Ela não sabia o quanto ele sofreu de arrependimento. Foi aí que ele percebeu que não iria adiantar de nada fazendo isso. Ela não vai voltar. Não irá voltar mais, Ian. Esqueça. Era o que ele disse a si mesmo durante dias. Ele não tinha certeza, mas achava que tinha sido ali, nesses dias, que o Antigo Ian morreu. Junto com Natalie e o amor de Amy. Basicamente,tinha sido por ali que tudo que Ian amava, acabou.

Natalie parecia ter lido os pensamentos dele –E até mesmo depois de anos desse dia, Ian não duvidava que ela poderia ter feito isso- pois disse,em um tom de consolação:

–Não se preocupe, Ian, não estou com raiva. Na verdade, acho que nunca fiquei.E, mesmo que tivesse ficado, quando nós...saímos do mundo dos humanos...não guardamos mais mágoa.Eu acho que só senti tristeza naqueles momentos.

–Mas sua tristeza é ainda pior que sua raiva, Nat...

Natalie devia ter escutado, pois fez uma cara triste. Mas,sendo Natalie,tratou logo de mudar de assunto.

–Bom... Continuando... Depois do... Acidente... Bom,foi aí que você piorou...Nós,Eu,Irina e Hope,só queremos te ajudar...Até Evan achou que era melhor se fizéssemos isso.Só queremos o seu bem...

Ian a olhou incrédulo.

–Bem?BEM?Ora, por favor, Natalie... Vocês estão acabando com o resto de sociedade que eu tinha com o outros Cahill...

–Bom, se você não tivesse se tornado o que é agora,sua estabilidade com a família não estaria assim,e aí nós nem precisaríamos ter vindo...O caso é,que eu só estou aqui pois a situação é mais grave do que pensamos.

–Como assim?

–Bom... -Ela suspirou cansada. Nunca gostou de explicar coisas que já sabia, sempre foi impaciente para isso... E Ian sabia disso- É complicado. No inicio,só Irina iria vir.Eu e Hope éramos um tipo de...reserva,entende?Hope só iria vir se com Irina não conseguíssemos, e eu só viria em um caso extremamente grave, caso nada daquilo tivesse dado em muita coisa.

–Bom, se para eu te ver de novo, eu precisasse agir de modo ignorante, então eu não me arrependo de ter agido assim.

–Argh!Mas você não entende?Eu aqui,não é uma coisa boa!Significa que o Ian que eu conhecia está praticamente morto.

Ian ficou rígido.

–Ele está morto.

–Eu espero sinceramente que não. Agora que já te expliquei, vamos logo. Perdemos muito tempo aqui.

Ela o puxou até dentro da casa. Lá estava escuro, só com as luzes da janela. Eles entraram em um quarto, onde uma velhinha estava sentada, com dois senhores encostando-lhe os ombros, um de cada lado. Eles estavam conversando com ela, mas ela parecia estar em outro lugar, distraída, com o olhar distante.

–Minha irmã... Não fique assim... Você não está perdendo nada de mais.

–É verdade. Ele nunca foi uma boa pessoa. E afinal,vocês não se falavam há mais de 20 anos...

–Do que eles estão falando, Nat?

–Shhhh!Calado!

–Eu sei, mas... meninos,ele foi meu amigo...Meu melhor amigo...

Ian segurou uma risada.

–Meninos?Há!Até parece.

–Ian!

–Não, tem razão, eles estão na flor de idade- Disse Ian revirando os olhos.

–Escute a conversa, caramba!É importante.

Só dessa vez, ele realmente prestou atenção. Não iria estragar as coisas com ela novamente.

–Nós sabemos disso, Si... Mas também sabíamos que ele não prestava.

–Si?!É a... Sinead?

Natalie assentiu.

–Mas... quem se foi?

–Quieto!

–Eu sei, Ned, mas... É complicado...

–Espera, Nat, eu não estou entendendo nada. Quem se foi, e por que o Hamilton não está lá consolando a Sinead e...

Natalie estalou os dedos, e logo depois os dois estavam em um lugar completamente diferente. Agora eles estavam em uma clareira, cheia de folhas no chão,extremamente grande.Parecia ser outono ali.

–Ei,mas aqui é...Nossa casa,em Londres.O que estamos fazendo aqui?

–Queremos ver... aquilo- Ela apontou para uma parte do campo.Estalou os dedos e os dois foram teletransportados até lá.

Só quando estavam ali no lado, Ian percebeu do que se tratava.

Lá estava um padre, dizendo algo que ele não conseguiu compreender. Não estava prestando atenção, estava olhando a lápide perto de uma senhora. Tentou ler o nome do morto, mas não conseguiu. Depois de desistir, percebeu uma coisa. Aquela senhora, ao lado da lápide, era a única no enterro. Não tinha mais ninguém. O padre foi embora, claramente entediado por ter que narrar fatos de alguém podre o suficiente para só ter uma única pessoa em sua morte.

Ian chegou mais perto da senhora. Ela estava falando alguma coisa; não, estava sussurrando alguma coisa.

–Ah, meu aminimigo... O que fez com você mesmo?Sinto muito por tudo, eu admito; também errei com você. Deveria ter te procurado, deveria ter te perdoado, tentado te mudar... Agora, não resta mais nada... Nem Sinead, nem Natalie, nem nada... Só eu, você e uma lápide fechada.

Ela parecia triste. Tremendamente triste.

–Acho que deveria ter dito a você no quase casamento de minha amiga que eu ainda o amava, não?Me arrependo por isso, também. Deveria ter te dado uma chance... Que esteja em paz.

Até agora, Ian não tinha descoberto quem era a senhora. Provavelmente a conhecia, mas sua voz estava irreconhecível, e os cabelos brancos pela idade. Até que ela levantou a cabeça. Foi só por um nanosegundo antes dela se virar e ir embora, mas ele tinha certeza do que viu. Nunca se enganava quando se travava daqueles olhos verde-jade.

Se fosse em qualquer outra ocasião,ele teria gritado o nome dela.Teria obrigado Natalie a lhe explicar,mas não dessa vez.Ele só a observou ir embora lentamente, estático.

Até que Natalie disse em uma voz sombria que ele nunca tinha escutado.

–Então, Ian?Já se tocou por que estamos aqui?-Então o olhou de forma inexpressiva.

–Já sabe de quem é essa lápide?

Então, tremulo, Ian se virou para a lápide ao seu lado.Quando viu,arregalou os olhos,e segurou um grito de horror.

Na lápide estava escrito:

Aqui jaz Ian Kabra.

1998 à 2070*

Sozinho e sem importância. Vazio.

De repente, Natalie estalou os dedos, e abriu a lápide, que estava vazia. Então, antes que Ian pudesse reagir ou dizer qualquer coisa, ela o empurrou. Ele começou a cair, parecia não ter fim. Então,gritou.Gritou de horror,de medo de morrer,de arrependimento, e o mais importante, de medo de não poder se despedir mais uma vez de sua irmã.

–NATALIE!!

Ele a ouviu dizer algo.

–Me perdoe, meu irmão... Preciso fazer isso... É para o seu bem...

Então, tudo ficou escuro.