Message in a bottle escrita por Rafa


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Oiii. Gosto desse capítulo, espero que todos vocês também apreciem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/492055/chapter/17

Rachel escutou em silêncio, esperando que ela terminasse, perguntando-se como Quinn tinha se apaixonado por alguém que podia fazer isso com ela. Como se lesse seus pensamentos, ela continuou:

– Sabe, Noah era um desses homens que conseguem fazer a gente acreditar em qualquer coisa que digam. Nós nos conhecemos na faculdade e eu fiquei impressionada com todas as qualidades dele. Era inteligente e simpático, e fiquei lisonjeada quando se interessou por mim. Lá estava eu, uma mocinha de Nebraska, e ele era diferente de qualquer pessoa que eu tivesse conhecido. Quando nos casamos, acreditei que teria uma vida de contos de fadas. Mas acho que isso nem passava pela cabeça dele. Mais tarde descobri que Noah teve a primeira amante cinco meses depois do casamento.

Ela fez uma pausa e Rachel olhou para a própria cerveja.

– Não sei o que dizer – comentou.

– Não há o que você possa dizer – respondeu Quinn, em tom definitivo. – Está acabado e, como eu falei ontem, a única coisa que quero dele agora é que seja um bom pai para o Tommy.

– Você faz tudo parecer tão fácil...

– Não é isso. Noah me magoou bastante, e levei alguns anos e muitas sessões de terapia para chegar a este ponto. Aprendi muito com minha terapeuta, e ao mesmo tempo aprendi muito sobre mim mesma. Uma vez, quando estava tagarelando sobre Noah, chamando-o de idiota, ela comentou que, se eu continuasse agarrada à minha raiva, ele ainda estaria no controle da minha vida, e eu não estava disposta a aceitar isso, então resolvi me livrar desse sentimento.

Ela deu outro gole na cerveja e Rachel perguntou:

– Você se lembra de mais alguma coisa que a terapeuta tenha dito?

Ela pensou por um instante, depois sorriu de leve.

– Na verdade, sim. Ela falou que se algum dia eu conhecesse alguém que me lembrasse Noah, deveria virar as costas e correr para um lugar seguro.

– Eu lhe lembro Noah?

– Nem um pouco. Você é o oposto dele.

– Que bom – disse ela, fingindo seriedade. – Não existem muitos lugares seguros nesta parte do país... Você teria que correr muito...

Quinn deu uma risadinha e Rachel olhou para a cozinha.

– Está pronta para começarmos o jantar?

– Vai me contar o segredo da sua receita secreta?

– Com todo o prazer – afirmou Rachel, enquanto se levantavam.

Na cozinha, Rachel retirou a panela do fogo e deixou-a de lado enquanto pegava as batatas no forno. Foi até o armário novamente e retirou um saquinho plástico.

– O que é isso? – quis saber Quinn.

– São flocos de coco, comprei junto com as outras coisas quando fui ao mercado.

– Para que serve?

– Você vai ver.

Depois de pegar o saquinho de flocos, Rachel foi até a mesa com a panela em mãos e deitou o caril no prato de servir, estava aquecido.

– Como gosta do seu?

– Não muito quente, não muito frio.

– Se você esperar só mais 8 minutinhos, vai estar à seu gosto.

– Você é uma cozinheira muito metódica, não é?

– Eu te prometi um ótimo caril, e pretendo cumprir a promessa.

Elas tinham se levantado novamente a fim de esperar os 8 minutos mais. Enquanto esperavam, Rachel observava Quinn de esguelha. Havia algo de sensual no corpo dela à luz do sol poente. O céu estava ficando alaranjado, e a luz quente lhe conferia uma aparência especialmente bonita, deixando seus olhos ainda mais claros. Os cabelos dançavam de forma tentadora à brisa vespertina.

– Está pensando em que?

Ela ficou tensa ao ouvir a voz de Quinn, dando-se conta de que não dissera nada desde que colocara os pés na varanda.

– Estava só pensando em como seu ex-marido foi idiota – disse, voltando-se para ela.

Quinn sorriu e lhe deu um tapinha no ombro.

– Mas, se eu ainda fosse casada, não estaria aqui com você.

– E isso seria uma pena – completou Rachel, ainda sentindo o toque dela.

– Seria – concordou Quinn.

Os olhares de ambas se encontraram e se prenderam por um instante. Finalmente Rachel virou-se e estendeu a mão para os flocos. Pigarreou e disse:

– Acho que está na hora de usarmos isto.

Pegou os pequenos flocos de coco e guarneceu-os sobre o caril, então pegou um pouco do concentrado e colocou por cima dos flocos.

– O que está fazendo? – perguntou Quinn.

– O concentrado vai ajudar os flocos a se juntarem com caril, deixando-os com um misto de sabor.

Olhando em volta, Quinn comentou:

– Aqui é tão tranquilo... Entendo porque comprou esta casa.

Rachel terminou o que estava fazendo e bebeu outro gole de cerveja para molhar a garganta.

– O mar tem alguma coisa que causa esse efeito nas pessoas. Acho que é por isso que tanta gente vem para cá para relaxar.

Quinn virou-se para ela.

– Me diga, Rachel, em que você pensa quando está lá fora sozinha?

– Em muitas coisas.

– Alguma em particular?

Penso em Catherine, ela teve vontade de dizer, mas desistiu.

Suspirou e respondeu:

– Na verdade, não. Às vezes penso no trabalho, às vezes nos lugares que penso em explorar mergulhando. Outras vezes sonho em sair velejando e deixar tudo para trás.

Quinn observava-a com toda atenção enquanto ela dizia as últimas palavras.

– E você seria mesmo capaz de fazer isso? Sair velejando e nunca mais voltar? – indagou.

– Não tenho certeza, mas gosto de pensar que sim. Ao contrário de você, não tenho família, a não ser meu pai, e de certo modo acho que ele compreenderia. Nós somos muito parecidos, e imagino que, se não fosse por mim, ele teria partido há muito tempo.

– Mas isso seria a mesma coisa que fugir.

– Eu sei.

– Por que você iria querer fugir? – insistiu Quinn, sabendo de alguma forma, a resposta.

Rachel ficou calada, então Quinn se inclinou para perto dela e falou em tom carinhoso:

– Rachel, sei que não é da minha conta, mas você não pode fugir dos seus sentimentos. – Deu-lhe um sorriso tranquilizador. – Além do mais, você tem muito a oferecer a alguém.

Rachel continuou em silêncio, pensando no que Quinn falara, perguntando-se como ela sabia exatamente o que dizer para fazer com que ela se sentisse melhor.

Nos minutos seguintes, os únicos sons em volta delas vinham de outros lugares. A suave brisa noturna fazia tilintar um móbile distante. As ondas rolavam pela areia produzindo um ruído contínuo e tranquilizador.

Os pensamentos de Rachel vagavam pelos dois últimos dias. Ela se lembrou do momento em vira Quinn pela primeira vez, das horas que passaram no Happenstance e do passeio na praia, mais cedo, quando pela primeira vez ela lhe falara de Catherine. A tensão que sentira antes, agora desaparecera quase por completo e, parada ao lado de Quinn no crepúsculo cada vez mais profundo, ela tinha a impressão de que aquela noite tinha algo mais do que qualquer uma das duas queria admitir.

Pouco antes de finalmente jantarem, Rachel saiu da cozinha e Quinn terminou de preparar a mesa. Desembrulhou as batatas e colocou-as em um prato. Em seguida pegou a salada e colocou-a no centro da mesa, junto com alguns molhos que encontrou na porta da geladeira. Por fim arrumou o sal, a pimenta, a manteiga e um par de guardanapos. Como estava ficando escuro dentro da casa, ela acendeu a luz da cozinha, mas achou que ficou claro demais e tornou a apagá-la. Num impulso, resolveu acender as velas e afastou-se da mesa para ver se tinha ficado exagerado. Ao concluir que estava tudo perfeito, pegou a garrafa de vinho e ia colocá-la sobre a mesa justamente quando Rachel entrou.

Depois de fechar a porta corrediça de vidro, ela viu o que Quinn tinha feito. Estava escuro na cozinha, a não ser pelas pequenas chamas que apontavam para o teto. Aquela iluminação fazia Quinn ficar linda. Os cabelos claros pareciam misteriosos e os olhos capturavam o movimento do fogo. Incapaz de falar por um longo momento, Rachel conseguia apenas contemplá-la, e foi nesse instante que ela tomou consciência do que vinha tentando negar a si mesma o tempo todo.

– Achei que as velas dariam um toque bacana – comentou Quinn, baixinho.

– E deram.

As duas se entreolharam, uma de cada lado do aposento, ambas paralisadas por um minuto pela sombra de possibilidades distantes. Então Quinn desviou o olhar.

– Não consegui encontrar um saca-rolhas – falou, ansiosa por algo para dizer.

– Vou pegar – apressou-se Rachel em responder. – Não é algo que eu use com frequência, então deve estar enterrado no fundo dessas gavetas.

Após remexer nos utensílios no fundo, encontrou o que procurava. Com uma série de movimentos não tão rápidos, abriu a garrafa e serviu duas taças. Então sentou-se e serviu-se assim como fez para Quinn.

– É o momento da verdade – comentou Quinn, antes de começar a comer.

– Espera – Rachel pediu, levantando-se para pegar um tipo de pão diferente. – Experimenta com isso.

Quinn não esperou mais e levou a comida à boca, querendo realmente conhecer o gosto daquele caril.

Rachel sorriu enquanto a observava provar o caril. Quinn ficou agradavelmente surpresa ao constatar que ela tinha toda a razão.

– Rachel, está delicioso – falou, com sinceridade.

– Obrigada.

Ao longo da noite, as velas foram se consumindo e em duas ocasiões Rachel disse que estava feliz por Quinn ter aceitado seu convite. Em ambas as vezes Quinn sentiu uma tensão na nuca e teve que beber outro gole de vinho para que essa sensação passasse.

Lá fora, a maré subia, impulsionada por uma lua crescente que parecia ter surgido do nada.

**

Depois do jantar, Rachel sugeriu um passeio ao longo da praia.

– É realmente lindo à noite – garantiu.

Quando Quinn aceitou o convite, Rachel pegou os pratos e talheres da mesa e os colocou na pia.

Depois, as duas saíram da casa e Rachel fechou a porta atrás de si. A noite estava agradável. Passaram pela varanda, em seguida por cima de uma pequena duna de areia e chegaram à praia.

Ao alcançarem a beira d’água, fizeram a mesma coisa que tinham feito à tarde: tiraram os sapatos e os deixaram na areia, já que não havia mais ninguém por lá. Caminharam devagar, próximas uma da outra. Surpreendendo Quinn, Rachel pegou sua mão. Quando sentiu seu calor, Quinn imaginou, só por um momento, como seria o toque dela em seu corpo, acariciando sua pele. Esse pensamento lhe provocou um arrepio e, ao olhar para ela de relance, se perguntou se ela saberia o que se passava em sua cabeça.

Continuaram a andar, aproveitando a noite.

– Não tenho uma noite como esta há muito tempo – disse Rachel finalmente, a voz soando quase como recordação.

– Eu também – retrucou Quinn.

A areia era fria sob os pés delas.

– Rachel, você se lembra de quando me convidou para velejar? – perguntou ela.

– Lembro.

– Por que me chamou para ir com você?

Rachel olhou para ela com curiosidade.

– Como assim?

– É que você pareceu se arrepender assim que me convidou.

Ela deu de ombros.

– Não sei se usaria a palavra arrependimento. Acho que fiquei surpresa por ter convidado você, mas não arrependida.

Quinn sorriu.

– Tem certeza?

– Tenho sim. Você tem que levar em conta que eu não convidava ninguém para sair há mais de três anos. Quando você disse que nunca tinha velejado, acho que de repente me ocorreu que eu tinha me cansado de estar sempre sozinha.

– Quer dizer que eu estava no lugar e na hora certos?

Rachel balançou a cabeça.

– Não foi isso que eu quis dizer. Eu queria que você fosse, e acho que não teria convidado se fosse outra pessoa. Além disso, tudo transcorreu muito melhor do que eu pensava. Estes têm sido os melhores dias que já tive em muito tempo.

Quinn sentiu o coração se aquecer quando Rachel disse isso. Enquanto caminhavam, Quinn notou que Rachel movia lentamente o polegar, traçando pequenos círculos na pele dela.

– Você tinha imaginado que as suas férias seriam assim? – perguntou Rachel.

Quinn hesitou e decidiu que não era o momento certo para contar a verdade.

– Não.

Seguiram em frente em silêncio. Havia outras pessoas na praia, embora estivessem tão distantes que Quinn só via seus vultos.

– Acha que um dia vai voltar? Quero dizer, para outras férias?

– Não sei. Por quê?

– Porque eu espero que volte.

Quinn viu ao longe as luzes de um píer distante. Mais uma vez sentiu a mão de Rachel mover-se na sua.

– Se eu voltasse, você me prepararia outro jantar?

– Eu cozinharia qualquer coisa que você quisesse. Contanto que fosse vegetariano.

Ela riu baixinho.

– Então vou pensar no assunto. Prometo.

– E se eu oferecesse também algumas aulas de mergulho?

– Acho que o Tommy gostaria disso mais do que eu.

– Então traga-o também.

Quinn olhou-a de relance.

– Você não se importaria?

– Nenhum pouco. Gostaria de conhecê-lo.

– Aposto que ia gostar dele.

– Tenho certeza disso.

Ficaram mais um momento em silêncio, até que Quinn disse, num impulso:

– Rachel, posso te perguntar uma coisa?

– Claro.

– Sei que vai parecer estranho, mas...

Quinn fez uma pausa e Rachel a olhou com curiosidade.

– O quê?

– Qual foi a pior coisa que você já fez?

Rachel riu alto.

– De onde saiu essa pergunta?

– Eu queria saber, só isso. Sempre faço essa pergunta às pessoas. Ela me mostra como elas são de verdade.

– A pior coisa?

– A pior de todas.

Ela pensou um instante.

– Acho que a pior coisa que já fiz foi quando saí com um grupo de amigos certa vez. Era uma noite de dezembro. Estávamos bebendo e fazendo a maior farra quando de repente passamos por uma rua totalmente enfeitada com luzes de Natal. Bom, estacionamos o carro ali mesmo e roubamos todas as lâmpadas que conseguimos tirar.

– Não acredito!

– É verdade. Éramos cinco, e enchemos a caçamba do furgão com lâmpadas roubadas. Mas deixamos os enfeites, essa foi a pior parte. Parecia que um monstro devorador de lâmpadas tinha passado por lá. Ficamos quase duas horas nisso, morrendo de rir do que estávamos fazendo. A rua tinha sido citada no jornal como uma das mais enfeitadas da cidade, e depois que terminamos... Não consigo imaginar o que os moradores pensaram. Devem ter ficado furiosos.

– Que horror!

Rachel riu.

– É, eu sei. Hoje, quando me lembro, sei que foi horrível. Mas na época foi muito divertido.

– E eu que pensava que você fosse uma garota legal...

– Mas eu sou.

– Você é um monstro devorador de lâmpadas. – Ela insistiu, curiosa: - Então, que mais você e seus amigos fizeram?

– Quer mesmo saber?

– Claro que quero.

Rachel começou a lhe falar sobre outras de suas estripulias de adolescente – desde ensaboar janelas de carros a pichar as casas de ex- namoradas. Contou-lhe que certa vez estava com uma namorada quando um amigo emparelhou o carro com seu e gesticulou para que ela abaixasse o vidro. Quando Rachel obedeceu, o amigo jogou em seu carro um explosivo caseiro que detonou ao cair em seus pés.

Vinte minutos depois, ela ainda estava contando casos para grande divertimento de Quinn. Quando enfim terminou, fez-lhe a mesma pergunta que dera início à conversa.

– Ah, nunca fiz nada como você – disse ela. – Sempre fui uma boa garota.

Rachel tornou a rir, com a sensação de ter sido manipulada – não que se importasse com isso – e sabendo muito bem que ela não estava dizendo a verdade.

Andaram até o final da praia, trocando histórias de infância. Enquanto Rachel falava, Quinn tentou imaginar como ela era quando mais jovem e perguntou-se o que teria pensado dela se a tivesse conhecido na universidade. Será que a teria achado tão atraente quanto agora ou teria se apaixonado por Noah mesmo assim? Queria acreditar que teria dado valor às diferenças entre eles, mas será que isso teria acontecido? Naquela época Noah parecia perfeito.

Pararam por um instante e ficaram contemplando o mar. Rachel estava bem próxima a ela, e seus ombros às vezes se tocavam.

– Está pensando em quê? – perguntou Rachel.

– Em como o silêncio é bom ao seu lado.

Rachel sorriu.

– E eu estava pensando que lhe contei um monte de coisas que não costumo contar a ninguém.

– Foi porque você sabe que vou voltar para Boston e não vou contar a ninguém?

Ela riu.

– Não, nada disso.

– Então por quê?

Rachel olhou para ela com ar curioso.

– Você não sabe mesmo?

– Não.

Quinn sorriu ao dizer isso, quase a desafiando a continuar. Rachel pensou em como poderia explicar algo que ela própria tinha dificuldade em compreender. Então depois um longo momento durante o qual colocou as ideias em ordem e falou baixinho:

– Acho que é porque eu queria que você soubesse quem eu sou de verdade. Por que se você me conhecer de verdade e mesmo assim quiser ficar comigo...

Quinn não respondeu, mas sabia exatamente o que ela estava tentando dizer. Rachel desviou os olhos.

– Desculpe. Não quis deixá-la desconfortável.

– Não fiquei desconfortável. Estou feliz por você ter falado... – começou Quinn.

Ela fez uma pausa. Depois de um instante, as duas recomeçaram a caminhar devagar.

– Mas não se sente da mesma forma que eu.

Quinn virou-se para ela.

– Rachel, eu...

– Não, você não precisa falar nada que...

Ela não deixou que Rachel terminasse a frase:

– Preciso, sim. Você quer uma resposta, e eu quero lhe contar. – Parou por um momento, pensando na melhor maneira de se expressar. Então respirou fundo e continuou: - Depois que Noah e eu nos separamos, passei por uma fase horrível. Assim que acreditei que estava superando, comecei a namorar outra vez. Mas os homens que conheci... Não sei, parecia que o mundo tinha mudado enquanto eu estava casada. Todos eles queriam coisas, mas nenhum queria oferecer algo em troca. Acho que fiquei cansada dos homens em geral.

– Não sei o que dizer...

– Rachel, não estou te contando isso por pensar que você é assim, até porque você é uma mulher. Acho que é completamente diferente. E isso me assusta um pouco. Porque se eu lhe disser o que sinto por você... de certo modo, estarei dizendo a mim mesma também. E se fizer isso, acho que estarei me abrindo para me magoar de novo.

– Eu nunca magoaria você –afirmou Rachel com a voz suave.

Quinn parou de caminhar e fez com que Rachel lhe encarasse. Depois falou baixinho:

– Sei que acredita nisso, Rachel. Mas há três anos você vem tentando lidar com seus próprios demônios. Não sei se está pronta para seguir com a vida, e se não estiver, quem sairá magoada serei eu.

As palavras a atingiram com força e ela levou um momento para reagir.

Rachel esperou até que Quinn lhe olhasse nos olhos.

– Quinn... Desde que nos conhecemos... Não sei...

Ela parou, percebendo que não conseguiria colocar seus sentimentos em palavras.

Em vez disso, ergueu a mão e tocou o rosto dela com o dedo, uma carícia tão delicada que parecia uma pluma contra a pele de Quinn. No momento em que a tocou, Quinn fechou os olhos e, apesar da incerteza, deixou que a sensação lhe percorresse o corpo, aquecendo lhe o pescoço e os seios.

Com isso, ela sentiu todo o resto se desbotar e de repente lhe pareceu correto estar ali. O jantar que tinham compartilhado, o passeio na praia, o modo como Rachel a olhava agora... Quinn não conseguia imaginar algo melhor do que o que estava acontecendo naquele momento.

As ondas deslizavam pela areia e molhavam os pés delas. A morna brisa de verão soprava nos cabelos dela, aumentando a sensação do toque de Rachel. O luar conferia um brilho etéreo sobre à água do mar, enquanto as nuvens lançavam sombras ao longo da praia, deixando a paisagem quase irreal.

Então elas cederam a todos os sentimentos que vinham crescendo desde que se conheceram. Quinn se apoiou nela, sentindo o calor do seu corpo, e Rachel soltou a mão dela. Em seguida envolvendo-a devagar com seus braços, puxando-a contra si e beijou-a de leve nos lábios. Recuou um pouco a fim de olhar para Quinn e depois a beijou com delicadeza outra vez. Quinn retribuiu o beijo, sentindo a mão de Rachel subir pelos seus braços e ombros até seus cabelos, nos quais mergulhou seus dedos.

Ficaram abraçadas, beijando-se ao luar, por um longo tempo, sem se preocuparem se estavam sendo observadas. Ambas tinham esperado demais por aquele momento e, quando enfim se afastaram, ficaram se encarando. Então, tomando a mão de Rachel na sua mais uma vez, Quinn conduziu-a lentamente de volta à casa.

Quando entraram, tudo pareceu um sonho. Rachel beijou-a de novo assim que fechou a porta, dessa vez com mais paixão, com mais intensidade, e Quinn sentiu o corpo trêmulo de expectativa, afinal ela nunca tinha sequer beijado uma mulher. Agora estava ali, diante de uma bela mulher a ponto de fazer amor com ela... Ela foi até a cozinha, pegou as duas velas da mesa, levou-as para o quarto e colocou-as sobre a escrivaninha. Ela tirou uma caixa de fósforos do bolso e acendeu-as, enquanto ela ia até a janela e fechava as cortinas.

Rachel estava parada junto à escrivaninha quando Quinn voltou para perto dela. Quinn deslizou as mãos pelos seios de Rachel, sentindo-a tensa sob a blusa, e cedeu à própria sensualidade. Olhando dentro dos olhos de Rachel, ela começou a tirar a camiseta dela bem devagar. Largou a peça de roupa no chão e se inclinou para ela. Então beijou-lhe os seios, depois o pescoço, e estremeceu quando as mãos dela se moveram para frente da blusa dela. Inclinou-se para trás para dar-lhe espaço enquanto ela a desabotoava lentamente.

Quando a blusa se abriu, Rachel deslizou seus braços para as costas de Quinn e puxou-a para si, sentindo o calor da pele dela contra a sua. Beijou seu pescoço e mordiscou lhe o lóbulo da orelha, enquanto as mãos percorriam suas costas. Quinn entreabriu os lábios ao sentir a ternura do toque de Rachel. Os dedos de Rachel pararam no fecho do sutiã, que ela abriu com um gesto experiente, deixando-a sem fôlego. Então sem parar de beijá-la, Rachel deslizou as alças pelos ombros de Quinn, desnudando seus seios. Inclinou-se e beijou-os de leve, um de cada vez, e ela arqueou a cabeça para trás, sentindo o hálito quente e úmido de Rachel onde quer que a boca dela a tocasse.

Ela estava sem fôlego quando estendeu a mão para o short de Rachel. Olhando-a nos olhos, soltou o botão e lentamente baixou o zíper. Sempre a encarando, ela deslizou o dedo pela cintura de Rachel, passando a unha de leve por seu umbigo antes de baixar o cós do short. Rachel deu um passo para trás enquanto o tirava e depois, tornando a se aproximar para beijar Quinn outra vez, levou-a até a cama.

Deitada ao lado de Rachel, ela passou as mãos mais uma vez pelos seus seios, agora úmido de suor, e sentiu-a levando as mãos ao seu short. Ela abriu o botão e logo em seguida Quinn ergueu o corpo para despi-lo, enquanto Rachel continuava a explorar o seu corpo. Quinn acariciou lhe as costas e mordiscou de leve seu pescoço, escutando a respiração dela se acelerar. Rachel começou a tirar a calcinha enquanto ela se livrava da dela, e quando enfim estavam nuas, seus corpos se uniram.

Quinn estava linda à luz das velas. Rachel deslizou a língua entre os seios dela, descendo pelo ventre até o umbigo, e tornou a subir. Os cabelos de Quinn brilhavam, e a pele era suave e convidativa. Abraçadas, Rachel sentia a mão em suas costas, puxando-a para mais perto.

Em vez disso, ela continuou a beijar-lhe o corpo todo, sem querer apressar o momento. Apoiou o rosto no ventre de Quinn e mordendo de leve em sua pele, despertando-lhe sensações eróticas, e ela se recostou na cama, com as mãos nos cabelos de Rachel. Rachel então continuou e desceu um pouco até sua intimidade, provocando com sua língua as mais intensas sensações que Quinn já tivera, depois subiu um pouco e fez o mesmo em seus seios.

Seus corpos moviam-se como um só, ambas completamente conscientes das necessidades da outra, tentando lhe dar prazer. Rachel beijava-a sem parar, e Quinn sentiu seu corpo começar a pulsar com uma urgência crescente. Quando enfim chegou ao êxtase, ela cravou as unhas com força nas costas de Rachel, e no momento em que o orgasmo terminou, outro se seguiu, e outro. Quando terminaram, Quinn estava exausta e envolveu Rachel com os braços, mantendo-a perto de si. Relaxada ao lado dela, com as mãos de Rachel ainda a acariciá-la, Quinn contemplou as velas que se consumiam aos poucos, revivendo o momento que haviam compartilhado.

Beijando-se de leve, fizeram amor, com uma paixão que durante três anos ficara abafada.

Ficaram deitadas juntas pela maior parte da noite e fizeram amor várias vezes, abraçando-se forte depois. Quinn adormeceu nos braços de Rachel, sentindo-se maravilhosa, e Rachel ficou observando-a dormir. Pouco antes de cair no sono, ela afastou carinhosamente os cabelos do rosto de Quinn, tentando lembrar-se de tudo.

**

Pouco antes do amanhecer, Quinn abriu os olhos, sabendo instintivamente que Rachel não estava lá. Virou-se na cama, procurando por ela. Não a vendo, ela se levantou e foi até o armário, onde encontrou um roupão de banho. Enrolou-se nele, saiu do quarto e relanceou na direção da cozinha escura. Ela não estava lá. Quinn checou a sala, onde ela também não estava, e de repente ela teve certeza de onde ela se encontraria.

Saiu para a varanda e a avistou sentada numa cadeira, usando apenas calcinha e uma camiseta cinza. Quando se virou e a viu, abriu um sorriso.

– Olá.

Ela foi em sua direção e Rachel fez um gesto para que ela se sentasse no seu colo. Beijou-a enquanto a puxava para si e ela envolveu seu pescoço com os braços. Então, sentindo que havia algo errado, Quinn recuou e tocou no rosto de Rachel.

– Você está bem?

Ela levou um instante para responder.

– Estou – disse em voz baixa, sem olhar para ela.

– Tem certeza?

Ela assentiu, ainda sem encará-la, e Quinn obrigou-a a olhar para ela virando seu rosto com o dedo. Em seguida disse com delicadeza:

– Você parece meio...triste.

Ela sorriu de leve, mas não respondeu.

– Está triste com o que aconteceu?

– Não. Nem um pouco. Não me arrependo de nada.

– Então o que é?

Ela ficou em silêncio, e novamente afastou os olhos.

– Você está aqui fora por causa da Catherine? – indagou Quinn, baixinho.

Rachel não disse nada por um instante, depois tomou a mão dela na sua e enfim olhou-a nos olhos.

– Não. Não estou aqui fora por causa da Catherine – falou, quase num sussurro. – Estou aqui fora por causa de você.

Então, com uma ternura que a lembrou uma criança, Rachel puxou-a para si com delicadeza e segurou-a sem dizer mais nada, e não a soltou até o céu começar a clarear e a primeira pessoa aparecer na praia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se gostaram comenta aí galera. Se não gostaram, podem comentar também, eu deixo rs.

See you :-)