Feeling myself escrita por Edie Dreamer


Capítulo 4
Escolhas




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A recepção fria de Cadu me deixa tensa, sabia que o que me esperava não seria fácil. Minha vontade era fugir, voltar para o estúdio, para Marina.

– Tá tudo bem?

– Não tá não Clara...

– Saíram os resultados dos exames? A Dr. Sílvia disse alguma coisa?

– Não tem nada haver com isso, é sobre nós dois, meu coração vai muito bem... Aliás só não tá melhor por sua causa.

Não consigo entender essa acusação agora, ele parece estar descontrolado e isso me assusta.

– Como? Como assim por minha causa? Eu não tenho culpa se você age como uma criança e não se cuida cara.

– Pelo menos não tô agindo como um adolescente querendo viver uma aventura né.

Demoraram alguns segundos para que conseguisse acreditar que estava realmente ouvindo aquela acusação e entender o que estava por trás. Aquele não era o homem com quem eu havia me casado.

– Ah Cadu, por favor né. Eu nunca fugi das minhas responsabilidades e não vou fazer isso agora.

– Vou direto ao ponto. Não quero mais você trabalhando no estúdio, nem com essa amizade com a Marina.

– Como é? Acho que não tô te entendendo.

Cada palavra dele fazia eu me sentir mais longe da alegria que havia experimentado alguns minutos atrás. Como eu poderia abrir mão de estar lá para conservar um casamento nesse estado? Amo o Cadu, claro que amo, nós vivemos muita coisa juntos, ele sempre foi um homem encantador, sonhador, meu companheiro e foi ele quem me deu o Ivan, mas esse homem não é o mesmo com quem me casei.

– Você me entendeu muito bem Clara. Sua desculpa pra ficar socada naquele estúdio era a grana, não precisamos mais, o bistrô tá bem e posso manter a casa. Agora volte a ser mãe do seu filho.

– Não acredito que você tá me falando isso, você sabe que eu amo meu trabalho...

– O trabalho ou a Marina?

– Você tá agindo como um idiota Carlos Eduardo.

– Eu? Chega de enrolar Clara. Cansei de te ver socada nesse estúdio e essa mulher te comprando como se você fosse igual a ela, não sou idiota.Você vai fazer o que tô te pedindo ou não?

Me lembro do dia que pedi demissão do estúdio, dos dias longe do trabalho e longe dela, ele pode não saber mas já tentei fazer isso, tentei evitar que tudo isso acontecesse, tentei a todo custo esquecer ela mas não dá, não consigo.

Minha voz falha e não consigo evitar as lágrimas, sei as consequências das minhas próximas palavras e elas saem como um sussurro - Você sabe que não.

O olhar dele pra mim que antes era frio passou a ser de raiva, não consigo reconhecer meu marido. Onde estamos indo? Ele soltou seu peso no sofá levando as mãos a cabeça e respirando com dificuldade.

– Essa é sua escolha então?

– Não preciso escolher entre minha família e meu trabalho...

Ele está pálido, não posso deixar essa discussão continuar, não com ele nesse estado.

– Cadu vamos parar com essa briga...

Ele se levanta e caminha até a mesa da cozinha, fica de costa pra mim. Saber que estou magoando o homem com quem vivi tantos anos e que já me fez tão feliz é horrível, nunca quis que ele sofresse. Me aproximo e oabraço.

– Me solta Clara, você fez sua escolha.

Sem saber como percebo que estou caída no chão, meu rosto dói, mas a maior dor é perceber a forma como ele me olha. Não acredito que ele fez isso, me desespero ao me dar conta do que está acontecendo, nós não somos mais os mesmos, está tudo errado, mas nunca imaginaria que um dia ele pudesse agir assim.

– Você tá louco Cadu, não é o homem por quem eu me apaixonei. O cara que eu amei jamais faria isso.

Percebo que estou gritando e tento me acalmar mas não consigo mais segurar toda tristeza, a raiva e o medo e sou tomada pelo choro, não dá pra manter a calma quando tudo está desmoronando.

– Não pense que vai levar o Ivan pra viver essa aventura com você.

Ele passa por mim sem me olhar, abre a porta.

– É melhor você dormir na Helena ou... com a Marina e depois decidimos o que fazer.

Com muito esforço me levanto, me sinto vazia e sem direção, é como se tudo que construímos juntos até aqui estivesse se desmaterializando diante de mim e eu não pudesse fazer nada para evitar. Passo por ele e paro na porta, olho pro homem que um dia amei e para o nosso apartamento e sei que esse é o fim.

– Nunca quis que as coisas terminassem assim Cadu. Eu mudei e tô confusa, mas você me ajudou a decidir e ... tem razão é melhor eu procurar a Marina. Mas não pensa que tô desistindo do meu filho.

A porta bateu fazendo um barulho alto e seco, isso é tudo que sobrou após 10 anos, está acabado e por mais que eu saiba que era um questão de tempo até que isso acontecesse me sinto arrasada, todo meu corpo dói, o vazio e o medo são todos os sentimentos que conheço agora. Mas não posso ficar aqui parada, começo a andar e sem saber como estou saindo do prédio.

– Dona Clara tá tudo bem com a senhora? Quer que eu interfone pro seu Cadu?

Ouço as palavras mas não fazem sentido na minha cabeça então apenas continuo andando, ando alguns metros no calçadão e me sento observando a praia e as pessoas que passam, pessoas sozinhas, adolescentes, famílias e todos parecem estar tão felizes, não me sinto parte desse ambiente. Mas eu sei o que preciso e de quem preciso. Pego meu celular e disco o número dela e escuto ansiosa cada toque.

– Clara?

– Oi!

– Tudo bem Clarinha? Que voz é essa?

– Tá tudo acabado Marina eu e o Cadu...acabou.

– Clara você tá em casa?

– Não, tô no calçadão.

– Tô indo ai, fica calma. Me espera.

– Tá bom.

Desligo o telefone e continuo observar tudo que está acontecendo. Saber que ela está vindo me acalma, ajuda a colocar os pensamentos nos eixos aos poucos. É isso mesmo que quero? Ver Marina agora, depois de toda essa confusão? Agora que mais nada me impede como isso vai acabar?

Perco a noção do tempo relembrando os bons e maus momentos que passei com Cadu, sei que valeu a pena esse tempo, mas agora preciso seguir em frente. Nossas brigas já superavam as nossas alegrias e estavam afetando o Ivan, as coisas não podiam continuar dessa forma. Cada segundo que passava ao lado dele era pensando nela e todo mundo a minha volta sabe disso, principalmente ele. Não adianta eu continuar negando.

– Clara! Graças a Deus te achei.

Olho pro lado e vejo Marina vindo em minha direção, só tenho tempo para levantar e então sinto ela me apertar em seus braços. Meu coração acelera mas dessa vez aliviado, esse é meu lugar. Ali nos braços dela sei que tudo isso tem um sentido e um propósito. Choro, choro por que tenho medo de perder meu filho, choro de tristeza por ter magoado o homem com quem passei praticamente toda minha vida e também choro de alegria por já não me sentir culpada por estar com ela. Já não é mais um choro vazio e angustiado.

– Lembra o que te falei? Tô com você,vai ficar tudo bem!

– Uhum – eu sei que vai ficar.

– Vem comigo.

Entramos no carro e Marina dirige em silêncio segurando minha mão com firmeza, me dando a segurança que preciso nesse momento e desviando uma vez ou outra o olhar do transito para mim, não aquele olhar provocador de sempre, mas um olhar cheio de ternura e carinho. Quando chegamos em Santa Tereza ela estaciona o carro, fica de frente para mim segurando minhas mãos.

– Vem, eu vou cuidar de você.


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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora, mas sacomé né semana de provas na faculdade combinada com uma semana de ócio criativo, mas vamos desenrolar essa história ;)



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