P. V. O Melany

Acordei um pouco dolorida, mas logo me levantei e segui para o banheiro já que hoje seria meu último dia. Fiz minha higiene matinal e coloquei um short preto, uma camiseta preta com uma flor roxa desenhada, meu all-star preto, minha espada-luva e minha jaqueta que não cobrem os braços, amarrei meu cabelo num rabo-de-cavalo para completar.

Observei que em minha cama havia o aviso que se não fosse embora até o meio-dia as harpias da limpeza iriam me devorar. Suspirei com isso e arrumei minha mochila, guardando tudo o que tinha. Logo escutei a concha anunciando o café da manhã.

Não sentia fome, mas mesmo assim fui. O café foi tranquilo e sem nada empolgante, logo voltei ao meu chalé e arrumei o que faltava me certificando que não iria esquecer nada.

Botei a mochila em minhas costas e peguei meu violão com cuidado, sai do meu chalé e segui para o chalé de Atena. Lá encontrei Annie lendo um livro distraidamente, pigarreei e chamei sua atenção. Ela sorriu e disse me abraçando:

–Vou sentir sua falta, Demons– falou ela.

–Eu também, Sabidinha e queria pedir pra você guardar meu violão- pedi.

Desde o “ataque” de Leon ela me chama de Demons por ser o contrário de Anjo, eu já me acostumara e até gostava. Todos estão me chamando assim, até o Sr. D. Eu a chamava de Sabidinha porque Percy havia dado esse apelido a ela pela inteligência.

Ela concordou em guardar o violão e me levou até seu quarto para conversarmos. Chegando lá, ela indicou que eu sentasse em uma cadeira e assim fiz, logo ela sentou na minha frente.

–Demons, eu queria falar com você sobre seu irmão. Ele é um pouco... Imprevisível. Ás vezes, ele está num momento triste e bem pra baixo e no outro ele mostra alguns sorrisos. Não falo isso pra te assustar nem nada, mas pra te dar um aviso. E uma coisa muito importante, nunca pergunte sobre outros filhos de Hades.

–Por que?

–Ele perdeu a irmã que também era filha de Hades.

Ela suspirou e contou tudo sobre minha meia-irmã, seu nome era Bianca e ela morreu salvando seus amigos. Isso estava incluindo o Percy e o Grover. Achei a história dela a coisa mais linda do mundo, ela era tão corajosa e forte. Pensei se algum dia eu seria assim tão poderosa, forte e inteligente. Annie contou o que meu irmão fez e tal, mas em nenhum momento ela disse o nome de meu irmão.

–Annie, qual o nome dele?

– É melhor você descobrir por si mesmo.

Annie sorriu e apenas retribui. Saímos de lá e fomos para a arena de espadas para treinar uma última vez. Coloquei minha mochila num canto e segui minha amiga para o centro do campo.Ficamos de costas uma para a outra e enfrentamos os que nos desafiavam.

–Demons, eu vou sair um pouco- falou Annie.

Assenti, ela estava ofegante e saiu de lá suada. Eu ainda tinha energia para enfrentar um exército e continuei lá.

P. V. O Nico

Acordei cedo naquela manhã, fiz minha higiene matinal e vesti uma calça preta, uma blusa preta com uma jaqueta preta de couro por cima, coloquei um sapato qualquer e peguei minha espada. Sai de meu quarto e segui para a sala de jantar onde tomei meu café da manhã com minha madrasta, Perséfone, e meu pai, Hades.

–Nico, Hades... Eu queria me desculpar pelo meu comportamento há alguns dias, em relação a sua irmã e a sua filha... Eu não sei o que me deu... Eu não deveria ter agido daquela maneira- falou Perséfone cabisbaixa.

–Tudo bem, meu amor. Eu entendo sua reação, gostaria que você tratasse... –falava meu pai.

–Não se preocupe, querido. Não vou fazer nada com ela, seremos boas amigas pode ter certeza- falou ela- e você, pequeno? Me perdoa?

–Claro, você é quem sempre me salva Perséfone. Mas agora vou indo e pai... Tem certeza que ela tem que vir?- falei.

Ele sabia de quem eu falava, a outra filha dele. Eu acho que ela é uma patricinha parecida com uma filha de Afrodite, mas meu pai disse que eu iria me surpreender. Meu pai não costuma demonstrar carinho com ninguém a não ser com Perséfone, mas quando ele falava da outra filha havia um carinho a mais.

Não que eu estivesse com ciúme disso, mas interessado no porque daquilo. Logo Hades, o cara que impiedoso e que não demonstra qualquer sentimento a não ser o ódio agora está demonstrando afeto.

Talvez tenha algo a ver com a mãe da menina. Com minha mãe aconteceu algo trágico por causa da Grande Profecia, por eu ser filho de quem sou. Mas o que poderia ter acontecido com a mãe dela enquanto estava viva? Eu nem sabia como ela morrera e nem porque todos os deuses tinham um ENORME interesse em minha irmã, mas iria descobrir.

Viajei pelas sombras e logo estava em frente à entrada do Acampamento Meio-Sangue, fazia muito tempo que eu não vinha aqui. Olhei para Peleu, o dragão que guardava o Velocino, e sorri. Logo entrei no Acampamento e fui direto para a casa Grande, dali eu conseguira ver os novos chalés sendo construídos (por causa do pacto de Zeus e Percy), iria ser construído um para Hades também, mas eu não viria morar aqui.

Quando entrei na Casa Grande vi Quíron, o Sr. D e Percy conversando descontraidamente, até que Percy me viu e veio me cumprimentar, seguido por Quíron e logo pelo Sr. D.

–Que ótimo que está aqui e blá-blá-blá, mas o que veio fazer aqui? – perguntou o Sr. D.

–Vim buscar minha irmã, irei levá-la para o Submundo comigo- falei.

De repente o Sr. D se empalideceu, parecia que tinha morrido ali naquele momento. Então pareceu despertar de seu transe e me olhou com ódio, em seus olhos havia fogo roxo, mas também era visível que ele estava triste.

–Vai levar a neta de Apolo?- perguntou ele com raiva e tristeza na voz, assenti e ele suspirou pesadamente- Logo ela, a única campista de quem realmente gosto... Peter Johnson, leve o garoto até a Demons.

Demons? Quem é Demons? Achei melhor nem perguntar, vai que é o sobrenome dela ou algo parecido, se eu perguntasse era possível do Sr. D achar que não conheço minha irmã e não deixar que eu a leve. Mas você realmente não a conhece, falou minha consciência.

Percy e eu fomos conversando animadamente até o campo de espadas, estranho. Achei que minha irmã estaria com as filhas de Afrodite se maquiando. Olhei para o campo e tinha uma linda garota de cabelos negros com mechas loiras, pele muito branca, corpo perfeito e feições angelicais. Era ela, a garota que eu vira no rio Estige, Mel. Ela lutava muito bem, qualquer um que ousasse se aproximar saia completamente ferido, com cortes realmente profundos, ela levava aquilo bem a sério.

Percy notou para quem eu olhava e deu um sorriso de leve, bateu sua mão no meu ombro e disse:

–Aquela é a sua irmã... O nome dela é Melany, mas nós a chamamos de Demons... Longa história- ele disse.

Ela era a minha irmã?! Droga! Ela era tão linda e habilidosa que... Uau. Ela continuava lutando como se não tivesse notado nossa presença. Até que ela parou, o último havia sido derrubado e alguns filhos de Apolo retiravam os feridos, que eram muitos.

Eu ia avançar e falar com ela, mas Percy me impediu e apontou para ela. Ela não parecia estar mais calma ou menos agitada, nem sequer satisfeita, andou até os bonecos e começou a decepá-los.

Eu só acho que Ares deve AMAR essa garota. Quando ela decepou o último boneco começou a normalizar a respiração e se acalmar, olhou em nossa direção e sorriu para Percy que gritou:

–HEY DEMONS, VEM CÁ.

Ela correu para onde estávamos, olhou para mim e pareceu me reconhecer, deu um leve sorriso e apertou sua espada que virou luva.

–Demons esse é Nico, filho de Hades e seu irmão. Nico essa é a Demons... Quer dizer, a Melany- falou Percy.

Tivemos uma breve conversa até que ela pegou a mochila escorada num canto e pôs nas costas, ofereci para levar, mas ela recusou. Caminhamos ao chalé de Apolo e ela entrou mandando que esperássemos do lado de fora.

–O que achou dela?- perguntou Percy.

–Parece ser legal, é bem diferente do que eu achei que ela seria- admiti.

–Mais bonita?- assenti- Muitos aqui pensam a mesma coisa, sua irmã tem vários admiradores- lhe lancei um olhar de ódio e ele se defendeu- Calma Nico, eu não sou um dos admiradores da Demons, eu to com a Annie lembra?

Apenas assenti e mudamos o assunto, conversamos sobre como as coisas haviam acontecido desde o fim da guerra com os titãs. Agora parecia que tudo estava mais calmo já que não havia outra Grande Profecia.

(Narradora: LEMBRANDO NOVAMENTE QUE AQUI NÃO HÁ A SEGUNDA GRANDE PROFECIA)

Ele parecia mais feliz já que agora não tinha que carregar o peso de salvar ou destruir o Olimpo e admito que também estou muito mais feliz depois do fim da guerra.

Logo Mel saiu do chalé acompanhada de três filhos de Apolo, ela já havia trocado de roupa e estava com um vestido preto curto e um all-star. Os filhos de Apolo a abraçavam e diziam que iriam sentir sua falta. Estava ficando irritante. Até que eles finalmente a soltaram.

Não demos três passos para longe do chalé e dois garotos, filhos de Atena, correram até nós e foram se despedir da minha irmã. Ai que ódio. Mas ela parecia que nem os conhecia, só sorria melancólica. Logo um bando de garotos muito novinhos de no máximo treze anos passaram por nós, eles olhavam para Mel como se ela fosse arrancar a cabeça deles a qualquer instante. Ela nem ligou.

Estávamos a poucos metros da Casa Grande e Annie apareceu, começou a conversar com Mel, eu e Percy resolvemos entrar porque dava para ver que elas queriam ficar a sós.

Lá dentro o Sr. D estava jogando um jogo de fliperama enquanto Quíron olhava uns pergaminhos, assim que notaram nossa presença pararam de fazer o que faziam para nos cumprimentar. Começamos a conversar animadamente até que escutamos a voz de Mel um pouco mais elevada vinda do lado de fora.

Saímos e Annie já não estava mais ali, na verdade tinha um garoto de cabelos pretos e muito forte, ele tinha seus braços na cintura de Mel e ele a beijava. Ela tinha os braços inertes ao lado do corpo, parecia não ter reação. Pensei que ele seria namorado dela.

Percy, Quíron e o Sr. D se agitaram ao meu lado. Percy mandou que o garoto chamado Leon a soltasse e ele deu outro beijo em minha irmã, notei que aquele garoto NÃO era namorado dela. Aproximei-me e dei um soco nele que só cambaleou dois passos para trás, distância necessária para eu afastar minha irmã. Passei meus braços por sua cintura e coloquei-a um pouco atrás de mim, se ela se machucasse papai não me perdoaria e nem eu mesmo me perdoaria.

O garoto sacou a espada e me olhou com ódio. De seus olhos parecia que transbordaria chamas. Ele olhou para minha mão na cintura de Mel e as chamas aumentaram e ele falou:

–MINHA... Largue o que é MEU.

Ele ia me atacar então Mel saiu de trás de mim numa velocidade inumana e se pôs entre nós, no mesmo momento ele parou o ataque e suavizou sua expressão, deixou cair sua espada e abraçou minha irmã com cuidado passando seus braços por ela numa posição de proteção.

–Você está machucada? Eu te machuquei? Por favor, diga que está bem.

Ele parecia muito preocupado com ela, não parecia o mesmo cara que quase me matara há segundos, que cara bipolar. Parecia que se algo acontecesse com ela, ele morreria ou algo assim. A preocupação era visível em seu olhar e em seu tom de voz.

–Estou bem tá... Calma- ela passava a mão pelos cabelos dele- está tudo bem, eu estou bem.

A voz dela era doce e suave, poderia acalmar qualquer um e a maneira que ela recitava aquelas palavras, parecia um mantra ou algo assim. Leon se acalmou e apertava ela para seu corpo com mais força tentando protegê-la.

Eu, Percy, Quíron e o Sr. D estávamos surpresos e paralisados com aquela cena. O que era aquilo? Em um segundo ele a beija a força, tenta me matar por tocá-la e no outro a abraça com todo o cuidado e preocupação do mundo como se ele não tivesse cuidado ela poderia quebrar. Quíron pigarreou e disse:

–Acho melhor que continuemos isso lá dentro.

Todos entramos. Sr. D ainda parecia muito preocupado com o que acontecera, quando se sentou puxou Mel para que se sentasse ao seu lado, Leon rosnou para ele e se sentou do lado dela, eu e Percy ficamos num sofá e Quíron foi para sua cadeira de rodas.

–Bem, o que foi isso que aconteceu há pouco?- perguntou Percy para Leon.

Ele se encolheu todo e olhou para minha irmã como se esperasse que ela o condenasse e o fuzilasse com os olhos, mas ela apenas lhe sorriu o incentivando a falar e ele começou:

–Eu tinha ido pedir desculpas pelo que havia feito anteriormente e ela me escutou, depois houve um pequeno momento de discussão sobre se eu faria isso novamente e não resisti e a beijei, ela fica tão linda quando está brava... Mas ai vocês apareceram e ele tocou nela, ela é minha entendeu garoto?!- ele falou olhando para mim- Eu ia atacá-lo, mas quando ela ficou entre nós... Eu nunca poderia machucá-la... Nunca me perdoaria então vocês já sabem o resto.

Passamos alguns momentos no silêncio até que Mel tomou a primeira atitude, abraçou Leon fortemente dizendo que o perdoava.

Mas espera ai... O que ele tinha feito anteriormente? E por que diabos ele beijou a MINHA IRMÃ? Idiota. Percy notou minha confusão e contou o que aquele cara havia feito anteriormente e quase enlouqueci.

Como ele pode machucá-la? Ela é tão doce e frágil, tão linda... Ei Nico, espera ai ela é sua I-R-M-Ã, nada mais. Concentre-se, gritou minha consciência.

Depois de um tempo de diversas explicações eu poderia finalmente ir embora com Mel, mas então começaram as despedidas. Droga.

–Vou sentir sua falta, mas logo você estará de volta né Demons- falou Percy.

Ela riu e deu um abraço meio desajeitado. Tão linda, pensei. Quíron se levantou e foi até ela com um simples aperto de mão que parecia que ela achou mais confortável.

–Divirta-se por lá- falou Quíron.

Chegara à vez do Sr. D e eu achei que ele ia dizer coisas do tipo “vou sentir sua falta”, mas ele apenas sorriu e eles deram um abraço desajeitado como se estivessem com vergonha de expressar os sentimentos.

Ela e Leon trocaram um abraço apertado e ele deu um beijo na testa dela, logo ela me deu sua mão para partirmos. Levei-a para um local escuro e expliquei como viajar nas sombras. Entrei primeiro e a esperei.

Em poucos segundos ela apareceu e já sem forças caiu em meus braços, ajeitei-a e caminhei rumo ao palácio de meu pai que ao ver ela daquele jeito quase grita, mas Perséfone interviu mandando que ele se calasse para que ela não acordasse.

Levei Mel para seu quarto e a deitei em sua cama, cobri com um lençol e depois sai. Meu pai pediu explicações e comecei a falar sobre tudo o que acontecera desde o Acampamento até o agora.

Quando eu terminei havia um fogo negro em seus olhos, do mais puro ódio que nem Perséfone conseguiu acalmá-lo.

–COMO AQUELE FILHO DE ARES OUSA FERIR MINHA FILHA?!- esbravejou Hades- E AINDA BEIJÁ-LA, COMO ELE OUSA?

Hades gritava em plenos pulmões. Hades não era o melhor pai do mundo nem o mais protetor, mas parecia que ele ia matar aquele garoto e eu me sentia da mesma forma. Perséfone teve de insistir muito até que Hades parasse de gritar.

Ele ainda estava furioso e andava com passos pesados pela sala, em alguns momentos ainda gritava de tanto ódio.

–Hey... O... Que... Está... Acontecendo?- falou Mel com dor.

Ela estava mancando e estava muito fraca, não sei nem como estava acordada depois da primeira vez da viajem nas sombras era quase que impossível.

Corri e passei meus braços por sua cintura para que ela permanecesse de pé. Perséfone soltou um breve suspiro de surpresa e correu atrás de um pouco de Ambrosia.

–Melany, você está bem? Precisa de algo?- perguntou Perséfone preocupada.

–Não... Obrigada... Eu vou melhorar logo- falou ela com certa dor e cansaço- me chame de... Demons ou Mel.

Perséfone sorriu confusa e perguntou sobre por que Demons e contei a razão já que Mel não tinha muita energia e força. Logo depois de uma breve conversa carreguei Mel para seu quarto e ela adormeceu assim que se deitou na cama.