Os primeiros dias de aula tinham sido um saco. Todos me perguntavam onde estava Dylan, como ele estava, se não voltaria logo... Coisas desagradáveis do tipo. Eu não tinha obrigação de saber o paradeiro dele, afinal eu realmente não sabia. Então minhas respostas eram sempre as mesmas, ‘’não sei’’, ‘’pergunte para ele’’, ‘’não faço a mínima ideia’’. Pior de tudo era ter que aguentar a cara de indignação das pessoas, digo mais uma vez: N Ã O S O U O B R I G A D A! Pegou o recado?

Depois que todos entenderam o que eu tinha dito, pararam de encher o saco, e é vida que segue né rapaziada, bola pra frente. E por falar em bola... O negocio estava feio. Dylan era o principal jogador/ artilheiro/ líder/ capitão/ faz tudo/ manda chuva do time da escola. Só que Dylan não estava mais presente nesse recinto, e mais uma vez, mesmo de longe, estava causando problemas para todo mundo, como eu digo, uma vez Dylan babaca, sempre Dylan babaca. Simon e Brandon eram os dois que estavam disputando o cargo, estavam malucos para conseguirem, mas nenhum dos caras do time queria principalmente Jared, que odiava os dois.

Então, passou-se dois meses desde o inicio das aulas, e ainda não tínhamos capitão, o que era um problema, pois sem capitão, não tinha time, se não tem time, não tem treino e sem treino, sem chances de vitória nos campeonatos. Por isso iria haver uma reunião super importante que estava dando o que falar, todos os caras do time iriam se juntar e definir quem seria o capitão, se não tivesse uma escolha unanime, adeus time da escola.

A escola estava tensa, e essa era a única coisa que se ouvia pelos corredores, até os professores estavam curiosos para saber o que iria acontecer. Eu não estava nem um pouco empolgada, na verdade, queria dar o fora dali o mais rápido possível, pois sabia quem eu iria encontrar me esperando do lado de fora dos portões.

Scott e eu estávamos numa boa. Íamos juntos para escola, ele me deixava na porta de entrada e rumava para sua aula. Como ele saía mais cedo que eu, ficava me esperando no portão, então passávamos na escola de Craig e rumávamos para casa todos juntos. Eu, meu irmão, Ava, Taylor e Craig – que tinham se tornado um, ainda não oficialmente -, Scott e Todd. De vez em quando, uma menina bem bonitinha ia com a gente, seu nome era Sue, uma japonesa bem fofa, acho que Todd estava afim dela, mas nunca comentou nada com ninguém.

Eu almoçava em casa e ia para o trabalho. E como sempre, trabalhar no clube era super calmo, eu conseguia fazer minhas lições e estudar, e ainda tinha a companhia de Craig e Scott.

Tudo estava bem, estava...

Uma pena que tudo o que você leva certo tempo para construir desaba. É que nem uma casa... Você a constrói, planeja tudo milimetricamente, e imagina o quão perfeito será sua morada lá, e você consegue realizar esse sonho. Mas vem um tufão, uma enxurrada, e até o lobo mal, e faz com que sua amada casa desabe. Uma vida de construção se desmorona em questão de segundos.

Eu tinha demorado para me recuperar de Dylan, que tinha ido embora a cerca de seis meses, não que eu tivesse me recuperado totalmente, ainda pensava nele de vez em quando, e até me permitia chorar escondido, mas nada que eu não levantasse a cabeça e sacudisse a poeira logo em seguida.

É triste saber que o que é bom, dura pouco.

Soube disso hoje, quando vi a maior palhaçada da minha vida.

Todos estavam eufóricos por causa da reunião sobre o destino do time, então eles combinaram de fazer a reunião fechada, sem intromissão de terceiros, depois, eles comunicariam sobre o fim que teve na quadra, na presença de todos.

Tratei de mandar uma mensagem para Scott, avisando que eu iria demorar que poderia ir embora sem mim se quisesse, mas ele disse que esperaria mesmo assim, que queria conversar comigo.

Senti um nó no estomago quando li a mensagem, mas não quis me preocupar, afinal estávamos bem e eu não tinha feito nada de errado. Ou tinha? Respondi com um ok, e guardei o celular, no mesmo instante, senti o mesmo vibrar.

Jared.

O que Jared queria, ele devia estar na reunião nesse momento, não me mandando mensagens. Mas será o Benedito né? Lá vem essa peste querendo me pedir cola de alguma prova.

Olhei discretamente ao redor e vi que a professora não estava prestando atenção nos alunos, abri a mensagem e a li. Simples e direta.

‘’Não venha, vá logo para casa... depois te conto tudo. – seu irmãozinho’’

Não ir onde menino? Não entendi bulhufas do que ele tinha escrito, então apenas ignorei a mensagem e continuei prestando atenção na aula. Quando o sinal bateu, todos saíram corredor em direção à quadra, querendo desesperadamente saber o resultado da tal reunião.

Eu não tinha pressa nenhuma, muito menos Scott que iria me esperar, então fui a ultima a sair da sala, e caminhei tranquilamente em direção à quadra.

O lugar estava vibrando, dava para ouvir as pessoas gritando, querendo saber o resultado logo. Quando cheguei à porta do local, estava abarrotado de gente, não tinha lugar para sentar nas arquibancadas, e me peguei pensando o motivo de futebol ser tão importante.

Na verdade, todos estavam ali apenas para ver uma briga começar, pois Simon e Brandon tinham se ameaçado ao logo da semana toda, trocando farpas e ofensas pelos cantos da escola.

Fiquei encostada numa das arquibancadas, com a mochila entre meus pés. De onde eu estava, conseguia visualizar todos. Na primeira fila, encontravam-se as lideres de torcida, entre elas Blythe e Taylor. Era uma cena um tanto cômica, todas as garotas tinham dado as mãos uma para as outras, mas as duas estavam uma ao lado da outra, e se recusavam a se encostarem.

Na segunda fila e terceira fila, estava o pessoal da banda, que sempre animava a escola em dias de jogos, juntamente com as lideres de torcidas. Essas duas primeiras filas, eram as filas privilegiadas, depois vinha o resto, a ralé, a pobreza, vulgo torcedores.

No centro da quadra, uma enorme mesa estava posta, mas ninguém do time estava ali, e as pessoas já estavam impacientes com tanta demora.

Foi quando o técnico e os garotos entraram, mas havia algo errado em suas expressões. Alguns tinham o semblante feliz, outros estavam cabisbaixos, mas Jared, Simon e Brandon, transmitiam raiva só pelo olhar.

Eles deram boa tarde e se sentaram ao longo da mesa. O treinador do time começou a falar alguma coisa, mas eu não conseguia prestar atenção, eu só olhava para os olhos de Jared, e isso me deixava preocupada. Havia algo em seus olhos, uma raiva contida. Será que ele tinha brigado com Simon? Esse cara vivia atrás da Ava, mesmo sabendo que ela e meu irmão estavam juntos, e depois que os dois começaram a namorar, meu irmão tinha se tornado uma pessoa um tanto ciumenta.

Eu ainda estava distraída, e nem percebi que tudo de repente estava silencioso demais. Corri meus olhos pelo local, e foi quando eu o vi.

Fiquei imaginando por muito tempo como seria a sua aparência, como ele estaria, como eu reagiria quando visse ele. Pensei nisso por tanto tempo, que não conseguia nem pensar nesse instante, eu só sentia uma coisa desagradável ao vê-lo, e uma raiva enorme daquela sua pose de ‘’eu sou demais’’.

Ele andou tranquilamente até onde estava todo o resto do time com o típico sorrisinho debochado no rosto, parou e olhou para todos na arquibancada. A plateia dele.

— Boa tarde – começou ele. Todos vibraram em resposta, o que só aumentou o sorriso dele. Eu podia ate imaginar o que se passava naquela cabecinha estúpida, ele devia estar se sentindo o Maximo, O Poderoso Dylan. – Eu fiquei uns tempos fora, mas eu voltei – antes não tivesse voltado, traste dos infernos – tive que resolver umas coisinhas, mas eu nunca abandonaria nenhum de vocês.

Olhei indignada para ele. Dylan seu grande filho de uma puta, o que é que você tinha feito comigo e com seus amigos? Estava brincando de esconde-esconde o tempo inteiro?

— Eu vou continuar sendo o capitão do time, e vou trazer orgulho para escola. Vou deixar o meu legado – todos iam à loucura claro, Dylan era o sonho de toda garota e garoto, todos invejavam ele, pelo dinheiro, pela beleza, por tudo o que ele tinha. Mas o que ninguém sabia, era que Dylan era o maior babaca de todos, não tinha nada na verdade, não tinha mais uma família, não tinha uma garota firmeza ao lado dele, e nem amigos ele tinha mais... Dylan McCallen vivia uma vida de mentira, apenas de ilusões.

Busquei pelas arquibancadas por Todd, quando eu o encontrei, vi que ele tinha a mesma expressão de choque que eu deveria ter. Como que ele vinha depois de seis meses longe de todos, e falava todas essas coisas? Taylor e Avallanah não tinham expressões muito diferentes das de Todd, e somente nós sabíamos quem ele realmente era.

Dylan continuou seu discurso de príncipe do planeta, como se ele fosse muito magnífico, mas eu não queria escutar mais nenhuma palavra que saísse da boca daquela cobra em pele de cordeiro. Virei às costas e atravessei a porta da quadra, indo para o mais longe de Dylan.