Setores de Sangue escrita por Carlos Junior


Capítulo 4
Capítulo 4: Desinformado




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Robert tentou levantar e sentar-se na beirada da cama, mas a dor em seu braço fez com que ele deitasse novamente. Sua cabeça e seu braço esquerdo ainda latejavam, mas a área ferida pela bala encontrava-se enfaixada, o que significava que alguém o havia cuidado.

Seus olhos vasculharam a escuridão e encontraram suas mochilas, ambas sobre uma mesinha de madeira no canto da sala, e, ao lado delas, uma mochila alaranjada. A mochila de Mayla.

Mayla.

Se a mochila da garota estava ali, onde estaria ela? Aquela era uma pergunta que só seria respondida se ele deixasse o aposento.

Robert sustentou o braço esquerdo no direito e ergueu-se da cama, caminhando lentamente em direção à porta. Ele girou a maçaneta e a luz do sol invadiu o quarto.

Saiu no meio de um corredor, de frente para uma parede de vidro esverdeado que revelava parcialmente a claridade do céu da manhã.

– O que está fazendo? - perguntou uma voz.

Ele ignorou e seguiu na direção oposta à ela.

– Eu estou falando com você - a intensidade do som aumentava conforme passos ecoavam no chão do corredor, cada vez mais próximos. - O que acha que está fazendo?

Robert virou-se e descobriu um rapaz calvo, portando óculos e segurando uma prancheta com a mão direita. Deveria estar fazendo algum relatório.

– Está falando comigo? - indagou Robert.

O jovem assentiu com a cabeça.

– Você ainda não pode sair do quarto - respondeu ele.

– Por que não?

– Ainda não se recuperou.

Aquilo não fazia a menor importância para Robert, lembrava-se muito bem do motivo de seus ferimentos, estava tentando proteger a filha. E provavelmente havia falhado.

– Você viu uma garotinha de onze anos passar por aqui? - perguntou Robert, ignorando o comentário anterior.

– Eu não vou responder nada até você voltar para o seu quarto.

– Certo. - Visto que o jovem não esrava disposto a responder suas perguntas, Robert voltou sua atenção para o fim do corredor e caminhou até ele, de encontro aos elevadores. Mayla poderia estar em qualquer lugar.

– Ei! - ele o seguia.

As portas de metal espelhadas do elevador deslizaram para o lado, exibindo seu interior vazio. Robert apressou-se para entrar, esperando se livrar do rapaz o mais depressa possível, estava cansando de restrições, tudo o que queria era encontrar Mayla.

– Ei. - O rapaz entrou no elevador antes que as portas se fechassem. - Eu ainda não me apresentei.

– Não precisa - retrucou Robert.

– É claro que precisa - ele estendeu a mão. - Eu me chamo Wilbur.

– Wilbur?

– Sim.

– Robert. - Robert apertou sua mão.

– Eu sei.

Robert franziu a testa.

– Eu sou responsável por você - Wilbur virou a prancheta para ele, exibindo uma folha de papel carregada de informações. Era uma ficha. Uma ficha técnica sobre Robert.

– Como assim responsável por mim? - bufou Robert. - Por que eu precisaria de um responsável?!

– É mais por uma questão de segurança. Estou supervisionando você.

– O quê?

– Você arrumou a maior encrenca no trem. Então quando te deixaram aqui, pediram alguém para te vigiar, e eu me ofereci.

– Me vigiar?

– Não me veja como alguém responsável por você - corrigiu Wilbur, percebendo a reação de desconforto de Robert. - Me veja como um informante. Só isso.

Um informante? Robert finalmente conseguira enxergar uma oportunidade em meio a tudo aquilo.

– Então... Informante... - Robert buscou suavizar as palavras para parecer mais agradável.

– Wilbur. Prefiro Wilbur.

– Wilbur. Você sabe alguma coisa sobre a garota que estava comigo no trem?

– Qual o nome dela?

– Mayla. Mayla Dodgers.

– Ela veio para cá com o senhor?

– Eu não sei. E não me chame de senhor.

– Desculpe. Quanto à garota, eu vou buscar saber mais a respeito.

– Mas você não viu nenhuma criança por aqui?

– Vindas com o Setor 7? Algumas.

– O Setor 7? Os sobreviventes do Setor 7 estão aqui?

– Sim, senhor - Wilbur percebeu seu erro rapidamente. - Me desculpe de novo. - Ele limpou a garganta. - Todos os que escaparam de lá estão alojados aqui.

Robert passou a encarar as portas espelhadas.

– Então quer dizer que você não sabe absolutamente nada do que aconteceu comigo?

– Eu só vi quando o deixaram em seu quarto.

– Não havia ninguém comigo?

– Além de guardas? Não.

Ainda havia muito o que descobrir, Robert não poderia simplesmente desistir de procurar saber o que aconteceu após sua saída do trem. Talvez Wilbur precisasse apenas das perguntas certas. Ou ele realmente não sabia de nada.

– Como soube que eu arranjei a maior encrenca no trem? - perguntou Robert. Aquela pergunta poderia solucionar grande parte de seus problemas.

– Foi o que me passaram. Está na ficha - Wilbur ergueu a prancheta mais uma vez.

Perigoso. A palavra em negrito ao lado de seu nome significava que ele havia chamado mais atenção do que imaginou chamar.

O elevador apitou, indicando que haviam chegado ao andar térreo. As portas deslizaram para os lados novamente, e eles saíram.

》》》

– Seu idiota.

Eva encontrava-se parada, encarando o imenso outdoor digital que exibia o rosto de Zack. Procurado, era o que significavam as letras em vermelho sobre ele.

– O que você achou que ia ganhar com isso?

– Eva - um homem colocou a mão sobre seu ombro. - Nós vamos encontrá-lo. Antes do que você pensa.

– Não. Eu não quero achá-lo

– Temos que fazer isso.

– Por que?! - Eva retirou a mão do homem de seu ombro, com violência. - Me responda. Por que exatamente temos que achá-lo, Mero?

– Ele é seu marido. E meu melhor amigo. Não podemos deixar que os guardas simplesmente o encontrem. Ele vai ser morto.

Eva levou a mão à testa.

– Nós já deixamos.

》》》

– Nós já deixamos.

O presidente não esperava aquela reação da moça. Aquilo significava desistência. Aquilo significava que seus planos talvez não funcionassem.

Felizmente ainda possuía uma carta na manga.

– Obrigado Kay. - O presidente acomodou-se em sua poltrona, satisfeito. - Agora retire-se.

A senhora, de grisalhos cabelos ruivos, posicionou o pequeno aparelho de som sobre a mesa de vidro ao lado e dirigiu-se para fora da sala.

– Nós temos tudo sobre controle. - O presidente entrelaçou os dedos.

》》》

– Cordon, você não será o responsável pelo portão hoje - revelou Garbon. - Sinto muito.

– O quê? - Cordon demonstrou surpresa. Se ele não ficasse responsável pelo portão, não seria possível ajudar Zack a escapar.

– Não precisamos de você cuidando de nada hoje. Digamos que você não seja mais... Como eu posso dizer? Confiável.

– Confiável?

– Sim. Fiz questão de informar ao presidente sua relação com determinados fugitivos.

Cordon contraiu os lábios.

– E por que exatamente fez isso? Por acaso está armando contra mim?

– Talvez. - Garbon sorriu sarcasticamente, e se afastou. - Pergunte àquele seu amiguinho. Zack.

Cordon engoliu em seco. Zack. Ele estava correndo perigo. Não poderia ir até ele ou revelaria seu esconderijo, além de comprometer sua carreira como guarda de segurança civil. Talvez, inclusive, já houvesse comprometido.

– Desgraçado - murmurou Cordon, mas Garbon já encontrava-se distante.

》》》

Eva soltou o rabo de cavalo e enfiou a mão direita entre seus cabelos negros, apalpando-os até sentir algo sólido. O objeto era tão pequeno que ela havia o perdido três vezes antes de arrancá-lo junto a alguns fios de sua cabeça.

Como imaginava. Durante o "ataque" de Garbon, ele colocou uma escuta, presa por uma forte resina, em uma mecha de seus cabelos, tornando praticamente impossível retirá-la sem que qualquer dano fosse causado.

– Você acha mesmo que ele escutou? - perguntou Mero, sussurrando no ouvido da mulher para que a escuta não o captasse.

Eva assentiu com a cabeça, sorrindo. Ela colocou o objeto com cuidado sobre uma plataforma de concreto e afastou-se do local.


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