As vezes penso de que a nossa escolha naquela fatídica noite, possa ter causado um futuro mais perigoso para nossos filhos, mas a decisão também foi deles, dos Deuses, de fato, nenhum semideus no mundo esperava uma decisão como a que aconteceu há anos atrás. Mais exatamente há 23 anos, naquela época, as pressões de ser um semideus já estavam bem mais fraca.

23 anos no passado:

Eu e Annabeth estávamos apenas no início de nossos cursos na Universidade de Noba York. Annie estava feliz com o início de seu curso, Arquitetura, o sonho de toda a vida dela. Bem, eu não estava nem um pouco feliz em ter que parar e começar a estudar. Meu curso não era nada do que eu esperava. Estava fazendo oceanografia, um curso que me permitiria ficar no mar, os domínios de meu pai, mas ao mesmo tempo, toda a matemática envolvida e localizações estavam fazendo minha cabeça explodir.

Eu não podia desistir do curso e retornar para o acampamento, havia prometido a Annabeth que não desistiria, ela acabaria comigo se eu quebrasse uma promessa. E assim ficamos ali, ela estudando para se tornar a maior arquiteta que o mundo já viu, e eu ali, sem prestar atenção nas aulas, passando nos semestres sem ter aprendido nada.

Sentia saudades do acampamento, principalmente de combater monstros. Queria que tudo fosse como antes, mas era impossível. Segundo Annie, devíamos crescer e aceitar que não éramos mais adolescentes e de que o mundo não precisava mais da gente. Não era fácil aceitar isso, mas parece que os deuses tinham plena consciência de que os semideuses não eram mais necessários e só geravam custos e perigos que poderiam ser evitados.

Isso culminou em uma visita que recebi naquele tempo, ela trazia uma notícia que iria mudar o destino de qualquer semideus nascido há 27 anos:

Rachel havia me procurado na aula e me tirado da mesma com uma velocidade incrível, a ruiva em 2 anos desde a queda de Gaia havia pouco mudado, e continuava com seu trabalho perfeito no acampamento, sendo a oráculo.

– O que houve Rachel? – Perguntei

– Eles... Eles querem fechar! – Disse ela ofegante

– Eles quem? Fechar o que? –

– Percy, os deuses querem fechar o acampamento júpiter e o acampamento meio sangue! – Gritou ela

Respirei fundo.

– Porque eles fariam isso? –

– Eu não sei, o que sabemos é que Quíron foi ao Olimpo hoje em uma conferência com os deuses e recebeu essa decisão. – Disse ela

– Isso parece sem fundamento, porque os deuses fechariam os dois acampamentos responsáveis por cuidar de seus filhos mortais? –

– Ninguém sabe... Mas Percy, você precisa fazer algo! –

– Porque eu? –

– É o maior de todos os tempos no Acampamento, se os deuses te ouvirem, eles podem parar com essa ideia estúpida! –

Respirei fundo.

– Vou conversar com Annabeth no intervalo e vou ver o que vamos fazer... Se você puder falar com os outros 5, será bom se eles ajudarem. –

Rachel fez que sim com a cabeça e saiu correndo.

Eu voltei para a aula naquele momento, mas não conseguia me concentrar. Porque ele fariam isso com os semideuses?! Era inconsistente, incompreensível! Para não falar outras coisas!

No intervalo entre as aulas eu sai correndo até o centro de arquitetura e urbanismo da Universidade. Corri demais, e cheguei em frente ao prédio procurando minha namorada... E lá estava Annabeth, sentada na escadaria do prédio lendo um livro sobre a arquitetura egípcia, distraída como se o mundo não existisse.

– Filha de Atena? – Perguntei chegando ao lado dela

Ela abaixou o livro e me encarou.

– Pode falar... – Disse ela sem emoção alguma

Eu comecei a derramar meu desespero em Annabeth, ela apenas me encarava com uma cara de poucos amigos. Contei a ela tudo que Rachel havia dito e acho que também havia inventado algumas partes sem querer. Ver Annabeth daquele jeito me dava um pouco de receio, ela desde que havia começado a estudar em uma universidade estava mais fria e raramente dava um sorriso.

– Então os deuses finalmente tomaram essa decisão... – Disse ela

– Você já sabia? –

– Era algo muito fácil de se prever, visto que a maioria dos problemas do Olimpo são os semideuses que causam. É uma decisão lógica... E deixe eu adivinhar, você quer ir ao Olimpo tentar mudar a decisão dos deuses... –

– Sim e quero que você venha comigo! –

– Sinto muito meu amor, mas eu concordo com os deuses neste sentido, fechar os acampamentos é uma decisão bem acertada, não irei com você! –

Aquilo me destruiu por dentro, como minha Annabeth podia estar sendo tão insencível aos sentimentos de todos os semideuses que vão ficar sem a proteção dos dois acampamentos?! Ela não pensava nos anos que ela passou lá dentro, protegida de monstros e sendo treinada por Quíron para encarar uma vida difícil como semideusa?!

– Mas Annie?! –

– Sem mais Percy, já tomei minha decisão e tenho que voltar para minha aula, se você quiser ir conversar com os deuses, você sabe onde fica o Olimpo. Nos vemos de noite amor! –

Ela deu as costas para mim e voltou para seu prédio.

Annabeth tinha tomado sua decisão, mas como eu não desisto fácil, iria fazer o que ela havia previsto, ir ao Olimpo pedir explicação dos deuses.

Uma ligação no meu celular cortou meu pensamento:

– Percy? – Perguntou uma voz feminina

– Sim... Quem é? –

– Não reconhece nem mais a própria amiga? Sou eu a Piper! –

– Pipes! Que bom falar com você! A Rachel falou com você? –

– Sim, comigo e com o Jason... Leo, Hazel e Frank também já foram informados, agora é só decidir onde nos encontramos... –

– Em frente ao Empire State as seis horas da tarde! –

– Tudo bem, vou avisar aos outros! Vamos salvar os dois acampamentos! –

– Até mais Piper! –

– Se cuida Percy! –

Desliguei o celular.

Estava nervoso demais com tudo para voltar para a aula, em apenas um dia, o mundo dos semideuses poderia mudar para sempre com a decisão dos deuses de fechar os dois acampamentos e agora, a última esperança de que aquilo não acontecesse seria nossa ida ao Olimpo.

Troquei de roupa no dormitório e fui para a frente do Empire State.

Semideuses costumam não ser pontuais, já eram seis e vinte quando os outros cinco apareceram. Meus antigos amigos, que em 2 anos depois da batalha conta Gaia pouco mudaram. Jason e Piper estavam mais juntos do que nunca, Frank e Hazel também! Até Leo tinha se arrumado com sua namorada... Nada mais, nada menos do que uma deusa já conhecida minha... Calypso.

Todos estavam com suas vidas encaminhadas em Universidades por todo o país, mas ao contrário de Annabeth, eles se importavam com o destino dos acampamentos, não se esqueciam de que a vida que hoje eles gozam, foi por causa do treinamento que eles tiveram naqueles dois espaços. O ser herói é só uma consequência de todo o treinamento.

Cumprimentei a todos, em especial Piper...

Parece que a cada vez que vejo ela, essa garota fica mais bonita.

Sem dizer mais nenhuma palavra, entramos no prédio e fomos ao elevador de acesso.

Meu coração pulava dentro de meu peito, de todas as vezes que já tinha ido ao Olimpo, aquela parecia a mais assustadora. Embora não temesse mais a maioria dos deuses, havia ainda Atena, e vamos dizer que ela não era minha melhor fã.

O elevador parou e abriu as portas para a cidade dos deuses.

Saímos e começamos a ir em direção ao grande salão onde os deuses se reuniam. O Olimpo estava o mesmo de sempre, com a reforma que Annabeth tinha comandado há alguns anos, ele havia ficado bem diferente da concepção original grega feita há milhares de anos e agora, tinha um perfil mais moderno.

Entramos no Salão.

Zeus estava sentado em seu trono com os outros deuses ao redor, a visão era a mais normal possível, a não ser por seis semideuses estarem ali.

Atena se levantou de seu trono.

– Heróis... Não sabíamos de sua visitas! – Disse a deusa me encarando

– Nós também não sabíamos que íamos visitá-los... Até essa tarde. – Falei

Atena me analisou.

– Onde está Annabeth? –

– Ela não quis vir... Mas vamos logo ao assunto. – Falei

Atena me encarou e se sentou novamente.

– Porque decidiram fechar os dois acampamentos? – Perguntou Piper

– Isso não é de sua conta... Semideusa! – Respondeu rispidamente Apolo

Dei um passo a frente.

– Sr. Zeus, não é possível que depois dos milhares de anos que os acampamentos têm, o senhor queira acabar com eles. –

Zeus me encarou.

– Nós fizemos um estudo de caso... Percebemos que a maioria dos problemas que os Deuses e o mundo enfrentam vem dos semideuses! – Disse Atena

– Como assim?! Os Semideuses sempre salvaram o Olimpo e o mundo. – Disse Frank

– Isso pode até ser verdade! Mas as guerras mundiais, cruzadas... A maioria dessas batalhas foram causadas por semideuses, em 1950 o mundo quase foi destruído por uma ameaça nuclear. Sem falar em Cronos e tudo de mais recente, os semideuses têm criado batalhas e ajudado inimigos do Olimpo por toda a história. Nós simplesmente nos cansamos disso e decidimos acabar com tal ameaça! – Falou Atena sem emoção

Engoli em seco.

Se eu havia interpretado direito ela havia falado que não haveriam mais semideuses a partir daquele dia.

– Sra. Atena, não podemos admitir tal coisa! E os próximos semideuses?! Ficarão desprotegidos sem o treinamento adequado! – Falei

– Você não entendeu Percy... Não haverão mais semideuses! Nós acabamos de aprovar a lei que impossibilita qualquer Deus de ter filhos com mortais! – Disse ela

Olhei para Zeus.

– Assim sua geração será a última de semideuses! – Disse Ártemis

Aquilo não podia ser sério.

– Nada do que vocês falem irá mudar nossa decisão... Sugiro a vocês que se acostumem com a ideia e voltem a ter a vida normal. – Disse Zeus

Eu me enfureci com os deuses, não falei com meu pai, mas ele também não abriu a boca em protesto contra aquela falta de respeito com os semideuses.

– Muito bem... Eu vou voltar a minha vida normal, mas digo aqui para os deuses! Meus filhos não saberão de sua cultura! Não terão contatos com seu parentesco divino ou qualquer outra coisa ligada aos deuses gregos ou romanos! A partir de hoje não passo de mais um humano qualquer que nega a existência dos deuses gregos! Sendo um deles minha sogra e o outro meu pai. – Gritei

– Faço o mesmo! – Disse Piper

– Eu também! – Disse Frank

Os outros também aceitaram.

Atena me encarou com raiva e meu pai se limitou a me olhar com expressão de tristeza. A partir daquele momento, meus futuros filhos não teriam contato com seus avós ou com a cultura grega.

7 anos depois:

Nunca pensei que estaria tão feliz! Depois de me formar com até alguma facilidade e ver Annabeth se tornar cada vez mais importante para a arquitetura mundial, depois de meu casamento com ela e de tudo que aconteceu em minha vida, este com toda certeza iria ser o dia mais feliz de minha vida...

Meu primeiro filho havia acabado de nascer e já estava nos braços da mãe, ainda deitada em uma das camas do hospital de Nova Iorque.

Annie segurava a pequena criança em seus braços.

Ela me olhou e sorriu. Eu também estava sorrindo feito um idiota, mas não pude deixar de pensar nos desafios que viriam a seguir.

– Quer escolher o nome? – Perguntou Annabeth

– Luke... Seu nome vai ser Luke! –

Ela sorriu e aceitou o nome de nosso primeiro filho, era uma homenagem a um amigo que errou muito, mas mesmo assim na última hora acabou salvando o mundo. Mal sabíamos, que o nome Luke, poderia ser o protagonista de nossas vidas novamente.

Ser pai com 25 anos... Não vai ser necessariamente a maior aventura de nossas vidas, mas vai ser com toda certeza a mais complicada e a mais longa.

Presente:

Não sou mais o mesmo e com toda certeza... Annabeth também não é, meus dois filhos não sabem de nada de sua herança e tão pouco das habilidades que possuem, eles são apenas humanos normais e se minha vontade prevalecer, continuarão assim!