– Eu...te..amo! – uma última lágrima rolou por seus olhos. Sua cabeça tombou de lado e o som do monitor cardíaco soou pelo quarto anunciando sua morte.

– HELENA! HELENA! – a chamei desesperado. – Volta pra mim! – pedi abraçando seu corpo. – Por favor, Helena.

– Deixa-nos a sós com ela! – o médico pediu. Hesitei não queria me afastar dela. Queria ficar ali insistindo para que ela me escutasse e voltasse pros meus braços.

– Temos que tentar ressuscitá-la

– Renê vem! – Júlio me puxou para fora, ficamos vendo o processo através do vidro do quarto, enquanto os outros esperaram destroçados no sofá. O corpo dela levava vários baques com a corrente elétrica do desfibrilador, mas nada dela voltar. Os médicos olharam um para o outro e balançaram a cabeça negativamente, aquilo era o fim. Helena tinha mesmo partido. Fui proibido de entrar novamente no leito, pois as enfermeiras estavam retirando os aparelhos dela. Não quis me juntar aos seus familiares, porque de certa forma me sinto culpado. Andei pelo corredor a procura do doutor Henrique. Acertarei minhas contas com ele, através de sua ganância aconteceu o que aconteceu.

– Está tudo bem Renê? Porque choras? – pergunta Suzana, nem sei o que essa mulher está fazendo por aqui.

– Nada que seja da sua conta! – respondo de modo grosseiro deixando ela sozinha na recepção.

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– Poderia me dizer o que houve com ele? – perguntei a recepcionista.

– A moça quem fez a doação de rim a ele acaba de falecer.

– E quem é essa moça, pensei que o rim fosse de algum morto.

– A senhora é conhecida do senhor Magalhães?

– Sim, sou Suzana irmã dele! – minto.

– Então a senhora deve conhecer a falecida, ela era noiva dele. Chamava-se Helena Fernandes Lários. – quase tive um ataque de felicidade perto da recepcionista quando ela me disse isso. Agradeci pela informação e liguei imediatamente pra Tereza.

–Oi Tereza, aqui é Suzana.

– Oi Suzana! – ela diz seca. – Ainda estou muito chateada contigo, por não ter comparecido no hospital no dia em que meu filho foi baleado.

– Eu sei Tereza, mas já lhe expliquei o que aconteceu.

– Ah claro! – diz num tom irônico.

– Estou te ligando porque tenho uma notícia maravilhosa que vai fazer você pular de alegria.

– E qual é essa notícia?

– Helena está morta, foi ela quem doou o rim a Renê. Ocorreu uma hemorragia durante a cirurgia que acabou levando-a a morte hoje.

– Jura Suzana?! – ela gargalhou de alegria. – Mal posso acreditar que isso aconteceu sem fazermos nenhum esforço.

– Isso mesmo. Renê está desconsolado. – respondo.

– Agora é sua chance de reconquistá-lo querida. Aproveite esse momento de fraqueza dele.

– É o que farei. Já vou indo tchau! – encerro a chamada.

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Você está bem! –ela disse fraco, deixando um leve sorriso brotar em seu rosto. – Eu estava...te..esperando! – completou

Renê, eu..preciso... te dizer antes de ...partir que... – sua respiração começou a falhar.

Eu...te..amo!

– Ela era incrível, esperou dez dolorosos dias para dizer que me amava. Não partiu sem antes dizer o que eu tanto queria ouvir. Diante do que ela fez por mim, isso já não era necessário. Mas engrandece ainda mais meu amor por ela. E o sofrimento? Não tem como explicar essa dor, minha vida sem ela não vai fazer sentido algum. – Passei minhas mãos por meu casaco sentindo algo me incomodando, lembrei-me que era o envelope que ela deixara com o doutor para me entregar depois que partisse. O abri imediatamente de lá encontrei seu celular. Não entendi porque ela queria entrega-lo a mim. Liguei vasculhando tudo, admirei cada foto e vídeo nosso que havia ali. Um em especial me chamou atenção, estava datado a dez dias atrás. Apertei o play dando inicio a ele.

#Vídeo

Oi Renê, acredito que quando estiver vendo esse vídeo eu já tenha partido, mas não poderia ir sem antes te dizer o que tanto você quis escutar. Queria poder te dizer pessoalmente já que aprendi depois de inúmeras sessões de terapia. Bom Renê, Eu Te amo, te amo, te amo. Te amei mais que minha própria vida, tanto que a entreguei a ti. Quero te dizer que ao seu lado passei os melhores momentos de minha vida, aprendi a sorrir e a descobrir o verdadeiro significado da palavra felicidade. Seu apoio e ombro amigo foram fundamentais para que eu pudesse enfrentar os obstáculos que a vida se encarregou de colocar em meu caminho. Portanto meu amor, agradeço-te por todo sonho que você fez tornar realidade, por me dar forças quando eu estava fraca, por ser meus olhos quando eu não podia enxergar e minha boca quando não podia falar, por toda alegria que trouxe para minha vida, por ter tido seu peito como repouso, seu sorriso como alimento, seus braços como refúgio e proteção. Obrigada por todo amor que encontrei em você, por ter enxergado o melhor em mim, por ter me ensinado a voar, por ter me levado ao infinito, por ser minha luz no fim do túnel. Ao seu lado tive tudo que uma mulher poderia desejar. Fui imensamente feliz porque você me amou. Não quero que se sinta culpado por minha escolha ao contrário quero que sinta tão amado quanto fui ao seu lado. Seja feliz minha vida. Eu te amo. Seu amor é a minha cura!

#Vídeo Off

– Fui tudo isso, mas falhei em algumas partes minha princesa. – digo secando meus olhos. – Seu amor é a minha Cura! Você se confundiu na concordância verbal dessa frase amor. – falo acariciando sua foto na tela do celular.

– Renê, o corpo dela vai ser levado daqui a 15min para ser velado, vá até lá caso queira um momento a sós com ela. – disse Júlio enquanto Bruna veio me abraçar.

– Vou sim! – caminhei pelo corredor com aquela frase que não sai da minha cabeça. Cheguei ao quarto, o rosto de Helena estava coberto por um lençol. O retirei lentamente revelando sem lindo rosto sem vida. Sentei-me na cama inclinando meu corpo sobre o de Helena, meu rosto ficou a pouca distância do dela. Minhas mãos acariciavam incessantemente seu rosto. – No vídeo você pediu para que eu fosse feliz, mas não há felicidade sem você. Não conseguirei seguir em frente sem esse seu olhar tão doce feito mel e profundo como mar, sem seu jeitinho meigo e de menina sapeca, sem seu sorriso encantador. Disse no vídeo também que meu amor é a sua cura, se isso é verdade então volte pra mim, não deixe que a morte vença esse sentimento tão lindo que há entre a gente. – uma lágrima caiu-se de meus olhos encontrando os de Helena e foi nesse momento em que seus olhos se abriram e seu corpo contorceu-se a procura de ar. Ela me escutou. Helena voltou pra mim.