Anjo da Cara Suja escrita por Celso Innocente


Capítulo 8
Cadê Você!




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Deixou tudo e seguiu a atender o chamado. Abriu a porta da sala, avistando na rua, um carro da polícia civil e um senhor de seus trinta anos, branco, magro, estatura mediana, cabelos e óculos escuros; o qual, com certeza seria um investigador de polícia.

Assim que se aproximou do portão, o policial cabisbaixo, olhando para um papel, que parecia uma fotografia, insinuou:

— Senhor Luciano!

— Sim! Sou eu! O que se passa?

— Me diz uma coisa senhor... Luciano: onde o senhor esteve nos últimos dois dias?

— No hospital. — Respondeu ele prontamente. — Por quê?

— E onde esteve sua esposa... Sara?

— No hospital.

— Quem adoeceu senhor Luciano?

— Graças a Deus ninguém! Minha esposa acabou de se tornar mãe.

Acho que o policial não esperava por isso, se surpreendendo:

— Mãe é? Então o senhor é pai recente?

— Com certeza! Acabamos de chegar do hospital. O que está havendo? — Se preocupou.

— Eu posso ver sua esposa?

— Tudo bem! — Concordou ele abrindo o portão e fazendo gesto para que entrasse. — Eu poderia só saber o motivo?

Sem responder, o policial acompanhou Luciano até a entrada do dormitório, percebendo o bebê, que dormia tranquilo em seu berço, voltou até a saída da sala, puxou a foto que teria guardado em seu bolso da camisa e lhe mostrando perguntou:

— Conhece esta criança?

— Regis!? — Se espantou, sentindo calafrio no corpo inteiro. — Claro que conheço! Ele mora virando a esquina, no meio da quadra.

— Faz dois dias que ele está desaparecido e você é... Ou pelo menos era... Meu principal suspeito.

— Desaparecido!?...

O homem que deveria ser forte sentiu ás lágrimas vir de dentro de sua alma, até o canto inferior dos olhos.

— Dois dias!?... — Balbuciou ainda. — Como assim?

De repente, Luciano percebeu chegar, uma mulher branca, de seus quase trinta anos,cabelos castanhos, que com certeza era a mãe de Regis, seguida por Paulinho e outro menino, que só poderia ser Carlos Henrique.

Sem pedir licença, a mulher entrou em seu quintal e visivelmente alterada, puxou desesperada sua camisa, gritando:

— Onde está meu filho? O que você fez com ele?

Por sua sorte, o próprio investigador o socorreu, afastando-a de lhe agredi-lo.

— Cadê meu filho seu safado? — Gritou ela.

— Calma dona Odete. —Pediu o investigador. — Com certeza, o senhor Luciano não tem nada a ver com o desaparecimento de seu filho.

— Claro que tem! — Gritou a mulher. — Onde ele andou todos estes dias?

— Ele estava no hospital com a esposa, dona Odete. — Explicou o investigador. — Luciano acaba de se tornar pai e sequer sabia do desaparecimento de Regis.

— Como assim? — Especulou dona Odete.

Luciano se aproximou dizendo:

— Realmente, Regis está sempre em minha casa. Acredito que a senhora saiba disso. Ele sempre vem para assistir a novela das sete horas e às vezes vem também em outros horários. Nos dois últimos dias, realmente não o tenho visto, pois eu estava no hospital e embora desconfiasse de algo errado, não me preocupei muito...

— Encontrem meu filho, pelo amor de Deus! — Gritou ela, chorando.

Ao ver as lágrimas de desespero da mãe, as duas crianças que a acompanhava, também choravam. Meio que perdido, o investigador decidiu.

— Vocês me dão licença, por que já que Luciano deixou de ser meu principal suspeito, preciso achar outras pistas. Procure se acalmar que a gente vai encontrar seu menino.

— Qual seu próximo passo, senhor... — Questionou Luciano.

— Rafael! — Se apresentou o investigador. — Como ele foi à escola no dia em que sumiu, é por lá que vou começar.

— Naquele dia, meu filho não voltou pra casa no horário normal. — Insinuou dona Odete. — Me preocupei um pouco; só que acreditei que ele teria parado pra brincar com algum amiguinho. Como demorou demais, por volta das cinco horas, apanhei uma vara e acreditando que estaria aqui, vim nervosa, disposta a dar-lhe umas boas varadas nas pernas. Como eu não encontrei ninguém aqui achei que vocês teriam saído e o levado junto sem me avisar. Fiquei muito brava com vocês e já tinha me decidido que meu filho jamais voltaria à sua casa. Voltamos aqui às seis horas, as nove, as dez, as onze, meia noite e nada. Passei a noite acordada e vim aqui varias vezes em vão. De manhã, meu marido veio às seis horas e insistiu chamando por longo tempo. Não havia ninguém e o portão estava trancado. Ficamos muito revoltados, achando que vocês teriam feito coisa muito séria com nosso filho e então desaparecidos para não serem pegos.

— Desculpe-me a ousadia dona Odete, mas tanto eu quanto minha esposa Sara, amamos seu filho, como se ele fosse alguém de nossa própria família. Regis é um menino muito bom e conquistou nossos corações, com seu jeitinho meigo de ser.

— Desesperada eu procurei a polícia e eles me disseram que teria que esperar vinte e quatro horas, então voltei pra casa e só tornei a ir à delegacia depois do meio dia, acompanhada de meu marido; desde então o Rafael tem procurado por vocês.

— É isto. — Concordou Rafael. — Estou indo à escola.

— Eu sou agente da vara da infância. — Explicou Luciano. — Quero acompanhar as buscas com você. Posso?

— Por mim! Será de boa ajuda. — Concordou Rafael.

Luciano foi até o quarto, onde encontrou Sara acordada, prestando atenção em toda a conversa. Ao vê-lo, insinuou triste e nervosa.

— Meu Deus do Céu! O que aconteceu com Regis? O que faremos?

— Eu deveria ficar em casa com você. Mas nesse caso, não posso ignorar. Regis não é qualquer garoto. Posso acompanhar o investigador até a escola?

— Vai sim. — Concordou Sara, que depois de pensar um pouco, prosseguiu:

— E, por favor: encontre-o para sua mãe e pra nós também!

O esposo beijou seu rosto dizendo:

— Pode ficar tranquila. Nós o encontraremos.

Já ia se retirando, quando ela tornou a lhe chamar:

— Bem...

Voltou-se a ela, que prosseguiu:

— Você acredita que ele tenha fugido de casa? Quero dizer: Por causa do que lhe aconteceu, em respeito à sua mãe.

— Não acredito que tenha fugido. — Disse Luciano, acenando negativamente com a cabeça.

Fazendo uso da mesma viatura policial, Luciano seguiu com Rafael, até o Grupo Escolar Marcos Trench, a três quilômetros de distância, onde o menino estudava. Ao adentrarem à escola, foram atendidos por uma senhora bem vestida de seus quarenta anos de idade, que viria a ser a diretora. Após a cumprimentarem, Rafael lhe mostrou a foto dizendo:

— Este menino estuda em sua escola e está desaparecido há dois dias, quando saiu de casa para vir estudar.

A mulher ajeitou os óculos, olhou bem a fotografia e especulou:

— Desaparecido?

— Ele estuda no terceiro ano. — Explicou Luciano.

— Temos duas salas do terceiro ano no período da manhã e outras duas, no período da tarde.

— Ele estuda no período da manhã.

— Qual a professora?

— Isso eu não sei! — Negou Luciano. — Teremos que descobrir.

— Venham comigo.

Seguiram a diretora, que os levou até a quinta sala do prédio, que ficava naquele mesmo pavimento térreo. Fez sinal para que a professora se aproximasse até a porta da sala e então apresentando-lhe a fotografia, lhe perguntou:

— Este menino está em sua sala?

— Regis! — Exclamou ela. — Ele estuda aqui sim! Só que faltou ontem e hoje.

— Muito bem professora! — Interferiu Rafael. — Regis está desaparecido desde quarta feira. Neste dia ele esteve em sua sala?

— Esteve! Estudou normalmente. — Pensou um pouco. — Apesar de que, estava muito triste e desatento. Algo incomum, porque ele é um ótimo aluno.

— Ele estava triste por outro motivo. — Afirmou Luciano, convicto. — Essa não é a verdadeira razão dele estar desaparecido.

— Acha que ele tenha fugido de casa? — Especulou a diretora.

— Eu até preferia acreditar que fosse realmente isto o que teria acontecido. — Insinuou Luciano muito preocupa-do.

— Meu Deus! — Exclamou a professora. — Regis é um bom menino! O que será que aconteceu a ele?

— Por enquanto, só sabemos que ele desapareceu na quarta feira, depois do horário de aulas. — Explicou Rafael. — Caso apareça alguma novidade, por favor, nos comunique.

Na saída pelo grande portão da escola, feito de grades, tipo alambrado grosso, Luciano especulou Rafael:

— E agora, qual é o próximo passo?

— Voltarmos à casa de seus pais!

— Até agora, estamos na estaca zero.

— Só sabemos que ele desapareceu após as onze e meia da manhã, de quarta feira.

Chegando à casa dos pais de Regis, antes mesmo de chamarem, foram atendido por quase toda a família, menos Carlos e Letícia, que estavam na escola. Seus pais continua-vam muito nervosos:

— Alguma novidade sobre meu filho? — Perguntou-lhes Rogério.

— Ele frequentou a escola normalmente, na quarta feira. — Insinuou Rafael.

— Quando ele volta da escola, nenhum de seus filhos volta com ele? — Questionou Luciano.

— Aqui de casa, apenas ele estuda naquela escola. — Justificou dona Odete. — As outras crianças estudam no Yone.

— Ele vem com a Beth! — Esclareceu Leandro.

— Beth? — Admirou-se Luciano. — Quem é Beth?

— Elizabeth estuda na mesma sala dele e realmente vão e voltam juntos, todos os dias. — Animou-se a mãe.

— Onde ela mora? — Quis saber Rafael.

— Na rua de cima, passando a primeira, segunda, no final da terceira quadra, a segunda casa antes da esquina, do lado esquerdo. — Explicou Leandro.

Sem se despedir, Rafael voltou ao carro, sendo acompanhado por Luciano:

— Estamos indo lá, agora! — Exclamou Rafael.

— Há essa hora ela está na escola! — Emendou Leandro.

Luciano olhou o relógio em seu pulso. Eram quase onze e meia.

— Alguém a conhece? — Insistiu ele.

— Conhecemos. — Respondeu dona Odete. — Ela sempre vem à nossa casa.

— Alguém pode nos acompanhar até a escola?

— Eu vou! — Se prontificou Luis.

Luciano levantou o banco da viatura e fez gesto para que o menino sentasse no banco traseiro. Percebendo desejo de seu pai em lhes acompanhar, Rafael fez gesto com as mãos, para que também entrasse na viatura.

Como o relógio já indicava, praticamente o final das aulas, Rafael tinha pressa, caso contrário, poderiam se desencontrar da menina, então acionou a sirene da viatura e aumentou consideravelmente a velocidade, apesar das ruas esburacadas, da vila Jardim Brasília e América, sem pavi-mento asfáltico.

Chegaram ao portão da escola, no momento da saída, daquela vasta multidão de crianças, que tinham entre sete e doze anos de idade em média, que, como tal enxame de abelhas, em algazarra, saiam pelo portão e se espalhavam pela rua, tomando rumos diferentes, porem, com a grande maioria, seguindo mesmo em direção à Rua Minas Gerais e se espalhando no cruzamento da Jácomo Paro, onde grupos tomavam caminhos opostos: alguns seguindo mesmo pela Minas Gerais, outros desciam e outros subiam em direção à saída da cidade.

Luciano abriu a porta e desceu levantando o banco. Apenas Luis desceu, se infiltrando no meio da criançada, chegando até o portão da escola e encontrando Beth, trazen-do-a até a viatura.

Percebendo que outras crianças, sentindo-se curiosas, se aglomeravam diante da viatura, Rafael aconselhou:

— Coloque-a na viatura.

Seguindo sua sugestão, Luciano se identificou para a menina.

— Beth, eu sou Luciano. Você conhece o pai e o irmão de Regis. Não conhece?

Ela acenou que sim.

— Pois bem: — Prosseguiu ele. — Não precisa ter medo. Entre aqui que iremos levá-la até sua casa.

Apesar de receosa, devido tal surpresa, porem com a presença de dois conhecidos, ela concordou em entrar na viatura. Rafael, agora em velocidade normal e sem nada de sirene ligada, se afastou da escola, subindo pela Rua Jácomo Paro, dobrando à esquerda na Antonio Veronese e voltando, até pararem realmente em frente à casa da menina, onde, ainda com as portas fechadas, desligou o motor, se virou a ela e perguntou-lhe calmamente:

— Você sempre volta da escola com Regis?

— Todos os dias!

— Inclusive no último dia em que ele foi à escola? — Insistiu Rafael.

— Não! — Negou ela, de certa forma preocupada. — Neste dia ele quis vir embora pelo aeroporto!

— Como assim?

— Ele decidiu que viria por lá e até me convidou! Eu é que achando esquisito, não quis.

— Por quê? — Perguntou-lhe Rafael.

— Por que, o que?

— Por que ele quis vir por lá? — Insistiu Rafael. — E por que você não o acompanhou? Já que vinham sempre juntos da escola!

— Por que ele quis vir por lá eu não sei! E eu não acompanhei ele, porque eu disse que eu era menina, pra andar com meninos no meio do mato!

— Concordo com você. — Confirmou Luciano.

— E quanto a vir pelo mato? Ele não disse nada sobre o motivo? — Insistiu Rafael.

— Não! Eu até perguntei por que vir por lá! Ele só disse que queria apenas atravessar o mato. Meninos são cheios de aventuras!

— Isso é verdade! — Riu Luciano.

— Regis tem muita imaginação. — Confirmou seu pai.

— Quando a gente vem da escola junto, ele vem sempre fingindo ser o Batman ou Zorro. Sei lá. Às vezes finge que é um caminhão fordão.

Rafael abriu a porta do carro, levantou a poltrona e pediu para que a menina descesse, dizendo:

— Muito bem Beth! Obrigado por sua ajuda.

Assim que ela desceu do carro, perguntou aflita:

— O que está acontecendo com Regis?

— Ele se perdeu naquele mato. — Fantasiou Rafael, para não preocupar muito a menina. — Mas com sua dica a gente vai encontrá-lo.

Como já estavam próximos, deixaram o pai e o irmão do menino em sua casa:

— O que farão agora? — Especulou Rogério.

— Vamos almoçar, depois buscaremos pistas no caminho do aeroporto. — Explicou Rafael.

Pararam em frente à casa de Luciano e quando ele já descia da viatura, Rafael lhe perguntou:

— Quer ficar pro almoço, ou virá comigo?

— Você irá ao aeroporto agora?

— Já! — Insinuou Rafael.

— Vou com você. Posso só dar uma olhada em minha esposa e no nenê? Eles saíram do hospital hoje.

— Vai nessa.

Luciano correu para dentro de sua casa. Sara, cami-nhando lentamente, estava na cozinha, acabando de prepa-rar o almoço.

— O que você tá fazendo meu amor? — Cobrou-a.

— Devagar faço alguma coisa. Acharam alguma pista?

— Ele esteve na escola na quarta feira e veio embora por caminho diferente do que era acostumado. A gente sabe qual é o caminho e vamos verificar agora.

— Será que ele fugiu de casa de propósito?

— Tomara que seja isso! E o nenê?

— Só mama, suja as fraldas e dorme! — Riu ela. — Ele está bem.

— Posso continuar as buscas?

— E o almoço?

— Acha que tenho fome? — Ironizou Luciano, falando a verdade.

— Vai sim meu bem! Quem sabe vocês encontram o peraltinha!

Em menos de dez minutos, deixaram a viatura na estrada dos Buranellos, entrada pela trilha do aeroporto e começaram suas buscas.


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