Primeiro não entendeu o que ele queria dizer, mas Tony continuava a falar na mesma, de uma maneira arrastada, até chegar perto do sofá, onde ela estava. O corpo dele caiu pra frente e Natasha observou com horror enquanto a cara dele entrava em contato com o chão. Aquilo sem duvida ia deixar marca mais tarde. Levantou-se e tocou-lhe com o pé, bem, não parece morto.

– Jarvis, o que aconteceu com o Tony? - Questiona, enquanto se abaixa para puxá-lo.

Ele acaba por ser mais pesado do que julgava e Nat vai ao chão, dando mais uma pancada no corpo do coitado. Talvez devesse procurar Bruce, afinal ele era amigo de Tony, e quando eles tinham saído de manhã para o laboratório o Stark estava de bom humor. E agora ali aparecia ele, a meio da tarde, completamente chapado.

– O Sr. Stark e a Srta. Potts discutiram.

Certo, isso explicava o estado de Tony, só não explicava como Bruce o tinha deixado chegar àquele ponto. Não era ele o responsável no meio dos dois? – E o Dr. Banner?

– Saiu depois do almoço e ainda não voltou.

– Oh.

Não tinha dado conta da saída dele. Acordara cedo e tinha passado maior parte do dia a treinar, ainda nem sequer tinha comido. Sentiu curiosidade pela ausência de Bruce, mas ignorou-a e começou a tratar de Tony. Arrastou-o até ao sofá da melhor maneira que conseguiu e humedeceu uma toalha, após notar o quão quente ele estava. Só lhe faltava que ele tivesse febre.

Nas duas horas seguintes, descobriu que Tony era do tipo de bêbados que falava muito, e que era impossível compreender o que ele dizia. Ele tinha acordado pouco depois de ter começado a cuidar dele, resmungando alguma coisa que não conseguiu decifrar. Começava a acreditar que ele revelava um lado ainda mais retardado quando abusava da bebida.

Ponderou ligar para Pepper enquanto fazia café para ajudá-lo a despertar, mas não se queria intrometer na discussão dos dois, principalmente sem saber o que tinha acontecido de verdade. Merda. Pensou, quando Tony começou a chorar na sala. Só me faltava mesmo isto.

O telemóvel a vibrar em cima da mesa chamou a atenção de Bruce e da mulher à sua frente. “Natasha Romanoff” piscava no écran e ele sentiu o ar escapar-lhe dos pulmões. Desligou a chamada rapidamente e colocou-o no bolso.

– Desculpa.

– Está tudo bem, Bruce, então... É a tua namorada?

– Não, é só uma agente da S.H.I.E.L.D.

Soltou um palavrão em russo quando Bruce desligou e quase atirou o telemóvel contra a parede. Como é que ele se atreve a desligar? Tentou ligar de novo, mas nem sequer chamou e Natasha sentiu raiva dele naquele momento. Tony chorava como uma criança e ela não sabia mais o que fazer com ele. Irritada, aproximou-se e deu-lhe duas estaladas – Tony, para com isso! Não sei o que aconteceu contigo e com a Pepper, nem quero saber, mas tens que parar! Não és assim, onde está o Tony Stark que conheço? – Ele fitou-a em silencio, abaixando o olhar em seguida. Nat suspirou, puxando-o pelo braço para levantá-lo – Vamos, vais tomar um banho e vais ligar à Pepper para resolverem as coisas.

Bruce foi direto à cozinha quando chegou, surpreendendo-se por ver a luz acesa. Natasha estava sentada ao balcão, com a cabeça apoiada numa das mãos e as olheiras denunciavam o seu cansaço. Olhou na direção dele quando se aproximou, e o olhar feroz que lhe dirigiu fê-lo parar.

– Onde estavas? – Exigiu. Bruce continuou em silencio, sem saber bem o que dizer, enquanto ela se levantava, parando na sua frente. Viu-a levantar a mão e pensou que ela lhe fosse bater, até que Natasha mordeu o lábio e deixou cair o braço – Precisei de ti quando o Tony estava em baixo! Ele discutiu com a Pepper e nunca o vi assim. Não sabia a quem mais ligar, ele não se aproxima de muitas pessoas, não de verdade. E tu nem sequer te dignaste a atender para saber o que estava a acontecer!

– Eu estava... A Betty ligou e... Nós…

– Não quero pormenores, obrigada – Ironizou, rindo – Pelo menos quando precisar de ajuda sei com quem não contar. Boa noite Doutor.

Tony já dormia quando Bruce lhe bateu à porta, despertando-o. Ainda meio a dormir, mandou-o entrar enquanto se sentava na cama. O Doutor espreitou pela porta antes de entrar, parecendo um pouco incomodado e nervoso. Aproximou-se da cama e olhou para ele com grandes olhos castanhos, cheios de arrependimento e pena.

Ah, Natasha tinha-o encontrado.

– Então... Suponho que já sabes o básico – Começou, vendo que Bruce não ia falar.

– A Natasha disse-me um pouco.

– Pela tua cara, imagino que não da melhor maneira – Suspirou, fazendo uma pausa – A minha discussão com a Pepper foi... Feia, acho que nunca tínhamos discutido daquela maneira. Pensei que a tinha perdido e isso assustou-me. Bebi mais do que devia e tive um ataque de pânico. A Natasha cuidou de mim, fez-me tomar banho e ligar à Pepper.

– E como correu?

– Falámos um pouco, não resolvemos as coisas, mas acho que estão num bom caminho. E a Natasha?

– O que têm?

– Ela estava bastante chateada por não teres atendido, até me bateu – Comentou, sorrindo.

Bruce retribuiu o sorriso, ou pelo menos tentou, já que pareceu mais uma careta – Ela ainda estava bastante chateada quando falou comigo. Mas a Betty ligou-me e estive com ela, por isso não podia atender. Tínhamos tanto para falar, tanto para resolver, tinha que colocar um ponto final em tudo para me sentir bem. Estava a tentar explicar-me à Natasha, mas, ela nem sequer me quis ouvir.

– Espera, parou tudo, disseste à Natasha que estavas com ocupado a Betty?

– Não foi bem assim – Retorquiu, olhando para ele nervosamente.

Tony soltou uma gargalhada – Grandalhão, é oficial, estragaste tudo.

– Por quê? Tudo bem que não te ajudei quando foi preciso, mas não me pareces chateado, porque é que ela devia estar?

Suspirou, cansado demais para explicar a quem não queria entender – Acho que tens de parar de ser tão cego.

No quarto, Natasha chorava de frustração. Sentia-se irritada, não com Bruce por não ter estado presente no momento que Tony precisou, mas sim consigo própria por se ter incomodado tanto com o facto de que ele não tinha estado, porque estava acompanhado de Betty. Levantou-se caminhando para a toalete, quase que se arrastando até ao chuveiro e ligou a água fria. Precisava esfriar as ideias e ter uma boa noite de sono.

Os caixotes começaram a aparecer pela manhã, assim como algumas malas.

Tony já não aguentava Natasha sempre atrás de si, a perguntar de quem elas eram e o que faziam ali. É claro que não lhe ia dizer, isso ia estragar a surpresa e ele não ia perder a oportunidade de ver a cara de Natasha assim que ele aparecesse para morar com eles. Bruce podia não dizer nada, mas estava igualmente curioso, conhecia-o bem demais. Ohhhhh, já quase que podia sentir o conflito pairar no ar.

Natasha só precisou ver a ultima caixa a chegar para saber quem ia morar com eles. Merda. Pensou, controlando a vontade de roer as unhas. Tony só podia estar a brincar com ela. Aquela ideia de fazê-los morar todos juntos tinha começado a parecer-lhe péssima.

Talvez devesse ir embora, ponderou.

Não falava com Bruce, porque era demasiado orgulhosa para lhe pedir desculpas pelo comportamento da noite anterior e ele também não tinha feito qualquer esforço para falar com ela, talvez nem quisesse. Sempre que Tony desaparecia e a deixava sozinha com ele, o ar ficava estranhamente tenso, até que um deles fugia para outro lugar. Pelo que sabia, Thor estava em Asgard e não deveria voltar tão depressa. Tony era insuportável e irritante, mas de uma boa maneira, até podia conviver com ele, não estava segura era que ia conseguir manter a sanidade. Steve não tinha feito quaisquer planos de mudar-se para a Torre, apesar de ter aprovado a ideia. No fundo, Natasha desconfiava que ele quisesse manter-se longe dela, mais um para a lista de qualquer forma.

O pior naquela situação é que Clint parecia ter aceitado a ideia louca de ir viver com eles. Merda. Merda. Merda. Pensou, enquanto olhava as caixas pousadas á sua frente.

Não podia dizer que estava particularmente agradado com a ideia de Clint Barton ir viver na Torre, mas Tony era o dono e se ele achava boa ideia, quem era Bruce para discordar? A única coisa que o incomodava mais que a vinda do agente Barton, era Natasha. Tinha aparecido de manhã com umas enormes olheiras e suspeitou que ela não tivesse dormido bem. Não sabia como falar com ela, mas ela também não lhe falou, e Bruce resolveu manter a distância. Tony repreendia-o com o olhar sempre que havia oportunidade, mas mantinha-se calado, e ele agradecia por não o provocar. Sentia-se suficientemente nervoso sem ninguém a picá-lo.

Clint chegou a meio da tarde. Trazia consigo uma pequena caixa e colocou-a no chão para cumprimentá-los. Parecia incrivelmente animado.

– Onde está a Tasha?

Ah, pois claro, aqui está o motivo dele viver conosco.

– No andar dela – Respondeu Tony, sorrindo demais para o gosto de Bruce. Quase que podia apostar que ele estava a tramar alguma coisa e não sabia se ia gostar do resultado.

– Vou arrumar as minhas coisas e falar com ela.

– Sem problema, o Jarvis diz-te tudo o que quiseres saber – Quando ele desapareceu na direção do elevador, Tony virou-se para Bruce com um largo sorriso no rosto - Eu disse que tinhas concorrência, grandalhão, parece que ela apareceu.