Capítulo 3 – Embora pra nunca mais voltar...

Sarah voltou para o seu quarto e encontrou a amiga roendo as poucas unhas que ainda restavam.
- Sarah, o que aconteceu? O que ela fez com você?
- eu estou indo embora Ginny. Pra nunca mais voltar. – ela disse com lágrimas nos olhos.
- embora?? Pra onde??
- ainda não sei... não tenho ninguém lá fora... – ela chorava e a amiga a abraçou.
- você vai ficar sozinha?? Meu Deus! Mas você não pode ir!!!
- não tem jeito. A Madre me expulsou. Eu tenho que ir. E também não aguento mais ficar aqui, me desculpe Ginny, mas eu não sei se meu lugar é mesmo aqui entende?
- claro, amiga. Você tem que ser feliz! E se for pra ser feliz lá fora com aquele gatão dos seus sonhos, vá e não perca mais tempo! – ela sorriu fazendo Sarah mostrar um sorriso em meio às lágrimas que caíam.
- não delira Ginny... a possibilidade de encontrá-lo de novo é impossível... ele nem sabe que eu existo!
- não desanimes! Tenha fé! Vocês ainda irão se encontrar, escuta o que eu digo!
- ah minha amiga.... – elas se abraçaram apertado – vou sentir tanta falta de você...
- eu também... – Ginny chorava – vou rezar todos os dias por você. Me mande notícias tá bom?
- pode ter certeza! Agora eu preciso arrumar minha mala. Saio amanhã bem cedo, assim que o dia clarear.
- tudo bem... eu te ajudo.
Sarah arrumou sua mala em menos de meia hora, afinal ela não tinha muita coisa. Apenas o máximo que uma simples freira podia ter. As duas passaram a noite conversando, jogando conversa fora como sempre faziam. Mas dessa vez era diferente, era a última vez.

O dia amanheceu e a despedida foi dolorosa. Não apenas para Ginny mas para todas que viam em Sarah a chance de um futuro melhor naquele convento “assombrado” pela Madre Shiffer. Todas estavam tristes por ela ir embora, menos é claro, a Madre que não apareceu nem para dar adeus.
- sentiremos tua falta...
- você é uma menina iluminada!
- sucesso sempre!
- que Deus a abençoe!
Eram as frases mais ouvidas naquela manhã. Sarah saiu sem rumo e com seu rosto manchado de lágrimas que não paravam de cair. Estava deixando sua vida, seu lar, a casa que passou a ter durante anos estava ficando pra trás. Agora era somente ela, sozinha num mundo desconhecido.

Ela pensou em ir para um hotel ou uma pensão até conseguir contato com um tio distante, irmão de seu pai falecido. Mas será que o tio a reconheceria depois de tantos anos? Isso ela não sabia, teria que arriscar.
Com o pouco dinheiro que tinha conseguiu uma vaga numa pensão no centro da cidade. Não era um lugar de luxo, e pra ela isso não importava. Aprendeu no convento a dar valor a coisas mais importantes, como amor, amizade e companhia. O dinheiro fazia a cabeça de muitos jovens mas mesmo vivendo num mundo tão fútil, a mente dela permanecia intacta da mais linda pureza.
Depois de deixar suas coisas na pensão, Sarah decidiu sair em busca de alguma coisa que a levasse até seu ‘desconhecido’ tio.
Estava andando pela rua distraída e não viu que o sinal de trânsito tinha aberto para os carros e fechado para os pedestres. Foi nessa hora que tudo aconteceu.
- aaaaaaaahhhhhhhhhhhhh! – ela gritou e caiu no chão desmaiada. Tinha batido a cabeça e perdido os sentidos.
A rua inteira parou pra ver o acidente. Vários carros pararam para ver a cena. O dono do carro que a atropelou saiu e olhou para ela desesperado. Colocou as mãos na cabeça sem saber o que fazer.
- meu Deus! Será que eu a matei??? – ele se perguntava nervoso.
A multidão se aglomerava e nada dela acordar. A ambulância demorava a chegar e o desespero só ia aumentando até que ele tomou uma decisão desesperadora.
Ele a pegou no colo ainda desmaiada e colocou em seu carro. Todos em volta não falavam nada, pois alguns não concordavam e outros sabiam que a vida da garota dependia de uma atitude como essa.
Ele a levou para o hospital mais próximo onde ela foi prontamente atendida. Ninguém negaria isso a ele, sendo ele tão importante.

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