As sombras da casa 13 escrita por Tainá de Andrada


Capítulo 2
Capítulo 2: Imortal


Notas iniciais do capítulo

O começo deste capítulo se passa em uma época diferente para explicar coisas extremamente importantes para a história. Espero que gostem!



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Século XIX

O inverno chegava à pequena vila, algumas famílias se reuniam em frente as lareiras para espantarem um pouco do frio que congelava suas mãos e ressecava seus lábios. As crianças divertiam-se com a neve que caía na janela e por todo o quintal, uns até se atreviam e andavam por ela, montando pequenos bonecos de neve com narizes de cenoura.

Para todos aqueles moradores, o frio trazia união e paz, um ambiente gélido que aquecia corações: sopa, neve, música e amor — alguns dos ingredientes que tornavam o inverno agradável.

Mas nem tudo era uma maravilha. Ao menos, não naquele inverno. A partir deste dia, tudo mudaria. Ao menos pra Helena — uma jovem dona de uma beleza incomparável, inclusive, odiada por muitas outras mulheres da cidade por ser cortejada pelo Lorde Philipp, um rapaz belíssimo, que morava na cidade ao lado e que vinha de uma família extremamente rica. Casar-se com ele era o sonho de todas as moças daquela pequena cidade.

Helena escuta alguém bater em sua porta umas três vezes. Rapidamente, ela se arruma e corre para abrir a porta, ofegante.

— Senhorita Helena? — ao abrir a porta, ela repara no homem de cabelos grisalhos e o rosto marcado por rugas, que vestia um paletó e um chapéu tão chiques que denunciavam que ele não era dali.

— Sim?

Ele balançou as mãos em sua direção e abaixou a cabeça, como se fosse chamá-la para dançar. Helena recuou, um pouco surpresa. E ao perceber sua reação, o homem apontou para uma carruagem que estava parada do outro lado da rua, de frente com a mercearia do Jonah. "Tão bela, como não a notei por aqui?" pensou ela.

Enquanto estava distraída com a carruagem, o homem abria um pedaço de papel que estava dentro de um tubo. Deu um pigarro e começou a ler.

— Senhorita Helena, o Lorde Philipp convida-a para um jantar em sua casa esta noite. Traje formal. Às sete horas. — terminando, ele enrolou o papel e o esticou em direção à moça, que ainda estava sem entender o que estava acontecendo.

— Convite aceito! Diga ao Lorde Philipp que estou agradecendo-o. — ela sorriu e pegou o papel que o homem estava esticando em sua direção.

— Ótimo, mandaremos uma carruagem aqui neste horário.

(...)

A noite demorou a chegar para Helena. Seu dia finalmente havia chegado! Lorde seria seu, apenas seu para todo o sempre. Pôs-se de frente ao espelho e começou a reavaliar-se, afinal, deveria estar perfeita para seu futuro homem.

A imagem refletia seus olhos azuis como o céu e suas madeixas loiras que ondulavam-se levemente na altura dos ombros até a cintura. Sua pele levemente rosada transparecia ainda mais enquanto ela sorria e pensava em seu Lorde. Até porque, não era para pouco, de todas as mulheres do mundo, ele escolhera ela para amar.

Ela tinha certeza disso! Ele a amaria assim que cruzassem o olhar na mesa de jantar.

(...)

De dentro da carruagem Helena observava o caminho e percebia que ele ficava cada vez mais longe e mais assustador.

— Senhor, estamos indo ao local certo? O Lorde não mora na cidade? Isto me parece um bosque, ou algo do tipo. — questionou.

— Senhorita, o Lorde pediu para que mudássemos o local. Deixará de ser em sua mansão e será em sua casa à beira do lago. — o homem respondeu tão automaticamente que parecia que já tinha dito isso diversas vezes.

— Tudo bem então...

Claro que Helena tinha se imaginado na famosa mansão de Philipp, mas isso infelizmente não seria possível. Não naquela noite, mas quem sabe em uma próxima. Eles terão a eternidade juntos, segundo seus sonhos.

— Chegamos. — o homem se levantou e abriu a porta para ela.

Helena tomou um susto ao se deparar com uma cabana, na beira do lago. Nada de especial, apenas madeira. Nenhum detalhe em ouro, nem mesmo prata. "Eu não mereço isso!" pensou, irritada. Mas então relaxou quando viu a silhueta de Philipp, apoiado na porta.

— Não vai entrar? Está muito frio aqui fora... — ele disse, sua voz soava como música para os ouvidos de Helena.

Ela assentiu com a cabeça e correu para a cabana.

— Como você está? — ele perguntou, atencioso.

— Um pouco decepcionada... Pensei que íamos para sua casa.

— Me desculpe, ocorreu um imprevisto e tive que vir para cá. Mas, se quiser podemos marcar outro dia. — ele abaixou a cabeça.

— Não! Perdoe a minha grosseria. Fui muito errada em pensar assim... Estou honrada com seu convite.

— Tudo bem. Venha aqui, quero ver o seu rosto mais de perto.

Hesitante, ela se aproximou. As mãos geladas de Philipp causaram uma sensação de choque contra suas bochechas, sentiu um arrepio na espinha. Nunca esteve tão próxima assim de um homem. Podia sentir a respiração dele contra seu rosto.

— Você nunca esteve com um homem, não é mesmo? — ele sorriu, maliciosamente.

— Não. Estou me guardando para o amor da minha vida.

— Este sou eu? — ele soltou um risada.

— Em meus sonhos, sim, é você. — suas bochechas queimavam, apesar do frio.

— Vou lhe servir uma taça de vinho... Fará com que te relaxe.

— Sinto muito, eu não tenho o costume de beber. — ela respondeu gaguejando.

— É como suco de uva que te acalma.

— Tudo bem. Um copo, quem sabe.

Philipp era um homem extremamente charmoso, seus cabelos eram negros assim como seus olhos. Sua pele era puxada para o amarelo e não para o rosa, o que o fazia parecer bronzeado, mesmo diante de toda aquela neve. Seu rosto ela másculo e seu corpo largo, forte.

— Aqui está. Beba tudo. — ele esticou a taça em sua direção.

— Obrigada.

O vinho desceu queimando a garganta de Helena, que tentou disfarçar a careta sorrindo e bebendo mais uma golada — e acabou percebendo que a cada gole o gosto começava a melhorar. Lá se foi um copo, dois e três. Quando se levantou para deixar o terceiro copo em cima da mesa, cambaleou e caiu em cima do rapaz, que a segurou firme.

—Você me parece bem alterada, senhorita... — ele a colocou de pé novamente — Acho que está pronta.

— Pronta para o que? — perguntou embolando as palavras.

Sem que pudesse reagir, ele a empurrou brutalmente no sofá e arrancou suas roupas.

— Por favor, não...

— Eu sou seu amor, não se lembra? — ele disse, com um sorriso sádico desenhado em seu rosto que passara de atraente para assustador.

Helena fechou os olhos e tentou pensar em outra coisa, qualquer coisa, apenas para fugir dali.

— Acabei... — ele disse, saindo de cima dela — Se houvesse outra vez, talvez fosse até agradável para você. Mas não quero gastar meu tempo com uma megera que se entrega para o primeiro homem que vê.

Uma lágrima escorreu dos olhos de Helena. Ainda um pouco cambaleante, levantou-se do sofá e reparou que suas pernas estavam sujas de sangue. Pegou suas roupas e começou a se limpar e em seguida cobrir seu corpo. Se encolheu em um canto do sofá, apoiou o queixo em seus joelhos e deu-se a chorar.

— Já acabou, megera? Preciso ir embora... Minha mulher está me esperando.

Antes que pudesse tomar forças para responder, um barulho estrondoso toma a pequena sala.

— Seu infeliz... Eu sabia! — uma mulher entra como um furacão e vai em direção ao Lorde. — Você me prometeu que ia parar de fazer estas coisas. Não consigo acreditar que você fez isso comigo, Phil.

— Amélia, esta víbora me encantou, me seduziu. Me perdoe, eu juro que tentei resistir, mas sou homem... Ela se entregava para mim como uma prostituta. Eu não consegui resistir. — lágrimas tão falsas quanto suas palavras escorreram pelo rosto de Philipp.

— Quem é a megera? — seus olhos queimavam de raiva.

— Esta garota ai... Acredito que se chame Helena, mas não me importei com este detalhe pois não a amava.

— Eu acabarei com a vida desta garota, pelos poderes de Hojkhan, pode ter certeza que eu o farei. — ela gritava, enquanto andava em direção à Helena, que estava em prantos.

— O que você fará, Amélia? — perguntou Philipp não muito preocupado.

— Eu, Amélia Kopner amaldiçoo você e todos seus descendentes. — seus olhos verdes agora estavam completamente brancos e seus cabelos negros esvoaçavam com um vento repentino que tomava toda a sala. O fogo da lareira começou a estalar mais alto que o comum, assustando ainda mais Helena, que a encarava diante das lágrimas que distorciam sua visão. Amélia se aproximou ainda mais da pobre menina e arrancou um tufo de seu cabelo com as mãos, sussurrou algumas palavras inaudíveis, e em seguida os tacou na lareira — A partir de agora, toda a sua linhagem sofrerá da maldição de Vitalopus por toda a eternidade. Em nome de Hojkhan eu te amaldiçoo.

(...)

Helena tentava esquecer o ocorrido, mas algo a impedia. Algo que habitava dentro dela a mais ou menos nove meses. Uma vida….

Por mais que odiasse aquela coisa dentro dela, Helena não poderia largá-lo. A criaturinha não era culpada pelo que Lorde Philipp e sua esposa fizeram com ela.

— Filha, em breve esta coisa nascerá. Eu mesma farei o parto pois não quero que descubram sobre… Isso. — disse a mãe de Helena, suas palavras soavam ásperas, como se culpasse-a pelo ocorrido.

— E a senhora acha que ninguém desconfia, mãe? Nove meses se passaram! Que tipo de doença é esta que dura nove meses? — Helena passou a mão pelos cabelos que pareciam secos e sem vida — Olhe pra mim mãe, parece que estou morrendo. Esta coisa está me matando! — gritou.

— Helena pare de fazer escândalo! — Joselyn esbravejou — Quer que a vizinhança perceba?

— Me diga, mãe. O que a senhora espera que façamos com esta criatura quando ela sair de mim?

— Ainda não pensei nisso. Mas não podemos matá-lo. É seu, não é mesmo? Está em seu ventre. Se está aí é seu, trate de cuidar!

— Nunca mais serei amada… — resmungou Helena.

— Pare de reclamar! Ninguém mandou ser tão tola.

— Mãe, tem algo que não contei… — seus olhos se viraram para o chão.

Joselyn fechou os olhos e respirou fundo.

— Me conte, Helena. — disse, entredentes.

— Depois que ele fez “aquilo”... — parou por um segundo e respirou fundo tentando afastar as lembranças — Entrou uma mulher bem irritada, parecia ser a mulher dele, acredito eu. Seu nome era Amélia, se não me engano. — Joselyn a observava, em silêncio — Eu não entendi direito o que ela disse, mas gritava como uma insana… Ela falou algo de “Volatipus”…

Vitalopus? — Joselyn arregalou os olhos e respirou ofegante.

— Isso mesmo! Então, ela falou essa palavra, arrancou meu cabelo e tacou na fogueira… Pode ser loucura de minha parte, mas eu me senti estranha mãe. Nunca acreditei nessas coisas, a senhora sabe, mas ela me assustou. Seus olhos ficaram completamente brancos e…

— Helena, eu não estou acreditando — a sua voz soava crespa — Você mexeu com uma feiticeira de Hojkhan? Não acredito! — gritou.

— Mãe, o que tem? — ela encostou as duas mãos nos ombros de sua mãe — A senhora está me assustando!

— Filha, toda a sua linhagem está amaldiçoada, inclusive você. Vitalopus é uma maldição muito forte, principalmente feita por alguém com tamanho ódio… Eu não sei muito sobre isso, seu pai que adorava essas lendas… — a mãe fez uma careta de dor ao lembrar do pai de Helena — Eu… Filha, eu só me recordo de algumas coisas.

— A senhora acredita nisso, mãe?

— Eu nunca acreditei. Mas… É possível.

— O que a senhora sabe?

— A história que sei sobre Vitalopus é sobre uma feiticeira tola, que leu o livro sagrado de Hojkhan e acabou encontrando este feitiço. Ele pregava a imortalidade, dizia que a mulher que o fizesse, seria destinada a viver para sempre…

— Até que não seria tão ruim… — Helena esboçou um pequeno sorriso.

— Mas tudo tem um preço, minha jovem. O preço desta maldição é a vida de outras meninas… Para viver para sempre, você terá que matar outras pessoas.

— E se eu não fizer? Eu morro?

— Depende do ponto de vista. Se você ficar sem “sugar a vida” destas jovens, você fica fraca e vulnerável o bastante para que qualquer coisa mínima te mate. Então, digamos que sim.

— Mãe, eu não quero isso. Eu não fiz nada! Como reverto? Me ajude… — implorou Helena.

— Querida, eu não sei… Eu só lembro dessa lenda pois eu fiquei um tanto chocada quando seu pai me contou.

— Então… Estou destinada a ser isso para sempre? A criança também? — ela perguntou, apontando para a barriga.

— Sim… Mas ela só receberá a maldição quando completar 21 anos, se não me engano. E assim se segue por toda a linhagem…

Helena soltou um grito estridente de dor e deitou no chão.

— Ele está nascendo Helena?

— Eu não sei mamãe, por favor, me ajude.

As horas passaram lentamente para Helena, a dor que sentia era quase insuportável e só cessou quando pode, então, ver a pequena criança em seus braços. Sua pele era avermelhada como da mãe, seu rosto remetia uma pintura, um anjo. Seus olhos permaneciam fechados e suas bochechas eram largas e rechonchudas.

Mesmo depois de tudo o que passou, Helena não se conteve em se apaixonar pela pequena menina.

— Mãe, olha que bela ela é. — Helena sorria e encarava a pequena criatura que se aninhava em seu colo e dormia.

— Eu mal consigo acreditar que sou avó… Eu a amo tanto! — Joselyn deixou escapar uma lágrima.

— Mamãe, eu posso fugir, mas não quero escondê-la.

— Você nunca terá um marido se escolher ficar com ela, Helena.

— Eu não preciso de um marido — Helena aproximou a pequena menina de seu rosto — Eu tenho ela e você… Não preciso de mais ninguém!

— A escolha é sua, minha filha… — a mãe de Helena sorriu ao olhar para a pequena menina — Qual será o nome desta pequena criatura?

— Emily, minha menininha imortal.

(...)

Século XXI

O tempo dentro daquela sala passava tão lento que parecia me corroer a cada segundo. Observava o relógio redondo que se localizava em cima do quadro branco que agora estava completamente lotado de números e letras.

— Charles? — eis que ela surge interrompendo, mais uma vez, meu leve devaneio.

— Oi.

— Te interrompi de novo, não foi? — ela deixou uma risada escapar.

— Sim Violet, como sempre! — bufei.

— É importante, seu resmungão. Olha isso aqui! — ela me apontou um livro de aparência velha, suas páginas eram duras.

— O que é isso? — perguntei, com uma leve curiosidade.

Senti um cutucão em meu ombro e quando me virei me deparei com o professor parado na minha frente e me observando com uma expressão um tanto sarcástica.

— Desculpe, estou atrapalhando a conversa de vocês? Porque se estiver, só me falar que eu paro a aula.

— Não professor, me desculpe. A culpa foi minha, eu que chamei o Charles. — disse Violet, com seus olhos fixos no professor.

— Tudo bem. Mas não façam mais isso! — ele disse, então.

— Depois eu te mostro, Charles. — ela sussurrou quando ele então se virou.

Quando o sinal da saída tocou, tudo que eu pensava era na Violet e seu livro bizarro. Ela era completamente diferente de todas as pessoas que eu conheci, talvez esse seu jeito tímido mas que ao mesmo tempo demonstra uma certa segurança em tudo, como se não tivesse medo de falar com as pessoas — coisa que é super comum em qualquer pessoa da nossa idade.

— Vamos para onde agora? — ela me perguntou, sorridente e levantando o livro para me mostrar.

— Que tal a praça? — sugeri

— Sim, a praça está ótimo. — antes que eu pudesse ter qualquer reação ela segurou minha mão direita e me puxou, quase correndo.

Para uma menina tão baixa e magricela, ela até era bem forte. Seus cabelos, agora soltos, esvoaçavam-se com o vento de uma maneira tão interessante que quase pareciam estar dançando.

— Chegamos, senta aqui. — ela me puxou para um banco e apoiou o livro em seu colo, me observando com uma excitação em seus olhos — Lembra aquilo que você me disse, sobre sua mãe? Sobre existir um submundo e tudo mais… Então, como eu já te disse, eu sou completamente viciada em livros e, principalmente, no sobrenatural.

— E o que este livro tem a ver com isso? Violet, já te disse que não acredito nessas coisas, por favor.

— Eu sei que não Charles, mas talvez eu mude sua ideia. Ou faça isso por mim, só isso… Pergunte para sua mãe sobre esse tal mundo sobrenatural que ela diz, pode ser? Mesmo que você não acredite, faça isso por mim. Por favor!

— Só se você me ajudar em álgebra. — disse, sorrindo ironicamente.

— Tá… Tudo bem. Mas faz isso primeiro porque, bem, eu pedi primeiro!

— Vou falar hoje com ela, e então te ligarei. Fechado?

— Fechado. Estarei te esperando.

A minha conversa com Violet foi imensamente agradável naquela tarde nebulosa. Algo em seu sorriso ou jeito de falar me fazia esquecer de todos os problemas que já tive em minha vida. Desde que conheci ela, até hoje, não pude evitar de perceber que alguma coisa mudou dentro de mim… Talvez eu não seja tão louco como todos diziam.

Quando cheguei em casa, Emi estava encolhida em seu edredom favorito, com a cabeça apoiada no sofá, descansando. Me aproximei lentamente dela e beijei sua testa. Seus olhos se abriram e ela me olhou meio sonolenta.

— Oi meu amor. Você chegou! — sua voz soava fraca e rouca, o que fez com que eu reparasse em sua aparência, que parecia acabada. Suas olheiras eram profundas, sua pele pálida, seus cabelos ouriçados pareciam secos e sem vida, como se estivesse doente, ou algo do tipo.

— Mãe, sei que agora não é a hora mais propícia, mas eu preciso conversar com você.

— Pode falar. — ela disse com uma expressão séria, enquanto se arrumava no sofá, apontando para um espaço ao seu lado — Sente aqui.

Sentei e me virei completamente para ela, encarando sua face.

— Sobre aquela nossa conversa, aquele dia… Eu queria saber mais sobre esse mundo “sobrenatural” que você disse.

— De verdade? — ela fez aquela expressão desconfiada e eu desviei o olhar.

— Sim, de verdade…

— Como eu te disse antes, existe esse mundo, que mais lembra uma grande cidade, onde criaturas de várias espécies, clãs, raças habitam. Este mundo é conhecido como Lumina e assim como toda sociedade, contém regras e hierarquias. Para criaturas como nós, lá é o lugar perfeito, mas infelizmente, existe uma certa seleção de espécies que podem ou não habitar em Lumina.

— Você disse aquele dia que nós fazemos parte desse mundo… Por que então não moramos lá? E porque não vi vestígios sequer dessas criaturas? — desta vez eu realmente estava interessado por este assunto, como se sentisse que algo fizesse sentido.

— Bom, meu ‘clã’ não mora lá porque somos dependentes de seres humanos para sobreviver. Além de sermos seres que descendem de algum tipo de maldição. Todos os seres que recebem algum tipo de maldição, seja ela hereditária ou na sua própria existência, acaba tendo uma certa rejeição pelos líderes de Lumina. Eles acreditam que seres amaldiçoados tem mais chance de conseguir a normalidade e por isso, devem viver com quem são mais semelhantes.

— Nossa… Isso é triste. Você gostaria de morar lá?

— Claro que sim, Charles. Lá é perfeito! Este mundo aqui não se compara nem um pouco com o de lá. Existe equilíbrio econômico, social e principalmente educacional. A educação de Lumina é excelente! As criaturas de lá são muito mais sábias que as daqui, provavelmente por isso são tão evoluídas nos outros aspectos. Mas enfim, é isso, eu nunca poderei morar lá, a menos que me livre da maldição que me faz precisar de humanos e conquiste a minha entrada por mérito. Só que se isso acontecer eu deixarei de ser sobrenatural, logo, é impossível minha estadia lá.

— Nossa… Esse lugar me parece muito interessante, de verdade. Apesar de um pouco rígido demais para o meu gosto. Mas, Emi, porque a minha ‘raça’ não pode entrar? Alias, o que eu sou, hein?

— Você vem de uma raça bem antiga, cujo o nome é Azimalus. O motivo pelo qual sua raça não é aceita em Lumina é o temperamento de vocês. Apesar de serem os seres mais fiéis e companheiros de todos os outros, são os mais instintivos e brutos. Mas existem alguns dos seus por lá, mas eles adquiriram o equilíbrio após anos de treinamento e estudo. Não é fácil, mas eu acredito que você consegue, por exemplo.

Todas as palavras de Emily começaram a formar um emaranhado em minha mente, como se uma das peças do quebra cabeça simplesmente se conectasse, como se ligasse um interruptor em mim e muitas coisas que eu deixei passarem despercebidas viessem como flashes.


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