Legado de Semideuses! escrita por Lucas Lyu Santos


Capítulo 12
Incógnitas.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/494209/chapter/12

Fiz o que pude para resistir aos encantos da minha cama, mas assim que deitei já era tarde de mais pra barrar o avanço do mundo dos sonhos. Dessa vez eu sonhei com uma festa bem grande que deixava todos os campistas em um estado de agitação extrema. O problema era que quando eu tentava passar pelo meio da multidão, as garotas me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne e muitas tentavam me fisgar de alguma maneira, seja jogando charme, piscadela, beijos no rosto, abraços e a lista infinita. Pela primeira vez tive sensação de que era popular e isso era muito bom, exceto pelo simples fato de que toda vez que uma garota mostrava o seu afeto, ela arrancava um pedaço da minha pele – literalmente. Assim que cheguei ao final das sugadoras de carne, parei imediatamente quando vi um espelho dois metrôs à frente. A visão de uma pessoa inteiramente de ossos da cintura pra cima era assustadora, mas o pior era que aquela pessoa era eu, isso tornou ainda mais assustador. De súbito entrei em pânico, não sabia pra onde ir e não sabia o que fazer. Encontrei-me num estado total de desespero, eu sabia que pedir socorro faria com que meu problema fosse resolvido, se não fosse pela minha voz que não me atendia, estava rouco e ficando louco.

Os braços ossudos cobriram meus olhos e percebi que eu parecia um esqueleto ambulante. Ajoelhei-me e fiquei em posição fetal, desejando que toda essa bizarrice sumisse assim que eu me erguesse novamente. Fechei os olhos e me levantei lentamente almejando que tudo isso acabasse ali e, por mais magro que eu seja, queria minha pele de volta. Olhei-me novamente e não tive nenhum resultado, ainda estava naquele estado que me causava arrepios nos pelos do braço – espera, esqueci que estava sem pele nos braços, nossa que bugue esse sonho – tudo parecia igual, a não ser uma figura nas sombras que me intimava a ir até lá. Ela estava com um moletom branco e suas madeixas estavam delicadamente para o lado direito, era uma garota tão linda que por um segundo me fez esquecer toda essa dor que fisgava o meu peito, agora era difícil esconder a pulsação rápida que vinha dos meus batimentos cardíacos. Andei cautelosamente até ela com receio de que arrancasse algo valioso de mim, mas tudo que eu pude pensar era naquele sorriso que me deixava bobo. Percebi que ela estava timidamente envergonhada, pois havia uma série de gestos inquietos - ela mordia os cantos da boca e desviava os olhos frequentemente para o chão – um charme que sempre apreciei em garotas, timidez. Os lábios dela eram macios e tinham gosto de morango, assim que eu os toquei tive certeza de que estava viajando nos Campos Elísio e de alguma forma eu conseguia a ver nitidamente na escuridão, era um anjo sem asas. Os belos olhos negros me vigiavam quando nossas bocas se afastavam, eu a sentia me mudando. Percebi que a cada beijo uma parte da minha pele retornará ao lugar de origem. Ela sorriu e suas covinhas lindas apareceram quando novamente eu me pus a experimentar o sabor de morango, viciei-me. Assim que meu corpo estava totalmente revigorado ela se afastou, mergulhou nas sombras e foi embora. Acordei sobressaltado e sem qualquer reação sobre isso, mas decidi que manteria isso em sigilo.

Meus olhos arderam assim que consegui focar o sol ultrapassando as pilastras do chalé sete e indo de encontro aos meus olhos. O mais engraçado era que antes do Sol tocar no solo do acampamento meio-sangue, primeiramente ele passava pelo chalé e iluminava toda a sua volta com a cor dourada viva.

Um alarme ensurdecedor começou a tocar em todo o acampamento. Apressei-me em me vestir e ir de encontro á ele, imaginando a grande merda que aconteceria dali a diante. Assim que sai pela porta do chalé vi uma multidão inquieta de semideuses reunidos na frente do refeitório. Lorenna estava em cima de uma mesa observando toda a bagunça com um olhar de desaprovação. A filha de Ares era altamente explosiva, isso era um fato consumado. Quando seu único grito ressoou pelo alojamento, todos mergulharam em um silêncio profundo. Ela aplicou um sermão matinal e voltou à atenção a um pergaminho que tinha em mãos. Assim que a morena respirou fundo, seus olhos intimidadores apareceram.

– Helena foi chamada as pressas ao Olimpo depois do incidente da madrugada – A filha de Zeus ficou ao lado dela – Munhoz comandará as atividades do acampamento até a minha volta e de Helena – Os murmurinhos de reclamações ficaram insuportáveis – Isso não é uma democracia, calem a boca. Obrigada – Sua expressão não amenizou – Babu, Batistão, Lívis, Lyu, Orsi, Rasquel e Thalles – Os que foram citados deram um passo a frente – Nós iremos atrás da PortariusArix.

Olhei para a minha direita e os dois garotos esbanjaram seriedade. Olhei a minha esquerda e vi a preocupação estampada no rosto das garotas. Os outros campistas foram escoltados por Munhoz ao campo de treinamento e as demais tarefas. Lorenna chamou Pedro aos cantos e cochichou alguma coisa no ouvido dele que mal consegui ouvir, o filho de Hefesto assentiu e sumiu de vista.

– Só tem um problema – Orsi bradou – Eu não permito que Lyu use um pégaso, por que da última vez...

– Eu também acho melhor não usar um cavalo – Senti a dor na voz da garota e achei melhor tomar a frente antes que eles remoessem o assunto dos dois cavalos-alados sacrificados.

– Vinicius está em uma missão perto de Guarulhos, descartamos a possibilidade de viajar nas sombras. As carruagens de Apolo estão sendo concertadas pelos filhos de Hefesto, não há outra maneira de viajar se não pelos pégasos – Lorenna explicou.

– É que eu meio que não me dou bem com cavalos. Não tem como chamar outra pessoa pra me substituir?

– Não. Você é uma peça importante dessa missão.

– Que sorte a minha.

Por um segundo todos olharem para mim e eu fiquei completamente constrangido. Achei que seria fonte de piada pelo resto da vida por essa arregada em público, mas quando me dei conta percebi que eles estavam olhando através de mim. Duas sombras se projetaram logo à frente e eu me virei a tempo de receber um esbarrão de um pégaso branco que veio de encontro ao meu corpo. Coloquei meus braços na frente pra não receber um ataque cabeçada daquele Pokémon que acabaria com meu HP (o que é? Eu já fui um mestre Pokémon, okay), e assim, cai de costas no gramado macio com aquela figura me lambendo. A outra por sua vez não era tão cega e não tinha intenções de me derrubar, até por que ela estava sendo guiada por uma loira que gritava feito uma criancinha indo numa roda-gigante, aparentemente havia gostado da sensação de voar.

– Lyu! – O segundo pégaso pousou com ambas as asas abertas e um brilho majestoso saiu de seu semblante. Ele relinchou e ficou com um de seus cascos levantado, sua cor era igualmente branca. A loira desceu do pégaso e me olhou com um sorriso largo nos cantos da boca.

– Como você conseguiu montar nesse pégaso? E de onde ele veio? – Orsi espantou-se.

– Passei a manhã no topo da colina vendo o sol nascer – Alinne passou a mão no focinho do cavalo – Fiquei sentada esperando que Apolo me respondesse, mas em vão. Nem ao menos um “oi” eu recebi do nosso querido pai – Ela se entristeceu – Mas quando me levantei pra ir embora, percebi que dois pontos brancos surgiram em torno do sol – Ela sorriu – Foi ai que conheci o Bellamy, ele é muito fofo.

– Bellamy? Bonito nome – A conselheira de Poseidon colocou a mão em torno do cavalo e rapidamente esbravejou por sentir algo queimando sua mão, ela recolheu-a e cruzou os braços – Esses dois são da carruagem de Apolo. Creio que só seus filhos conseguem se comunicar com eles.

– Como eu te amo pai – Engoli minha ironia – Agora eu tenho carona – Escondi o desanimo – Tudo bem, então esse...

– Essa – Alinne corrigiu.

– Que?

– É fêmea.

– Que tal Astolfa? – E assim eu capturei meu Pokémon, quer dizer, meu pégaso.

Ela relinchou em aprovação e me deu novamente uma lambida. Levantei com a mão direita acariciando a crina da Astolfa que se encolhia com os olhos fechados e um sorriso na ponta dos grandes dentes, pelo menos ela havia gostado de mim. Meus olhos se moveram rapidamente sobre a gloriosa cor branca da minha mais nova companheira e notei que por baixo da pelugem havia um símbolo redondo que era contornado por amarelo, ele ligava todo o corpo do animal. Fiquei intrigado com aquela marca, mas ignorei assim que os outros montaram em seus cavalos e se prepararam para voar.

– Faremos uma formação simples – Lorenna disse – Quero que fiquem próximos uns dos outros. Rasquel.

– Oi, chefe.

– Você é responsável em nos fazer chegar ao lugar o mais rápido possível – Ela o encarou.

– Lembre-se que nossa velocidade depende do bom humor de seu pai – Batistão bradou.

– Entendi, pode deixar – O garoto cheio de roupas de nuvens assentiu, ele estava montado num cavalo pálido com manchas cinza.

– Livis, também preciso que ajude com os ventos, consegue fazer isso? – A flha de Ares empinou seu cavalo negro com olhos flamejantes.

– Pode deixar comigo – A filha de Zeus estava segurando as rédeas de um cavalo cinza que tinha uma mancha de um raio.

– Os demais, já sabem o que fazer. Vamos!

[...]

Astolfa tinha um controle sensacional de seu equilíbrio nos ares. Senti o vento batendo rente ao meu rosto e apreciei a vista que me era proporcionada. Assim que cruzamos a fronteira do acampamento tive total certeza de que estava em São Bernardo do Campo – Terra Nova II. Fora ali que minha avó viveu anos atrás, do alto eu conseguia ver o quintal que um dia eu a derrubei andando de skate – quase matei a veia naquela época. Soltei um riso abafado por saber que sempre estive tão perto do alojamento de semideuses, mas ao mesmo tempo tão longe por não saber da existência dele. A região era pequena e todas as ruas não tinham saídas, exceto duas – que eram as entradas e saídas daquele lugar. Nas colinas tinha um bairro fechado chamado SUS PARK, que era totalmente cercado por muralhas enormes e grandes lanças que impediam os invasores de entrarem (Isso era o que os mortais viam por fora), já por dentro havia uma mandinga poderosa de Hécate que servia como barreira mágica para deter qualquer intruso não semideus, sem contar com um enorme Dragão – Smoug – que guardava a entrada. Minha avó sempre me dizia que ali era um lugar que só pessoas ricas moravam, o que sempre me deixou curioso por saber como seria o padrão de vida deles, mal sabia eu que agora estaria vivendo lá dentro. Lembro-me que contornava aquelas dunas perto das muralhas quando corria das abelhas com os meus primos, ou até mesmo quando a bola caia no pequeno lago fedorento ali perto. Era um tempo de alegria, era minha infância.

– Hey, garoto do Sol! – Babu passou por cima da minha cabeça com o seu pégaso rosado – Preste atenção na formação, você deve ficar na corrente de ar criada por Rasquel e Livis, se não fizer isso certamente ficará para trás.

– Desculpe, me distrai com umas lembranças bobas – Toquei na cabeça de Astolfa que entendeu o que eu queria, logo ela ficou próximo aos sete cavalos que pairavam sobre o ar. Foquei meus olhos á frente e resolvi deixar o passado para trás, afinal, o futuro nos aguardava.

Lorenna e Orsi dividiam a liderança atentas com o que vinha pela frente. Logo atrás e no centro da formação estava Batistão com seus aparelhos de rastreamento. Babu e Thalles estavam na mesma altura que eu, um de cada lado. Livis e Rasquel estavam cobrindo nossa retaguarda enquanto ambos manipulavam os ventos, nossos pégasos flutuavam numa velocidade impressionante. Alcançamos a Estrada Anchieta em questões de segundos e mal pude perceber quando chegamos ao centro de São Bernardo. Passamos pelo terminal rodoviário e fomos sentido ao Jabaquara, onde nuvens negras estavam em grandes proporções. Onze horas da manhã e o céu já estava daquele jeito, percebi que se quiséssemos chegar ao centro de São Paulo sem quaisquer incidentes, era melhor nos apressarmos.

– Vamos manter essa altitude, não desçam nem subam – Livis era uma garota aparentemente simpática. Tinha bochechas enormes e usava um óculos preto. Era fofa e também muito bonita, além de sempre estar com uma expressão séria, era até sexy. O único problema era sua língua que não parava quieta, fora isso ela era um amor de pessoa.

– Meu pai não está de bom humor hoje, vou ter que diminuir a intensidade dos ventos do Sul – Rasquel completou.

– Tudo bem, só nos mantenha na direção certa – Orsi disse.

Ao longe um estrondo de um raio fez todos nós nos entreolharmos. Livis tomou a frente e permaneceu aposta caso algum trovão tentasse nos acertar. Como filha de Zeus ela teria total controle sobre os raios e os faria desviar, caso necessário. Estávamos indo muito bem até que tudo começou a dar errado. Assim que entramos numa nuvem enorme, tudo ficou absurdamente branco e formação foi desfeita. Segundos depois consegui ouvi uma reclamação abafada quando um raio ribombou o aparelho de Batistão, por pouco ela não perdeu as mãos – a carga do raio fora muito baixa.

– Todos saquem suas armas e se preparem! – Lorenna se esgoelou – Fiquem juntos!

Essas foram às últimas palavras que ouvi antes do banho de sangue começar. A princípio ainda conseguia ver o ponto negro que imaginei ser o cavalo de Lorenna, mas isso mudou cinco segundos depois quando consegui ver a carcaça de lã que se chocou com a minha perna, a filha de Ares havia matado um carneirinho voador. Meus olhos mal acreditavam na quantidade de sangue que agora flutuava dentro daquela nuvem branca. Astolfa permanecia desviando dos destroços dos animais que vinham sem parar, todos mortos – agora entendo o ódio de Lorenna em matar os carneirinhos enquanto eu os contava antes de dormir, saudades. Eu achava uma crueldade sem fim matar aqueles bichos, tanto que recolhi a espada quando uma carneirinha estava voando ao meu lado. Ela me olhou, eu olhei pra ela. Ela sorriu, eu sorri pra ela. Ela piscou pra mim, e eua fitei. Tudo estava indo bem no nosso encontro as “claras”, quando a maldita abriu boca e uma gosma corrosiva tentou acertar minha cabeça, ela errou. Mãos surgiram daquela pelugem de lã e não titubeie e dei na cara daquela rapariga com a minha espada, só sei que ela foi pastar no mundo dos carneirinhos mortos. Pela primeira vez na vida não senti saudades daqueles monstrinhos de lã.

Vieram mais três daqueles bichos idiotas tentando inutilmente morder a Astolfa, mas é claro que eu não deixei. Enfiei minha espada longa dourada na no meio das tripas dos animais, e os deixei despencarem dos céus. Aquela nuvem parecia interminável e eu já não escutava mais nenhum vestígio de batalha sendo travada. Onde estaria meus companheiros? Forcei-me a acreditar que tudo estaria bem, e por um misero descuido quase deixei de ouvir a voz de Thalles “voe para cima e saia da nuvem solzinho, saia da nuvem” e foi isso que eu fiz – ou melhor, foi isso que Astolfa fez.

– Saiam de perto – Assim que alcançamos o azul do céu me deparei com os meus sete companheiros sobrevoando a interminável nuvem abaixo de nós – Espero que isso basta, só tenho ele – Livis lançou um objeto dourado de sua mão que imediatamente expandiu-se como um trovão e transformou aquela nuvem em um show de horrores.

– Se meus cálculos estiverem certos, isso vai acabar com qualquer alma viva dentro daquela nuvem – Batistão arrumou os óculos que caiam sobre o nariz – Até por que é uma simples combinação de física, se você jogar um aparelho eletrônico na água ele vai dar um curto-circuito. Quem estiver tocando no líquido vai levar imediatamente um choque elétrico, e foi isso que fizemos com aqueles malditos carneiros.

– Mas não tinha água, ou tinha? – Thalles questionou.

– Uma nuvem negra que antecede uma tempestade está carregada de milhões de partículas de água, querendo ou não ela é uma ligação enorme para uma descarga de eletricidade generalizada, olhe o tamanho dela – Todos olharam – Essa descarga foi em grande escada, nenhum bicho deve ter sobrevivido.

– Agora entendo, que bom que não errei em te chamar pra essa missão, Beatriz – Lorenna olhou-a com um sorriso amistoso – Agora chega de falarmos e vamos logo, ainda temos muito caminho á frente!

Os pégasos bateram suas asas e contornaram todo o caminho que a nuvem bloqueava. Assim que conseguimos retomar esse trajeto Rasquel continuou a manipular os ventos, uma brisa forte nos impulsionou a frente. Olhei para trás e percebi a nuvem negra havia se transformada em vermelha, mas o que me chamou atenção foi o bater de asas de um pégaso negro e cabelos loiros esvoaçarem em direção ao Sul, tive impressão que era Júlia.

[...]

– Onde freia esse pangaré? – Thalles se assustou com o mergulho do pégaso marrom.

– Eles sabem o que tem que fazer, fique tranquilo filho de Hermes – Orsi o confortou.

– Quero que alimentem seus pégasos antes de descermos, eles têm que estar suficientemente descansados e com energia de sobra para uma fuga rápida caso precisemos – Lorenna reclamou.

Os cascos se multiplicaram quando todos conseguiram pousar sobre o teto da galeria do rock. O relógio batia doze badaladas, o que significava que agora era meio dia e muitas pessoas estavam em horário de almoço. Permanecemos quietos enquanto alimentávamos nossos pégasos e, antes de descermos pela escada de emergência que ligava diretamente ao sétimo andar, tentei me desvencilhar daquela imagem incoerente de Júlia após a carnificina na nuvem, não havia como alguém sobreviver aquilo, e também o que ela estaria fazendo ali? Bobagem, eu estava ficando paranoico.

– Velho, andar de cavalo sempre dói os... Você me entendeu Thalles – Tentei desgrudar a cueca box do... Não me façam falar essa palavra, por favor.

– Sim, por isso odeio voar com cavalos, prefiro mais meus all star com asas, além de ser confortável não fico assado.

– Orra, onde consigo um tênis alado?

– Presente de Hermes, sabe como é né.

– Desculpa ai, esqueci que vocês são os famosinhos do Olimpo.

– Falou o Sol solitário da profecia.

Deixamos as conversas paralelas de lado e nós oito caminhamos até a escada que felizmente aguentou meu peso – to precisando fazer regime. Lorenna achou melhor nos dividirmos e procurarmos pistas já que o aparelho de Batistão que detectava objetos divinos foi quebrado com um misterioso raio durante o ataque nas nuvens.

Thalles e eu fomos encarregados do sexto andar.

Babu seguiu Orsi até o quarto.

Rasquel e Livis vasculhariam o terceiro andar.

Lorenna e Batistão ficaram com o segundo e o primeiro, elas sabiam como se enturmar com a multidão.

Confesso que não teve muito que procurar num andar praticamente deserto. Nada incomum chamou minha atenção, muito menos de Thalles que estava impressionado com algumas guitarras feitas de papel – ele até roubou uma. Passaram-se trinta minutos e pude conhecê-lo melhor, ele era um cara engraçado e legal, o que o estragava era a incrível mágica de sempre fazer brotar meu dinheiro na palma da mão dele – misteriosamente, é claro. As horas se passaram e os demais ainda não haviam voltado, por isso achamos melhor vermos se nossos pégasos estavam com sede. Subimos as escadas circulatórias até que me deparei com uma presença conhecida.

– Hey seus putos, onde acham que vão? – Uma garota de cabelos negros estava bem no topo da escada. Ela estava com um boné colocado de lado e uma blusa escrita “I’m nigga”, mesmo sendo mais branca que eu.

Ela tinha uma ginga de mano e gesticulava os dedos como se fossem duas armas. A garota descia lentamente a escada em nossa direção, sua índole era desconhecia, mas os passos firmes nos faziam recuar no mesmo tempo que ela avançava. Assim que pisamos novamente no piso do sexto andar, outras vozes nos incomodaram. Dessa vez eram dois garotos estilos asiáticos que seguravam as espadas com tamanha firmeza – percebi duas tatuagens riscadas nos mesmos formatos de corações. Eram dois filhos de Afrodite Renegados.

– Lyu, ainda aguenta correr?

Thalles e eu sacamos nossas espadas no mesmo tempo que a dupla dos flango louco começou a busca pelo nosso sangue. O primeiro tinha um topete preto que não se movia de forma alguma, enquanto o outro tinha um estilo totalmente diferente de corte de cabelo, tigelinha. O filho de Hermes conseguiu se distanciar com a garota e o flango de número dois – apelido carinhoso – em seu encalço, enquanto o topetudo veio pra cima de mim tentando investir com golpes pela direita, totalmente inútil. Defendi-me da maneira que pude, mas meus ataques foram totalmente efetivos quando consegui rasgar a blusa do garoto asiático de número um, o sangue jorrou do seu corte na lateral da costela esquerda. Aproveitei-me que ele ficou de joelhos e chutei sua espada para longe de seu alcance e consegui dar uma cotovelada nas costas do mesmo, ele já estava fora de perigo pelo menos por alguns minutos. Corri aos prantos para ajudar Thalles que estava na pior, mas ele era suficientemente habilidoso e conseguiu dar seus pulos para se livrar das duas lâminas que o cercará até eu chegar. Joguei-me para o chão e deslizei passando de baixo das pernas do garoto número dois que só entendeu o que aconteceu quando eu consegui dar um murro nas bolas dele, aquilo realmente doeu em mim.

– Seus idiotas, cadê todo aquele papo de vamos bater na cara deles com flango? Cody, Yokota! – Mesmo com total desvantagem a garota avançou ainda mais.

Antes que pudéssemos imobilizar a branquela de uma vez por todas, um apito ressoou e uma imensidão de monstros com três cabeças invadiram o piso superior. Nesse momento Babu, Orsi, Rasquel e Livis já estavam com as espadas em mãos, de relance via cabeças sendo transformadas em pó.

– E aí, maninha. Bater ou correr? – Provoquei-a.

– Vou te mostrar o golpe do macaco voador, seu otário.

Ela era forte e muito habilidosa com sua espada, mas pra minha sorte se movimentava de forma previsível. Assim que consegui fazer sua espada voar longe – Pezarim, como a chamaram - me olhou com total suplica de não me bata, o que me tirou atenção suficiente para que Cody viesse pra cima de mim com duas adagas em cada punho. Eu poderia ter morrido com os golpes de Kung Fuu do flango número dois, mas Babu chegou a tempo para encará-lo frente a frente. Eles eram irmãos e decidi deixá-los tratar suas diferentes com uma batalha de charme. Thalles rendeu Pezarim que levantou ambas as mãos para cima, mas até ele perdeu sua atenção quando um monstro de três cabeças me atacou. Ele era imundo e cada cabeça tinha um formato estranho de uma ave milenar, fedia a antiguidade.

– Santa mãe de Hera, que porcaria é isso? – A cabeça do meio se aproximou tão perto de mim que já via a terra dos looney tunes me chamar – Isso é tudo pessoal, lembrei-me do gaguinho.

Tentei me desvencilhar ao extremo daquela coisa nojenta, mas só tive êxito quando Lorenna lançou sua lança que atravessou as três cabeças das aves escrotas. Assim que elas caíram Thalles esboçou um sorriso de despreocupação para mim. Foi quando meu coração parou com uma mísera lembrança de um sonho de dias atrás. Pezarim girou seu corpo e sacou uma faca dentro de seu tênis da Nike e fuzilou o peito de Thalles com movimentos rápidos. Ele estava cerca de três metros de mim e o que pude fazer era; nada. O sorriso do filho de Hermes se desfez e ele tombou para o lado na direção da proteção de ferro dizendo suas últimas frases, “estupre essa candanga, famosinho” e seu corpo caiu cerca de quarenta e cinco metros de altura. Eu não pude fazer nada se não assistir seu corpo se chocar ao solo. Pezarim se afastou antes que eu pudesse desferir minha fúria em seus órgãos, ela foi esperta. Babu estava caída com ferimentos no rosto e a dupla de flango flito já estava diante de Lorenna tentando roubar o objeto que ela segurava com firmeza – PortariusArix. Rasquel e Batistão estavam com problemas com os monstros de três cabeças, enquanto Livis e Orsi investiram contra Pezarim que subiu as escadas com rapidez, por um segundo consegui ver a sua tatuagem riscada; era um golfinho enrolado num tridente. Pezarim era filha de Poseidon.

– Lyu, a Portarius – Lorenna chamou minha atenção quando a luva de couro detalhada com brasas vermelhas quicou sobre as mãos dos asiáticos que tentaram agarrar a luva no ar.

Lorenna pulou sobre a cabeça de uma criatura e tomou impulso pra pegar o objeto que agora estava próximo do precipício onde Thalles caiu. Yokota e Cody estavam logo atrás dela e eu tive certeza que a luva cairia em minhas mãos quando o flango número um me deu uma topetada no meu peitoral e a luva escorreu das minhas mãos, despencando galeria abaixo. Os asiáticos não conseguiram frear a tempo de impedirem o esbarrão em mim, por isso fui arremessado junto a Lorenna e a luva, mas como diz aquele ditado “se eu me ferro, você se ferra junto”, por isso ajuntei forças e os levei junto comigo. Nós quatro despencamos em cerca de quarenta e cinco metros, mas a disputa não parava por ali. A filha de Ares assobiou contra o vento na esperança que alguém atendesse o seu pedido. Assim que suas mãos entrelaçaram a luva, ela me segurou com firmeza.

– Quatro estão interligados pelo poder de Ares – Yokota falou.

– Lyu, não deixe que eles te segurem! – Notei o que ela quis dizer tão tarde quanto foi meu raciocínio. Ambos os flangos estavam com as mãos nos meus pés.

– Nós desafiamos vocês para o Ultimate Ares – De súbito minha vista escureceu e nós sumimos da realidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Legado de Semideuses!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.