A jovem usava o vasto cabelo castanho-avermelhado, com pontas espetadas para cima, em um perfeito rabo de cavalo alto da cabeça. Estava usando o vestido colado ao corpo no tom de vinho – realçando suas curvas – ela suspirou, assim que sentiu o motor desligar, colocou os óculos escuros e pegou sua bolsa Prada, contou até dez de forma baixa, mostrou um sorriso pálido para Byron enquanto abria a porta da bela Mercedes preta.

– Bem vinda ao inferno! – resmungou baixinho enquanto ajeitava seu vestido.

Com passos lentos, caminhou por entre aquelas malditas pedras que praticamente engoliam seus saltos caríssimos, não demorou em que sua tia Velda se aproximasse, tentou apressar os passos, mas era tarde – era impossível fugir daquela mulher – Naomi respirou fundo.

– Ora quem é vivo sempre aparece não é, pequena Nany – disse aos berros.

Naomi sentiu seu sangue congelar por entre as veias, girou sobre os saltos e pode ver os lábios curvarem um sorriso pálido.

– Tia Velda! Quanto tempo, fiquei sabendo de suas férias em Londres. – respondeu com um sorriso automático nos lábios perfeitamente pintados de vermelho – Desculpa se não tive tempo de largar meu serviço agitado em Manhattan para ir tomar chá às cinco.

Velda encarou a de cima a baixo – aquela ironia que os Gooding herdavam era quase notória – a velha senhora se aproximou e agarrou o braço fino de Naomi a forçando caminhar juntas.

Ela falava igual a mulher da cobra, Naomi apertara os dedos na borda de sua Prada, de modo que poderia perfurar o couro com suas unhas. A jovem suspirou – como se estivesse pedindo por socorro –, mas a imagem de sua mãe se aproximando a fez se sentir salva, Marie sempre impecável com sua aparência, usava um vestido de verão da Colcci.

– Querida está linda! – saudou a abrindo os braços de forma respectiva, Naomi mostrou um sorriso rápido – sabia que não iria escapar daquele abraço. – Não sabe o quanto nos faz falta.

Velda abafou uma risada de deboche, Naomi franziu o cenho, naquele momento sentiu uma raiva afiada e totalmente inesperada, que lhe roubou o fôlego. Todos sabiam quais eram os motivos que a mantinham afastada daquele lugar, os erro que cometera no passado. Em sua mente, trazia à tona os flashes da noite que jogara o vinho no rosto de Michael Bolton em pleno restaurante Wanderer and Campground, depois de descobrir a traição.

– Ora mamãe, não se faça de fingida, sei que Claire apenas me convidou por que sou sua única irmã e o tal inglês é neurótico com essas merdas de superstições. – grunhiu enquanto se afastava de ambas – E a senhora, tia Velda, não venha se fazer de santa perto de mim.

Naomi caminhou com passos rápidos na direção do saguão central, Velda se aproximou de Marie e pousou a mão sobre o ombro da cunhada.

– Imagina quando ela descobrir que o Michael é o padrinho de honra do tal George. – disse.

Santo Deus! Alguém não iria sair vivo daquele casamento, Naomi manteve sua postura impecável enquanto caminhava na direção do saguão, atraindo olhares para si. Assim que avistou a irmã parou e respirou fundo, girou sobre os saltos, mas acabou trombando com um homem alto que deixou sua taça virar sobre os fartos seios de Naomi, que fechou os olhos, lembrou se de que Toddy sempre dizia "Conte até dez queridinha" – mas havia um problema, aquilo nunca funcionava para ela.

– Seu imbecil. – berrou encarando o dentro de seus olhos azuis – Acabou de estragar meses de meu trabalho, mas que droga.

Rapidamente as pessoas presentes no saguão se voltaram para ambos, Claire depositou a taça sobre a mesa e correu na direção da irmã que parecia espumar pela boca, seguida por George. Um dos garçons entregou um lenço de papel para ela – mas era tarde, seu vestido estava todo manchado – Claire agarrou o braço de Naomi e a puxou em direção à sala privada, fechando a porta atrás de si.

– Está maluca garota, como pode falar mal do irmão do meu noivo? - questionou encarando-a – Ele não fez por mal, será que tem que berrar com todo mundo, Naomi! Por Deus.

Antes que pudesse continuar, ambas ouviram a porta se abrir, Steve acenou para ela de forma silenciosa. Voltando a olhar para Claire, sorriu de forma automática.

– Vejo que já chegou. – disse fazendo pouco caso de sua presença – Respeite o momento de sua irmã, agora volte lá fora e peça desculpas ao rapaz que nada te fez. – disse de forma rude.

Naomi encarou-o, seu padrasto começara a tratá-la com frieza depois que seus contratos com os Boltons foram desfeitos, por causa do incidente no restaurante. Ela encarou Claire por um segundo, virou se na direção de sua mãe que estava atrás de Steve, ou melhor, seu padrasto.

– Sinceramente não sei o que minha mãe viu em você. – rebateu à altura – Você não é meu pai, Steve e não cunho para chegar aos pés dele, imitação barata de burguês, se quiser vá você pedir desculpas aquele sujeito desajeitado.

Naomi caminhou com passos rápidos na direção da porta, mas sentiu a mão forte de Steven agarrar seu fino braço, apertou o de forma rude, ela emitiu um gemido de dor.

– Garota mimada, irei te mostrar quem sou. – grunhiu encarando a – Seu pai era um pobre miserável que morreu na lástima, então dobre a língua para falar a meu respeito.

Naomi conseguiu se livrar as mãos de Steve, seus olhos estavam inundados em lagrimas, virou se na direção de sua mãe, que não disse um "piu" se quer, apenas abaixou a cabeça. A jovem se permitiu um pequeno e diplomático suspiro. Virou se na direção de Claire, que logo entendeu o recado, não poderia deixar sua irmã caçula ficar desfilando com aquele vestido todo manchado, ambas caminharam em silencio. Naomi costumava ser adorável, mas depois da morte trágica de seu pai, ela se transformara em uma adolescente problemática – se envolvendo em tudo quanto era encrenca – Clarie, por outro lado, sempre soube ocultar seus sentimentos, pois passara anos nos melhores colégios internos do país.

A loura retirou um vestido de cor nude, da Colcci de seu imenso closet espelhado, Naomi retirou seu vestido todo manchado e o jogou no cesto lixo, vestiu o vestido quase que intocável relutante contra as lagrimas.

– Perfeito! – disse Claire enquanto se aproximava de sua irmã – Agora ele terá um motivo para ser usado, enxugue essas lagrimas e vamos.

Naomi assentiu, enxugou os cantos dos olhos castanhos, perfeitamente contornados de preto. Ambas caminharam em silencio na direção dos jardins, onde seria apresentado os padrinhos, Naomi sentou se ao lado de Velda que nem se quer se moveu. Claire sentou-se ao lado de George, Steve se levantou e bateu de leve na borda da taça de cristal com o talher de prata, fazendo o sonoro barulho de casamento, todos se calaram.

– Meus caros amigos e parentes, fiquei incumbido pelo meu futuro genro anunciar os nomes dos padrinhos e madrinhas que nos darão a honra de presenciar esse evento maravilho que começa a partir de desta bela manhã. – anunciou com um brilho arrogante nos olhos – Primeiro os padrinhos, serão. – pausou para pegar o cartão onde estavam os nomes – Jordan Miller, Ian Hulger, Charles Bradbury e Michael Bolton. – assim que terminou de anunciar os nomes, virou se na direção de Naomi, que não disfarçou sua expressão de surpresa – Agora as madrinhas, Chloe Lamark, Lucie Johnson, Louise Morgan e minha querida Naomi Gooding.

Naomi se levantou furiosa e caminhou na direção da porta, não podia acreditar que sua irmã estava fazendo aquilo, já era um grande sacrifício estar naquele maldito lugar infestado de moscas e de temperaturas elevadas, mas convidar Michael Bolton para ser um dos padrinhos de honra era a ultima gota. Marie ameaçou a se levantar, mais sentiu a mão de Steve a conter, Velda lançou lhe um olhar e seguiu Naomi.