O lugar onde Safira estava era muito escuro, ela não conseguia ver nada além de seu corpo. Seus pés estavam presos em uma lama preta e por mais que ela os puxasse, continuava presa no lugar. Ela começou a ouvir o choro de uma criança, vindo de muito longe. Ela começou a puxar seus pés para seguir o som. Ela conhecia aquele choro, não sabia de onde.

Logo o caminho começou a ficar mais claro, existia apenas a neblina. A lama nos pés de Safira desapareceu e no lugar apareceu uma grama fria e molhada. Ela continuou a andar em direção ao choro. Ele estava ficando cada vez mais alto.

Conforme ela foi caminhando encontrou um sobrado bege, que estava sendo tomado por plantas. O choro parecia vir de dentro, então Safira foi em direção a porta. Dentro dele havia uma escada, que levava ao segundo andar, e duas outras portas, que Safira não sabia aonde levavam. Ela foi em direção a escada, pois o choro parecia vir de lá.

No segundo andar existiam quatro portas, mas Safira foi em direção a última porta do corredor. Conforme se aproximava, o choro aumentava mais e mais e seu coração batia cada vez mais rápido. Ela colocou a mão na maçaneta e a girou. Assim que abriu a porta o choro parou.

Dentro do quarto existia uma poltrona velha e estampada de flores virada para a janela, ela estava manchada de algum liquido escuro. Safira andou até a poltrona e conforme ia se aproximando percebeu que alguém estava sentado lá. Quando ela viu o que tinha lá ela começou a correr de volta para a porta, mas ao chegar na porta o cenário mudou. Na poltrona estava o corpo de uma senhora que devia ter mais ou menos 60 anos, ela tinha um corte na garganta e as manchas na poltrona eram do sangue dela.

Safira ao perceber a mudança de senário parou de correr e começou a observar em volta. Ela estava de volta na grama verde e úmida, mas agora não tinha mais neblina. Ela se virou e viu um pequeno lago escuro. Ela foi até ele e então percebeu que não estava mais sozinha.

Do outro lado do lago estava uma menina de uns 8 anos, com os olhos e cabelos lisos pretos, ela era muito pálida e usava um vestido preto até os joelhos, onde tinham meias brancas sujas de terra e uma sapatilha preta. Ela parecia estar chorando e não parava de encarar Safira.

Safira começou a se aproximar da menina, quando a expressão da menina mudou, um sorriso malvado apareceu no rosto dela e então uma sombra apareceu atrás da menina. Safira se lembrou do ataque a sua família e então começou a se afastar deles, mas a sombra foi na direção de Safira e antes de toca-la, Safira acordou.

Safira estava em seu quarto no castelo, estava suando. Ela olhou para o céu e percebeu que ainda era noite. Ela decidiu descer para o salão e tentar se esquecer do sonho para voltar a dormir.

Quando chegou no salão principal, viu que tinha alguém na sacada. Ela foi até lá e encontrou a Sunny.

– O que está fazendo acordada? – Pergunta Safira assustando Sunny.

– Oi. Eu não consegui dormir. Hoje é lua cheia – Respondeu Sunny voltando a olhar a lua. Ela estava pensando em Johnny.

– Ele se transforma em luas cheias? – Perguntou Safira entendendo o que Sunny quis dizer.

– Sim. Ele é muito parecido com os lobisomens que mostram em filmes na Terra. E isso me deixa preocupada, poderia acontecer algo com ele ou ele poderia fazer algo a alguém – Disse Sunny começando a se desesperar.

– Mas ele por acaso fica solto? – perguntou Safira tentando acalma-la.

– Não, ele fica no porão da casa da família – Falou Sunny respirando fundo, então ela voltou a observar a lua – Sinto que ele está pensando em mim.

– Ele deve estar – Concordou Safira.

– E por que você está acordada? – Perguntou Sunny curiosa.

– Tive um pesadelo.

Assim que Safira respondeu, Cléo apareceu atrás delas e perguntou:

– Meninas, o que estão fazendo aqui?

– Apenas observando a lua – Respondeu Sunny – Mas já vou para cama, boa noite, Safira. E obrigado por me conversar comigo, eu precisava me acalmar – Sussurrou Sunny a Safira – Boa noite, Cléo.

Quando Sunny saiu Safira perguntou:

– E o que está fazendo aqui, Cléo? A essa hora da madrugada?

Cléo estava se perguntando se contava ou não o que estava escondendo.

– Primeiro me diz por que esta acordada a essa hora, depois eu respondo a sua pergunta – Barganhou Cléo.

– Tive um pesadelo – Respondeu rápido Safira.

– Sobre o que? – Perguntou Cléo nervosa.

– Sobre uma menina de cabelos pretos que estava chorando – Respondeu se pensar Safira.

Cléo ficou calada por um tempo, enquanto Safira se perguntava se devia obriga-la a falar ou não sobre o que estava escondendo. Cléo por fim falou:

– Safira tenho que te contar o resto da história que não contei no dia em que me conheceu – Cléo começou a puxa-la para dentro do salão, até os tronos – Os reis e os guardiões me proibiram de conta-la a vocês, mas você está ligada a ela desde que ela nasceu.

– O que você quer dizer Cléo? Que história? E quem era aquela menina? – Perguntou Safira confusa.

– Depois de algum tempo em que vocês tinham ido para a terra, a rainha engravidou novamente. Assim que a criança nasceu, eles decidiram manda-la para longe. Ela não podia viver no reino da luz, não poderia viver perto das encantadas – Contou Cléo.

– Ela era minha irmã? – Perguntou Safira ainda confusa – Mas por que ninguém nunca disse nada? Por que ela não pode viver aqui?

– Sim, ela é sua irmã mais nova. Seu nome é Claire. Ninguém do castelo podia dizer, eram ordens, e fora do castelo ninguém sabe. Ela é a princesa das sombras, Safira. Ela nasceu com um coração cheio de sombras. Ela atrai a escuridão para perto.

– Mas ela é só uma criança, Cléo. Não poderia fazer mal a alguém – Disse Safira triste – E por que está me contando só agora? – Questionou.

– Os poderes dela despertaram mais cedo do que pensavam. Eu ia contar aos reis agora, mas encontrei você acordada e sabia que o motivo era ela. Você iria descobrir logo. Mesmo que eu não contasse, por causa da ligação que vocês duas tem, você descobriria sozinha – Respondeu Cléo.

– Que ligação eu tenho com ela se não a conheço?

– Você é a princesa das estrelas e ela das sombras, então você é a luz e ela é a escuridão – Explicou Cléo – A escuridão não existe sem a luz, ela precisa de você e é por isso que eles a querem longe de você, porque ela pode traze-la para a escuridão.

– Não acredito que acham que uma criança faria uma coisa dessas – Falou Safira indignada.

– Não a conhece Safira, não sabe o que ela pode fazer – Disse Cléo.

– Vou falar com os reis.

– Fale com eles quando amanhecer, Safira. Por enquanto, apenas eu vou falar com eles. Eles precisam decidir o que fazer e isso não é assunto para você se envolver – Disse Cléo segurando o braço de Safira. Ela somente soltou o braço quando Safira concordou e foi para o quarto.

Safira não queria continuar pensando no assunto. Ela não conseguia acreditar nisso, por mais medo que tivesse sentido no sonho. Quando viu o rosto de Claire e ouviu seu choro, ela sabia que tinha que protege-la. Mesmo que tivesse que ir contra os guardiões e os reis, e mesmo que a menina fosse má, porque ela precisava de sua ajuda.