A Dra.Sylvester conseguiu acha um jeito de prolongar minha estadia aqui. A pior parte foi ver meu pai concordando com ela. Mais um ano na Dalton.

Pouco importa, em uns dias vou fugir com Blaine para Nova Iorque. Sebastian vai nos ajudar a conseguir falsas identificações, só preciso falar com Blaine.

“Achei que você não gostasse deles.” Ele não olha para mim, esta sentando-se na cama, colocando sua camiseta. Achei que seria boa ideia contar pra ele nesse tipo de momento.

“E não gosto.” Começo a me vestir também, não quero ser pego assim na próxima ronda das enfermeiras, um dos companheiros de dormitório de Blaine ficou na minha cama hoje e eu na de Blaine. “Mas se queremos fugir, tem que ser com ele.”

“Só eu sei sair daqui. Ele quer nos usar.” Agora que ele esta vestido, fica de pé encarando a janela.

“Ele consegue nos levar ate Nova Iorque, seria mais seguro.”

“Não sei.”

Vou ate ele e o abraço por trás. Ele repousa a cabeça em meu ombro e acho que posso convencê-lo agora.

“Podemos ficar livres, só você e eu.”

“Ainda acho uma péssima ideia.”

Solto-o e volto ate a cama. Ele se vira, irritado.

“Acho que você quer ficar aqui.”

“É logico que não. Eu só não acho boa ideia irmos todos de uma vez.”

“Você só esta com medo. Isso sim.”

“Medo de que? Era você que estava sendo ameaçado pelos dois sociopatas e agora quer ir de mãos dadas com eles?”

“Por que você não quer ir?” Subo meu tom de voz, ele esta sentado na cama, acaricia meu quadril por cima das mantas.

“Eu quero ir, eu só não sei se quero ir com eles.”

Ele passa as mãos pelas minhas bochechas e logo percebo que estou chorando.

“Você esta desesperado para sair daqui porque odeia a Dalton.”

“E você não?”

“Acho que ainda tem uma parte de mim presa aqui. Sei lá.”

Cada momento que passei em Dalton carrega uma parte de mim junto. Mas isso não é uma razão para querer ficar aqui.

“Podíamos levar o caixão de Pavarotti.”

Ele sorri. O colega de quarto dele chega então eu saio. Vejo Sebastian na sala de Televisão.

“Falou com ele?” Ele evita tirar os olhos da TV. Olho ao redor e não tem nenhum outro Warbler, então me sento ao lado dele.

“Ele não tem certeza.”

“Como assim?”

“Ele não odeia Dalton como todos nos, ou sei lá.”

“Ou sei lá.” Ele repete, posso ver as pessoas falando na TV nos olhos dele. “Já viu a lista de convocados?”

“Não te acusaram de nada por drogar as enfermeiras?” Ele pergunta.

“Apenas me reprenderam por ficar fora do dormitório a noite. Mas não mencionaram nada das drogas.”

Depois de saber que Adam foi convocado, parei de prestar atenção no anunciamento de novos recrutas. Penso em voz alta que Blaine precisa odiar Dalton para querer fugir.

“Faca ele ficar com raiva daqui, então.”

“E como sugere que eu faca isso?” Os olhos de Sebastian iluminam em raiva.

“Sabia que você é um babaca?” Ele fica de frente pra mim, vou um pouco pra trás “Se não consegue convencer seu namoradinho a sair daqui com você e ainda fica fazendo perguntas imbecis.”

“Não vou obrigar meu namorado a sair daqui se ele não confia em você e no Hunter.”

“Agora o problema sou eu?”

“O problema é sempre você! Quer saber? Pode esquecer. Boa sorte saindo daqui sem o Blaine.” Ignoro os gritos de protesto de Sebastian e fico andando pelos corredores, querendo encontrar alguém pra conversar, mas preferindo ficar sozinho.

Vejo Blaine indo ate a sala de visitas. Corro ate ele.

“Não vamos mais fugir.” Digo.

“Do que você esta falando?”

“Você não quer ir com Sebastian e Hunter. Não vamos.”

“Não é que eu não queira. Só preciso pensar mais no assunto.”

“Quem você esta indo ver?” Pergunto, não quero que seja Eli novamente.

“Não me disseram.”

“Quer que eu vá com você?”

“Obrigado.” Ele sorri.

Não tem como errar, so tem uma pessoa na sala de visitas. É alto, bem bonito.

Bonito demais.

Se for outro pretendente de Blaine, vou acabar surtando.

Olho para Blaine e parece que ele é quem vai surtar.

“Algo errado?” Ele não responde. O homem vem ate nos.

Eles estão frente a frente. Nenhum diz nada.

“Oi.” O homem finalmente diz, a voz dele me lembra a de Blaine.

Blaine fica calado.

“Eu sei o que você deve estar pensando.” Ele sorri, Blaine continua calado. “O que o velho Cooper esta fazendo aqui? Oras, eu-“

Blaine o interrompe, seus dentes cerrados “Exato, o que você esta fazendo aqui?”

Me dou conta que se trata de Cooper. O irmão mais velho de Blaine, o irmão que não quis abrigar ele em sua casa quando fugiu pra vê-lo em L.A

Meus dentes estão cerrados como os de Blaine.

“Você tem todo o direito de estar zangado comigo. Eu entendo.”

“Você não entende. Sabe a quanto tempo estou esperando pra você aparecer?”

“Eu quis vir, Blaine. Mas é mais complicado do que parece.”

“Como pode ser complicado?”

“Você seria...?” Cooper me nota ao lado de Blaine, eu devo estar cheio de raiva agora.

“Kurt.” Blaine responde antes que eu possa abrir minha boca.

“Bom, Kurt, não sei se percebeu, mas estamos no meio de algo pessoal aqui. Se não se importar de nos deixar a sós-“

“Kurt é meu namorado. Ele fica.”

“Eu notei que ele é seu namorado. Mas esse assunto não é dele.”

“Como você ousa?” Blaine solta minha mão e fica cada vez mais perto de Cooper, fico paralisado em meu lugar. “Vir aqui e dizer para meu namorado não se intrometer. Você não tem palavra alguma.”

“Eu quis vir antes, Blaine. Apenas me escute.”

“Escutar você e suas desculpas de merda. Não preciso mais disso.”

“Não eram desculpas, Blaine. Você quase morreu.”

Me sinto tão perdido na conversa, mesmo que ache as ligações em meu cérebro. Provavelmente estão falando do ataque homofóbico de Blaine.

“Exato. Eu quase morri e você deixou que me jogassem aqui.”

“Eu queria que o pai não tivesse feito isso, eu tentei convencer ele a achar outra solução.”

“Solução pra que? Não tem nada errado comigo.”

Os olhos de Cooper vão ate mim. Entendo perfeitamente.

“Você sabe que isso não é natural.” As vezes acho que a minha família é a única que aceita minha sexualidade, me sinto culpado por Blaine não ter a mesma sorte.

“Voce deixou isso claro quando fui te visitar na sua casa e você trancou a porta na minha cara.”

“Eu me senti péssimo depois disso, juro. Olha Blaine, não vim aqui brigar.”

“Por que você esta aqui então?”

“Pra te levar embora.”

Agora sim estou tremendo, Blaine solta minha mão.

“O que tem em você não é natural. Mas não acho que a solução esteja aqui, não quero mais você aqui.”

“Me levar embora?” Ele parece ter parado de pensar direito, minha cabeça da voltas. Cooper abre um de seus sorrisos estúpidos.

“Eu não te aceitei de volta quando você foi me ver. Eu posso te levar embora.”

“Não me diga que você foi convocado.” Me vejo dizendo, ainda não acreditando que isso saiu da minha boca. Ando paranoico com as convocações.

“O que? Não, nada disso. So quero que Blaine venha comigo.”

“Esta bem.”

E como se toda a cor de meu rosto fosse embora.

Ele continua, “Contanto que Kurt venha comigo.” Agora sim estou completamente pálido, assim como Cooper.

“Você esta maluco? Ele não pode vir.”

“Por que não?”

“Por que é errado!”

“Amar não é errado, Cooper!”

“É completamente errado, Blaine. Não vou levar ele conosco.”

“Então eu não vou.” É tao difícil recusar uma oferta assim, eu quase aceitei a proposta de Adam de me tirar daqui e eu o odiava demais, me pergunto onde ele pode estar agora.

“Blaine...”

“Vai embora.”

“Eu vim aqui por você, irmão.”

“Você veio aqui porque não consegue lidar com a culpa de saber que não mereço estar aqui.”

“Eu vim aqui porque você não merece estar aqui, você tem que ir embora comigo.”

“Eu espero que convoquem você.”

Por um minuto acho que Cooper vai bater em Blaine ou vice versa. Comeco a achar que eu vou ser quem vai bater em Cooper.

“Muito bem.” Ele diz, pega seu casaco e o vemos cruzar a porta de saída, Blaine corre ate a janela e eu vou atrás dele.

Do pátio, Cooper esta indo ate seu carro, ele acena para nos e grita, “Foi bom te ver, Blaine.” E arranca pela estrada, me sinto agonizadamente perdido, Blaine tem a testa encostada no vidro.

“Eu te odeio!” Ele grita, bem forte. Tremo pelo susto, Cooper esta longe demais para nos ouvir.

Ele explode em lagrimas e soluços, suas palavras completamente embaralhadas. Eu abraco o mais apertado que consigo, minha camisa encharcada em suas lagrimas.

“Eu odeio ele. Deus, Kurt, Eu odeio ele.”

Não digo nada, fico me concentrando em não deixar ele escapar dos meus bracos, a poeira deixada pelas rodas do carro de Cooper ainda pairam no ar, Blaine chora ainda mais.