Meses haviam passado desde a visita de Apolo, mas mesmo depois de tudo o que havia acontecido os desmaios de Melany ainda aconteciam com frequência e cada vez que eles se faziam presentes Nico ficava mais e mais preocupado com a irmã.

Ás vezes, durante o tempo em que ela ficava desmaiada ele não conseguia senti-la viva e nem conseguia dizer se havia morrido, era como se houvesse um bloqueio impedindo o menino de saber qualquer coisa sobre a irmã. Nem mesmo Hades conseguia distinguir se ela estava viva ou morta durante os desmaios á longo prazo, mas ela sempre acordava como se dissesse para todos que ainda ficaria ali por um tempo.

O único que sabia do estado de vida ou morte de Melany era Tânatos, o deus da morte. Para quase todos aquilo parecia estranho, mas havia apenas duas pessoas que entendiam o que estava acontecendo e estes eram Hades e Apolo, Nico já estava desconfiado de que o pai e Apolo guardassem algum segredo sobre a irmã e suas suspeitas só se confirmaram quando ele viu os dois deuses conversando por uma mensagem de Íris.

–Você vai ter que contar á ela sobre- era Apolo e pela primeira vez, Nico o via falando sério.

–Não. E você não vai contar nada, quem fez burrada fui eu e não você. Eu contarei isso na hora certa.

Logo depois Hades mexeu a mão, furioso, e fez a imagem do deus do sol se dissipar. Nico tomou coragem e aproximou-se do pai de cabeça erguida parecendo estar um pouco mais confiante do que estava.

–Qual o verdadeiro problema da Demons?

Depois de gritar muito com Nico por ele estar se intrometendo num assunto que não era dele, e depois de muita briga dos dois lados, Hades respondeu com sua voz rouca:

–O corpo dela não está aguentando a quantidade de poder divino, como você mesmo disse ela é três quartos deusa, mas o corpo dela é humano e com a falta de treino ela está perdendo a resistência.

No mesmo instante ele saiu correndo para o quarto da irmã, ela já havia insistido em treinar a muito tempo, mas ele alegava que ela estava muito fraca para tal esforço.

A garota estava sentada olhando para a parede com um vestido negro que ia até metade da coxa, seus cabelos escuros estavam penteados e com o tempo sem cortar já estavam batendo no bumbum, as mexas loiras estavam mais claras quase que brancas e faziam um pequeno contraste, seus olhos de morto estavam mais fundos que o natural e espiravam a morte como os do pai, a pele estava muito mais pálida do que quando ela chegara, estava num tom mais branco que papel como se ela realmente nunca na vida tivesse visto o sol em toda a sua vida. Quando viu o irmão esboçou um sorriso mínimo e levantou-se se aproximando dele, Nico tinha uma altura mediana para a idade que apresentava, mas mesmo sendo “mais velha” Melany conseguia ser menor que o irmão.

Nico tinha cerca de 1,75 já Melany era baixinha e sua altura era cerca de 1,65 o que causava Nico chama-la de “pirralha” quando queria irritá-la ou fazer graça.

–Ei Pirralha, o que acha de treinar com espadas?

–Está falando sério?- Melany estava animada e Nico assentiu- vou pegar minha espada.

–Não precisa, só vá se trocar e me encontre no jardim de Perséfone.

Nico saiu e seguiu para seu quarto, pegou um embrulho que ele estava guardando há um bom tempo e o segurou com todo o cuidado do mundo logo depois seguindo para o jardim da madrasta.

Minutos depois Melany apareceu, ela estava com uma short curto e uma camiseta preta, usava um all-star preto e seu cabelo estava preso num rabo-de-cavalo para não dificultar na locomoção.

–Toma e cuidado.

Nico entregou o embrulho e ela desembrulhou com cuidado, quando já não havia nada mais cobrindo Melany reconheceu a espada do seu sonho com os oitenta centímetros de comprimento e ao segurá-la ela notou que se tratava de ferro estígio, ela era perfeita.

Melany agradeceu então eles dois começaram a lutar, inicialmente ela se machucou muito com muitos cortes nos braços, mas não permitia que Nico parasse e não queria de maneira alguma que ele pegasse leve, quando se acostumou novamente lutou bravamente e não recebia nenhum corte, Nico estava sendo ferido, mas ela tomava cuidado para não fazer cortes profundos.

Hades estava olhando para os dois filhos lutando e estava surpreso com a habilidade dos dois, Nico demonstrava garra e persistência já Melany ganância e uma tremenda competitividade, ela estava ganhando e isso era indiscutível, mas dava para ver que ambos eram ótimos quando se tratava de espadas.

No final, Melany ganhou e já estava com seu habitual sorriso discreto e vencedor nos lábios, seus olhos demonstravam que ela queria muito mais, mas ela estava preocupada com o irmão que já estava ferido o bastante para uma batalha.

Melany levou o irmão para dentro e cuidou dele, quando este dormiu ela voltou para o jardim e convocou esqueletos para que pudesse treinar com eles. Hades observava de longe tudo acontecendo e via que ela tinha convocado os melhores lutadores dos tempos antigos, mas ela nunca perdia sempre conseguindo dar uma rasteira ou decepar os esqueletos.

–Por hoje foi só, obrigada- falou Melany e os esqueletos curvaram-se e depois foram embora.

Ela tinha total controle sobre os esqueletos e tinha o seu respeito. Depois que os esqueletos se foram, ela ficou treinando alguns golpes contra o nada e Hades via a persistência da garota e a busca dela pela perfeição nos golpes que aplicava. Ele nunca havia visto alguém acabar de sair de um estado de quase morte para segundos depois estar no campo de batalha vencendo todos os que se opusessem a mesma.

Hades viu ali alguém que talvez pudesse ser perigosa caso estivesse do lado errado, mas ele sabia que ela optaria pelo certo.

–Querido?

Hades reconheceu a voz doce, era Perséfone que estava ao seu lado também observando a menina treinando seus golpes contra o vento.

–Sim?

–Acha que ela escolherá o lado certo?

Só os dois sabiam do que falavam um conhecimento que não compartilhariam com ninguém por poder prejudicar um futuro que talvez pudesse não existir e tudo dependia daquela pequena filha de Hades treinando nos jardins de Perséfone.

Hades olhou para a filha com carinho e ele estava certo que ela escolheria o certo, mesmo que significasse a sua infelicidade, infelizmente Hades sabia disso por saber o defeito mortal da filha.

–Sei que sim, ela pode parecer fria ou insensível, mas não é. Ela saberá o lado certo.

Quando Perséfone saiu do lugar Hades voltou a admirar a filha e todo o seu esforço, um sorriso orgulhoso e discreto brotou em seus lábios e ele sussurrou para si mesmo:

–Ela sempre soube.