A pracinha era vazia às 23h, um cenário perfeito para um filme de terror. Eu não sabia se o Owen realmente viria, nem se ao menos ele leu minha mensagem. Mas não posso culpa-lo, uma quase desconhecida te manda uma mensagem às onze horas da noite, pedindo para encontrá-la numa pracinha e você simplesmente vai?

O Owen simplesmente veio.

Escutei o barulho do motor da moto, passos se aproximando e depois duas mãos cobriram minha vista.

– Adivinha quem é?

– Hm... Mi? – entrei na brincadeira.

– Não...

– Nate?

– Não!

– Felipe? – meu Deus quem é Felipe?

– Porra Tess, você chamou meio mundo para te encontrar?

– É brincadeira Owen! – disse dando-lhe um beijo na bochecha.

– Hum, acho bom... – falou com um ar divertido – mas, o que que aconteceu? Você não parece nada bem...

– Hm, ér eu não queria falar sobre isso...

– Tudo bem! O que eu posso fazer para ajudar essa princesa indefesa – falou com o maldito sorriso.

– Me distraia!

*

– Owen, a-aonde você ta me levando? – gaguejei.

– Surpresa!

Nós já estávamos em cima daquele treco há alguns minutos e eu ainda não sabia aonde nós estávamos indo. Conseguia identificar uma casa ou outra, uma rua ou outra... Até que paramos em uma rua, mais especificamente a rua do Nate.

– Bem vinda à minha casa – disse fazendo uma reverência. Putz, eu tinha me esquecido que ele morava ao lado da casa do Nate.

Entramos numa casa, não mentira, numa MANSÃO. Era a casa dos sonhos de qualquer mulher de meia-idade.

Subimos as escadas e ele me levou ao seu quarto, ao contrário do resto da casa, não era muito grande, não era colorido e nem tinha pôsteres de carros ou motos. Era confortável e hm... tinha o cheiro do seu moletom.

– Esse é o aposento real

– Uau!

– Mas o melhor de tudo é a vista, vem cá – disse pegando minha mão e me conduziu até a sacada. A vista era maravilhosa! Logo abaixo havia uma piscina enorme e um jardim lindo que ficava ainda mais bonito a luz do luar. Eu conseguia ver uma parte da casa do Nate também.

– Fala alguma coisa!

– É lindo! Digo a vista...

– E ai? O que você quer fazer?

– Hm... Você que sabe, a casa é sua ué.

– Vamos lá pra baixo?

– Okay.

Descemos as escadas novamente e seguimos em direção a piscina, ele parou próximo à beira da piscina e sentou no deck e eu o imitei.

– Hm, me conta alguma coisa sobre você.

– Owen, 17, trabalho como baraman, mas só porque não quero ser um mimadinho pelos pais...

– VOCÊ É BARMAN? – interrompi. – Ta desculpa, mas você não um pouco novo pra isso?

– Eu tenho meus contatos... Mas enfim, eu só preparo drinks tá?! Eu não danço pole dance pros clientes ficarem colocando dinheiro na minha cueca e não. Não sou gay! - falou e caímos na risada.

– Ta me conta alguma coisa de você agora. – falou se recuperando.

– Hm... Tessalia, 16, vagabunda e é isso.

– Um dia você pode ir lá onde eu trabalho...

– Claro! – meu Deus como estava frio, acho que eu tava até tremendo.

– Hey, já volto.

– Ok.

Peguei meu celular para checar as horas e notei que tinha umas 2676525 mensagens da Chloe, decidi ligar pra ela e ver o que o pessoal estava fazendo na minha casa.

– Alô?

– Chloe?

– TESS! VOCÊ TA BEM? COM QUEM VOCÊ TA? AONDE VOCÊ TA? AI MEU DEUS VOCÊ TA VIVA!!!

– Calma Chloe eu to bem, to com um amigo fica tranquila ok?

– Ufa, todo mundo ficou preocupado com você! Nunca mais faça isso!

– Ta bom mãe.

– Olha, fica tranquila que eu já evacuei sua casa. Cada um esta em sua devida casa e seu quarto está organizado também. Eu sei que sou demais, obrigada. De nada.

– Muito obrigada sério! Ér eu tenho que desligar ok? – disse ao ver que o Owen se aproximava.

– Ok, beijão!

– Ér Chloe, se por acaso minha mãe perguntar, fala que eu dormi na sua casa ok?

– Ok... Juízo hein Tess! – e desligou. Não que eu pretendesse dormir aqui, nem muito menos fazer qualquer outra coisa, mas né...

– Toma – disse me estendendo um cobertor.

– Brigada! – e então um silêncio meio constrangedor se instalou. Ele não havia insistido em saber porque eu liguei pra ele, assim como não insistiu no dia da festa do Nate e eu acho que ele tem o direito de saber...

– Owen... Ér, sabe aquela noite na festa do Nate – ele concordou com um movimento de cabeça – então, quando o Jace pediu pra conversar comigo ele quase, QUASE, me beijou, mas tem um detalhe... Ele é meu melhor amigo. E ele falou umas coisas que me magoaram também, por isso que eu queria ir embora. E bem, hoje ele meio que se “declarou” pra mim e eu só não sabia o que fazer. E você foi a primeira pessoa que eu pensei...

– Tess você não precisa me contar isso...

– Eu sei, mas eu confio de uma forma estranha em você.

– Vou considerar um elogio – disse de forma sarcástica, arrancando-me um sorriso meio amarelo.

*

– Me faz uma pergunta – falei

– Hm... - ele ficou pensativo por alguns instantes –Você é virgem?

– OWEN! – disse dando um empurrãozinho nele. Só que não foi bem “inho”, bom se não estivéssemos perto da piscina, talvez teria sido... Mas acabou que eu, sem querer, empurrei ele na piscina...

– TESSALIA, É MELHOR VOCÊ CORRER! – gritou saindo da piscina. Eu não sabia se ria ou se corria, tentei correr o máximo que consegui pelo gramado, mas não conseguia parar de rir com a cena. Owen acabou me alcançando e me pegou no colo. Ele tava MUITO gelado.

– OWEN ME SOLTA – ele só ria e andava em direção a piscina – DESCULPA, ME SOLTA! EU VOU MORRER DE HIPOTERMIA! – ele já tinha chegado à borda da piscina.

– OPS – e o desgraçado me jogou na piscina.

A água estava C-O-N-G-E-L-A-N-D-O. Ele havia sentado em uma das cadeiras de sol e ria feito uma criança.

– Há há há engraçadinho – disse tentando me controlar para não rir.

– vem vamos lá pra dentro – disse ainda rindo.

Nós estávamos muito molhados e nossas roupas estavam grudadas no corpo. Fomos em direção ao quarto dele e deixamos pegadas molhadas por toda a casa.

– Owen seus pais vão nos matar!

– Relaxa, eles estão em uma viagem de negócios só voltam daqui uma semana.

Entramos no seu quarto e ele caminhou até o que eu supus que era seu closet. Pegou duas mudas de roupa e entregou uma delas pra mim.

– Você pode tomar um banho no meu banheiro se quiser... Eu vou usar o banheiro do corredor.

– Okay.

*

Depois de tomar um banho, examinei a muda de roupas que ele tinha me entregado, um moletom, uma boxer (?) e uma bermuda (?).

– Tess – escutei batidas na porta do banheiro – ao menos que você queira uma boxer e uma bermuda, essas roupas não eram pra você. – pensando bem...

– Ata, tava percebendo. – me enrolei na toalha e entreguei a bermuda.

– A boxer?

– Meu querido eu pulei com roupa na piscina, não vou ficar pelada embaixo do seu moletom.

– Hm ok...

Me troquei e sai do banheiro. Ele não estava la, então sentei no sofá e fiquei esperando. Ele demorou um pouco, mas quando chegou segurava duas xicaras.

– Toma – e me entregou uma das xicaras, que mais tarde descobri ser chocolate quente.

– Hm... Brigada.

– Magina – disse colocando um cobertor ao meu lado, se sentando e ligando a Tv.

Terminamos nossos chocolates quentes e começamos a assistir um filme qualquer que passava na Tv.

Me lembro de ter encostado a cabeça no ombro dele e depois de ter caído no sono, embriaga com seu cheiro.