A Garota do Cabelo Lavanda escrita por Chibieska


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas fãs de Digimon e afins, tudo bem com vocês?

Tenho um papo muito sério para falar com vocês. Com a volta do D3 eu decidi que apagarei a fic!!!

Mentira, mas o papo é sobre D3. Com a volta do anime, não sei o que vai rolar e é provável que muita coisa vá contra o que eu escrevi. Não sei como estarão o pessoal do D2 (apesar dos spoilers) e como isso afetará a fic. Se houver coisas que poderei encaixar farei isso, caso contrário, considerando que a fic já tem mais de 1 ano e meio, finjam que eu escrevo em um universo onde não existe D3.

Mas para quê esse sermão tia Chibieska, é uma fanfic e você já mudou um monte de coisas... Sei disso, e muitos de vocês também, mas já tive problemas em outra fic por mudar coisas substanciais da história e ser xingada até a nonagésima geração. Então não me custa avisar.

Agora devidamente tudo explicado (eu espero) vamos ao capítulo.

Tema: toque

Boa leitura!



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CONSONÂNCIA

Ichijouji Ken queria dizer que sua quarentena serviu para muitas coisas, como se encontrar, estabelecer seu coração e se acertar com o Kaiser. Tinha servido, em partes.

Como Miyako havia dito no Digital World, se ele não se aceitasse e encontrasse um equilíbrio, suas duas partes acabariam se matando, e ela tinha razão. Claro que a morte seria uma saída, principalmente para deixar de ser um fardo. Sabia que todos o olhariam com desconfiança a partir de agora, teriam medo se ele pirasse ou perdesse o controle, que indiretamente, ele estava encoleirado e que isso seria muito exaustivo para os amigos que já tinham seus próprios problemas para lidar. Mas mesmo que a morte lhe parece uma solução convidativa e fácil, Kaiser não deixaria ele se tornar um mártir.

Mas havia outra coisa que Kaiser não o deixaria fazer: esquecer Izumi. Tinha sido seu ciúme do rapaz que trouxera Kaiser de volta das profundezas do seu ser e era Izumi que ainda martelava em seus pensamentos.

Mesmo que gostasse muito de Inoue, ainda havia partes suas que acreditavam que ela só estava com ele porque o antigo guardião da sabedoria estava com Tachikawa. Toda aquela história de não dar títulos, de ocultar que estavam juntos, parecia uma maneira de manter sempre um laço aberto, caso Koushirou voltasse. Não que achasse que os sentimentos da menina por si eram uma mentira, realmente Miyako deveria gostar dele. A questão era: provavelmente não gostava só dele.

E isso o fazia acreditar que viveria o resto da vida sob a sombra de Izumi. Que em alguma hora ele apareceria e levaria sua amada embora. Podia-se dizer que era não confiar no próprio taco, mas depois de tudo o que fizera a ela, seria muito plausível que ela corresse para os braços de alguém seguro e centrado para se consolar. Na verdade, seria até correto se ela o fizesse.

Entre muitos dos seus questionamentos havia o fato de saber que Inoue estaria mais segura com Izumi do que ao seu lado, mas isso em nada contribuiria para sua atual situação e arrastou isso para o fundo da sua mente. Assim, a quarentena serviu para se aproximar da mãe, aceitar o Kaiser e pensar em como se explicaria para o grupo, para Wormmon, para Miyako e assim, aparentemente, a questão Izumi foi esquecida.

“Saber que você está com alguém não a impede de continuar apaixonada.” Sabia que isso se referia a Hanamizuki. A menina parecia muito mais controlada e comum, como se seus sentimentos estivessem mais mornos, mas isso não queria dizer que ela tinha deixado de gostar dele. Sabia que se ele desse uma brecha, por menor que fosse, ela partiria para o ataque, ainda mais agora com seu sentimento de eterna gratidão por ter salvado Kariya.

Mas aquilo não se aplicava apenas a ele, Izumi tinha Tachikawa e isso havia esfriado muito os sentimentos de Inoue, mas não queria dizer que tinha colocado uma pedra sobre tudo. Assim como Hanamizuki, a garota do cabelo lavanda poderia estar esperando uma brecha que reacendessem seus sentimentos pelo parceiro de Tentomon.

“Como você e o Izumi-san?” E ali estava o Kaiser, fazendo-o lembrar de que Koushirou era uma constante e que isso não poderia ficar enterrado para sempre.

As palavras dançaram no corredor e pareceram muito mais altas naquele silencioso ambiente. O gênio achou que as coisas seriam resolvidas como Miyako geralmente resolvia suas diferenças, mas o tapa não veio. A garota ficou o encarando por sob os óculos como se estivesse muito chocada com o que ouvira.

“Então é isso?” Ela falou tão baixo que seus lábios mal pareciam ter se movido. “De todas as coisas que poderia me dizer, você me diz isso?”

“O que esperava?” As mãos foram aos bolsos.

“Um pedido de desculpas, talvez.” E se sentiu patética em dizer tal coisa, pois parecia que estava mendigando aquele pedido, mas não tinha como negar que realmente esperava que ele se desculpasse.

“Não posso me desculpar com alguém que está me evitando.” Rebateu.

“Eu já disse que foi só um mero acaso. De qualquer forma, você poderia ter feito isso agora, se realmente sua intensão fosse se desculpar.”

“Então dizer um eu sinto muito está bom para você?”

“Você está desviando a conversa.” Inoue bufou.

“É você quem está. Você não respondeu minha pergunta.” A sobrancelha escura se arqueou como se não responder só provasse que estava totalmente certo.

“Eu estou com você, isso não é o suficiente?” A voz saiu quase como um apelo e por um segundo, ela o viu vacilar. “Eu te disse antes, eu não estou apaixonado pelo Koushiro-kun, era mais pela ideia...”

“Acho que isso te põe no mesmo patamar da Hanamizuki, afinal.” Havia uma parte sua, muito racional que o mandava parar de dizer aquelas asneiras, mas havia seu lado sentimental, que Kaiser fazia questão de bagunçar que o impelia a confrontá-la.

“Do que está falando, claro que não.” Ele só poderia estar brincando, não estava?

“E ela não é apaixonada pela ideia que tem de mim?” Deu de ombros como se isso fosse claro. Miyako se sentiu arrastada para aquela fatídica noite no Digital World, seu Ken idealizado, suas trevas brancas. Ela também havia se apaixonado pela ideia dele, no começo, mas não teria com o adolescente saber disso.

“É diferente.” E realmente seus sentimentos por Koushirou eram diferentes. Ela o admirava e tinha grande carinho por ele, mas não mais que isso. Quando ela dissera que gostava da ideia, era da ideia de ter alguém que gostasse dela, afinal, todos andavam falando que isso era possível devido ao encontro que ele marcara. Era agradável a ideia de que alguém inteligente se interessasse por ela, já que nunca nenhum garoto tinha gostado dela.

“Como?”

Mas ela não soube responder. Havia várias formas de explicar aquilo e muitas delas poderiam passar uma ideia muito errada se ela não usasse as palavras corretas e Miyako sabia que nem sempre era muito boas com ela e por isso muitos atritos resolvia na base do soco.

Aquilo estava virando uma bola de neve. Sabia que Ken não confiava plenamente nos seus sentimentos, graças a Daisuke, e havia planejado confrontá-lo sobre isso, mas não de maneira tão seca e direta. Não entendia onde Ken queria chegar com aquilo, fazê-la jurar amor eterno não era o tipo dele. Acuar alguém não fazia parte do seu perfil, mesmo como Kaiser. Sempre que havia esse tipo de atitude era porque ele mesmo sentia-se muito acuado.

“Você vai ter que fazer melhor do que isso.” Falou pausadamente, depois de respirar fundo algumas vezes. “Não faça esse tipo de jogo.”

Ichijouji abriu a boca, mas não havia nada o que dizer. Jogo? Ele não estava jogando ou estava? Izumi era uma questão que ele precisava resolver com a menina, mas ele havia feito isso de forma muito brusca, quase como um escudo para encobrir o fato de que não havia encontrado uma forma de se desculpar e falar com ela apropriadamente. Geralmente, ele se isolaria, mas era uma situação que não teria como fugir.

Saber que ela gostava de outra pessoa poderia ser até um consolo, já que significaria que ela não sofreria tanto se ele a decepcionasse. Mas ao mesmo tempo, ele era possessivo demais para aceitar essa situação, mesmo que fosse o melhor para o futuro da menina. Era como um cabo de guerra onde uma parte sua queria egoisticamente guardá-la numa caixinha, longe das vistas de qualquer outro garoto e outra queria desesperadamente mandá-la embora porque parecia mais seguro e sensato.

Ele estava disposto a conviver com a desconfiança dos amigos, com os olhares atravessados, com os comentários as suas costas. Mas com Miyako era diferente. Fizera tudo o que fizera porque queria que ela o entendesse, mas mesmo que ela o entendesse, temia que ela não o aceitasse. Havia dito palavras para resgatá-lo naquela noite, conscientizá-lo, mas ela faria isso por qualquer um dos seus amigos, não era por ser exclusivamente ele. E se ela não o aceitasse?

“Eu não desisti de você quando você deixou de ser o Kaiser e quase desistiu de si mesmo. Eu não desisti de você quando você pirou no Digital World, eu não vou desistir de você agora, por meia dúzia de bobagens.” Viu o rosto dele mudar de expressão para algo indecifrável, mas que ela achou muito bonito e confortável.

Inoue não poderia precisar o que passava na cabeça do garoto diante de si, o conhecia, mas por vezes, ele se tornava uma incógnita. Sabia que ele teria que lidar com medo e desconfiança depois de ter aceitado suas trevas, inclusive com o medo e desconfiança dela. E provavelmente isso o acuava.

Ter se aceitado significava que um “eu lamento, não sabia o que estava fazendo” não iria funcionar. Era admitir que fizera porque desejava e ser tachado de monstro. E por isso ele estava jogando. Não sabia como ela se sentia, e ainda por cima, tivera a falsa ideia de que ela o evitara o dia todo. Jogar significava que ele estava com medo e se sentia acuado. Aquele confronto desnecessário era só uma forma inconsciente de dizer que não estava pronto. Mas ela estava, tivera certeza disso quando o vira ajeitar o cabelo enquanto calçava os sapatos.

“Eu sei que o caminho ao seu lado nunca é fácil e muito menos óbvio, mas eu escolhi isso.” Finalizou com um discreto sorriso.

O gênio ficou encarando a menina diante de si, com um semblante sério, mas ao mesmo tempo convidativo e confortável. Aquela expressão segura que fazia parecer que tudo iria se resolver magicamente. Não era ingênuo de acreditar que tudo se resolveria ali, havia Izumi e havia tudo o que fizera a ela no Digital World e também as palavras que dissera agora, ásperas demais para quem deveria estar fazendo as pazes. E mesmo depois de todas as contas acertadas, sabia que nada mais seria como antes.

Mas as palavras ainda ecoavam em sua mente e traziam um conforto que nem mesmo as ditas por Daisuke e Wormmon foram capazes de lhe trazer. Ela havia escolhido aquele caminho e trilharia ao seu lado mesmo sendo tortuoso. Eram só palavras, mas ele acreditava verdadeiramente nelas.

“Ken!” Chamou ao perceber que ele estava totalmente alheio e parecia não ter ouvido uma palavra do que ela dissera. “Você está me ouvindo?”

“Está tudo bem mesmo?” Perguntou arqueando a sobrancelha em uma falsa desconfiança.

“Em relação a quê?” Questionou incerta.

“A resolver isso. Quer dizer, não resolver da sua maneira usual.” A garota tombou a cabeça para o lado sem realmente entender onde ele queria chegar. “Sabe, da última vez meu rosto ficou ardendo por vários dias.” E não conseguiu controlar o tom de deboche.

Miyako abriu a boca se lembrando do tapa que dera no adolescente durante seu surto no Digital World. Se ele já estava pronto para fazer piadinhas é porque de alguma forma eles haviam entrando em sintonia.

Não era exatamente o pedido de desculpas que imaginou receber nem a reconciliação que esperava, mas era um passo e ela ficava feliz. O relacionamento deles andava bem lentamente, aquele passo já era um grande avanço.

“Era uma questão importante...” Disse simplesmente.

“É que não combina muito com você.” Disse por fim.

Daisuke havia dito a mesma no começo da manhã, que ela parecia madura e centrada e que não parecia com ela mesma. Mas na opinião da própria Miyako nada havia mudado. Era verdade que não tinha ido ver Ken, nem catado ele pelo colarinho e o chacoalhado até tirar o Kaiser de si, como faria costumeiramente. Mas aquela não era uma situação como qualquer outra e ela precisava agir de forma mais madura. Ou não era só isso?

“Eu posso resolver as coisas da maneira tradicional, se você quiser.” Afastou aquele pensamento sobre maturidade da mente e deu um passo a frente, com a mão levantada, como se fosse esbofeteá-lo.

Era só uma brincadeirinha, por isso se surpreendeu quando Ken a segurou pelo pulso. Foi um aperto forte, que fez seus ossos estalarem. Ficou apreensiva com o gesto, Ken não era dado à violência física, mas ainda se lembrava do soco que ele lhe dera no Digital World.

O garoto puxou o braço de Miyako com força, até desestabilizar seu equilíbrio, quando ela deu um passo a frente para ajeitar o corpo, ele a envolveu em um abraço.

“Ken?” Questionou sem entender. Sentiu a mão que segurava seu pulso escorregar pelo braço e entrelaçarem seus dedos, a outra mão se enrolava na cabeleira lavanda.

“Estou de volta, minha Miyako.” A frase saiu baixa e delicada, sussurrada ao ouvido. Ken sentiu o corpo da menina estremecer sob o abraço. Ela soltou as mãos e o envolveu pelas costas, unindo-os ainda mais.

A frase recente ainda ecoava em seu ouvido e ela sentiu os olhos marejarem. Imaginara aquele reencontro dezenas de vezes, cheio de meias desculpas, discussões inflamadas, acusações infundadas ou um terrível silêncio e arrependimento que nunca conseguiria transpor. Tinha acontecido tudo aquilo e ela queria dizer que tinha se preparado para tudo, até a reconciliação, mas estava enganada.

Tinha sido estranho e torto e tudo quase tinha dado errado. Mas no final, de um jeito incomum, eles haviam começado a se entender novamente. Afinal, era Ichijouji Ken e claro que o grande e genioso Ichijouji Ken não poderia facilitar as coisas. Tudo tinha que ser incrivelmente complexo e improvável, só porque era Ichijouji Ken. Contudo, era o caminho que havia escolhido.

Miyako se sentia chorosa, feliz e chorosa, e sentiu as lágrimas escorrerem por baixo das lentes grossas dos óculos redondos, mas ela não se importou.


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Notas finais do capítulo

N/T: Sobre o final, eu realmente não curto explicar, mas é algo muito japonês e eu acho que fica melhor com um contexto. A maioria de vocês é fã de anime e devem ter sacado de cara. É comum, no Japão, quando se retorna para casa dizer: Tadaima, que pode ser traduzido como estou de volta e a pessoa que já estava lá responde com um Okaeri. Nesse caso, o voltar do Ken não é ao lar no sentido literal, mas figurativamente, além disso, a primeira coisa que a Miyako diz a ele no capítulo anterior é “bem vindo de volta” (depois do ‘droga’ kkkk) então acabou uma coisa complementando a outra. Enfim, eu não sei se poderia usar nesse contexto, mas fica como uma licença poética.

Viajarei esse fim de semana, logo perderei um fim de semana de escrita, então talvez o próximo capítulo atrase alguns dias, mas eu já tenho metade dele pronto, então talvez não mude o cronograma.

Comentem!!!

Beijokinhas e até!



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