Ao deitar na cama naquela chuvosa sexta feira, enquanto estava na casa de Juliana, Clara pensava em como sua vida havia mudado desde que conhecera Marina. Cada momento que ela passou com a fotografa, e as mudanças tanto emocionalmente como pessoalmente a assustavam um pouco, mas era algo que ela estava amando. A assistente esticou o braço e pegou dentro da gaveta do criado mudo uma revista que tinha a foto de Marina estampada na capa e ela não deixou de pensar na morena e no quase beijo de algumas semanas atrás.

- "Você é muito corajosa e muito louca. Não pensei que viesse depois do que aconteceu"

Clara sorriu mediante o comentário de Marina, e sua resposta foi o que mais surpreendeu Marina:

- "Não foi coragem, nem loucura, foi vontade de te ver. Precisava te abraçar, te dizer que.... te adoro e que estou morrendo de vergonha, de tristeza e de raiva com o que aconteceu".

Clara calou-se, não conseguia dizer que amava Marina, pois ainda estava tão confusa. O momento do quase beijo fez com que Clara respirasse fundo. Estava sendo torturante para a assistente sentir tamanho desejo mais fugir constantemente dele, por conta do medo. As duvidas e incertezas a matavam a cada dia e ela sem querer já havia contado seu desejo por Marina para Juliana, Helena e Luiza e o conselho da sobrinha foi o que pareceu mais certo.

- “Tia, você não pode ficar se torturando e nem torturando o tio Cadu, desse jeito você esta iludindo o tio e a Marina, tem que se decidir!”

Apesar da pouca idade Luiza tinha toda a razão, Clara já não podia manter um casamento por aparências e iludir Marina, precisava se decidir. No estúdio, Marina olhava para as revelações das fotos que havia tirado naquela tarde, quando Vanessa apareceu e a convidou para um jantar:

- “Vem jantar, já esta tarde! Já passa das onze da noite, fiz uma comida deliciosa!”

Marina respirou fundo e se virou para observar Vanessa com um sorriso doce e apenas respondeu:

- “Estou sem fome Van, não esqueça que daqui duas semanas eu viajo para Porto Alegre, e não terei tempo para nada! Se me der fome eu passo na cozinha e como algo pode ser?”

Vanessa olhou para Marina com um suspiro de desapontamento e foi embora sem retrucar a chefe. Clara não era a única a se lembrar do quase beijo entre elas, Marina ainda tinha gravado em sal mente o momento em que Clara quase se entregou a paixão, e foi o momento em que a fotografa percebeu que Clara sentia algo por ela.

As horas logo passaram e o sol estava brilhando fortemente naquele sábado, Clara acordou com a luz adentrando no quarto, espreguiçou-se e olhou para o lado, sentia falta de ter alguém perto dela, mais tinha que se acostumar com a idéia de dormir de casa em casa, ate que o seu casamento se acerta-se. Juliana bateu na porta do quarto e chamou pela sobrinha:

- “Clara já acordou? O café esta pronto! Vou levar a Bia para a escolinha quando sair tranca a casa, por favor!”

Clara levantou-se foi até o banheiro tomou um belo banho para despertar dos pensamentos que a perturbaram a noite inteira, vestiu uma calça jeans e uma blusa social preta amarrou o cabelo e preparou uma excelente maquiagem. Abriu a porta do quarto e foi ate a cozinha, como Juliana havia falado o café estava preparado e Guiomar havia se preocupado em fazer o sanduíche e o café na xícara para Clara. A morena tomou o café rapidamente e seguiu para o trabalho sorridente, pois teria mais uma oportunidade de ver Marina.

No estúdio, Marina tinha acordado cedo e havia começado a separar as fotos para a exposição que apresentaria em Porto Alegre, quando uma voz familiar a chamou. Ela se virou para verificar quem era, e a surpresa foi tamanha que todas as fotos que estavam em suas mãos caíram no chão. De todas as pessoas que a fotografa conheceu, aquela pessoa era a única que ela imaginou que não viria tão cedo. Marina ficou paralisada, não sabia exatamente o que fazer, ou o que dizer. Apenas ficou ali imóvel, boquiaberta ate que a mulher chegou próxima a ela e a abraçou e sussurrou ao pé do ouvido da fotografa.

- “Como é bom te ver! Senti saudades!”

Clara chegou no estúdio sem fazer nenhum alarde, queria fazer uma pequena surpresa para a chefa, no caminho para o estúdio, Clara foi a floricultura e comprou um modesto buquê de rosas vermelhas, talvez na esperança de repetir a cena do quase beijo e transforma o quase beijo em um beijo completo. Mas ao ver a cena de Marina abraçando carinhosamente outra mulher fez a assistente ficar parada sem reação.