Setores de Sangue escrita por Carlos Junior


Capítulo 8
Capítulo 8: Sem Pressa




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Eva bufou.

— Pode entrar — grunhiu ela, baixinho.

Após a passagem de Mero pela porta, Eva acompanhou o rapaz até o sofá, onde Josh Smith encontrava-se acomodado, assistindo ao telejornal.

— Sente-se. — Disse Eva.

— Não vai me perguntar se quero beber alguma coisa, primeiro? — brincou Mero, sorrindo.

— Não. — Respondeu ela, pousando a mão sobre o ombro de Mero e o empurrando para o sofá. — Agora me responda. O que você sabe?

Mero, discretamente, fez um sinal para o lado com a cabeça, indicando que a presença de Smith, durante aquela situação, era incômoda.

— Ele sabe muito mais a respeito desse grupo do que você. — Disse ela. — Por isso, sugiro que não discuta e comece a falar.

Mero respirou fundo. Era quase impossível para ele ter um momento a sós com Eva. E justo agora que, finalmente, encontrara uma razão para visitá-la, não poderia ter uma conversa apenas com ela ao seu lado.

— Tudo bem — ele pousou as mãos, juntas, sobre o colo, e inclinou o corpo para frente. — A primeira coisa que precisa saber é que Cour está se reunindo secretamente com algumas pessoas do grupo.

— Se reunindo? — perguntou Eva, sentando-se sobre a mesa de vidro no centro da sala.

— Ele está contatando nossos membros mais fortes para uma... Como eu posso dizer? — Mero procurava a palavra correta para descrever uma situação exagerada. — Missão extremamente arriscada, segundo ele.

Eva semicerrou os olhos.

— Arriscada? — repetiu ela.

— É o que parece.

— E como ficou sabendo de tudo isso? — Eva sorriu sarcasticamente, não confiava plenamente nas palavras de Mero.

Ele balançou a cabeça.

— Eu, por acaso, também fui chamado — respondeu, como se tratasse-se de algo natural.

Eva lançou um olhar preocupante para Smith, que abaixou a cabeça.

》》》

Robert permanecia em frente, com o Wilbur ao seu lado, esperando o momento em que a distância entre ele e o guarda que vigiava o local nas proximidades do elevador fosse favorável.

Os pelos do braço de Wilbur encontravam-se de pé. Sabia exatamente o que estava prestes a acontecer, e temia aquilo. Reconhecia a presença de outra possibilidade, uma possibilidade mais racional que Robert sequer considerara. Podia ser que aquela decisão possuísse relação com a informação contida na carta e fosse uma maneira de expressão, como podia ser uma maneira doentia de diversão.

As coisas cruzavam a mente de Wilbur em questão de milésimos, o que acabou por fazê-lo inferir, em meio ao nervosismo, que não poderia deixar aquilo seguir adiante. Era loucura.

Mas também era tarde demais.

Robert alternou do ritmo lento em que caminhava, para um ritmo acelerado e tão veloz que possibilitou que ele puxasse a arma das mãos do homem, girasse, e o atingisse nas costas com a coronha, sem grande dificuldade.

O homem caiu de joelhos, urrando de dor, e, enquanto os outros três vigilantes presentes no saguão preparavam-se para atirar, Robert alojou-se atrás do corpo trêmulo à sua frente.

— Não se mexa — sussurrou Robert, pressionando o cano da arma, que agora possuía, nas costas do homem uniformizado como um aviso de que qualquer movimento suspeito acarretaria em sua morte.

Gritos e elforia infestaram o hall, o que tornou extremamente fácil para Wilbur misturar-se à multidão, que corria desesperadamente para as extremidades do local, e se esconder entre o aglomerado de pessoas.

Nenhum disparo havia sido feito no momento, provavelmente devido ao fato de Robert estar utilizando um dos vigilantes como escudo humano e a posição dos outros três prejudicarem intensamente a visão do alvo.

— Largue a arma! — gritou um dos guardas, próximo às portas de saída do edifício, ainda com o revólver apontado para o homem de joelhos na frente de Robert.

— Agora! — gritou outro.

Os olhos de Robert dirijiram-se para cima, encontrando o pequeno e poderoso painel de led responsável pela iluminação do salão. Ele mirou para o centro, em um movimento rápido, e disparou.

O objeto apagou instantaneamente, escurecendo o ambiente e interferindo, ainda mais, na visão dos indivíduos presentes.

— Em posição! — ordenou mais um dos guardas.

Robert apoiou a superfície do revólver no ombro do rapaz que oferecia-lhe proteção e desferiu quatro tiros, consequentemente atingindo dois dos três guardas que o cercavam, um na cabeça e outro na perna.

Apenas o movimento do guarda que estava fazendo de refém fora inesperado. Ele puxou a arma para frente, com força, e, enquanto Robert procurava, rapidamente, por algo na bainha da calça, virou-se para ele.

— Voc... — o som da voz do vigilante fora interrompido pelo golpe de canivete que Robert dera em sua julgular.

Então veio outra sessão de disparos, originados do outro lado do hall pelo único guarda ainda de pé, enquanto o homem, que antes acobertaria Robert dos tiros, despencava no chão, inexpressivo, com o canivete enterrado em seu pescoço.

Robert tomou a arma de suas mãos novamente, e atirou continuamemte para o lado enquanto corria para se esconder em algum lugar. A resposta não fora diferente, o guarda, com quem dividia o tiroteio, moveu-se até o balcão da recepção e se instalou atrás de sua estrutura.

Wilbur encontrava-se próximo da recepção, e ao observar o guarda, armado, escondendo-se atrás do balcão, com a sequência de monitores vítreos ao seu lado, pensou em algo brilhante, porém perigoso.

Em questão de segundos, saltou de onde estava, ergueu um dos monitores, desprendendo-o dos cabos que o conectavam à CPU, e atingiu o guarda continuamente, que, pego de surpresa, demorou a reagir. Porém, ao reagir, gritando e disparando aleatoriamente em todas as direções, o monitor se despedaçou nas mãos de Wilbur e os grossos fragmentos de vidro que o compunham provocaram graves ferimentos na cabeça do vigilante.

Insatisfeito com o resultado, Wilbur agarrou mais um dos monitores ao seu lado, e reiniciou o processo de golpes no homem, que já havia desistido de revidar e deitara-se no chão, agora ensanguentado, até que ele parasse de se mover.

》》》

Robert saiu, lentamente, de trás da mesa à qual usara como base, procurando por Wilbur na tênue escuridão do aposento, enquanto a luz das ruas, que atravessava as portas duplas de vidro na entrada, ainda ajudava a distinguir as formas.

— Wilbur! — gritou ele, até encontrar o companheiro, atrás do balcão da recepção.

— Vamos! Agora!

Wilbur observou o percurso de Robert até a saída do hotel enquanto respirava, ofegante. Não era a primeira vez que matara um homem, mas sentia como se fosse.

Ele puxou o revólver das mãos geladas do guarda esparramado à sua frente, deu a volta no balcão, encarando a sombra nos rostos das pessoas que afastavam-se dele, e caminhou até a porta de entrada. Aquele, aparentemente, era apenas o início da grande encrenca em que se meteriam.


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