A Garota do Cabelo Lavanda escrita por Chibieska


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Demorei, mas voltei. Gomen, mas eu fui acampar por uns dias, além disso, estou trabalhando em uma nova fic, o que acaba enrolando um pouco a coisa toda. Acampar é ótimo, eu recomendo caso alguém ainda não tenha feito.

O capítulo de hoje é especialmente para os fãs que gostam da Hikari e vivem me questionando sobre porque não tem Takari nessa história. Como eu disse nas notas iniciais da história, eu tenho uma outra fic, chamada Insólito, que se passa no mesmo universo. E várias coisas que acontecem lá, acabam refletindo aqui, como o fato de Taichi e Yamato morarem juntos durante a faculdade ou porque do lance Takeru e Hikari não evoluir. Como Insolito é um yaoi, não vou obrigar ninguém daqui ler, por isso esse capítulo faz um apanhado do que julguei importante mostrar da relação entre os dois personagens.


Chega de papo e vamos para mais um capítulo de AGCL.

Tema: chuva

Boa leitura!



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ELA SORRIU E TUDO SE TORNOU LUZ

Tailmon corria na frente, se embrenhando em meio ao roseiral. Se não fosse pela cauda excessivamente longa e a capacidade de falar, poderia ser facilmente confundida com um gato doméstico. Yagami Hikari e Inoue Miyako seguiam-na de perto, andando devagar e aproveitando o sábado ensolarado no parque de Odaiba.

O tempo ainda estava frio, mas o sol estava forte e o céu limpo. Hawkmon tinha se negado a acompanhar a companheira e enfrentar o ar gelado do final de janeiro. Como ele mesmo dissera, só sairia das cobertas quentinhas em caso de emergência.

Hikari ouvia a amiga atentamente, às vezes franzia as sobrancelhas, outras fazia uma careta, mas confirmava tudo com a cabeça, por mais surpresa que estivesse. A verdade é que a guardiã da luz e a do amor e sinceridade não eram amigas tão próximas como gostariam. Não era culpa de ninguém, a relação só não tinha evoluído por esse caminho e embora se dessem bem, não trocavam confidências. Por isso, a caçula Yagami estranhou quando a mais velha ligou perguntando se elas poderiam dar um passeio.

E estranhou ainda mais quando a garota do cabelo lavanda começou a contar tudo o que acontecera nos últimos meses. Geralmente, cabia a Aya ouvir os lamentos da garota da loja de conveniência. Por isso, Hikari ainda tentava se acostumar com o fato de que era ela quem estava ouvindo sobre Ichijouji, e como a relação deles passou da amizade para o ódio, do ódio para o amor e então para desconfiança. Ficou surpresa ao saber que eles estavam em uma espécie de namoro e mais surpresa ainda por saber como irritava ao moreno não poder falar tal coisa abertamente.

Sabia que amiga tinha uma queda por ele, que nunca fez questão de esconder de ninguém, mas realmente chegou a acreditar que o ex-Kaiser era passado e que Izumi tinha angariado o coração da adolescente. Se surpreendeu ao saber que foi o próprio nerd que incentivou a relação e que Miyako se declarou um dia, na saída da aula.

Apesar das reações engraçadas da amiga, Miyako sentia-se leve por ter contado a verdade para alguém. Aya nunca a entenderia, a amiga via o jovem gênio apenas como um moleque chato, suas outras amigas não ajudariam muito e suas irmãs obviamente tomariam partido do namorado. HIkari era calma e sabia ouvir e era só disso que a veterana precisava.

A verdade é que a mais velha não queria apenas contar todo o caso do seu romance aos tropeços, ela precisava de alguém para desabafar sobre os últimos dias e talvez ajudá-la a colocar um pouco de sanidade na cabeça de Ken.

Desde que descobrira que Hanamizuki era a responsável pelos problemas no Digital World, ele passou a segui-la e abordá-la de todas as formas possíveis. Chegava até ser engraçado, considerando que antes, ela buscava desesperadamente ser o centro das atenções. A questão é que Ichijouji estava convencido que ela era a responsável e tentava arrancar a verdade da menina a qualquer custo. Por outro lado, Hanamizuki Karin parecia realmente não saber nada a respeito, não importava o quanto ela dissesse que não sabia nada sobre Digimon, exceto o que vira na televisão, Ken nunca se convencia. A garota chegou até a pedir a intervenção de Miyako e explicou que usava as pulseiras fazia muito tempo, mas que nunca estivera no Digital World, de forma que acessório que encontraram não poderia ser dela.

Mas nada disso importou, em determinado momento, Ken perdeu a paciência e a puxou pelo braço, no meio da aula de educação física e começou a gritar com ela. Claro que isso atraiu a atenção dos outros alunos, que não precisaram de muito para se intrometer, ainda mais que ninguém de sua turma morria de amores pelo gênio. Sobrou a Miyako ir buscá-lo na enfermaria do colégio, só para vê-lo ostentar um belo olho roxo e murmurar um pedido de desculpas que ela sabia não ser sincero.

Inoue sabia que ele hackeara as contas nas redes sociais de Hanamizuki e a seguia até em casa, mas tudo isso se mostrou infrutífero. A pulseira era a única pista em que podia se agarrar, mas ela não o estava levando a lugar algum. Quando Inoue disse isso ao namorado, ele simplesmente parou de contar o que andava fazendo. Miyako tinha medo que Ken fizesse algo idiota do qual se arrependeria profundamente em um futuro próximo.

“Os garotos do nosso grupo são um bando de frouxos.” Hikari disse por fim, sorrindo após ouvir o relato da amiga. Inoue curvou as sobrancelhas, interrogativamente. “Você precisou se declarar para o Ichijouji-kun.” Fez uma pausa. “Takeru-kun, eu me declarei para ele uma vez.”

A mais velha parou, visivelmente chocada com a informação. Sabia como os dois digiescolhidos eram próximos, muito próximos, para a infelicidade de Daisuke, mas nunca imaginou que a castanha fosse se declarar.

“No ano passado, no dia dos namorados.” Começou. “Eu fiz um chocolate especial, em forma de coração e externei meus sentimentos, aqui mesmo, no parque Odaiba.” Ela encarou o céu e pareceu terrivelmente melancólica. “Era engraçado, porque nós trocávamos chocolate todo ano, sem nenhuma segunda intenção, mas eu achei que isso facilitaria as coisas. Mas ele não sentia o mesmo.”

Miyako sempre teve certeza que Takaishi gostava da amiga, ele era sempre tão protetor em relação a ela, tão íntimo. Além disso, eles conversavam normalmente e até faziam ciúme para Motomiya, não poderia imaginar que por trás de tudo aquilo, existia uma rejeição.

“Eu sei que ele gosta de mim.” A castanha encarou a amiga. “Mais do que já gostou de qualquer garota, mas só isso não é o suficiente. É como se faltasse algo, algo para fazê-lo gostar verdadeiramente de mim.” Confabulou.

“Acha que ele gosta de outra pessoa?” Perguntou receosa.

“Talvez.” A expressão era de quem já pensara naquilo dezenas de vezes. “Talvez um dia ele vá se apaixonar por alguém e eu só poderia parabenizá-lo. Esse elemento que falta, sinto que nunca irei descobrir o que é.” E sorriu, um sorriso triste adornando as belas feições.

“Eu não sabia disso.” Miyako disse depois de um incômodo silêncio.

“Tudo bem, eu nunca contei para ninguém antes. Foi uma época difícil, mas acho que superei bem.” E sorriu para confirmar o que dissera. “E somos amigos acima de tudo, não é só uma discrepância de sentimentos que irá nos separar.”

As duas caminharam em silêncio, seguindo o contorno do parque. Embora fosse mais velha, Miyako sentia inveja da maturidade de Yagami. Ela era sempre tão consciente e segura de si, a garota se perguntava se um dia chegaria próximo de algo assim.

“Eu fico feliz por vocês, você e o Ichijouji-kun.” Hikari parabenizou. “Eu acho que vocês formam um belo casal.” Inoue sorriu, concordando. Realmente, eles faziam um belo casal.

O celular de Hikari tocou e a menina atendeu prontamente, as feições assumiram um ar assombrando e quando desligou, informou que era Takeru e que eles estavam com problemas. As duas garotas rumaram rapidamente para a casa de Hida, onde o grupo já estava reunido.

Quando chegaram, Inoue viu que Takeru estava com Hawkmon, que não parecia muito feliz de ter que encarar o frio, e Patamon. Daisuke também estava ali, com grossas luvas e um aquecedor de orelhas, V-moon estava ao seu lado, animado com a possibilidade de ação sem se importar com os destemperos do clima. Iori estava diante do computador e analisava as informações que recebera de Palmon.

“Ela mandou um email informando que um vilarejo próximo a Coela Beach está sendo atacado. Não temos informações de que tipo de Digimon é.” O menor informou.

“Vamos logo!” Apressou Daisuke, ele era único que não tinha entrado em ação desde que os problemas começaram no Digital World. O que era um absurdo, afinal, ele era o líder e deveria comandar as operações.

“Não sabemos o que iremos enfrentar. É melhor sermos cuidados.” Takeru disse sabiamente.

“Muito bem. Eu ficarei e monitorarei o portal. Se cuidem.” Iori completou, após abrir passagem com seu próprio Digivice e dar espaço para os companheiros se posicionarem.

“E cadê o Ken?” Inoue olhou em volta sem localizar o garoto das madeixas escuras.

“Eu disse a Hikari que tínhamos um problema quando liguei.” Takeru passou a mão pelo cabelo, nervosamente. “Esse é o problema, Ichijouji já foi.”

“Como assim, já foi?” Os olhos se estreitaram por trás das grossas lentes dos óculos.

“Ele disse que não deixaria Hanamizuki sair ilesa. Ele foi antes de nós conseguirmos nos agrupar.” O guardião da esperança viu a coloração sumir do rosto da garota.

Miyako tinha um péssimo pressentimento sobre aquilo.

=8=

O clima estava horrível no Digital World, nuvens densas e escuras cobriam o céu e uma garoa fria e fina caia incessantemente. O chão estava enlameado, dificultando o caminhar e a roupa encharcada só piorava a sensação térmica quando um vento fustigante vinha do leste e arrancava as folhas das árvores.

Ken podia ouvir o som das ondas quebrando na praia e uma gritaria vinda do vilarejo próximo à enseada. O som só não era mais ensurdecedor, pois era abafado pelo barulho do mar e da chuva. Quando o adolescente chegou pôde ver a vila parcialmente destruída e vários Betamon correndo de um lado para o outro. Palmon tentava ordenar os grupos em meio ao caos, ela parecia cansada e ferida e ficou aliviada quando viu Ken se aproximando.

Um WaruMonzaemon destruía o vilarejo, demolindo casas e pisoteando no que estivesse pelo caminho. Era menor do que o Golemon que enfrentara, mas de alguma forma, parecia duas vezes mais ameaçador e insano.

“Onde estão os outros?” Palmon fez sua voz se ouvir em meio a chuva e a desolação.

“Estão vindo.” Ken tirou uma mecha molhada do cabelo que estava grudada no rosto. “Muito bem, Wormmon.” Chamou o parceiro e tirou o Digivice do bolso. O inseto concordou e em poucos segundos, assumiu a forma de Stingmon.

O Digimon verde cruzou o céu e desferiu um golpe contra WaruMonzaemon, o urso gemeu e tentou atacar com suas poderosas garras, mas Stingmon, habilmente desviou do golpe. O monstro não pareceu gostar nada de ter errado o alvo e começou a sacolejar a pata peluda tentando atingir o monstro voador. Isso só o fazia atingir as casas que ainda estavam em pé e pisotear os pobres Betamon que tentavam fugir.

“Stingmon, precisamos tirá-lo da vila.” Ordenou apontando na direção da praia. O inseto concordou com um aceno de cabeça e começou a fazer manobras áreas, tentando atrair a atenção do urso demoniaco e induzi-lo a avançar até a praia. “Palmon, vamos aproveitar a chance e evacuar a cidade.” A Digimon planta concordou e os dois se separaram, tentando ajudar os Digimon anfíbio.

Ken avançava por entre os destroços, indicando um caminho seguro para que os moradores fugissem. Por vezes, desviava o olhar para onde Stingmon lutava, seu parceiro parecia estar resistindo bem. Estava orientando os últimos Betamon quando avisou uma forma humana na orla da floresta. Por um segundo achou que o cansaço e a chuva estivessem lhe pregando uma peça, mas quando piscou e encarou o ponto, teve certeza, era uma pessoa e só poderia ser uma pessoa.

Correu o máximo que pôde na direção, abandonando a evacuação do vilarejo e seu parceiro que batalhava arduamente. A figura percebeu que o garoto avançava e fugiu, se embrenhando na floresta. Ichijouji aumentou a corrida, manobrou por entre as árvores e fazendo um esforço sobre-humano conseguiu segurar o humano pelo braço.

Encarando-o na chuva, um rosto infantil o fitava sério. O cabelo escuro estava colado no rosto e os grandes olhos castanhos pareciam não se incomodar com a quantidade de água que escorria por eles. Ken abriu a boca, mas não conseguiu produzir som algum, nada daquilo fazia sentido.

Parado diante de si estava um garoto de aproximadamente dez anos, segurando um Digivice na mão. O dispositivo era parecido com o seu e parecia estar colado com fita adesiva. Ken soltou o braço magro e encarou a figura parada diante de si. Eles eram estranhamente parecidos.

“Quem é você?” A pergunta foi abafada pela chuva.

=8=

Quando o grupo formado por Daisuke, Miyako, Takeru e Hikari chegou ao vilarejo em Coela Beach, a chuva já tinha diminuído e vento abrandado. Entretanto, a visão não poderia ser pior. Todos os prédios estavam no chão, formando uma gigantesca pilha de escombros, WaruMonzaemon estava sentado no alto da pilha, brincando com um Betamon. Ele chacoalhava o pobre anfíbio de um lado para o outro, como uma criança sádica faz com uma boneca de trapo, sem se importar que o monstrinho estava preso a um minúsculo fio de vida.

Motomiya evoluiu V-mon, que rapidamente cruzou o céu na forma de XV-mon e deu um soco no monstro fazendo-o soltar o pequeno Digimon. Foi o suficiente para que o monstro voltasse ao seu estado furioso e partisse para o ataque, tentando atingir o alado azul com suas garras. Miyako invocou seu Anquilamon, que rapidamente foi ajudar o Digimon de Daisuke. Enquanto a batalha se desenrolava, deslizou por entre os pedaços de pedra e madeira, resgatando o pequeno Betamon ferido. Contornou um amontado de madeira, para sair da zona de batalha, quando se deparou com uma larga faixa de terra sem escombro algum. Era como se um trator tivesse passado, removendo a sujeira ali existente.

No final dessa faixa, podia divisar a praia. As ondas se chocando contra a areia e as palmeiras balançavam ao sabor do vento. Só então percebeu uma forma abandonada na areia, sentiu novamente aquela sensação ruim e lentamente se encaminhou até lá.

Quando chegou encontrou Wormmon caído na areia, estava desacordado e com o corpo cheio de escoriações. Miyako recolheu o pequeno e o aninhou nos braços, ao lado do Betamon. Seus olhos buscaram marcas na praia, mas havia apenas as pegadas de WaruMozaemon e agora, as suas próprias. Não havia sinal algum de Ken.

“Miyako-chan.” Hikari se aproximou correndo, acompanhada de Tailmon. “Encontramos Palmon, ela disse que conseguiram evacuar o vilarejo e tiveram poucas baixas.” Encarou os dois Digimon que a mais velha carregava. “O que aconteceu com o Wormmon?”

“Não sei, mas acho que ele estava lutando com o WaruMozaemon antes de chegarmos.”

“E o Ichijouji-kun?”

“Não faço ideia.” E aquilo a deixava angustiada. Por que o moreno não estava ali?

As garotas voltaram para onde Palmon estava, enquanto XV-mon, Anquilamon e Angemon tentavam dar cabo do urso possuído. A parceira de Mimi acolheu o Betamon ferido e analisou seu estado. Ele estava muito fraco e machucado mais iria sobreviver. Então desviou o olhar para Wormmon.

“Ele está muito machucado.”

“O que aconteceu com ele?” Miyako questionou.

“Ichijouji-kun e eu evacuamos a cidade. Stingmon tinha levado WaruMozaemon até a praia, o que facilitou nosso trabalho, mas WaruMozaemon estava descontrolado e...” A frase foi morrendo assim como a luz presente nos olhos da Digimon, seja lá o que tivesse acontecido com Stingmon, não deveria ser nada que fosse bom ser relembrado.

“E quanto ao Ken?” A voz da menina falhou.

“Eu não sei, nós nos perdemos no meio de toda confusão.” Palmon estava cabisbaixa, como se se culpasse pelo sumiço do adolescente.

“Com licença.” Uma voz fininha interrompeu e um pequeno Betamon se destacou no meio da multidão. “Eu vi o garoto humano.”

“Onde?”

“Ele me indicou para que lado fugir e depois correu em direção à floresta.”

“Mas não há nada lá.” A voz de Palmon mostrava que ela não acreditava na informação.

Miyako encarou as árvores altas e frondosas que circundavam o vilarejo. Era bonito, mas ao mesmo tempo opressor e o maldito pressentimento ruim retornou. O que Ken estaria fazendo na floresta?


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Notas finais do capítulo

N/T: Fãs de Takari, por favor, não me matem!

Como disse nas notas iniciais, estou escrevendo uma nova fic. AGCL é minha prioridade, mas caso alguém aqui goste de Pokémon, é só conferir no meu perfil, a fic se chama Rota Zero e é escrita em parceria com um grande amigo. Deem uma conferida, se acharem que valem.

Bom, depois do merchan básico, não se esqueçam de comentar, teorizar, criticar, elogiar, essas coisas de sempre. Beijokinhas e até.



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