Por Você escrita por Andye


Capítulo 1
A Garota da Motocicleta


Notas iniciais do capítulo

Estou com a ideia dessa história faz um tempo, e depois que umas companheiras amigas aqui do Nyah me instigaram, resolvi postar. Este é apenas o prólogo, e caso seja bem aceito, continuarei.Abraços da Andye.



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Esta é a história de Hermione. Hermione Jean Granger.

Hermione era uma menina saudável e arteira que nasceu e cresceu na pequena cidade ensolarada e florida, com muitas construções medievais e cheia de gente circulando: Canterbury¹.

Ela sempre esteve rodeada de muito amor e inspiração. Hermione tinha quatro irmãos: Tomas, Joshua, Noah e Evelyn, e ela não entendia porque tinha que ser a mais nova e mais protegida de todos os outros e por vezes entrava em conflito com a mãe por não poder acompanhá-los nas pescas ou passeios aventureiros.

Ela era cinco anos mais nova que a irmã mais próxima e isso lhe restringia a ficar em casa enquanto os outros se divertiam, mas Hermione era feliz, até aquele dia.

Aos nove anos perdeu sua avó, uma senhora animada e de bem com a vida a qual ela não se lembrava de ter visto chorar uma única vez em sua vida, para uma doença até então desconhecida: a leucemia.

Hermione se lembrava de como a claridade que encobria a sua família havia se transformado em algo muito próximo ao cinza que antecedia as grandes tempestades. Ela chorou. Lembrava que havia chorado muito, assim como sua mãe e seus irmãos. Lembrava-se de como seu pai tentava lhes confortar e, ainda mais, lembrava-se de como a falta da sua avó lhe doía.

Entendam: Hermione nunca havia presenciado a morte.

Então, sentenciou que não mais aceitaria que a morte levasse as pessoas por não terem ou saberem como se cuidar e mesmo que soubesse que a morte, em determinados momentos, era inevitável, não se abalou.

Hermione cresceu.

Cresceu e se tornou uma garota bonita em sua simplicidade. A pele clara tinha algumas poucas sardas sobre o nariz e seu rosto delicado era adornado por olhos castanhos intensos, de um brilho tão profundo quanto seus sentimentos. Nariz pequeno, lábios levemente grossos e muito delineados e cabelos com cachos moderados e do mesmo tom de seus olhos; um marrom achocolatado.

Hermione também tinha alguns atrativos físicos, e embora a estatura mediana não lhe permitisse tanto glamour, não se incomodava em ser um tanto rechonchuda aos famosos padrões estéticos da mídia, ou como a maioria das europeias, já que tinha seios levemente volumosos acompanhado de um quadril grande e arredondado, ao qual ela tentava esconder como podia devido a sua cintura fina e marcada, o que, a seus olhos, fazia aquela parte do corpo aparentar ser dez vezes maior do que já era. Sobre isto ela culpava o pai, natural do Brasil, que viera tentar a vida na Europa e tinha na família mulheres arredondadas e voluptuosas.

Aos dezessete conseguiu o que desejara desde a infância: a aprovação no curso de medicina.

Depois de muito choro e implicância de sua mãe, que sofria ao ver um de seus filhos sair de diante da presença de seus olhos, Hermione encontrou um quarto próximo a faculdade onde faria seu curso alegando para a mãe que eram apenas duas horas de distância de Londres para Canterbury, e que não seria o suficiente para entrar em depressão por falta de encontros.

O apartamento era em uma residência universitária, pequeno e dotado de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Estava ótimo para ela e foi ali onde tudo começou a mudar.

Conheceu, por fim, Vanessa, Luna e Leonel, e estes eram seus colegas de quarto. Não poderia negar o fato de estranhar que Luna e Leonel dividissem o mesmo quarto, mas foi por pouco tempo, até descobrir que o rapaz era gay.

Ela se impressionou, logo de início, porque onde morava, sempre que via algum homossexual, eles estavam trajados de vestidos curtos e saltos altos, adornados de muita maquiagem e perucas. Isto até conhecer Leonel, um garoto vindo da Espanha e que tinha uma pele eternamente bronzeada, que em nada se assemelhava aos outros. Então ela começou a pensar que talvez conhecesse muitos outros como Leonel e nunca percebera.

Gostou dos três logo de cara, e achou incrível o jeito despojado que Luna demonstrava ter, sempre animada e de bem com a vida, tanto que se não fosse a grande diferença de idade, poderia até mesmo pensar que ela era irmã de sua avó.

Vanessa, a mais jovem dos três, seria sua colega de quarto. Era negra e alta, muito centrada em tudo o que fazia e falava com uma delicadeza que acalmaria qualquer pessoa, o que fazia Hermione pensar que talvez tenha sido este o motivo que a fez escolher pediatria como sua área especifica.

Porém, Hermione simplesmente achava que ela poderia ganhar muito mais dinheiro no mundo da moda com seu corpo fino e esguio, sua beleza negra rara e sua altura assustadoramente altiva, mas ela nunca contestaria, cada um tinha um motivo para estar ali, assim como ela mesma.

E já era a mesma coisa fazia sete longos anos. Naquele mesmo ano, Leonel e Luna os deixariam por estarem concluindo os seus estágios nas áreas de Neurologia e Geriatria e Hermione sentia uma coisa estranha dentro do peito, como se, em breve, fosse perder mais uma parte de sua família, por mais que eles fossem morar por perto e vivessem prometendo que jamais se separariam.

Hoje era o seu dia de folga e Hermione aproveitou o momento sozinha para comer brigadeiro enquanto assistia pela milionésima vez Nunca Fui Beijada². Não que ela nunca tenha sido beijada, já que havia tido um namorado aos quinze e alguns rolos depois que se mudara, mas ela simplesmente gostava daquele filme e adorava vê-lo sempre que podia, como agora.

Bufando, ela deu pausa no aparelho de dvd enquanto se dirigia a duros passos até o telefone que havia sido pendurando há alguns meses na parede da cozinha do apartamento. Tirou do gancho não tão animada, sem conseguir conter a raiva de ser interrompida por um longo tempo.

– Hermione Granger, por favor. – soou a voz metalizada da mulher do outro lado do aparelho.

– Sim, sou eu. - respondeu curiosa por alguém estar lhe procurando.
– Olá Hermione, aqui é Millena Fals, da Escola de Medicina.

– Ah, sim Dra. Fals. – continuou ao reconhecer sua professora orientadora – O que a senhora deseja?

– Hermione, não sei se lembra, mas faz uns oito meses que você preencheu um formulário para acompanhar casos de leucemia na clínica escola, estou certa?

– Sim, Dra. Fals, isto mesmo.

– Ainda tem interesse?

– Claro que sim. – ela se afobou – É o que tenho estudado. Quero me especializar em hematologia e seria perfeito pra mim.

– Ótimo. - a mulher continuou – Na próxima semana receberemos um novo paciente em nossa clínica. Ele está vindo de uma outra clínica porque o protocolo que estava sendo administrado está mostrando recidivas. Eu serei a médica dele e vou precisar de um assistente. Pensei em você. O que acha?

– Aceito. - ela falou sem pestanejar.

– Então tudo está acertado. Vou precisar de seus documentos pessoais para te colocar como minha auxiliar no caso.

– Tudo bem. Levo para a senhora amanhã mesmo.

– Não tenha medo, Hermione, você é uma ótima aluna, muito dedicada e será uma ótima médica, tenho certeza.

– Muito obrigada, Dra Fals.

– Não agradeça, apenas faça o seu melhor. Até amanhã.

– Até.

E ela ainda estava em estado de semi-catatonia quando desligou o telefone e caminhou até o sofá da sala, sentando e pegando o controle do dvd, mas sem o utilizar e, em poucos instantes, ela estava gritando e pulando pelo apartamento com a alegria de ter conseguido aquilo que mais queria: fazer parte de uma equipe e mostrar o que sabia.

Correu em estado de verdadeiro torpor até o celular e ligou para a mãe. Não conseguia controlar a euforia ao contar que se inscreveu como quem não esperava nada e que aos vinte e quatro anos conseguiu algo que só seria possível cogitar aos vinte e sete.

Trocou imediatamente de camisa e colocou uma calça e suas botas sem salto, deixando o filme para depois. Desceu os andares quase correndo e, ao subir em sua moto, não aguentava dentro de si de tanta alegria. Precisava comemorar, e o fez, indo até o hospital e chamando seus colegas de quarto para uma pizza, a qual ela mesma pagou.

Não se preocupou com a cara que Leonel fez ao lhe encontrar dizendo que aquelas terríveis botas cor de caramelo em nada realçavam sua beleza e que, em breve, o solado furaria de tanto que ela as usava. Ela não se importou, sorriu apenas na companhia deles e se divertiu satisfeita por sua nova conquista.

O que Hermione não sabia era que aceitar esta oportunidade mudaria para sempre e completamente a sua vida.


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Notas finais do capítulo

¹Canterbury: http://en.wikipedia.org/wiki/Canterbury
²Nunca Fui Beijada: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-20114/



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