Feeling myself escrita por Edie Dreamer
Notas iniciais do capítulo
Neste capítulo a narrativa é da Marina :)
Preciso me controlar, nesse momento a Clara precisa de um ponto forte para se sustentar e eu vou ser quem ela precisa, foi por muito pouco que não perdi a cabeça quando a encontrei sentada no calçadão chorando, arrasada e com o rosto machucado. Não sei o que aconteceu entre eles, mas que tipo de homem faz isso?
– Vem, eu vou cuidar de você.
Ajudo ela sair do carro e continuo em silêncio, não sei como lidar com essa situação. Nunca fui o tipo de pessoa com pré-disposição a sofrer e sempre fugi de relacionamentos complicados, mas estou apaixonada por essa mulher, com todos os seus problemas, a única coisa que quero é estar aqui para ela mesmo que tudo isso me confunda tanto.
Quando entramos ela se afunda em uma cadeira como se já não pudesse ficar em pé, me ajoelho e estamos nos olhando, tento descobrir como agir, mas os olhos dela não me revelam nada. Clara é um completo mistério para mim, apesar de ser revelar com tanta simplicidade ela vive em um mundo oposto ao meu, um mundo cheio de regras e comportamentos pré-definidos.
– Ele ameaçou me tirar o Ivan.
– Calma, nenhum juiz vai deixar ele tirar o Ivan de você Clarinha. Você é uma mãe maravilhosa.
Puxo Clara pros meus braços em uma tentativa de protegê-la dessa dor e ela volta a chorar, ficamos assim por um longo tempo. Preciso fazer alguma coisa, não vou aguentar segurar minhas próprias emoções por muito tempo.
– Você precisa descansar um pouco.
– Preciso de um banho.
Passo a mão no seu rosto machucado, olhar isso me tira ainda mais do sério, sinto que as lágrimas já não cabem em mim.
– Pode subir, eu vou pegar um gelo pra por nisso antes que fique inchado.
– O que? Isso o que?
– Seu rosto tá machucado Clarinha. Ele te bateu?
– Não! Ele me empurrou, devo ter batido quando cai, não sei... demorei pra entender o que tava acontecendo.
– Pode pegar uma roupa minha. Já vou subir.
Ela se levanta e vai para o andar de cima, sento no chão e deixo as lágrimas finalmente rolarem, mas não sinto nenhum tipo de alivio. É tão duro ver Clara assim arrasada, ela que normalmente é tão leve e feliz. Procuro me acalmar enxugo as lágrimas e vou buscar uma bolsa de gelo.
Quando entro no quarto ela está saindo do banheiro, vestida com uma das minhas camisetas, dessas que uso para ficar em casa e estou aqui paralisada, como ela consegue estar deslumbrante vestida com isso?
Sei que não é o momento certo então tento não pensar nisso. Me sento na cama e aponto para ela se juntar a mim. Clara se aproxima e deita com a cabeça no meu colo e se aninha como uma criança, seu olhar está perdido e triste, meu coração se aperta com isso. Tiro o cabelo do seu rosto e acaricio com calma. Ter Clara aqui comigo é algo que tenho esperado por muito tempo, um tempo que nunca esperei por ninguém. É incrível como com ela tudo é diferente e novo, sinto uma paixão avassaladora que entrou sem pedir licença e tirou meus pés do chão, deixou meu mundo de ponta cabeça e me fez cometer loucuras, mas ao mesmo tempo é um amor calmo, tranquilo, que espera sem pressa, cheio de clichês. Seria capaz de qualquer coisa para conquistar o direito de viver esse amor, mas o que mais me assusta é saber que pela primeira vez na vida seria também capaz de desistir dela se isso significasse o fim desse sofrimento. Ela olha para mim, estende o braço e enxuga uma lágrima no meu rosto.
– Obrigada.
– Descansa Clarinha.
Fico ali esperando que ela pegue no sono. Não quero que ela sofra, para Clara gostaria de ter reservado apenas felicidade, quero mostrar os lugares mais bonitos e ensina-la a voar e ser livre para aproveitar toda essa leveza que ela tem na alma.
A observo dormir, fecho meus olhos e me concentro na sua respiração uniforme, que é o único ruído presente, e no calor do seu corpo ali próximo ao meu.
Quando os primeiros raios de sol ameaçam entrar pela janela sinto ela se movimentando, abro meus olhos e encontro os dela ainda tristes mas renovados, cheios de esperança.
– Oi!
– Oi!
– Nem acredito que consegui dormir depois de tudo.
– Nada como uma boa noite de sono.
Ela senta na cama ao meu lado e sorri para mim e isso faz meu coração saltar no peito.
– Obrigada...
– Não fala nada, não agradece. Não pensa em nada, não agora.
Então ela abaixa a cabeça concordando comigo e quando volta a olhar para mim é como se seus olhos estivessem pegando fogo, meus pensamentos se perdem e me vejo no reflexo do seu olho e eu estou queimando. Não quero acelerar nada, sei que isso tudo é muito novo para Clara e preciso caminhar no ritmo dela, então respiro fundo tentando controlar meus instintos.
– Vamos tomar café...
Começo a me levantar mas ela pousa a mão sobre a minha perna me parando e se aproxima de mim, meu coração para e não sou capaz de respirar. Ela toca os lábios nos meus e são os lábios mais macios que já beijei, céus como ela pode me deixar completamente louca com tão pouco, não tenho reação a não ser abraça-la.
– Clarinha, sei que você tá cheia de coisa na cabeça e vou te ajudar a resolver. Depois... você pode decidir se é realmente isso que quer.
Ela se afasta me encarando – Eu sei o que quero e não tem mais nada me impedindo de viver isso, se eu tinha dúvidas elas acabaram ontem.
Estou de boca aberta, tentando ligar as peças. Quando foi que a mulher que estava destruída ontem a noite se tornou essa pessoa tão decidida?
– Marina?
– Oi... - seguro suas mãos e olho nos seus olhos, minha boca parece ter perdido a capacidade de falar e sinto as mãos dela geladas na minha - nós duas sabemos o que queremos, mas quero você aqui por inteiro e sei que tem um monte de coisas passando nessa sua cabecinha.
– Marina, eu...
– Shhhhhh...
Me aproximo devagar e toco meus lábios nos seus novamente, tentando aproveitar essa sensação ao máximo. Sinto as mãos de Clara envolvendo minha cintura, um toque simples mas que destrói meu auto controle e estou pedindo passagem para essa boca que têm me tirado do rumo, entrelaço meus dedos em seu cabelo querendo traze-la o mais perto possível.
Nossas línguas se tocam com intimidade, desejo e amor. É um beijo suave, leve mas que não consegue esconder a necessidade que temos uma da outra.
Eu que sempre controlei todas as situações estou entregue, entregue a essa troca sensível e amorosa. Meus pensamentos vagueiam entre todos os momentos em que desejei isso, desde o dia em que encontrei ela naquela exposição e meus instintos me dominam completamente, quero descobrir cada pedacinho da sua boca e da sua pele. Meu coração está acelerado e meu corpo queimando, não consigo controlar a felicidade em sentir Clara tão entregue, para mim.
Contrariadas afastamos nossas bocas, mas mantemos nossas testas coladas tentando recuperar o folego. Tenho um sorriso bobo nos lábios, é difícil acreditar que tudo isso está acontecendo e ela retribui com um sorriso que me arrebata.
– Amo esse sorriso. Amo você Clara.
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